domingo, 31 de janeiro de 2016

Arroba: frigoríficos já pagam acima da referência


Mesmo diante do lento escoamento da carne em janeiro, os preços do boi gordo estão sustentados. Nas praças de Barretos­SP e Araçatuba­SP, o boi ficou cotado em R$150,00/@ e R$151,50/@, à vista, respectivamente, na última quinta­feira (28/1). Algumas indústrias, em geral as de menor porte, ofertaram preços acima da referência. Acompanhe as cotações da arroba do boi gordo e da reposição em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php Em São Paulo, as grandes indústrias ainda possuem bois a termo, o que colabora com escalas um pouco menos apertadas. Contudo, a situação geral do mercado é de programações mais curtas e dificuldade de compra. Das trinta e uma praças consultadas pela Scot Consultoria, houve valorizações em cinco. Com informações da Scot Consultoria.

Reposição parou de subir

 

Após seguidas valorizações, o mercado de reposição se manteve praticamente estável nos últimos sete dias. A oferta limitada ainda é o principal fator que afeta o mercado, entretanto, a resistência aos preços vigentes diminui a movimentação do mercado e equilibra os preços. Acompanhe as cotações da arroba do boi gordo e da reposição em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php Mesmo assim, desde o início do ano o boi magro (12,0@), garrote (9,5@) e bezerro (7,5@) tiveram altas de 0,8%, 0,3% e 0,2%, respectivamente. Nos últimos sete dias, destaque para Rondônia, que apresentou aumento médio de 1,0%, considerando as categorias de machos anelorados. O boi magro foi a principal categoria que colaborou para esse aumento. Por outro lado, em Minas Gerais, houve mais uma semana de queda nos preços. A baixa demanda, comparada à oferta, causou queda de 0,5%, 0,6% e 1,6% para boi magro, garrote e bezerro desmamado. Com informações da Scot Consultoria.

Frigoríficos tentam ampliar vendas a países árabes

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Visando ampliar sua presença no mercado árabe, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) programa uma série de ações para fevereiro, nos Emirados Árabes Unidos (EAU) e na Arábia Saudita, como presença em feira (Gulfood, em Dubai) e churrascos em Dubai e em Riad para degustação do produto nacional. Em 2015, as exportações de carne bovina brasileira para os países árabes atingiram faturamento de US$ 1,4 bilhão – 24% do total exportado no ano. Somente os EAU importaram do Brasil, em 2015, 18 mil toneladas de carne bovina, gerando faturamento de US$ 84 milhões. Para a ABIEC, esse é um mercado com grande potencial: o país formado por uma confederação de monarquias árabes consome anualmente 108 mil toneladas de carne (85% são importadas), com expectativa de aumentar o consumo em até 8% até 2019. Já a Arábia Saudita, que recentemente suspendeu embargo à carne bovina brasileira, traz a possibilidade em curto prazo para o Brasil de exportar 40 mil tonel

SRB: Argentina demorará a voltar ao mercado

 

A reconquista de um espaço importante da Argentina no cenário global da carne bovina deve ocorrer a longo prazo, na opinião do presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, em entrevista ao Broadcast Agro, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Assim que assumiu, o presidente argentino, Mauricio Macri, retomou os incentivos às exportações de produtos agrícolas, incluindo a proteína animal, que tiveram forte recuo nos anos Kirchner. Para Junqueira, "a volta do país ao mercado de carnes vai levar mais tempo do que um governo Macri". A indústria argentina deverá, inicialmente, investir em nichos de maior valor agregado para a carne bovina, prevê. "Lembrando que o rebanho deles foi reduzido, por isso não devem entrar no segmento de carne commodity. Eles vão retomar mercados (mais nobres), que nós também queremos", afirmou. O dirigente acredita, entretanto, que o país vizinho tem tudo para voltar a ser um competidor de respeito. "Os argentinos detêm um know­how de mais longo prazo que o nosso", disse. Além disso, há ali uma cadeia produtiva muito mais estruturada do que a brasileira e a necessidade de recuperar o terreno perdido, "o que faz o sujeito ir mais rápido". Junqueira defendeu que o Brasil também precisa investir em cortes diferenciados e levar esta marca para o mercado internacional. "É preciso que as pessoas busquem por um brazilian beef quando entrarem em um restaurante lá fora", disse. Com informações do Canal Rural.

Produtor rural vive insegurança permanente

 

A constatação é da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que se reuniu na última quarta­feira, (27/01), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (FAEPA), em Belém, para discutir o problema das invasões de terras que afetam as propriedades rurais brasileiras. Os integrantes da Comissão apresentaram um panorama atualizado sobre as disputas de terras e também falaram sobre a necessidade de cobrar segurança jurídica do Estado. O presidente da FAEPA, Carlos Xavier, levou à Comissão suas principais reivindicações sobre os conflitos por posse de terra no Estado. De acordo com a Federação, o cenário atual necessita de atenção, pois mais de 600 ações possessórias tramitam nas varas agrárias do Estado do Pará, além do pedido de Intervenção Federal que está no Supremo Tribunal Federal. “Isso preocupa, porque essas reintegrações já deveriam ter acontecido. Nós conversamos com autoridades e constatamos que existem condições técnicas, mas falta vontade política de realizá­las”, revela o presidente. Direito à propriedade ­ A relação com a sociedade e os desafios que o produtor rural enfrenta diariamente foram os pontos destacados pelo professor doutor em filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor de análise política, Denis Rosenfield. Ele destacou a relação da agropecuária e o direito à propriedade. Além disso, falou sobre a importância da instituição da propriedade privada para a liberdade e para o desenvolvimento econômico do Brasil. “O direito à propriedade é central, não há uma sociedade que tenha abolido esse direito que tenha tido sucesso. Os que eliminaram só tiveram como resultado miséria e falência”, disse. Rosenfield chamou atenção para o protagonismo das entidades empresariais que souberam apostar no seu potencial administrativo público. Segundo o palestrante, é preciso haver um protagonismo público bem definido para alimentar a sociedade. Ele criticou o papel das Organizações Não Governamentais (ONGs) que são financiadas por empresas privadas e entidades ligadas à União Europeia e que defendem interesses setoriais de outros países aqui no Brasil. Ainda no evento, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO), Rui Prado, falou sobre a importância da reunião para esclarecer sobre os assuntos relacionados à questão fundiária. Rui detalhou também as ações das associações de Mato Grosso, como a Aprosoja, Acrimat e Ampa. “A FAMATO defende o direito à propriedade privada e às garantias dadas por lei aos proprietários rurais. É importante discutirmos os caminhos que devemos tomar para garantir a segurança jurídica no campo”, explicou. Com informações da CNA.

Descubra por que a carcaça nelore é muito valorizada

 

Raça veio da Índia e está presente na maioria do rebanho brasileiro 
A raça nelore, conhecidíssima da pecuária brasileira, teve origem na Índia ocidental e hoje está presente na maioria do rebanho nacional. A raça se adaptou muito bem ao Brasil porque possui uma capacidade considerada excelente de aproveitar alimentos grosseiros e resistir ao calor. O gado nelore possui a pelagem branca ou cinza clara, com tonalidade prateada e manchas escuras ao redo dos olhos, joelhos e quartelas. A cabeça nelore tem perfil subconvexo, de largura e comprimeiro médios. O pescoço é grosso e curto, musculoso nos machos e mais fino nas fêmeas. A barbela é bem desenolvida e chega até o umbigo. O tronco é cilíndrico, profundo e musculoso, com costelas longas, bem arqueadas, compridas e revestidas de músculos. Além de tudo, apresenta resistência natural a parasitas, devido às características de seus pêlos, que impedem ou dificultam a penetração de pequenos insetos na superfície da pele. A pele escura, fina e resistente, dificulta a ação de insetos sugadores, além de produzir uma secreção oleosa repelente, que se intensifica quando os animais estão expostos ao calor. O nelore é muito resistente ao calor devido a sua superfície corporal ser maior em relação ao corpo e por possuir maior número de glândulas sudoríparas. As características de seus pêlos também facilitam o processo de troca com o ambiente. Além disso, o trato digestivo é 10% menor em relação aos gados europeus. Portanto, seu metabolismo é mais baixo e gera menor quantidade de calor. Os machos e as fêmeas apresentam elevada longevidade reprodutiva. Touros nelore possuem instinto muito forte de proteção de seu harém de matrizes. As vacas apresentam facilidade de parto, por terem garupa com boa angulosidade, boa abertura pélvica e, principalmente, por produzir bezerros pequenos, o que elimina a incidência de distocia. Outras características das fêmeas são a excelente habilidade materna, oferecendo condições de desenvolvimento aos bezerros até o desmame; instinto de proteção ao bezerro; rusticidade; e baixo custo de manutenção. Os bezerros são espertos. Logo após o parto, já procuram as mães para fazer a mamada do colostro, que fornece imunidade nos primeiros 30 dias de vida. 

Características da carcaça e da carne
O nelore é a raça, no Brasil, que possui a carcaça mais próxima dos padrões exigidos pelo mercado, por apresentar porte médio, ossatura fina, leve, porosa e menor proporção de cabeça, patas e vísceras, com excelente rendimento nos processos industriais. A precocidade de terminação garante nas carcaças uma distribuição homogênea da cobertura de gordura, valorizando-a no mercado. Além disso, a cobertura evita que, durante o resfriamento, ocorra o encurtamento das fibras pelo frio. A padronização das carcaças otimiza a estrutura industrial e agrega valor aos cortes. A carne nelore tem como principais características o alto teor de sabor e o baixo teor de gordura de marmoreio. 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Os benefícios da pecuária sustentável

Por Evandro Schilling, Gerente de Produtos da GEA Farm Technologies do Brasil, empresa especializada em soluções para a pecuária
 
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Basta folhear qualquer jornal ou revista para obtermos informações sobre uma das principais preocupações do momento - a sustentabilidade. Mas como diversos líderes mundiais estão se mobilizando para procurar soluções para este problema, que atinge indiscriminadamente a todos os países, as ações individuais são desnecessárias, certo? Errado! As ações individuais, especialmente no campo, são mais do que necessárias, são fundamentais para conseguirmos mudar essa realidade e melhorar a qualidade de vida do nosso planeta.

Engana-se quem pensa que produzir leite de qualidade, buscar baixo custo na produção, garantir a excelência do produto e a saúde dos animais são as únicas atividades de uma propriedade leiteira. Na atual conjuntura que vivemos, as preocupações de um produtor de leite precisam ir além dos rígidos padrões de qualidade que devem ser seguidos. Hoje, o mercado está exigindo uma nova postura dos pecuaristas, onde o respeito ao meio ambiente e ao conforto dos animais são fatores preponderantes e que caminham lado a lado.

No que diz respeito aos cuidados ambientais, a água é o insumo mais importante em uma fazenda. Além de ser parte fundamental da dieta das vacas, a água é usada também na limpeza da propriedade, higiene dos animais e irrigação e, por sua grande importância para o dia a dia da propriedade, ela deve ser preservada e protegida de contaminações. Para isso, é preciso desenvolver projetos completos e inteligentes de manejo e transporte dos dejetos, de modo a garantir a qualidade das águas e também do solo.

O manejo sustentável dos dejetos, além de gerar benefícios para o meio ambiente - já que evita o contágio do solo e da água e reduz as emissões de metano na atmosfera, também proporciona economia financeira. Com um bom sistema de coleta e transporte destes dejetos e com a utilização de um separador de sólidos, (solução acessível aos produtores e com ótimo retorno do investimento), é possível a reutilização dos dejetos como fertilizante, seja por ferti-irrigação da parte líquida ou por aplicação do composto orgânico (sólidos). Neste caso, o produtor consegue uma importante diminuição da aplicação de fertilizantes químicos, garantindo economia e auxiliando na redução de outro grande problema enfrentado pelos produtores: o descarte das embalagens desses químicos.

Seguindo o exemplo de propriedades dos Estados Unidos, da França e da Holanda, que independente do tamanho e da produtividade, são bastante avançadas tecnologicamente nesses aspectos, projetos pioneiros já estão sendo implementados no Brasil. Mas, ainda assim, a preocupação com a sustentabilidade das fazendas ainda é recente, exigindo do governo ações, apoio e aporte econômico aos produtores para fomentar o investimento nesta área.
Além dos cuidados com o meio ambiente, outra tendência também está se configurando perante a pecuária moderna: o conforto dos animais. Este quesito vem aperfeiçoar as práticas de bem-estar animal - conceito tão difundido e valorizado nas propriedades e responsável por garantir a integridade do rebanho e a produtividade da fazenda.

O conforto dos animais merece atenção especial por parte dos pecuaristas. Alguns cuidados que, na maioria das vezes, não representam um investimento muito alto, podem proporcionar um grande aumento na produtividade. As vacas que possuem um ambiente bem preparado, com ventilação e higiene, se estressam menos, comem e bebem com mais freqüência e ficam mais dispostas e saudáveis. É este conjunto de fatores que induz uma maior produção e uma melhor qualidade do leite.

Mas, além de contribuir para um aumento significativo da produtividade, a preocupação com o conforto dos animais fomenta outra grande discussão dos nossos dias: o consumo consciente. Um bom exemplo são novamente os europeus, que buscam informações sobre as condições de produção dos alimentos antes de comprá-los e mais de 60% da população dá preferência aos produtos produzidos sob as normas de bem-estar animal.

No Brasil, os pecuaristas contam com a Instrução Normativa nº 56 do MAPA, que está em vigor desde novembro de 2008, e visa estabelecer os procedimentos gerais de Recomendações de Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico - REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte. As orientações, relacionadas a manejo, dieta, instalações e transporte de todos os animais de produção, tinham como objetivo evitar que o produto brasileiro sofresse restrições nos mercados de países importadores, mas hoje já norteiam as decisões de parte dos consumidores internos, que se preocupam com a questão ambiental.

Hoje, os produtores de leite, bem como aqueles que atuam na bovinocultura de corte e na suinocultura, podem contar com avançadas soluções em tratamento e transporte de dejetos e conforto animal. São sistemas de limpeza para Free Stalls e de bombeamento de dejetos, agitadores, separadores de sólidos e bombas para lagoas, elétricas, verticais e articuladas. Fora outras soluções que trouxemos no âmbito do bem-estar animal, como camas, colchões, ventiladores, contenções e canzil. Os sistemas de ventilação, por exemplo, proporcionam conforto térmico aos animais, estimulando a sua produtividade. Já os colchões, dispensam as convencionais camas de areia, que são contaminadas com muito mais facilidade e também demandam, além do alto custo de reposição, uma maior quantidade de água para a separação dos dejetos.

Portanto, os pecuaristas devem se atentar aos benefícios das novas tecnologias que aliam produtividade com sustentabilidade. Atualmente, atitudes sustentáveis e conscientes se tornaram diferenciais extremamente apreciados pelo mercado interno e externo. Bom para a natureza, bom para o produtor e bom para a humanidade.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pressão de alta na arroba do boi

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 Mercado firme e com pressão de alta na última quinta­feira (21/1). A recuperação dos pastos devido ao bom volume de chuvas tem possibilitado a retenção da oferta de boiadas no mercado, fato que sustenta os preços em algumas regiões. Acompanhe as cotações do mercado do boi gordo e da reposição em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php As escalas dos frigoríficos paulistas atendem em torno de quatro dias. A oferta de boiadas está restrita e há dificuldade de compra, o que tem ocasionado valorizações no estado. Segundo levantamento da Scot Consultoria, nas praças de Barretos­SP e Araçatuba­SP, a arroba do boi subiu para R$149,50 e R$151,00, à vista, respectivamente. Das trinta e uma praças pesquisadas pela Scot Consultoria, houve valorizações em oito. Com informações da Scot Consultoria.

Agro foi o único setor a gerar empregos em 2015

 

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que a agropecuária gerou 9.821 empregos em 2015. O setor foi o único a apresentar saldo positivo, resultado obtido graças ao aumento da produção e das exportações de produtos agrícolas. No ano passado, o país aumentou em 7,7% () a produção agropecuária na comparação com 2014, alcançando o recorde de 209,5 milhões de toneladas – conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso,a participação do agronegócio na balança comercial brasileira foi recorde, respondendo por 46,2% de tudo o que foi vendido ao exterior. De acordo com o ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar, o bom desempenho da agropecuária em 2015 mostra que os produtores brasileiros mantêm forte confiança no setor e continuam investindo na produção de alimentos para abastecer o mercado doméstico e ampliar as exportações. “Nos três primeiros trimestres de 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário cresceu 2,1%. Tivemos uma supersafra e exportação recorde. Tudo isso se reverteu em emprego”, destacou Nassar. Brasil fechou mais de 1,5 milhão de vagas No acumulado do ano passado, o Brasil perdeu 1.542.371 empregos formais. Foram 17.707.267 de admissões e 19.249.638 demissões. A Indústria de Transformação teve o maior saldo negativo, de 608,878 vagas (2.801.816 admissões e 3.410.694 demissões). Houve maior número de demissões em todos os componentes do cálculo para o setor. Depois apareceu Construção Civil, com menos 416.959 vagas (2.029.841 admissões e 2.446.800 demissões). O setor de Serviços teve perda de 276.054 empregos (7.172.221 admissões e 7.448.275 demissões). Entre os componentes deste cálculo, os segmentos de ensino (+477) e de serviços médicos e odontológicos (+50.687) tiveram saldo positivo, mas não foi suficiente para impedir o resultado negativo. O Comércio teve 218.650 postos formais a menos em 2015 (4.423.326 admissões e 4.641.976 demissões), com mais demissões que admissões tanto no segmento varejista quanto no atacadista. Em seguida, ficaram Indústria Extrativa Mineral, (­14.039, com 40.302 admissões e 54.341 demissões), Administração Pública (­9.238, com 84.830 admissões e 94.068 demissões) e Serviços Industriais de Utilidade Pública (­8.374, com 84.365 admissões e 92.739 demissões). Só no mês de dezembro de 2015, a economia brasileira perdeu 596.208 postos de trabalho. Foram registradas pelo Ministério do Trabalho 917.031 admissões e 1.513.239 demissões. Indústria de Transformação (­192.833 vagas, com 100.140 admissões e 292.973 demissões) e Serviços (­180.941, com 382.627 admissões e 563.568 demissões) lideraram a lista. Com informações do MAPA e do Globo Rural.

CAR chega a 65% das propriedades

 

Cerca de 2,25 milhões de imóveis rurais do país já realizaram o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ferramenta criada pelo governo federal para mapear as propriedades rurais brasileiras e facilitar a gestão ambiental do país. O montante perfaz quase 65% das propriedades rurais brasileiras. Segundo o Serviço Florestal Brasileiro, dados até 31 de dezembro de 2015 apontavam para uma área cadastrada de 258 milhões de hectares ­ mais de sete vezes o território da Alemanha ­, de um total de 398 milhões de hectares. A região Norte lidera os cadastrados, segundo informou hoje o governo, com 82% do total de área cadastrável já contemplada (ou 77 milhões de hectares). Em seguida vem a região Sudeste, com 63% das propriedades já cadastradas (35,5 milhões de hectares de uma área rural de 56,5 milhões de hectares), e o Centro­Oeste, com 63% de cadastrados (81,5 milhões de hectares do total de 130 milhões de hectares). Sul e Nordeste continuam com baixa adesão: 31,5% (13 milhões de hectares cadastrados, de 42 milhões) e 35,5% (27 milhões de 76 milhões de hectares), respectivamente. Obrigatório a todos os donos de terra no Brasil, o CAR é uma espécie de "raio X" rural, em que o produtor insere no site do governo imagens com coordenadas geográficas da propriedade e suas características, como área rural consolidada, presença de rios, florestas, estradas e instalações. A ferramenta é considerada um avanço na gestão territorial do país porque associa o cadastro à regularização ambiental. Para o diretor­geral do Serviço Florestal Brasileiro, Raimundo Deusdará, o importante é que o ritmo de inscrições no CAR vem sendo mantido, mês a mês. "Temos uma média de mais de cinco milhões de hectares cadastrados todo mês, o que é uma área considerável", disse. Segundo Deusdará, o ritmo de inscrições deve se acelerar, na medida em que se aproxima o fim do prazo, em maio deste ano. Com informações do Valor.

Arroba segue firme

 

Mercado do boi gordo com oferta enxuta e preços firmes. A pequena disponibilidade de boiadas mantém os preços sustentados. Em alguns estados, como em São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, as programações estão especialmente apertadas. Acompanhe as cotações do mercado do boi gordo e da reposição em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php Na praça paulista, na região de Araçatuba, o boi gordo subiu na última quarta­feira (20/1). A referência ficou em R$150,00/@, à vista, sendo que existiram negócios acima deste patamar. No balanço geral, o boi gordo subiu em 10 praças, o que retrata o cenário de preços em alta. Em curto prazo, a tendência de mercado comprador deve se manter. Porém, para a carne bovina, a situação é de preços mais frouxos. Com informações da Scot Consultoria.

Carne mais cara e arroba estável: bom para o frigo

 

A margem do Equivalente Scot Carcaça, que considera a remuneração do frigorífico com a venda de carne bovina com osso e demais produtos do abate, em relação ao preço pago pela arroba, tem evoluído nos últimos meses. Na média da primeira quinzena de janeiro deste ano, essa margem ficou em 17,9%. O índice está acima da média dos últimos doze meses, de 15,6%. No mesmo período do ano passado a margem era de 12,3%. O aumento da margem foi possível devido às recentes valorizações da carne bovina, ao mesmo tempo em que a arroba do boi gordo não teve alterações significativas de preços. Do início de dezembro do ano passado até o momento, o preço da arroba do boi gordo teve alta de 0,6%, considerando São Paulo como referência. Enquanto isso, a carne bovina com osso teve valorização de 5,8% no atacado. A expectativa em curto prazo é de que as margens de comercialização da indústria se estreitem, já que a carne vem sinalizando recuo nas vendas, e consequente desvalorização, enquanto o preço da arroba do boi gordo segue firme em todo país, pela restrição da oferta. Com informações da Scot Consultoria.

MAPA tenta conter disparada do milho


O Ministério da Agricultura vai lançar edital para vender 500 mil toneladas de milho que estão estocados na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para tentar conter o aumento dos preços do grão no mercado nacional. O novo leilão foi confirmado pela ministra Kátia Abreu nesta sexta­feira (22.01) via Twitter. O milho será leiloado para produtores de aves e suínos. “O Mapa analisa os preços dos alimentos diariamente. Temos um histórico dos preços em séries de uma década e os leilões da Conab ajustem estes preços. Os leilões são de compra quando o preço está baixíssimo para os produtores ou de venda quando está alto para consumidores”, publicou Kátia Abreu. Em novembro, a Conab realizou três leilões para enviar milho para garantir o abastecimento de alimentos da cesta básica em algumas regiões do País. Ao todo, duas operações foram realizadas para remover 17,54 mil toneladas de milho em grão, estocadas em Mato Grosso, para os estados da Bahia, do Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e Rondônia. Com informações do Agrolink.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Código Florestal e propriedades pecuárias

Discussões com ambientalistas ficaram para trás, mas o documento continua a fazer parte do dia a dia do produtor

Rodiney Mauro*
Já se passaram quase quatro anos desde a implantação da carta régia que pretende conservar o patrimônio ambiental brasileiro, o chamado “Novo Código Florestal”, publicado em 25 de maio de 2012 (Lei nº 12.651/2012). As discussões entre ambientalistas e ruralistas ficaram para trás.
Os ambientalistas afirmavam que o novo código apresenta certos problemas, entre os quais a perda de áreas que deveriam ser recuperadas como, por exemplo, as áreas consolidadas ocupadas antes de 22 de julho de 2008. De acordo com o código, estas devem ser mantidas ou passar por algum processo de recuperação quando em áreas de preservação permanente - APP, e com a orientação do órgão fiscalizador ambiental.
Outro pronto muito discutido foi a suspensão de multas recebidas antes dessa data, sendo que algumas foram retiradas quando o produtor se inscreveu no programa de recuperação ambiental e prometeu reparar os danos. Pelo lado dos ruralistas ainda perdura a discussão sobre Unidades de Conservação defendendo mudanças que favoreçam a transformação de algumas destas em áreas de produção. O fato é que para chegarmos ao Código atual foram realizadas muitas reuniões, audiências públicas, colhidas opiniões de alguns cientistas, atualizações do uso da terra no Brasil, entre outras informações.
O novo código trouxe em seu bojo alguns pontos que já fazem parte do dia a dia de todos os produtores brasileiros. O primeiro, e que considero mais importante, é a descentralização da gestão ambiental no Brasil, em seguida a figura do Cadastro Ambiental Rural (CAR), o Programa de Recuperação Ambiental (PRA), o sistema progressivo sobre compensação ambiental apelidado de “regra da escadinha”, e a criação do primeiro instrumento econômico de incentivo a conservação florestal no Brasil que é a Cota de Reserva Ambiental (CRA).
As gerências dos recursos ambientais passaram, em sua maior parte, para os estados brasileiros. A descentralização ainda está em processo, pois aguarda que todos os estado façam as capacitações necessárias para emitirem autorizações de empreendimentos rurais, outorgas de uso da água, etc.
O Cadastro Ambiental Rural é o documento que deve ser realizado para todas as propriedades brasileiras visando à regularização ambiental. Para isso, os proprietários devem entrar no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR) e proceder o registro que é obrigatório. O site está disponível no endereço www.car.gov.br, sendo que as declarações devem ser realizadas até cinco de maio de 2016.
O Programa de Recuperação Ambiental é o próximo passo a ser realizado por todos os proprietários rurais. Este é um planejamento para recuperar possíveis áreas degradadas dentro das propriedades. A orientação técnica neste caso é fundamental, pois devem respeitar prazos, obrigações e tecnologias para a melhor realização com o menor custo.
Regra da escadinha estabelece que as obrigações de recuperação de áreas devem estar de acordo com o tamanho das propriedades, de forma escalonada, por exemplo, margens de cursos de água de qualquer largura, até 1 módulo rural, devem recuperar 5 metros de matas ciliares; de 1 a 2 módulos, 8 metros; de 2 a 4 módulos, 15 metros. De acordo com essa regra, as propriedades rurais que possuem acima de quatro módulos deverão fazer a recuperação de acordo com o Programa de Recuperação Ambiental (PRA) estabelecido nos estados.
A Cota de Reserva Ambiental é um instrumento de benefício financeiro ao produtor que possui área de vegetação nativa superior àquela obrigatória por lei. Todas as propriedades rurais devem ter um percentual de vegetação nativa de acordo com os biomas. Sendo assim, aqueles que não possuem esse percentual podem buscar, no mesmo bioma, áreas para compensação. Portanto, as cotas se tornaram uma fonte de renda extra para quem as cria e vende.
Novas leis ainda estão sendo gestadas nos órgãos governamentais e que preveem criação de programa de incentivos financeiros, ou outro instrumento econômico, para recuperação de áreas desmatadas e/ou degradadas visando à conservação dos recursos naturais brasileiros.
* Rodiney de Arruda Mauro é pesquisador de Gestão Ambiental e Recursos Naturais da Embrapa Gado de Corte.

Embrapa Gado de Corte

Etapas para formar uma boa pastagem

Especialista da Embrapa Gado de Corte dá dicas para o produtor fazer um plantio de qualidade

É época de formar pasto e o produtor tem até meados do mês de janeiro para plantar, passando desse período corre-se o risco de não se obter um bom estabelecimento da pastagem.
Quem está pensando em formar pasto tem que, primeiro, escolher a espécie forrageira. E que tal escolher um capim que o boi gosta de comer? Existem várias opções e sugestões. Em segundo lugar, o produtor deve preparar bem o solo, cuidar a semeadura e do primeiro pastejo – para garantir uma boa formação do pasto. Segundo Haroldo Queiroz, zootecnista da Embrapa Gado de Corte, algumas situações levam ao estabelecimento do pasto, como: abertura de áreas novas, áreas de integração lavoura-pecuária, substituição de espécies e recuperação de áreas degradadas.
Escolher a espécie é uma etapa importante e depende do objetivo do sistema de produção, do quanto o produtor pode investir e da mão de obra disponível. O clima da região é outro ponto importante que se deve levar em conta, bem como a qualidade do solo e como será utilizada a forrageira; se é para pastejo, silagem, fenação ou vedação escalonada e, ainda, que categoria animal utilizará o alimento.
Escolher o capim que o boi gosta de comer
Os bovinos preferem forrageiras com muitas folhas e poucos colmos. São as folhas que alimentam e engordam o boi. As forrageiras mais apreciadas por estes animais são a paiaguás, a piatã e a marandu. Em seguida a decumbens, a humidícola e a xaraés. Esta última, apesar de possuir muitas qualidades, os bovinos não gostam muito porque seus colmos são mais duros que as outras braquiárias, informa a pesquisadora Valéria Pacheco Euclides, da Embrapa Gado de Corte.
Da família dos panicuns, que inclui os capins Mombaça, Massai, Zuri e o Tanzânia, este último é mais aceito pelos animais, apesar de seus colmos serem mais grossos que do capim-massai, ela é menos fibrosa, por isso a preferência pelo Tanzânia. A planta apresenta boa proporção de folhas, com altos conteúdos de proteína e digestibilidade proporcionando ótimos ganhos de peso por animal. É uma cultivar para solos muito férteis e apresenta alta capacidade de suporte. Outra vantagem do Tanzânia é a facilidade de maneja-la, além de apresentar boa produção de sementes e resistência a cigarrinha-das-pastagens.
Os animais são muito seletivos e avaliam os alimentos. "Quanto mais grosso o colmo mais difícil de arrancar e mastigar", explica a pesquisadora Valéria que acrescenta: "o instinto do animal é pegar o que é mais fácil e o que enche mais a boca, a chamada bocada".
Já as plantas leguminosas tropicais, como o calopogônio, centrosema, arachis, guandu e outras, não são as preferidas dos bovinos e a explicação é porque elas apresentam uma substância chamada tanino que dão a percepção de secura e adstringência na língua e no palato. É a sensação de boca amarrada quando se come banana verde. As leguminosas apresentam taninos em maior ou menor grau o que interfere na palatabilidade dos animais fazendo com que eles comam menos a planta. Algumas delas os animais aceitam bem, como o estilosantes Campo Grande, e outras, os animais aceitam somente no período seco. Em pastagens consorciadas os animais preferem a gramínea ao invés da leguminosa, apontam as pesquisas.
Preparo do Solo
Depois de escolher a forrageira vem a etapa do solo que deve ser bem preparado para receber a semente de pastagem. O solo tem que ser protegido contra erosão, a vegetação indesejada deve ser retirada e se fazer uma análise de solo para determinar o uso de corretivos. Deve-se também controlar os insetos e pragas, promover a distribuição do calcário e do fósforo, arar, gradear, distribuir potássio e nitrogênio, fazer uma gradagem niveladora e cuidar a umidade do solo.
Semeadura
A semente a ser utilizada deve ser de qualidade – saudável, vigorosa e livre de contaminação por impurezas, nematoides e sementes indesejadas, recomenda Haroldo Queiroz. Segundo ele, as sementes devem ser plantadas de três a cinco centímetros de profundidade. Dependendo do caso as sementes podem ser plantadas a lanço, em sulcos ou plantio direto.
Primeiro pastejo depois de 40 dias
Haroldo explica que a finalidade do primeiro pastejo é diminuir a competição eliminando o excesso de plantas da área. É também de proporcionar uma cobertura de solo mais rápida, e que antecipando a utilização da forragem, os animais aproveitam melhor o alto valor nutritivo do pasto resultando uma boa produção animal por área, além de evitar o acamamento da forrageira.
Quanto aos cuidados no primeiro pastejo o zootecnista ensina: "a área deve receber animais depois de 40 a 75 dias após a germinação da forrageira – assim que a planta atingir 75% da altura superior indicada para o manejo do capim. Só entrar com animais leves para diminuir o arranquio de plantas e evitar a compactação do solo".
O sucesso de uma boa formação de pastagens depende da escolha certa da espécie forrageira, de uma adequada utilização, de usar sementes de boa qualidade, ser bem semeada e na quantidade certa, o que varia de uma espécie para outra. Tudo isso e um manejo adequado assegura ao produtor retorno econômico e longevidade da pastagem.

Fonte: Embrapa Gado de Corte

Enxergue como o bovino vê!

Assim você consegue melhorar o manejo. Confira o artigo de Enrico Ortolani

Enrico Ortolani *
A vida universitária me proporcionou conhecer e até conviver com mais de mil pesquisadores que trabalham com ruminantes. A diversidade é enorme. Cada um deles tem seu ponto de vista, maneira de pensar, agir e ser, assim como excentricidades e manias.
A cientista norte-americana Temple Grandin, especialista em comportamento animal, estaria obrigatoriamente entre os cinco mais destacados. Ela é uma figurinha à parte. Se veste como um caubói, fala um inglês acaipirado e tem uma vida toda particular pelo fato de apresentar autismo parcial, doença nervosa que dificulta o relacionamento social, interfere na comunicação oral e pode levar a pessoa a ter comportamento restrito, se isolando do mundo.
Mas nem tudo é ruim no autismo, pois um em cada dez autistas tem habilidades especiais que pessoas normais não possuem, como memorizar dezenas de livros, fazer cálculos matemáticos mirabolantes, pintar imagens após vê-las uma única vez e enxergar e ter sensações anormais. Grandin desenvolveu essa última habilidade.
Desde garota conviveu com animais, em especial bovinos, e passou a entendê-los de forma incrível. Dentre as suas observações, notou que, para enxergarmos da forma como o bovino vê, temos de ficar ajoelhados (se for uma rês adulta) ou de cócoras (se for um bezerro). Ela estava certa. Explicaremos em seguida o motivo.
Comparado com os homens, os bovinos nasceram com os olhos mais expostos e projetados para fora e mais posicionados no lado externo da face. Isso faz com que o gado tenha uma visão panorâmica de 300 graus, enquanto a do homem tem apenas 180 graus.
A natureza foi sábia e fez os bois assim para que eles pudessem perceber a chegada lateral e evitar o máximo possível o ataque de animais predadores. Notei que no gado Zebu essa visão lateral (40 metros), que leva a uma reação de fuga ou de reunião com seu grupo, é o dobro da dos taurinos. Bem, para ter essa vantagem visual, os bovinos tiveram que pagar um alto preço.

Cabeça baixa - Essa visão panorâmica é máxima e mais clara quando o bovino está de cabeça baixa, como se estivesse pastando. Porém, quando a cabeça se levanta, ele enxerga pior e só consegue ter visão binocular num ângulo de 20 a 30 graus bem à frente de sua cabeça.
Ou seja, aí ele pode ver claramente um objeto com os dois olhos numa única imagem. Lateral a essa área, o boi vê os objetos como manchas, como se tivesse miopia. A visão binocular está relacionada à habilidade de perceber profundidade, capacidade de calcular distância e velocidade. A dificuldade de visão lateral do boi pode ser percebida no seu comportamento. Para aumentar a visão do terreno onde pisa, ele caminha balançando levemente a cabeça, para deslocar a área de visão binocular e assim melhorar a percepção de profundidade do piso.
Outro fato importante na lida. Quando o boi entra no brete e vê, lá na frente, no piso, uma fenda ou sombra, não consegue distinguir se é um buraquinho ou uma vala profunda. Essa imprecisão faz com que ele empaque e baixe a cabeça para tentar distinguir melhor o objeto.
Não adianta bater ou dar choque nele para que desempaque imediatamente. Enquanto ele não sentir segurança e certeza ele não reagirá. Para ajudar o boi a caminhar melhor no brete deixe o chão planinho, sem a presença de pedras, paus ou outros obstáculos. Para não dispersá-lo a olhar de lado e empacar ao ver movimento de pessoas ou animais, feche completamente as laterais do brete para que ele se concentre só na linha de frente.

Reações lentas - As reações do bovino para focar objetos são mais lentas do que as nossas. A focalização de objetos muito próximos ou distantes é feita por uma lente gelatinosa e muito flexível dentro dos olhos denominada  cristalino. Para um foco próximo, a musculatura que circunda o cristalino se contrai e muda a forma deste órgão, permitindo um foco detalhado. Para focar mais distante, a musculatura relaxa. No homem essa musculatura é muito desenvolvida e reage rapidamente, mas, no bovino, a reação é bem mais lenta, diminuindo sua capacidade de focar e identificar o que está vendo. E dá-lhe maior tendência ao empacamento.
A reação do bovino à luz é outro fator importante na lida. O controle da entrada de luz dentro do olho é dado por uma musculatura que abre e fecha a pupila (a menina dos olhos), um buraquinho negro no centro do olho. No homem, a pupila é pequena e redondinha; no boi, ela é grande e ovalada.
A musculatura da pupila no homem é eficiente e de rápida reação, mas no bovino é ineficiente e vagarosa. Assim, contrastes de luz produzem reações lentas no gado, que tendem a empacar, se saem de um ambiente com luz forte (lugar ensolarado) para entrar num local mal iluminado (brete coberto). Em locais assim, recomenda-se colocar uma luz fosca no teto na entrada do brete para quebrar esse contraste de luz.
Temple Grandin viu o que não víamos e nos ensinou a ser bovinos para conviver melhor com eles. A fim de facilitar o manejo na fazenda, passe agora a enxergar como um boi e dê tempo ao tempo para que ele reaja e manifeste sua resposta visual. Você consegue?

*Professor de clínica de ruminantes na FMVZ-USP

Silagem caramelizada: Qual o significado?

Processo ocorre devido à elevação da temperatura do volumoso

Rafael Amaral
Apesar do nome “Silagem caramelizada” ser sugestivo e nos remeter ao pensamento de um doce saboroso, quando o termo caramelizado se refere à conservação de forragens, a conotação de “saboroso” se reverte para prejuízo. 
O processo de caramelização ocorre devido à elevação da temperatura da silagem e a partir desta ocorrência o açúcar presente na forragem se carameliza (“derrete como se colocássemos açúcar cristal na panela e levássemos ao fogo”). Como resultado final, geralmente é observado coloração enegrecida da silagem e no caso da silagem de milho pode-se verificar que os grãos presentes tornam-se de coloração marrom.
Este processo é muito descrito na literatura e muito encontrado nas propriedades brasileiras e do exterior. O nome para esta reação de caramelização é reação de Maillard, sendo que a mesma não só altera a coloração da silagem, mas causa grandes transformações no valor nutritivo da silagem, o qual pode afetar significativamente o desempenho animal.
A reação de Maillard é definida pela ocorrência de polimerização química não enzimática de acúcares solúveis e hemicelulose com aminoácidos da planta que foi ensilada, quando a temperatura da silagem se eleva
acima dos 40 oC de temperatura. Estes polímeros depois de formados tornam-se indisponível para o animal, sendo que a detecção do problema pode ser visualizada pelo aumento dos teores de nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA).
Os principais fatores responsáveis pela geração de tal reação são: teor de matéria seca da planta elevado, baixa eficiência no enchimento e compactação do silo e baixa qualidade da vedação. Todos esses fatores se relacionam diretamente com um único denominador, que é o oxigênio, e as explicações para tal fato são apresentadas abaixo:
• Elevado teor de matéria seca: Teor de matéria seca elevado confere silos com densidades inferiores e, dessa forma, é maior a porosidade na silagem. Silos que apresentam maior quantidade de poros (menor densidade)
são prejudicados, pois o processo de respiração da planta e de microrganismos tem maior duração, gerando maior aquecimento da massa.
• Baixa eficiência no enchimento e compactação: Caso o silo tenha baixa eficiência no seu enchimento, como por exemplo, a demora no enchimento (muitos dias abertos), a presença do oxigênio irá gerar calor novamente, pelo mesmo efeito comentado anteriormente. Já com relação a compactação do silo o problema novamente se esbarra na questão da menor densidade de silagem no silo.
• Baixa qualidade da vedação: A vedação deve ser encarada como continuidade do processo de conservação, e não como muitos encaram como sendo a parte final do processo. A lona que veda o silo está susceptível a várias intempéries que podem prejudicar o sucesso do processo de fermentação, e são elas: aves, animais, rasgos e a própria lona, que dependendo de sua qualidade permite entrada considerável de oxigênio e, novamente a história se repete, entrada de oxigênio no sistema, dá inicio ao processo de respiração microbiano, que também podemos chamar de deterioração aeróbia da silagem.
A reação de Maillard pode estar afetando a qualidade da sua silagem, vale lembrar que uma simples análise de proteína bruta não irá demonstrar diferenças em valor nutritivo, pois esta análise faz uma leitura de todo o
nitrogênio presente na silagem. Caso a silagem apresente sinais de caramelização, uma análise de NIDA deve ser requerida e juntamente ao nutricionista da propriedade checar se a produção de leite está apresentando alterações.

Zootecnista e Doutor em Ciência Animal pela Esalq/USP
Boletim da Forragem Pecege e QCF/ Esalq

domingo, 10 de janeiro de 2016

Suplementação no momento certo

Adotar a prática entre as vacas de cria após a desmama melhora os índices de prenhez na estação seguinte

Renato Villela Suplementação no momento certo Suplementar a vaca no período de aleitamento não é eficiente 
 
Se você sugerir a um criador para suplementar suas vacas de cria ele certamente torcerá o nariz. Há um conceito difundido de que a estratégia não se sustenta economicamente. Em parte é verdade. “Há fazendas que suplementam com índices maravilhosos de prenhez, mas com a conta no vermelho”, afirma Ed Hoffmann Madureira, professor da FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Para garantir retorno do investimento, que se traduz principalmente pelo aumento na taxa de prenhez, mas também na gestação de um bezerro com bom potencial de ganho de peso, é preciso escolher o momento certo para fornecer o concentrado para as fêmeas prenhes. “O ideal é que a suplementação seja feita logo após o desmame, quando a exigência da vaca cai bastante, demandando menor aporte nutricional, e o metabolismo está voltado exclusivamente para si, o que se reflete no ganho de peso”, afirma.
Acertar no período de se fazer a suplementação é uma medida imprescindível para o sucesso da técnica, mas não a única. É preciso saber em quais circunstâncias o investimento vale a pena. Vacas muito magras, que estejam num pasto rapado, por exemplo, exigirão grandes quantidades de concentrado no cocho, além do fornecimento de alimentos volumosos. “Recuperar o peso dessas fêmeas é possível, mas a um custo tão alto que pode se tornar inviável”, afirma. Para Madureira, a decisão deve passar pelo que os especialistas chamam de EEC (escore da condição corporal), que nada mais é do que uma avaliação das reservas corporais do animal, baseada na observação visual, e que indica o quanto ele está gordo ou magro, numa escala que varia de um a nove (mais comum).
Nem muito magra, nem muito gorda
Para o professor, o escore cinco (na escala de um a nove) deve servir como farol, pois é indicativo de uma boa condição corporal, nem muito gordo nem muito magro, suficiente para que uma vaca prenhe suporte razoavelmente o déficit negativo de energia após a parição. “Ela terá condições de amamentar bem o bezerro e retomar rapidamente a atividade cíclica para emprenhar no início da estação de monta seguinte”. Para as matrizes que estiverem com esse escore, basta uma suplementação leve, com um pouco de proteína, apenas para garantir a manutenção do peso. Normalmente basta o fornecimento de suplementos minerais com ureia.
A partir de qual escore seria viável economicamente suplementar uma vaca de cria para que atinja a nota cinco? Para Madureira, a resposta está no degrau imediatamente anterior, nas fêmeas de ECC 4. “É possível melhorar significativamente os índices reprodutivos dessas fêmeas somente com um pequeno ajuste na sua condição corporal”, diz. Segundo o professor, apenas 40% das matrizes de escore quatro emprenham na primeira tentativa de inseminação artificial, taxa que muitas vezes não ultrapassa os 60% ao final da estação de monta. Com a mudança de escore, os percentuais podem saltar para 60% e 90%, respectivamente.

Investimento que se paga

Mudar o escore de condição corporal de quatro para cinco representa adicionar em torno de 45 kg ao peso da matriz. Para que a conta feche no azul, o caminho é partir para o emprego de suplementos minerais proteicos, que contenham, além de ureia, fonte de nitrogênio não-proteico, farelos ricos em proteína, como soja, algodão ou subprodutos disponíveis na região que sejam fontes de proteína verdadeira, cuja função é estimular a ingestão de matéria seca pelo animal (veja Box) e, consequentemente, o ganho de peso. Por esta razão é imprescindível que o criador tenha um bom manejo da pastagem. "É fundamental que haja uma boa reserva de forragem para a vaca ganhar peso. Do contrário a estratégia fica comprometida".

Para que a suplementação fique dentro do período mais adequado para o acúmulo de gordura da fêmea prenhe, o ganho de peso diário deve ficar ao redor de 600 g com um arraçoamento que se estenda por 75 dias (600 g x 75 = 45 kg). Para atingir essa meta é preciso balancear a dieta, levando-se em conta a exigência nutricional do animal. No caso de uma vaca Nelore de 400 kg, por exemplo, isto significa usar uma mistura que forneça 522 g de proteína metabolizável/dia e 9,1 Mcal/dia de energia/dia, segundo recomenda a literatura.

O professor propõe exemplo de dieta que atenda a essa demanda e tenha viabilidade econômica. Acompanhe os números, levando-se em conta o valor da tonelada (veja tabela): 0,8 kg de farelo de soja (R$ 1,03/dia), 0,6 kg de milho (R$0,33) e 60 g de ureia pecuária (R$ 0,05). Somando os valores, o custo da suplementação é de R$ 105 por vaca para um ganho de 1,5@ (R$ 210) em 75 dias. Como o objetivo é melhorar o índice de prenhez, a mudança de escore quatro pode representar um ganho adicional de 20 a 30 bezerros a cada 100 vacas em reprodução, considerando o aumento médio que se consegue na taxa de prenhez (20% a 30%).

Desmama até os sete meses

A resposta para o porquê suplementar as matrizes após a desmama está em seu metabolismo e no desenvolvimento do feto que carrega em sua barriga. Em primeiro lugar, é preciso que a fêmea consiga manter uma boa condição corporal após a parição, garantia de que terá leite suficiente para criar bem o bezerro e conseguirá reconceber mais rapidamente. Para isso, é preciso que a matriz acumule reservas na forma de gordura, o que depende de seu atual estágio de gestação. A suplementação não deve ser feita com sua cria ao pé, porque, neste caso, o suplemento pouco efeito surtiria sobre a recomposição do peso corporal da matriz, uma vez que a energia do alimento seria direcionada principalmente para a amamentação da cria.

Segundo Madureira, o bezerro deve ser apartado da mãe no máximo até os sete meses. Isto porque, considerando que a vaca tenha sido emprenhada por volta dos 60 dias após o parto, o feto na barriga da mãe terá em torno de cinco meses. "Entre o quinto e o sétimo meses de gestação, o feto ainda é relativamente pequeno e exige pouco das reservas da vaca, que consegue ganhar peso se for suplementada", afirma.

Esse período, a despeito da menor exigência, é crucial para o desenvolvimento do feto. No quinto mês, acontece o pico do que os especialistas chamam de "miogênese secundária", caracterizada pela multiplicação do número de células musculares (hiperplasia). "É o que permitirá que o bezerro tenha uma boa musculatura, o que estará diretamente relacionado a seu desempenho nas fases de crescimento e engorda". Caso o tecido muscular não esteja bem formado, o bezerro nascerá "mirrado", com menor potencial para o ganho de peso. Se a suplementação fosse postergada, por sua vez, a estratégia coincidiria com o terço final da gestação, período em que a exigência nutricional da vaca está voltada para o bezerro que carrega em sua barriga.

O professor explica que, no terço final da gestação, o crescimento do feto é bastante acelerado, pois ocorre a hipertrofia muscular e a adipogênese, dois fenômenos que demandam muitos nutrientes e, portanto, elevam as exigências nutricionais da vaca. Após o parto, por sua vez, os nutrientes são voltados para a amamentação da sua cria. "Por esta razão acredito que o melhor momento para a suplementação da vaca seja logo após o desmame, quando a vaca tem toda condição de recuperar sua condição corporal para enfrentar um novo parto e uma nova concepção".

Suplementação para abrir o apetite

A estratégia de suplementação para as vacas de cria depende de uma condição razoável da pastagem, uma vez que, para ser viável economicamente, a forragem deve ser a base da dieta. Como o período indicado para fornecer o suplemento é logo após a desmama, que normalmente ocorre entre os meses de abril e maio, as pastagens ainda dispõem de boa quantidade de matéria seca. O que falta é proteína, porque nesse período os capins estão no final do seu ciclo vegetativo. "O objetivo da suplementação proteica é melhorar o processo de fermentação ruminal e digestão da forragem". Com isso, o alimento passa mais rápido pelo sistema digestivo e a vaca come mais", explica o professor Ed Hoffmann Madureira. Segundo ele, é preciso cuidado na hora da escolha da fonte de proteína.

Muito utilizada no cocho, a ureia sozinha não é a melhor opção, pois fornece nitrogênio não proteico para as bactérias do rúmen, enquanto farelos de soja ou de algodão, por serem fontes de proteína verdadeira, são mais eficazes para melhorar o processo fermentativo do rúmen e, consequentemente, a digestibilidade dos alimentos.

*Matéria originalmente publicada na Revista DBO de novembro de 2015 (páginas 76 a 80).

Etapas para formar uma boa pastagem

Especialista da Embrapa Gado de Corte dá dicas para o produtor fazer um plantio de qualidade

É época de formar pasto e o produtor tem até meados do mês de janeiro para plantar, passando desse período corre-se o risco de não se obter um bom estabelecimento da pastagem.
Quem está pensando em formar pasto tem que, primeiro, escolher a espécie forrageira. E que tal escolher um capim que o boi gosta de comer? Existem várias opções e sugestões. Em segundo lugar, o produtor deve preparar bem o solo, cuidar a semeadura e do primeiro pastejo – para garantir uma boa formação do pasto. Segundo Haroldo Queiroz, zootecnista da Embrapa Gado de Corte, algumas situações levam ao estabelecimento do pasto, como: abertura de áreas novas, áreas de integração lavoura-pecuária, substituição de espécies e recuperação de áreas degradadas.
Escolher a espécie é uma etapa importante e depende do objetivo do sistema de produção, do quanto o produtor pode investir e da mão de obra disponível. O clima da região é outro ponto importante que se deve levar em conta, bem como a qualidade do solo e como será utilizada a forrageira; se é para pastejo, silagem, fenação ou vedação escalonada e, ainda, que categoria animal utilizará o alimento.

Escolher o capim que o boi gosta de comer
Os bovinos preferem forrageiras com muitas folhas e poucos colmos. São as folhas que alimentam e engordam o boi. As forrageiras mais apreciadas por estes animais são a paiaguás, a piatã e a marandu. Em seguida a decumbens, a humidícola e a xaraés. Esta última, apesar de possuir muitas qualidades, os bovinos não gostam muito porque seus colmos são mais duros que as outras braquiárias, informa a pesquisadora Valéria Pacheco Euclides, da Embrapa Gado de Corte.
Da família dos panicuns, que inclui os capins Mombaça, Massai, Zuri e o Tanzânia, este último é mais aceito pelos animais, apesar de seus colmos serem mais grossos que do capim-massai, ela é menos fibrosa, por isso a preferência pelo Tanzânia. A planta apresenta boa proporção de folhas, com altos conteúdos de proteína e digestibilidade proporcionando ótimos ganhos de peso por animal. É uma cultivar para solos muito férteis e apresenta alta capacidade de suporte. Outra vantagem do Tanzânia é a facilidade de maneja-la, além de apresentar boa produção de sementes e resistência a cigarrinha-das-pastagens.
Os animais são muito seletivos e avaliam os alimentos. "Quanto mais grosso o colmo mais difícil de arrancar e mastigar", explica a pesquisadora Valéria que acrescenta: "o instinto do animal é pegar o que é mais fácil e o que enche mais a boca, a chamada bocada".
Já as plantas leguminosas tropicais, como o calopogônio, centrosema, arachis, guandu e outras, não são as preferidas dos bovinos e a explicação é porque elas apresentam uma substância chamada tanino que dão a percepção de secura e adstringência na língua e no palato. É a sensação de boca amarrada quando se come banana verde. As leguminosas apresentam taninos em maior ou menor grau o que interfere na palatabilidade dos animais fazendo com que eles comam menos a planta. Algumas delas os animais aceitam bem, como o estilosantes Campo Grande, e outras, os animais aceitam somente no período seco. Em pastagens consorciadas os animais preferem a gramínea ao invés da leguminosa, apontam as pesquisas.

Preparo do Solo
Depois de escolher a forrageira vem a etapa do solo que deve ser bem preparado para receber a semente de pastagem. O solo tem que ser protegido contra erosão, a vegetação indesejada deve ser retirada e se fazer uma análise de solo para determinar o uso de corretivos. Deve-se também controlar os insetos e pragas, promover a distribuição do calcário e do fósforo, arar, gradear, distribuir potássio e nitrogênio, fazer uma gradagem niveladora e cuidar a umidade do solo.

Semeadura
A semente a ser utilizada deve ser de qualidade – saudável, vigorosa e livre de contaminação por impurezas, nematoides e sementes indesejadas, recomenda Haroldo Queiroz. Segundo ele, as sementes devem ser plantadas de três a cinco centímetros de profundidade. Dependendo do caso as sementes podem ser plantadas a lanço, em sulcos ou plantio direto.

Primeiro pastejo depois de 40 dias
Haroldo explica que a finalidade do primeiro pastejo é diminuir a competição eliminando o excesso de plantas da área. É também de proporcionar uma cobertura de solo mais rápida, e que antecipando a utilização da forragem, os animais aproveitam melhor o alto valor nutritivo do pasto resultando uma boa produção animal por área, além de evitar o acamamento da forrageira.
Quanto aos cuidados no primeiro pastejo o zootecnista ensina: "a área deve receber animais depois de 40 a 75 dias após a germinação da forrageira – assim que a planta atingir 75% da altura superior indicada para o manejo do capim. Só entrar com animais leves para diminuir o arranquio de plantas e evitar a compactação do solo".
O sucesso de uma boa formação de pastagens depende da escolha certa da espécie forrageira, de uma adequada utilização, de usar sementes de boa qualidade, ser bem semeada e na quantidade certa, o que varia de uma espécie para outra. Tudo isso e um manejo adequado assegura ao produtor retorno econômico e longevidade da pastagem.

Fonte: Embrapa Gado de Corte

Vacinação que pode ser fatal

Aplicação em local errado provoca incoordenação motora, paralisia e até morte

Renato Villela
"Perguntei ao proprietário da fazenda em que local costuma vacinar seus animais. Ele me respondeu: onde der”. O diálogo, breve, foi como “clic” revelador para o veterinário Gustavo Rodrigues Queiroz, professor da Unopar - Universidade Norte do Paraná, sediada em Londrina.
Ele havia sido chamado para investigar as causas de um surto de incoordenação motora em uma fazenda em Borrazópolis, a 130 km de Londrina, e não conseguia encontrar a origem do problema. Dez bovinos machos do rebanho da propriedade, entre Nelores e cruzados, com aproximadamente 30 meses de idade, apresentavam andar cambaleante e fraqueza nas pernas posteriores, em diferentes intensidades. “Cinco deles evoluíram posteriormente para decúbito lateral permanente (deitaram de lado) e morreram em 15 dias”, relata.
Como se verá mais adiante, o problema estava relacionado justamente com o local da aplicação da ­vacina. Inicialmente, Queiroz desconfiara de que fosse raiva, a doença inflamatória do sistema nervoso central que mais mata bovinos no Paraná, seguida de perto pelo Herpesvírus Bovino Tipo 5. Essa suspeita, no entanto, foi descartada: “A raiva é uma enfermidade que se agrava de modo muito rápido. Em dez dias, normalmente o animal já está morto, o que não aconteceu na fazenda em Borrazópolis. Queiroz redirecionou, então, suas investigações para as plantas tóxicas, hipótese logo descartada, pois os exames de sangue não apontaram nenhum sinal de intoxicação. O botulismo, doença muito comum nos Estados do Centro-Oeste, tampouco era o vilão da história, como mostrou a ausência de toxina botulínica nos conteúdos gástrico e intestinal.
Já haviam se passado 60 dias desde o início do surto, em princípios de dezembro de 2013, quando Queiroz questionou o produtor sobre o modo como ele vacinava seus animais. “Na hora me deu um estalo. Pensei: tem caroço nesse angu”, conta o veterinário, referindo-se à hipótese de que o problema fosse causado pela aplicação da vacina em local incorreto (na medula do animal). Essa suspeita ganhou força depois que ele observou as instalações da fazenda. “O curral era muito antigo e estava em péssimo estado de conservação. Os animais eram vacinados no brete, não havia tronco de contenção individual”, relata.
A investigação ainda revelaria uma realidade estarrecedora, mas não exatamente destoante do cenário nacional: todo o rebanho da propriedade – neste caso, 800 animais - era vacinado contra a febre aftosa num único dia (no Paraná, a etapa de novembro é obrigatória para todas as categorias).
Algo que, para o professor Mateus Paranhos, especialista em bem-estar animal  e coordenador do Etco, Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal da Unesp-Jaboticabal, é totalmente descabido. “Na minha opinião, não é possível realizar um bom procedimento de vacinação quando se trabalha com esse número de animais por dia. Isso aumenta o risco de acidentes e prejudica a qualidade do serviço”, justifica. (veja quadro com as orientações do professor de como proceder)

Direto na medula
Membro de um grupo de estudos que há sete anos se dedica ao diagnóstico de animais com sintomatologia neurológica, capitaneado pelo pesquisador Júlio Lisboa, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Gustavo Queiroz consultou publicações científicas em busca de casos semelhantes. Deparou-se com o que já suspeitava: dois relatos de surtos de compressão medular associado à vacinação contra a febre aftosa. De volta à fazenda em Borrazóplis, sacrificou um novilho Nelore que estava com o problema e perto do peso de abate e pôs-se a investigar. A necrópsia acabou com o mistério: “Examinando a coluna vertebral na região compreendida entre as vértebras torácica e lombar, mais precisamente na altura entre a L3 e a L4, encontrei um granuloma (nódulo) dentro do canal vertebral, que havia se formado em decorrência da vacinação incorreta, o que comprimiu a medula e provocou a lesão.”
Granulomas inflamatórios são reações normais que acontecem após a vacinação, devido principalmente à presença na vacina de adjuvantes oleosos, compostos que potencializam a intensidade e a duração da resposta imune do animal. Quando a dose é aplicada no local correto, o granuloma não passa de uma leve saliência, que desaparece naturalmente alguns dias após a vacinação. “No caso dos animais que apresentaram incoordenação, a aplicação foi desastrosa, diretamente na medula”, afirma Queiroz. As lesões ocorreram em graus variados, por isso havia animais com diferentes quadros de incoordenação. Erros de manejo na vacinação normalmente costumam cobrar sua fatura na forma de perda de rendimento de carcaça (devido à retirada de abscessos), mas dessa vez condenaram o animal à morte.
O problema registrado em Borrazólis é mais comum do que se pensa. No município de Olho D´água, região oeste da Paraíba, outro produtor sofreu perdas devido à vacinação incorreta. Incomodado com os granulomas formados após a aplicação do medicamento, ele tomou uma decisão inusitada e temerária: passou a vacinar os animais na região lombar, em vez de no terço médio do pescoço, como é recomendado. Esse “novo método” havia se tornado uma prática rotineira na região, por mera questão estética. A médica veterinária Ana Luísa Alves Marques, doutoranda da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), conta que os produtores “não queriam ver seus animais com saliências no pescoço”. Ela percebeu o fato quando foi chamada para averiguar os primeiros casos de incoordenação motora na fazenda daquele produtor.
Na via-crucis para o diagnóstico, o mesmo roteiro: raiva, botulismo, intoxicação por plantas tóxicas. Tudo descartado. A resposta veio depois que um bezerro de sete meses, que apresentava debilidade acentuada dos membros pélvicos, assumindo a “postura de cão sentado”, foi encaminhado ao Hospital Veterinário da UFCG. O exame físico revelou um aumento de volume de aproximadamente 8 cm, quente e indolor, na região lombar. O proprietário confirmou que havia feito a aplicação da vacina contra febre aftosa no local.
O bezerro permaneceu internado durante 15 dias, sendo submetido a tratamento com antibióticos, anti-inflamatórios e compressas mornas no local do inchaço, que reduziu de tamanho, porém sem melhora no estado clínico geral. O quadro se agravou e o bezerro precisou ser sacrificado.
Diagnóstico: “Lesão medular secundária à compressão por granuloma vacinal”. Dos outros cinco animais da propriedade acometidos pelo mesmo problema, um morreu afogado em açude após cair na tentativa de beber água e não conseguir se levantar. Outros quatro sobreviveram, mas com sequelas. “Mancavam, não conseguiam se locomover direito”, relata a veterinária. 

Informar para prevenir
Para Ana Luísa Marques, da UFCG, a informação é a principal arma para que se evitem novos casos. “É preciso difundir o conhecimento, de modo a evitar a aplicação da vacina próximo à coluna vertebral”. Foi o que ela fez a partir de então. Ana explica que a saliência formada após a vacinação é provocada pela saponina, um adjuvante imunológico presente na vacina contra febre aftosa. Adjuvantes retardam o processamento dos antígenos pelas células, aumentando seu período de contato com o sistema imune e, consequentemente, melhorando a resposta imunológica. “Os veterinários explicam que o adjuvante faz com que a vacina proteja os animais por mais tempo e que a questão estética tem pouca importância”. Segundo ela, o trabalho de conscientização tem surtido efeito. “Muitos produtores já deixaram de adotar a conduta errada”.

Vacine no local correto

Segundo o professor Mateus Paranhos, a vacina contra a febre aftosa deve ser aplicada preferencialmente via subcutânea. O local indicado é a tábua do pescoço. "Deve-se puxar a pele e posicionar o conjunto seringa e agulha paralelamente ao corpo do animal, de modo a minimizar o risco de atingir o músculo", explica. Sempre que possível, após a retirada da agulha, o produtor deve fazer uma leve massagem circular no local da aplicação, para evitar o refluxo (quando a vacina escorre pelo orifício deixado pela agulha). É importante realizar a operação com o animal contido, preferencialmente em um tronco de contenção individual.

O manual de boas práticas de vacinação do Etco recomenda uma equipe de trabalho, corretamente posicionada: uma pessoa na porteira de entrada, outra para fazer a contenção do posterior do animal (quando necessário) e uma terceira, na porteira de saída, na pescoceira. "Antes de imobilizar o animal, feche a porteira dianteira do tronco de contenção, e, somente depois, contenha-o com a pescoceira", diz Paranhos. Com o animal contido, aplica-se a vacina. Na falta de um tronco de contenção individual, é ainda mais importante realizar o trabalho com cuidado, sem correria.

Prática comum nas fazendas, a vacinação no brete deve ser evitada, pois traz uma série de consequências desagradáveis. Animais mais reativos sobem sobre os outros. Há reses que tentam pular sobre as laterais de madeira e outras ainda que não aguentam a pressão, deitam e são pisoteadas. Não raro, os animais se machucam e ocorrem sangramentos no local da vacina, com formação de abcessos. Há ainda o risco de fraturas e até mesmo morte, principalmente de bezerros.

*Matéria originalmente publicada na Revista DBO de outubro de 2015 (páginas 78 a 80).