domingo, 25 de maio de 2014

Como e Porque Registrar - ABCZ

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O que é Registro Genealógico?
O registro genealógico tem a função de comprovar a origem dos individuos pertencentes às raças em que suas entidades representativas (associações de raça) foram delegadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para que realizem todo o controle genealógico dos respectivos animais. Por conta da importância do registro, todo regulamento genealógico deve ter a aprovação do ministério, já que as associações são delegadas para esse fim, sendo que o superintende de registro é o representante do MAPA dentro da associação. Todas as entidades e seus superintendentes devem ser credenciados pelo MAPA e periodicamente passam por auditorias feitas pelos fiscais federais. Estes critérios servem para garantir que os exemplares puros de cada raça são controlados por suas associações, afinal, eles representam uma importante ferramenta no processo de melhoramento genético do rebanho bovino brasileiro, sejam os rebanhos destinados à produção de carne ou leite.   
Os passos para o registro
Para um animal ser registrado, ele deve passar pela inspeção técnica, processo este, realizado por um técnico credenciado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), que no caso do Rio Grande do Sul, é Edon Rocha Braga (edonbraga@gmail.com).
No entanto, antes da inspeção técnica, o criador já deve estar cadastrado na ABCZ, para que ele possa efetuar alguns trâmites indispensáveis para o controle geral do plantel e conseqüentemente, para a realização do registro. Antes da apresentação do exemplar ao técnico, o animal já tem que possuir junto ao serviço de registro genealógico da ABCZ, todas as informações como a realização da cobertura da mãe (seja por inseminação artificial ou monta natural) além do comunicado de nascimento do produto para que o seu registro seja processado. Para se cadastrar na ABCZ, entre em contato com o escritório regional (ETR POA): etrpoa@abcz.org.br e (51) 3473 7133.
Sobre os comunicados de responsabilidade do criador
Esses comunicados são de responsabilidade dos criadores e eles possuem prazo determinado no regulamento da ABCZ (acesse neste site o menu área técnica > regulamentos) para as realizações dos mesmos. A existência de prazo máximo para os comunicados se deve ao fato de que estes dados já devem estar nas mãos do técnico por serem indispensáveis para a inspeção que ele fará na fazenda.
A inspeção técnica
Para receber o registro, o animal é avaliado de acordo com características da raça conforme o padrão, além da avaliação morfológica de aprumos, aparelho reprodutor, características sexuais secundárias (tanto masculina como feminina), desenvolvimento, estrutura, e pigmentação. Todos estes pré-requisitos básicos são fatores fundamentais para um animal ser apto ao registro quando apresentado ao técnico na propriedade. Conheça o padrão racial de sua raça no menu área técnica/regulamentos, neste site.

Por que registrar? O registro é sinônimo de segurança!!!
Para quem está iniciando a criar ou a utilizar as raças zebuínas, a aquisição de animais registrados é mais do que fundamental, pois só o registro genealógico poderá garantir que exemplar passou por uma inspeção técnica que seguiu os padrões de seleção preconizados pela ABCZ, idealizados pelo conselho técnico das raças zebuínas. O registro serve para comprovar a origem do animal, através dele o criador tem a garantia de que adquiriu um reprodutor puro de uma raça zebuína, de que esse passou por um processo seletivo e que foi inspecionado por um técnico capacitado e credenciado pela ABCZ. Futuramente esse animal poderá ser pai ou mãe de animais de plantel.
Todo o animal registrado, ou seja, selecionado, tem a vantagem de estar enquadrado nos padrões zootécnicos exigidos pela ABCZ, sendo assim já se diferencia dos demais, levando o valor que agrega por fazer parte de um rebanho registrado, já que passou pela chancela técnica na revisão a campo.
Além disso, a visita do técnico na propriedade contribui também na orientação para o criador, através da prática de selecionar os animais a serem registrados. Considerando que todo animal registrado foi selecionado visando ser melhorador das próximas gerações geneticamente, o registro de modo geral serve também, para proporcionar a segurança ao pecuarista que está investindo em uma matriz para formação de plantel ou em um touro para cruzamento. O registro é a garantia que o criador tem de que está comprando reprodutores zebuínos controlados. É indispensável ter um cuidado especial para não adquirir o famoso “gato por lebre”, pois na pecuária também existe o mercado oportunista, onde o boi de boiada acaba sendo vendido como reprodutor, e os criadores adquirindo animais registrados evitam esses riscos.
Neste site, no menu “Área técnica > regulamentos” é possível fazer o download do regulamento do Serviço de Registro Genealógico das Raças Zebuínas (SRGRZ) e o manual para registrar os animais.
Registre seu rebanho! Adquira animais registrados! É a sua garantia de seleção!

Nelore: conheça mais sobre a raça que representa 80% do gado de corte brasileiro

O Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas para a raça Nelore está compilado aqui, com a opinião desses especialistas sobre a raça.
Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar aqui uma por uma, nas próximas semanas.

Conheça mais a raça Nelore

Histórico da raça
A história da raça Ongole, ou Nelore, como é conhecida no Brasil, começa mil anos antes da era cristã, quando os arianos levaram os animais para o continente indiano.
Nelore é o nome de um distrito da antiga Província de Madras, Estado de Andra, situada na costa oriental da Índia, onde foram embarcados os primeiros animais para o Brasil.
O rebanho da raça Nelore no Brasil
A trajetória que transformou o Ongole indiano no Nelore brasileiro, começa na primeira metade do século XIX, de quando datam os primeiros registros de desembarque no país de zebuínos originários da Índia.
A história descreve que a primeira aparição do Nelore no país teria ocorrido em 1868 quando um navio, que se destinava à Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo. Os animais teriam sido comercializados, permanecendo no país.
Dez anos depois, em busca de animais exóticos para trazer ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgruber teve contato com a raça Ongole durante uma visita ao zoológico de Hamburgo, na Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de animais da raça, em outubro de 1878. Posteriormente, outras partidas oriundas diretamente da Índia aportaram no Rio de Janeiro. A raça Nelore foi então se expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo e Minas Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico, começaram a ser definidas as características raciais do Nelore.
As duas últimas e significativas importações de reprodutores Nelore aconteceram entre os anos de 1960 e 1962. Nesse período desembarcaram no país, em Fernando de Noronha, onde foram submetidos a quarentena, grandes genearcas como Kavardi, Golias, Rastã, Checurupadu, Godhavari, Padu e Akasamu que são a base formadora das principais linhagens de Nelore.
Hoje, estima-se que o Brasil possui um rebanho com mais de 200 milhões de bovinos de corte e leite criados a pasto, dos quais 80% do gado de corte é Nelore ou anelorado, o que equivale a mais de 100 milhões de cabeças.
O Nelore brasileiro, além de ser considerado hoje como um patrimônio legitimamente nacional, produz carne saudável e natural, exportada para mais de 146 países e cada vez mais demandada por consumidores esclarecidos do mundo todo.
Associação Brasileira dos Criadores de Nelore do Brasil – ACNB
A ACNB é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 7 de abril de 1954. Sua sede está localizada na capital paulista. Possui ainda um escritório junto à sede da ABCZ – Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, em Uberaba/MG. Tem por finalidade integrar criadores, invernistas e demais pecuaristas em torno de um objetivo comum: fortalecer e defender a raça que representa 80% do rebanho de corte nacional. A associação conta com 15 regionais que estão localizadas em 88,8% do território nacional, afirma Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB.
Segundo Pedro, o Ranking Nacional da Raça Nelore foi criado em 1993 pela ACNB, durante a gestão do pecuarista Eduardo Biagi com o objetivo de estimular e divulgar o progresso genético da raça. Sob a forma de um campeonato, o Ranking contabiliza as pontuações obtidas através da competição de animais nas exposições agropecuárias oficializadas pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB) em todo país.
Em 2011/2012 o Ranking Nacional contabilizou 148 exposições, nas quais foram submetidos e julgados mais de 4.000 animais de 255 expositores, em 18 estados do País.
Em 1999, a ACNB iniciou uma nova linha de trabalho, estendendo sua atuação aos criadores de gado comercial, e assumindo um novo desafio: desenvolver uma marca para a carne do Nelore. Assim teve início a promoção dos abates técnicos que subsidiaram o desenvolvimento e deram origem ao Programa de Qualidade Nelore Natural – PQNN. Desde 2001, a marca Nelore Natural, Boi de Capim, Carne Saudável – leva a marca do pecuarista até as mesas dos consumidores brasileiros, afirma Pedro.
Após o início das operações do PQNN, os abates técnicos passaram a ter a função de mapear o desempenho frigorífico da raça Nelore no país e orientar os seus participantes quanto aos parâmetros de melhor liquidez de mercado. Passaram então a serem organizados sob a forma de um campeonato anual: o Circuito Boi Verde de Julgamentos de Carcaças, diz o presidente.
Segundo o representante, o projeto mais recente da ACNB é a instituição da Universidade do Boi e da Carne, um órgão de difusão de tecnologia que pretende formar uma legião de multiplicadores, de forma a ampliar e potencializar o trabalho de disseminação de conceitos importantes à evolução do mercado.
Assim sendo, em 2012-2013, a  associação tem dado continuidade e buscado ampliar todos os seus projetos. Em especial vale destacar o crescimento do Programa de Qualidade Nelore Natural - PQNN,  que pode ser demonstrado em números, pois entre janeiro e agosto de 2013 foram abatidos dentro do Programa 256.358 animais que resulta em uma média de 32 mil animais por mês. Foram premiados 338 pecuaristas que receberam em média R$ 2,25 a mais por arroba@. A média de R$ 37,72 por animal premiado e média de R$ 5.994,22 recebido por pecuarista, afirma entrevistado.
A ACNB tem também procurado cada vez mais estender seu trabalho aos criadores de animais comerciais. Desde 2012, tem oficializado e apoiado a realização de Leilões de animais Nelore não PO (puro de origem). Em relação ao tradicional trabalho de oficialização, já consolidado entre os promotores dos leilões Elite, os benefícios oferecidos são os mesmos dos leilões de animais PO, porém a taxa de oficialização é de apenas 0,25%. Ou seja, metade do percentual cobrado pela chancela de leilões de animais PO. Em 2012 e 2013, por exemplo, a ACNB esteve diretamente envolvida na realização do 1° e 2° Leilão Ranking Nelore Bataguassu, que em sua última edição registrou faturamento de R$ 1,227.791.00.
E para o produtor, quais são as vantagens em se associar na ACNB?
Para alcançar melhores resultados em um ambiente cada vez mais competitivo, é preciso aliar esforços e metas comuns. Segundo Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB, esta é a vantagem de ser um associado da Nelore do Brasil e suas associações conveniadas. É através destas entidades que os neloristas, de todo o país, se fazem representados e têm os seus interesses defendidos. Confira abaixo algumas vantagens de ser um associado da Nelore do Brasil e suas conveniadas:
Estágio atual da raça
Hoje, são 2.500 criadores da raça associação na ACNB.
Animais registrados da raça Nelore de 2005 a 2012
Fonte: ABCZ.
Características zootécnicas da raça
Segundo os entrevistados para esse artigo, a rusticidade do nelore e seu poder de transformar fibras, inclusive as de baixa qualidade em carne e leite são suas principais características.
O Nelore é resistente ao calor devido à sua grande superfície corporal e por possuir maior número de glândulas sudoríparas. As características de seus pêlos também facilitam o processo de troca de calor com o ambiente. Além disso, o trato digestivo é 10% menor em relação às raças de origem europeia. Portanto seu metabolismo é mais baixo e gera menor quantidade de calor. Os machos e as fêmeas apresentam elevada longevidade reprodutiva.
Possui capacidade de aproveitar alimentos grosseiros. Apresenta resistência natural a parasitas, devido às características de seus pelos, que impedem ou dificultam a penetração de pequenos insetos na superfície da pele ou que aí tentam se fixar. A pele escura, fina e resistente, dificulta a ação de insetos sugadores, além de produzir secreção oleosa repelente, que se intensifica quando os animais estão expostos ao calor.
De porte médio, sua ossatura é leve, robusta e forte, com musculatura compacta e bem distribuída. A masculinidade e a feminilidade são acentuadas. O temperamento é ativo e dócil. A raça possui variedades com chifres e mochos. O cupim tem papel fisiológico fundamental, servindo como reserva de energia em situações emergenciais.
O aparelho reprodutivo dos animais é especialmente importante. Na fêmea, o sistema mamário é composto por pequenos tetos, o que facilita a primeira mamada do recém nascido. A garupa ligeiramente inclinada facilita o parto e prepúcio mais reduzido e alto conferem maior eficiência reprodutiva aos machos.
Em suma, as características fisiológicas do Nelore fizeram com que a raça se adaptasse muito bem às condições tropicais brasileiras, tornando–se uma opção para a produção de carne nas diversas, e adversas, condições a que é submetido nas tradicionais regiões de produção pecuária do país.
O melhoramento deve ser contínuo, tanto nos aspectos produtivos como mercadológicos. A seleção animal sempre deve buscar a maior eficiência produtiva, a fidelização do consumidor e a agregação de valor que possa ser distribuído entre todos os elos da cadeia.
Quais são os desafios para o Nelore atual?
Rodrigo Dias, analista técnico da CRV Lagoa, reforça os pontos fortes listados acima e ainda salienta que o Nelore ainda precisa de alguns ajustes, tais como as demais raças de bovinos de corte.  Ou seja, embora apresentem:
  • Rusticidade: o bezerro nasce, cresce e se desenvolve sem ajuda e horas depois já está junto com o rebanho;
  • Resistência a endo e ecto parasitas;
  • Aclimatação nos ambientes mais impróprios e
  • As cores da pele e pelo protegem o animal  dos raios ultravioletas e refletem a luz do sul.
Há dois pontos, em sua opinião, que precisam ser melhorados:
  • Precocidade sexual: as fêmeas precisam entrar na estação reprodutiva mais jovens e os machos precisam ter DEP´s para CE maior;
  • Mais precocidade de acabamento: como utilizou-se muito o critério único de seleção (peso) os animais acabaram ficando mais tardios, especialmente os puros de origem;
Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?
Há uma infinidade grande de cruzamento e possibilidades. Importante, mais do que fazer o cruzamento é procurar ajustar o grupamento genético as condições da fazenda.
Segundo Rodrigo Dias, em propriedades pouco tecnificadas, com baixo aporte nutricional e estratégia de mineralização pouco eficiente o cruzamento não responde bem. Cruzamento não é solução para todos os problemas e em alguns casos pode representar a perda da competitividade do sistema.
Em todos os casos os técnicos precisam ajustar os gargalos da propriedade antes de mudar o “grau de sangue” da fazenda.
O cruzamento trás consigo grandes ganhos através da heterose e da complementariedade, porém nada disso seria possível se não fosse a fêmea Nelore.
Garrotes Guzonel (1/2 Guzerá 1/2 Nelore)
Bezerros de cruzamento industrial (1/2 Angus 1/2 Nelore)
Quais as principais tecnologias usadas para manejo reprodutivo do rebanho desta raça?
Todas as biotecnologias da reprodução disponíveis no mercado já foram e são usadas nos diversos rebanhos de Nelore no Brasil. Desde as estações de montas, IAs, IATFs e FIVs.
Índice Asbia 2012 – Evolução raça Nelore – 3 anos
Fonte: Asbia.
Veja abaixo os recados dos profissionais entrevistados, os quais fazem a diferença na raça Nelore
Pedro Gustavo Novis: “Segundo o Ministério da Agricultura a  bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de cabeças. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 180 países. Até 2020, a expectativa é que a produção nacional de carnes suprirá 44,5% do mercado mundial. Essa estimativas indicam que o Brasil pode manter posição de primeiro exportador mundial de carne bovina e acredito que é um grande incentivo para quem quer criar Nelore.”
Rodrigo Dias: “O cruzamento trás consigo grandes ganhos através da heterose e da complementariedade, porém nada disso seria possível se não fosse a fêmea Nelore ou anelorada.”
André Bartocci: “O Nelore é a essência da Pecuária Brasileira. Sem ele o Brasil não seria este gigante da pecuária nem ocuparia os primeiros postos mundiais de produtor e exportador de carne bovina. “

Seleção para precocidade em bovinos de corte: uso de novas tecnologias

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Por Andréa, M. V.1, Bittencourt, T. C. B. S. C. 2, Souza, E. A.3, Moura, E. V. L. 3, Aquino, E. L4

O Brasil possui quase 20% da área agricultável disponível no planeta, e o maior porcentual de área cultivável em relação à sua área total, com quase 70% do território nacional passível de exploração agrícola. A produção de bovinos de corte no Brasil constitui-se em atividade econômica e social muito positiva. Apesar de todos os problemas relacionados com o aparecimento dos focos da febre aftosa, o país continua sendo o segundo maior rebanho de bovinos no mundo, o segundo maior produtor mundial de carne bovina (11% da produção mundial) e o maior exportador mundial de carne, chegando a atingir nos meses de janeiro e fevereiro de 2006 o índice de 205.701 toneladas exportadas tendo um crescimento de 10,12% com relação ao mesmo período do ano passado. (LÔBO, 2003; NEGRELLI, 2006). Entretanto, é sabido que pecuária de corte brasileira ainda não expressou todo seu potencial.
Basicamente existem duas ferramentas a serem trabalhadas quando se tenta tornar a produção animal mais eficiente, o meio ambiente e os animais, sendo o melhoramento genético uma ferramenta poderosa para o incremento da produção animal. Nos últimos anos no Brasil, o melhoramento genético de bovinos de corte vem assumindo importância cada vez maior. Isso tem resultado não só no aumento do número de programas que desenvolvem avaliação genética de diversos rebanhos, mas, também, na maior valorização dos animais portadores de estimativas de Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs).
Dentre os objetivos de seleção considerados pelos diversos programas de melhoramento, a precocidade de crescimento e sexual é o grande desafio atual. A diminuição das idades ao primeiro cio, ao primeiro parto e ao abate, resultará de grande impacto na produtividade total, uma vez que haverá redução dos custos de manutenção, aumento da taxa de desfrute, do rendimento e melhoria da qualidade da carne para a comercialização e/ou exportação.
O melhoramento genético de características reprodutivas é um processo complexo e a seleção direta para características ligadas à reprodução é, muitas vezes, difícil de ser aplicada, tornando-se necessário identificar características reprodutivas que sejam facilmente medidas, que apresentam variabilidade genética e que sejam geneticamente correlacionadas aos eventos reprodutivos (Bergmann, 1998). De acordo com Hill (1998), na pecuária com ciclo de produção completo, as características reprodutivas têm um impacto econômico cerca de dez vezes maior do que as associadas ao crescimento.
A puberdade é o período que antecede a vida reprodutiva dos animais domésticos. Para ambos os sexos, a idade à puberdade é uma característica indicadora da precocidade sexual dos animais. É caracterizado pela primeira produção de gametas maduros e início da atividade reprodutiva. Do ponto de vista prático, um animal (macho ou fêmea) atinge a puberdade quando estiver capaz de liberar gametas e de manifestar uma seqüência completa de comportamento sexual. A diminuição da idade à puberdade tem como conseqüências maior intensidade de seleção e diminuição do intervalo de gerações, e conseqüentemente, progresso genético mais rápido, caso os reprodutores sejam animais selecionados geneticamente.
Existem evidências que a idade à puberdade pode ser reduzida através da seleção genética. Atualmente os programas de melhoramento estão priorizando as características reprodutivas das fêmeas visando o aumento da produtividade da pecuária nacional, sendo sua contribuição para um produtor comercial de fundamental importância, pois delas dependem o número de bezerros desmamados por ano.
Para verificação da idade à puberdade são necessárias palpações retais, ultra-sonografia ou dosagens hormonais e a utilização de rufiões com marcadores por longo tempo. Requer ainda, a exigência de acompanhamento de muitas fêmeas ao mesmo tempo, o que tornado tal controle difícil, mas não impraticável. Tais fatores levam os produtores a considerar a idade ao primeiro parto como a característica indicadora do início da atividade reprodutiva das fêmeas. Entretanto, devido a prática de estações de acasalamento em períodos curtos e específicos do ano, algumas fêmeas que apresentam cios em idade não conveniente ao esquema adotado, não são colocadas em reprodução. Desta forma não se tem informações precisas a respeito do início da suas vidas reprodutivas.
Outra desvantagem é o tempo utilizado para a expressão da característica. Com algumas exceções, a idade ao primeiro parto nas raças zebuínas é elevada, gerando uma situação de atraso nas regiões tropicais. Face às dificuldades operacionais para implementação de programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a utilização de características indicadoras de precocidade sexual, que tenham variabilidade genética adequada, que sejam de mensuração fácil e econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à puberdade e outras características economicamente importantes (Bergmann, 1998).
O sucesso de um programa de melhoramento depende fortemente do uso de linhagens com desempenho superiores e adaptados às condições ambientais. Na inexistência de material genético superior não é possível obter alta produtividade e qualidade de produto. Desta forma o melhoramento tem tido papel fundamental no desenvolvimento da pecuária gerando animais com características de forte interesse econômico.
Algumas metodologias para alcançar estes objetivos têm sido constantemente perseguidas pelo melhoramento animal, destacando-se o uso de marcadores de DNA ou moleculares que vem recebendo cada vez mais atenção, tanto de pesquisadores como de empresas e produtores. Marcadores são as características do DNA que diferenciam dois ou mais indivíduos e são herdadas geneticamente.
Os distintos tipos de marcadores moleculares disponíveis se diferenciam pela metodologia utilizada para revelar a variabilidade do DNA, diferenciando-se quanto à habilidade de detectar diferenças entre indivíduos, custo, facilidade de uso, consistência e repetibilidade. Os marcadores têm mostrado alguns loci que afetam as características qualitativas e quantitativas, evidenciando genótipos superiores em animais de interesse zootécnico e possibilitando acessar diretamente o genótipo de um individuo.
Assim sendo, usam-se técnicas que detectam os polimorfismos associados a genes sabidamente importantes para a característica que se pretende estudar. A abordagem do gene candidato deve ser aplicada quando forem substâncias que interfiram em mecanismos endócrinos ou fisiológicos controladores das características de interesse que possuam formas polimórficas, detectáveis por técnicas de genética molecular (Rosa,1997).
Para as características de fertilidade os genes candidatos poderiam ser do eixo hipotalâmico, por exemplo, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), a ocitocina, o fator inibidor da prolactina (PIF), hormônio folículo (PMSG) e seus respectivos receptores e enzimas das vias de biossíntese (Hafez, 1988). As enzimas reguladoras das vias de biossíntese de hormônios esteróides são importantes reguladoras do ciclo estral e conseqüentemente, representam genes candidatos para fertilidade.
Pesquisas indicam que ovinos da raça australiana Booroola apresentam alta taxa de reprodutiva, atribuída ao gene Fec. Existem dois alelos codominantes envolvidos na característica, de tal modo que os animais homozigotos (Fec+) apresentam taxa de ovulação de 1,5, os heterozigotos (Fec+/FecB) têm média de 2,9 e os homozigotos (FecB) de 4,7. As fêmeas FecB são identificadas pela medida da taxa de ovulação por endoscopia, neste sentido, o trabalho de introgressão desse gene nos rebanhos melhorados é dificultado.
Resultados satisfatórios já foram obtidos (Lanneluc et al., 1994) utilizando o gene Fec, entretanto estes marcadores representam o início para a seleção de outros marcados mais relacionados ao gene Fec. Em suínos foi observada associação entre a variação do tamanho de leitegada e o polimorfismo do gene ESR em diferentes raças (Short e Mc Laren, 1995). Os animais da raça chinesa Meisham apresentam uma forma do gene ESR, que aumenta de 0,8 a 1 leitão por leitegada a cada cópia do alelo, com acréscimo de 1,6 a 2 leitões por leitegada em animais homozigotos.
Com este objetivo, programas de melhoramento tais como o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore – USP, pesquisam a obtenção de marcadores moleculares para precocidade sexual. Entretanto Andréa et al., não constataram associação das variações encontradas pelos diferentes padrões de polimorfismos SSCP (Single Strand Conformation Polymorphism) nos genes da P450 Scc (Side Shain Cleavage) e da Prl (Prolactina) sobre a precocidade sexual, caracterizada pela idade ao primeiro parto em novilhas da raça Nelore.
Os resultados obtidos indicaram a necessidade futura de aproximação dos diferentes haplótipos na tentativa de descobrir genes candidatos envolvidos em variação genética quantitativa em animais de interesse zootécnico. A presença de SNPs (Single Nucleotide Polimorphism) seria um método de abordagem a ser considerado.
No Brasil, trabalhos demonstram que as médias das estimativas de herdabilidade para idade à primeira cria de animais zebuínos variam de 0,41 (Ayala, 1990) a 0,25 (Mercadante, 1996). Essas informações mostram a existência de possibilidades de resposta à seleção. A idade ao primeiro parto e a idade à puberdade apresentam correlação genética, assim obtém-se melhoramento da precocidade sexual quando se seleciona para idade ao primeiro parto (Bergmann, 1998). A idade ao primeiro parto pode ser utilizada como critério de seleção para precocidade sexual, e pode apresentar maior resposta em populações nas quais as fêmeas entram na estação de monta em torno dos 14 meses de idade (Pereira et al., 2002).
De grande relevância econômica, a seleção para precocidade sexual pode ser obtida apesar das dificuldades em sua implantação. Os trabalhos com marcadores moleculares estão apenas iniciando, muitos loci deverão ser ainda mapeados e os genes correspondentes com suas seqüências poderão ser identificados e estudados nos próximos anos. A ferramenta fornecida pela revolução do DNA esclarecerá, sem dúvida, a resposta da biologia das características de interesse econômico. O uso todas as tecnologias visando o melhoramento animal estão sendo aplicados nos rebanhos disponibilizando ao mercado consumidor, produtos de melhor qualidade a um menor custo.
Referências bibliográficas
ANDRÉA, M. V. et al., Evidence of polimorphism association en the genes p450 side chain cleavage and prolactin with puberty in heifer´s nelore. In: III Congresso Internacional sobre Mejoramiento Animal, el I Congreso Internacional de Ganadería Sostenible y el I Congreso Internacional de Produccion Animal, 2005, Habana.
AYALA, J. M.N. Efeitos genéticos e não genéticos sobre as características reprodutivas ponderais de duas populações de bovinos da raça Nelore. 1990. 149 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 1990.
BERGMANN, J.A.G. Indicadores de precocidade sexual em bovinos de corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE RAÇAS ZEBUÍNAS, 3. 1998, Uberaba, Anais. Uberaba: ABCZ, 1998. p. 145-155.
HAFEZ, I.S.E. Reprodução animal. 4. ed. São Paulo: Manole, 1988. 720 p.
HILL, I. D. Reprodução com metas de precocidade marca o programa da Jacarezinho. Pec. Corte, p. 19-26. 1998.
LANNELUC, I.et al. Genetic markers for the Booroola fecundity (Fec) gene in sheep. Mammalian Genome, v. 5 ,p. 26, 1994.
LÔBO, R. B. et al. Avaliação genética de animais jovens, touros e matrizes. Ribeirão Preto: USP/FMRP/GEMAC/Departamento de Genética, 2002. 76p.
MDIC/BeefPoint – Otavio Negrelli. Disponível em: . Acesso em 17 mar. 2006.
MERCADANTE, M.E.Z.; LÔBO, R.B.; REYES, A. et al. Estudo genético-quantitativo de características de reprodução e produção em fêmeas da raça Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33, 1996, Fortaleza. Anais… Fortaleza: SBZ, 1996. p. 155-157. Resumo.
PEREIRA, E.; ELER, J. P.; FERRAZ, ,J. B. S. Análise genética de características reprodutivas na raça Nelore. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.37, n.5. p.  maio 2002.
ROSA, A J. R. Caracterização da raça Nelore e teste de paternidade por marcadores moleculares. 1997.114f. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
SHORT, T.H.; McLAREN, D.G. Hal – 1843, the ESR gene test and beyond: the future of marker assisted selection in pig breeding. American Association of Swine Proctitioners, v. 133, p. 1995

terça-feira, 13 de maio de 2014

REGALIA FIV AYMORE



REGALIA FIV AYMORE - GRANDE CAMPEÃ FAIVE 2012 - BASCO X SALSITA - ATMA DE NAVIRAI NA SALSA 3

A IMPORTÂNCIA DA VACINAÇÃO CONTRA BRUCELOSE

http://www.emater.go.gov.br/wp-content/uploads/2014/05/Vacina%C3%A7%C3%A3o-contra-aftosa2.jpg 
A brucelose é uma doença grave causada por uma bactéria chamada Brucela, que ataca bovinos, suínos, equinos, caprinos, ovinos e pode ser transmitida ao homem. A brucelose não tem cura e a única forma de evitá-la é com a vacinação.
O fiscal estadual agropecuário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) Marcelo de Aquino explica que no caso de bovinos somente as bezerras devem ser vacinadas. “É importante destacar que somente as bezerras devem ser vacinadas contra essa doença, e a vacina só pode ser aplicada entre os três e os oito meses de vida do animal. A vacina só pode ser aplicada por um veterinário credenciado pelo IMA, porque ser uma chamada ‘vacina viva’. Se na hora de vacinar a pessoa que estiver aplicando furar o dedo com a agulha, ela pode contrair a doença, que não tem cura.”
Aquino explica ainda que depois de vacinar as bezerras o produtor precisa procurar o Estado. “Ele deve vir ao escritório do IMA e declarar que o animal foi vacinado. Porque, ao pedir uma Guia de Transito Animal [GTA], se não tiver o registro que o animal foi vacinado, o produtor não consegue emitir a guia e não pode transitar com os animais”, destaca.
Além de não poder requerer a guia de trânsito no IMA, caso a vacinação não seja feita, o produtor comete uma infração por isso, como explica Aquino. “As bezerras só podem ser vacinadas com idade entre três e oito meses — nada de vacinar antes disso ou depois. E a vacina só pode ser aplicada em bezerras, isso porque são elas que reproduzem as bactérias da doença — com os machos isso não acontece. E hoje, infelizmente, estamos tendo um grande número de autos de infração no quesito de vacinação de bezerras contra a brucelose.”
O fiscal sugere que os produtores vacinem as bezerras contra a brucelose quando forem vaciná-las contra a febre aftosa. “No mês de maio vamos ter a primeira etapa de vacinação contra a febre aftosa dentro do Estado de Minas Gerais. O produtor já pegou o gado, já prendeu o gado e já pode aproveitar e vacinar também contra a brucelose.”
Aquino explica de que forma a doença pode ser transmitida ao homem e os cuidados que devem ser tomados. “Quando a fêmea infectada aborta ou dá cria, a bactéria que causa a brucelose contamina pastagens, água, alimentos, estábulos e outros animais, por meio de corrimento vaginal e restos de feto. O homem pode contrair a doença ao entrar em contato com animais doentes, carnes e miúdos contaminados, tomando leite cru ou mal fervido e comendo queijo fresco produzido com leite cru. Então, a melhor forma de prevenir o próprio produtor e as bezerras é aplicando a vacina. E é importante ressaltar que os produtores devem comprovar no IMA a vacinação de suas bezerras”,

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Programa Geneplus

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Desde a fundação da Embrapa Gado de Corte em julho de 1977, os pesquisadores da área de melhoramento animal tinham a convicção de que para se realizar, de fato, o melhoramento genético, é preciso uma atuação direta nos rebanhos de seleção.

Esta percepção foi decisiva para a busca de parcerias privadas, cujo primeiro exemplo foi o convênio com a Associação Brasileira de Criadores de Zebu, assinado em 1979. Com a expansão desta cooperação técnica para nível nacional, em 1982, e a nomeação da Embrapa pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Gerente do Arquivo Zootécnico Nacional, em 1987, os sumários nacionais de touros das raças zebuínas passaram a ser editados, periodicamente.

A partir da difusão desta nova tecnologia os criadores, aos poucos, passaram a demandar por informações mais detalhadas sobre os seus próprios rebanhos. Desta forma, calcada na experiência adquirida ao longo de quase vinte anos de trabalhos, a Embrapa Gado de Corte, em parceria com a Geneplus Consultoria Agropecuária Ltda., desenvolveu e colocou à disposição da cadeia produtiva, em 1996, o Programa Geneplus-Embrapa.

Programa Geneplus

O Programa Geneplus é um serviço especializado de melhoramento genético animal colocado à disposição do criador, pela Embrapa Gade de Corte.

Como se inscrever no programa


Para se cadastrar neste serviço, o criador deve procurar pela equipe técnica do Programa, em conjunto com a qual será estabelecido um Plano de Trabalho a ser conduzido na Fazenda. Nesta proposta, em função das condições de infraestrutura e de pessoal, bem como do material genético disponível (matrizes e reprodutores) serão definidos os objetivos do Programa, as características a serem monitoradas, a rotina de coleta de dados envolvendo as fases de acasalamneto, nascimento, cria e recria dos animais e as estratégias de melhoramento genético a serem aplicadas.

Após a assinatura do contrato de prestação do serviço, a etapa seguinte é a implantação do Programa. Nesta oportunidade, um técnico credenciado se fará presente na Fazenda, apresentando ao seu pessoal administrativo e de campo os objetivos e metas a serem cumpridos, o cronograma de coleta de dados e a metodologia do trabalho, dentre outras informações, de modo a integrar todas as pessoas em um trabalho de equipe.

Compromissos do criador


Zelar pela fidedignidade dos dados e enviar cópias destes dados (backups) a Coordenação do Programa duas vezes ao ano, conforme calendário apresentado no Plano de Trabalho.

Metodologia para análise dos dados


Uma vez recebido o backup dos dados do participante, os mesmos são submetidos a análises de consitência e migrados para a base da raça a qual pertencem, mantida pelo Programa Geneplus.

Esta base de dados é preparada adequadamente e submetida a avaliação genética pela equipe técnica do Programa. Os resultados para cada animal - valores genéticos expressos em DEP-Diferença Esperada na Progênie e respectivas acurácias (precisão das deps) e percentis (posição da estimativa dentro da população) são apresentados ao participante em meio eletrônico (SGP-Sistema Geneplus) com opções de buscas por categoria (touros, matrizes e produtos) e com diversas ferramentas para a prática do melhoramento genético e suporte de programas de comercialização dos animais.

Manejo de pastagem

http://www.neloreirca.com/wp-content/uploads/2009/08/Produ%C3%A7%C3%A3o-de-carne-a-pasto-502x377.jpg

Introdução
Um dos principais problemas dos sistemas de produção leiteira da Zona Bragantina, como em toda a Região Amazônica, é a falta de persistência das pastagens, que normalmente culmina com a sua degradação. É considerada degradada uma pastagem cuja maior parte foi tomada por plantas invasoras ou constitui-se solo descoberto. Entre as causas dessa degradação, o manejo inadequado da pastagem é um dos mais notados. Outro importante problema, que também depende do manejo de pastagem, é o baixo valor nutritivo da forragem consumida pelos animais.
O sistema de pastejo mais utilizado nas propriedades leiteiras da Zona Bragantina é o rotativo não-controlado, com longos períodos de ocupação, com três ou mais piquetes ou subdivisões. Apesar da preocupação dos produtores em melhorar a utilização dos recursos forrageiros, via manejo da pastagem, isso não ocorre, normalmente, na prática. Além dos períodos de ocupação dos piquetes serem demasiadamente longos, não existe um controle da lotação, ocorrendo problemas de sub ou superpastejo. Essa inadequada utilização da pastagem pode provocar sua degradação, possibilitando a invasão de plantas indesejáveis, não-forrageiras, comprometendo a alimentação do rebanho (Hostiou et al. (2004).
Em levantamento das pastagens nas propriedades leiteiras da Microrregião de Castanhal, na Zona Bragantina, Bendahan (1999) verificou que a área de solo coberto pela pastagem variou de 45% a 84%, enquanto que a digestibilidade, o teor de proteína bruta e o de fósforo na forragem alcançaram apenas 75%, 38% e 26% das respectivas recomendações para as vacas leiteiras.
O grande objetivo do manejo de pastagem no sistema de produção leiteiro é permitir às vacas uma eficiente utilização de forragem da melhor qualidade, durante o ano inteiro, sem comprometer a sustentabilidade da pastagem. Dessa forma, o manejo da pastagem deverá permitir uma adequada colheita da forragem produzida por parte dos animais. Por exemplo, desde que a qualidade da dieta não seja comprometida, as práticas de pastejo que reduzem as sobras de forragem sobre o solo, ao final de um pastejo, deverão ser privilegiadas.
Fatores de manejo de pastagem
Pressão de pastejo (lotação animal)
O fator de manejo que mais afeta a persistência das pastagens é a pressão de pastejo, expressa na prática pela lotação animal. Visando lucros imediatos, muitos produtores utilizavam - sem o devido descanso e por longo tempo - lotações animais muito acima da capacidade de suporte das pastagens, chegando, em alguns casos, a 2-3 UA/ha1, sem a devida reposição de nutrientes ao solo, comprometendo a sua vida útil. A experiência regional de manejo de pastagem, em sistemas extensivos (sem reposição de nutrientes do solo via adubação), recomenda se ajustar a carga animal à disponibilidade de forragem, o que leva, após o devido tempo de ajuste, a uma lotação de 0,75 a 1,5 UA/ha. Em sistemas intensivos (com reposição de nutrientes do solo via adubação), é possível alcançar lotações bem mais altas, 2 a 3 UA/ha, ou mesmo maiores, dependendo do nível de aplicação de insumos.
Freqüência de pastejo (sistema de pastejo)
Outro fator de manejo de pastagem, que nas condições regionais pode ser de considerável importância, é a freqüência de pastejo. No passado, esse fator era pouco considerado, tanto que o sistema de pastejo predominante era parecido com o contínuo (sem descanso e sem rotação de pastagem), com pouca divisão de pastagem. Mesmo sob uma lotação animal razoável, periodicamente, as pastagens tropicais, principalmente aquelas formadas por gramíneas de hábito ereto ou entoiceirado, necessitam descansar do pastejo animal. O descanso da pastagem permitirá a restauração do seu índice de área foliar e do seu sistema radicular, possibilitando maior cobertura do solo e competitividade com as plantas daninhas. Maior eficiência desse processo pode ser alcançada, quando o controle das plantas daninhas é feito no início do descanso da pastagem.
A freqüência de pastejo se expressa pelo sistema de pastejo. No pastejo contínuo, a pastagem não tem descanso, ou seja, o tempo de descanso é zero, e por isso, não requer subdivisão da pastagem. No pastejo rotativo, o número

UA1 = Animal de 450 kg.
de subdivisão ou de piquete da pastagem (2, 3, 4, 5, 6 ... n) e o tempo de pastejo ou permanência dos animais em cada piquete, determinam o descanso da pastagem.
Interação pressão de pastejo versus freqüência de pastejo
Os fatores pressão de pastejo e freqüência de pastejo não atuam isolados, sendo a sua interação muito importante. Mesmo considerando as características intrínsecas de cada forrageira, as respostas das pastagens à variação desses fatores seguem mais ou menos um mesmo padrão. Nas pastagens tropicais, há um consenso entre os estudiosos de que o fator que mais afeta a produtividade animal é a pressão de pastejo, ou seja, maior parte da variabilidade na produção animal de uma pastagem é explicada pela variação da pressão de pastejo do que pelo sistema de pastejo.
A experiência e as pesquisas regionais possibilitam estabelecer padrões de manejo de pastagem para aumentar a produtividade e a sustentabilidade da pastagem e, por conseguinte, a produção animal. Na Tabela 1, é encontrado o padrão da resposta das pastagens, manejadas extensivamente, à pressão de pastejo (lotação animal) nas condições regionais.
Tabela 1. Padrão de resposta das pastagens, manejadas extensivamente, à pressão de pastejo (carga animal) nas condições regionais.
Lotação Animal (UA* /ha ) Resposta da pastagem Reflexo na produção animal
Baixa (<0,75) Acúmulo de forragem de baixa qualidade,porém os animais podem selecionar.
Maior persistência da pastagem e maior concorrência com as plantas daninhas
A produção por animal é alta, porém aprodução por hectare é baixa
Média (0,75 a 1,25 ) Situação Intermediária Situação Intermediárias
Alta (>1,25) A quantidade de forragem embora de boa qualidade tende a diminuir A produção por hectare é baixa, porém a produção por hectare é alta.
A partir de certo nível de lotação, a produção por animal e por hectare são baixas
*UA = Equivalente a um animal de 450kg de peso vivo.
Fonte: Veiga e Tourrand (2001)
Igualmente, o desempenho das pastagens, em virtude da freqüência de pastejo (sistema de pastejo), em condições regionais, é sintetizado na Tabela 2.
Tabela 2. Desempenho de pastagens regionais em virtude da freqüência de pastejo (sistema de pastejo).
Frequência ou sistema de pastejo Definição Indicação Investimento
Produção
Por
Animal
Por
Hectare
Continuo O gado fica mais de 30 dias numa mesma pastagem Sistemas extensivos (pastagens de baixa produtividade ou nativas, baixa lotação animal)
baixo (em cercas) Média /alta Média / baixa
Rotativo menos intensivo Pastagens com no máximo quatro sub-divisões.
O gado fica numa sub-divisão por 7 a 30 dias, enquanto as outras descansam
Sistemas menos intensivos (pastagem recém e bem fornada, média lotação animal).
Médio (em cercas) Média Média
Rotativo mais intensivo Pastagens com mais de quatro sub-divisões.
O gado fica numa sub-divisão por 1 a 7 dias, enquanto as outras descansam
Sistemas intensivos (pastagem de alta produção e qualidade, solos adubados, alta lotação animal). Alto (em cercas e adubos) Média /baixa Média /alta
Fonte: Veiga & Tourrand (2001)
A pressão de pastejo (lotação animal) pode ser mais facilmente manipulada que o sistema de pastejo. Enquanto que para alterar a lotação, apenas é necessário se adicionar ou retirar animais da pastagem. Para passar de um sistema de pastejo contínuo para um rotativo, são necessários investimentos em cercas, bebedouros e cochos de sal, assim como maior gasto com mão-de-obra na sua condução.
Apesar de já ter sido estabelecido o padrão de resposta das pastagens aos fatores de manejo de pastagem, ainda se ressente de informações específicas às espécies forrageiras e à estação do ano. Na falta de pesquisa mais conclusiva, algumas informações práticas são apresentadas na Tabela 3.
Tabela 3. Altura da pastagem e fator tempo no manejo de algumas pastagens regionais.
Espécies forrageiras / hábito de crescimento Altura da pastagem em pastejo contínuo (cm) Tempo em pastejo rotativo (dias)
De descanso De pastejo
Máxima* Mínimia** Inverno*** Verão****
Quicuio (decumbente) 35-45 15-20
28-35 35-42 1-15
Branquiarão (semi-decumbente) 45-50 25-30
Colonião e outras espécies do gênero Panicum (erecto, entoicerado) 60-80 30-40
*Acima da qual a lotação deve ser aumentada. **Abaixo da qual a lotação deve ser reduzida. *** Período mais chuvoso. ****Período menos chuvoso ou seco
Fonte: Veiga & Tourrand (2001).
Exemplos de sistemas de pastejo rotativo
Um sistema de pastejo rotativo, com 6 piquetes e com tempo de pastejo de 6 dias e de descanso de 30 dias, apenas com adubação na formação da pastagem, foi testado satisfatoriamente em pastagem de braquiarão, em propriedade leiteira da Zona Bragantina (Camarão et al. 2002).
A seguir, descrevem-se os passos na concepção de dois exemplos de sistema de pastagem rotativo. Esses sistemas são mais intensivos que a média dos praticados nas propriedades leiteiras da Zona Bragantina.
a) Sistema de pastejo rotativo _ Exemplo 1
Especificações
Quantidade de animais: 12 vacas e 1 touro
Tempo de descanso de cada piquete: 30 dias
Tempo de pastejo de cada piquete: 15 dias
1 UA (unidade animal): 450 kg de peso vivo.
Peso de uma vaca: 400 kg de peso vivo.
Peso de um touro: 600 kg de peso vivo.
Taxa de lotação: 1,5 UA/ha.
Adubação da pastagem: Nenhuma ou apenas de formação.
Cálculo do número de piquetes (subdivisões)
Aplicando-se a fórmula N = D/P + 1, onde N é o número de piquetes, D é o tempo de descanso e P é o tempo de pastejo, tem-se N = 30/15 + 1 = 3 piquetes.
Cálculo do peso dos animais
12 vacas x 400 kg + 1 touro x 600 kg = 5.400 kg.
Cálculo da área total da pastagem
Como a carga é 1,5 UA/ha, logo 1 ha irá suportar 1,5 x 450 kg ou 675 kg de peso vivo.
Então, a área de pastagem para o total de animais é 5.400 kg/675 kg = 8 ha.
Cálculo da área de cada piquete
8 ha/3 piquetes = 2,67 ha.
Representação gráfica do sistema
b) Sistema de pastejo rotativo _ Exemplo 2
Especificações
Quantidade de animais: 24 vacas e 1 touro.
Tempo de descanso de cada piquete: 35 dias.
Tempo de pastejo de cada piquete: 7 dias.
2,67 ha
12 vacas
1 touro
2,67 ha 2,67 ha
1 UA (unidade animal) 450 kg de peso vivo.
Peso de uma vaca: 400 kg de peso vivo.
Peso de um touro: 600 kg de peso vivo.
Taxa de lotação: 2,0 UA/ha.
Adubação da pastagem: De formação e de manutenção.
Cálculo do número de piquetes (subdivisões)
Aplicando-se a fórmula N = D/P + 1, onde N é o número de piquetes, D é o tempo de descanso e P é o tempo de pastejo, tem-se N = 35/7 + 1 = 6 piquetes.
Cálculo do peso dos animais
24 vacas x 400 kg + 1 touro x 600 kg = 10.200 kg.
Cálculo da área total da pastagem
Como a carga é 2 UA/ha, logo 1 ha irá suportar 2 x 450 kg ou 900 kg de peso vivo.
Então, a área de pastagem para o total de animais é 10.200 kg/900 kg = 11,33 ha.
Cálculo da área de cada piquete
11,33 ha/6 piquetes = 1,89 ha.
Representação gráfica do sistema
Obs.: As informações para adubação de sistemas de pastejo rotativo podem ser obtidas no capítulo "Formação e manutenção de pastagem".
1,89 ha
24 Vacas
1 Touro
1,89 ha 1,89 ha 1,89 ha 1,89 ha 1,89 ha

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Marmoreio é a principal característica sensorial para carne bovina

http://revistagloborural.globo.com/Revista/GloboRural/foto/0,,43979064,00.jpg
Desde a primeira Auditoria Nacional de Qualidade da Carne Bovina (NBQA) em 1991 – e recorrente a cada cinco ano – identificar os desafios de qualidade que limitam o crescimento da demanda por carne bovina, a indústria tornou uma prioridade resolver essas preocupações. Apesar de terem acontecidos alguns progressos em se tornar mais ciente com relação aos consumidores, são necessárias contínuas melhoras. A satisfação ao consumo continua sendo um dos maiores desafios de qualidade, seguido de segurança alimentar.
À medida que a indústria se torna mais consciente sobre o que afeta a demanda, mais é aceito que o que é fornecido ao consumidor não é meramente carne bovina, mas sim, sabor. Pesquisas têm reforçado que as pessoas pagariam mais para ter um nível maior de satisfação, pois quando se fala de carne bovina, o sabor é o maior destaque.
A ciência continua mostrando que a satisfação ao consumo é um reflexo da maciez, do sabor e da suculência, que melhora à medida que o marmoreio aumenta. A maciez tem sido uma importante prioridade dos consumidores da cadeia de fornecimento de carne. Porém, pela primeira vez na história da auditoria, uma melhora no sabor foi mais importante do que na maciez. Uma vez que um nível de maciez é alcançado, o sabor se torna mais importante.
Segundo estudo da Universidade do Estado do Colorado, existe uma forte relação entre o nível de marmoreio e as propriedades sensoriais da carne, especialmente o sabor.  O trabalho descobriu que a maciez e a presença de um sabor “amanteigado e de gordura na carne” foi responsável por 91% da variação em todas as experiências sensoriais. Por sua vez, 40% da variação da maciez e 71% da variação no sabor desejável foi devido ao nível de marmoreio.
Avaliando as características sensoriais, o estudo concluiu que o consumo dentro da classificação Prime (alta quantidade de marmoreio) tem probabilidade maior que 98% de satisfação. Com quantidades modestas e moderadas de marmoreio, o limiar para muitas marcas premium Choice, a chance de uma boa experiência é de 82-88%. Em contraste, pouco marmoreio teve 62% de probabilidade de uma experiência positiva e um leve marmoreio na carne classificada como Select teve chance de apenas 29% de satisfação.
Fornecer produtos com melhor sabor é refletido dentro das indústrias, para oferecer produtos de classificação Choice através de carne de qualidade e programas de marcas que ajudam a garantir a satisfação do consumidor.
De acordo um uma análise da demanda de carne bovina no atacado, da Universidade Estadual de Kansas, de 2002 a 2011, a demanda por carne de marca aumentou em 70%, enquanto que a demanda por Choice conseguiu pouco mais de 15% de aumento. Isso, em meio à crise econômica, sugere que os consumidores levam em conta a relação entre preço e qualidade, e não apenas preço.
O marmoreio e seu impacto benéfico no sabor se torna cada vez mais importante. Maiores níveis de marmoreio ajudam a apoiar o propósito de valor à carne, pois os consumidores são convidados a gastar mais por isso. Sem uma melhora contínua, a decisão dos consumidores de comprar outras proteínas mais baratas se torna mais fácil.
Um ganho de peso eficiente e a deposição de marmoreio são frequentemente vistos como características antagônicas. Os dois principais fatores que governam essa área são a genética, pois determina o máximo de marmoreio e o quão rápido o gado pode ganhar peso; e o manejo. Existe um amplo acordo de que a carcaça bovina de alta qualidade e com bom marmoreio é um produto final mais valioso para a indústria, com uma parição bem sucedida e criação saudável do bezerro com ganho de peso rápido e eficiente.
Os sinais econômicos disseminam a percepção de que é muito mais fácil e construtivo produzir o que os consumidores realmente desejam, ao invés de produtos que eles precisam ser convencidos a comprar através de descontos. Esses sinais são a geração de mercado premium que busca a meta prática e sustentável em marcas de carne bovina com bom marmoreio e classificações premium.
A relevância do marmoreio está baseada em seu papel chave na determinação de sabor e, dessa forma, na crescente demanda dos consumidores. Isso representa uma oportunidade financeira para toda a cadeia. Os esforços para não somente manter, mas melhorar os níveis de marmoreio podem beneficiar a todos, do produtor recebendo preços premium, aos parceiros estabelecendo mais relações estáveis com consumidores satisfeitos.