Engenheiro agrônomo ensina a escolher sementes de milho e sorgo, preparar o solo, fazer picagem e compactação do volumoso

No Brasil, a oferta sazonal de pasto faz com que o produtor precise se
preparar para alimentar o rebanho na época da seca. Rica em energia, a
silagem entra como complemento à dieta animal baseada também em
proteína. O milho e o sorgo, além do capim, são as principais fontes de
matéria verde quando o verão se encerra. Explorando o processo que vai
da escolha da semente à compactação desses dois grãos, o engenheiro
agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo, Diego Oliveira Carvalho, ensina como
obter um volumoso de qualidade para nutrir o gado.
Preparo do solo – Quanto ao plantio e preparo do solo,
a produção de silagem não difere em nada da de grãos. “Boa fertilidade
reflete em produtividade e o mais recomendado é realizar o plantio
direto”, afirma Carvalho. Uma análise do solo indica se é necessária a
aplicação de gesso ou calcário. A correção da área também pode ser feita
em paralelo para facilitar o trânsito das colheitadeiras. Com adubação e
correção do solo em dia, é hora de escolher as sementes.
Sementes – Pensando em oferecer maior grau de
digestibilidade para o animal, as empresas produtoras de sementes
destinam à produção de silagem os grãos com textura mais macia. Gerente
da Embrapa Produtos e Mercados, Reginaldo Resende, pontua que a
avaliação de cultivares de milho e de sorgo apropriadas para a produção
de silagem teve início na safra passada. Hoje, as cultivares de milho
distribuídas pela Embrapa são as variedades BRS 4103 e BRS Caimbé, os
híbridos BRS 3040, BRS 2022 e HTMV1. Já de sorgo foram disponibilizados a
variedade BRS Ponta Negra e o híbrido BRS 655 – este último foi
destaque por sua alta qualidade, com produção de 17.404 quilos de leite
por hectare e 944 quilos de leite por tonelada de matéria seca ingerida.
Milho ou sorgo? – De acordo com Diego Carvalho, a boa
silagem de sorgo apresenta valor nutricional equivalente ao do milho,
com um desempenho que não varia em mais de 10%. A principal diferença
entre as duas culturas se dá quanto à uniformidade de amadurecimento dos
grãos e resistência à seca.
“O milho tem a vantagem de amadurecer de uma só vez, sendo fácil
atestar o momento certo para a colheita”, explica o engenheiro agrônomo.
Uma dica prática para não errar no ponto é espremer o grão entre os
dedos e ver se ele está com textura de leitoso para farináceo, começando
a endurecer. Carvalho também diz para o produtor ficar atento à linha
do leite quando quebrar a espiga ao meio. “O ponto de colheita é entre o
estágio farináceo e de ¾ dessa linha, quando o teor de matéria seca é
de 30% a 35%.”
Os grãos de sorgo, por sua vez, não amadurecem ao mesmo tempo na
panícula. O processo acontece da ponta para a base. “A textura e a
umidade dos grãos que ficam ao meio dela acompanham o princípio do ponto
de colheita do milho, entre leitoso e farináceo. A diferença é que
quando você observar essa característica no sorgo deve esperar ainda de
dois a três dias para iniciar a colheita, dando tempo para os grãos
amadurecerem de um lado a outro”, afirma Carvalho. Na dúvida, ele diz
para iniciar a colheira antes porque grãos duros demais prejudicam o
processo de compactação. Quanto à resistência à seca o sorgo apresenta
vantagens. “Por ter um sistema radicular mais abrangente e profundo, a
planta tem maior capacidade de hidratação, e sua camada cerosa no colmo
diminui a perda de água por evapotranspiração.”
Picagem – Em relação ao tamanho das partículas, o
especialista recomenda que tenham entre 0,5 e um centímetro. Além de
ajudar com a compactação, isso aumenta o aproveitamento dos nutrientes
pelo gado. “Hoje, com os sistemas corn-cracker, você aumenta a
probabilidade de o grão ser digerido pelo animal porque, dependendo do
tamanho da partícula, ele passa direto pelo trato digestivo.” Conferir a
distância entre a faca e contra-faca das picadoras é outro cuidado que
deve ser tomado pelo menos duas vezes ao dia durante o processo. A
recomendação é de que ela não passe de cinco milímetros para garantir o
tamanho mínimo das partículas.
Compactação – Talvez a parte mais importante do
processo de produção da silagem, a compactação é a etapa em que se
confirma a qualidade do alimento que será destinado ao gado. Seu
objetivo é eliminar todo o oxigênio entremeado no volumoso para aumentar
a eficiência da fermentação que produz o ácido lático responsável por
conservar a matéria orgânica. “O milho e o sorgo, naturalmente,
apresentam bactérias que dão conta desse processo, mas não raro os
produtores colocam na mistura aditivos que são nada mais do que
concentrados desses microorganismos.”
Segundo Diego, o baixo custo dos aditivos faz com que essa prática se
perpetue, embora já tenha se provado dispensável. A compactação
recomendada tanto para o milho quanto para o sorgo é de 600 kg/m³.
A escolha pela ensilagem em trincheiras também
facilita o procedimento, uma vez que as paredes feitas de alvenaria
ajudam a impedir a entrada do ar. Nesse casos, sucessivas camadas de 20
centímetros de volumoso podem ser compactadas pelo vaivém de tratores.
A ensilagem superficial é mais econômica e para sua
cobertura o mais indicado é usar lonas plásticas que tenham uma face
branca e outra preta. Embora grossas e resistentes, elas devem ser
cobertas ainda por uma camada de terra de 10 a 15 centímetros para
evitar a formação de bolsões de ar. Pedras podem ser colocadas nas
bordaduras para segurar melhor a lona e uma cerca é sempre bem-vinda
para evitar a aproximação de animais.
Conservação – Feito tudo dentro dos
parâmetros indicados, o silo ganha vida longa, podendo alimentar o
rebanho por anos consecutivos. O sinal de que tudo correu bem é sentido
na temperatura do volumoso. “Colocando a mão na silagem o produtor deve
reparar que a mistura não é nem fria nem quente, acompanhando a
temperatura ao redor.”
Segundo o Carvalho, na última safra, a Embrapa observou na região de
Minas Gerais variadas faixas de produtividade da silagem de milho.
Enquanto algumas fazendas produziram 16 toneladas por hectare, com custo
médio de R$ 140 a tonelada, outras alcançaram a marca de 45 toneladas
por hectare, a R$ 40. “Tudo depende de como se faz a gestão da
propriedade. O produtor precisa colocar os custos na ponta do lápis,
comprar os insumos na entressafra, ter uma boa lavoura e baratear a
produção investindo no manejo adequado”, diz Diego Carvalho.
Fonte: Portal DBO