Estudo trouxe resultados de prenhez de 91%

No Pantanal, a pecuária extensiva ainda se faz presente, e uma vez que
os animais estão soltos em grandes áreas fica mais difícil fazer seu
manejo. Na contramão dos longos ciclos para produção de bezerros – que,
em geral, são desmamados tardiamente – surgem iniciativas que almejam
mudar o rumo dessa história. Exemplo disso é uma pesquisa da Embrapa
Pantanal que já leva cinco anos e estimula a desmama precoce (DP),
principalmente entre primíparas.
Na estação de monta de 2014/2015, a taxa de prenhez entre esse grupo
foi de 91% na Fazenda São Bento, em Miranda (MS), local onde está sendo
conduzido o estudo. “Esse é um índice considerado muito bom em qualquer
sistema de cria. Para o Pantanal, é excepcional”, afirma Ériklis
Nogueira, pesquisador da Embrapa Pantanal. Normalmente, a taxa de
prenhez entre as primíparas costuma ficar na casa de 30 a 40%.
Segundo resultados obtidos com os experimentos, a taxa de prenhez do
rebanho precisa aumentar pelo menos 15% para a técnica ser
economicamente viável. “Nos trabalhos avaliados, o aumento foi maior,
de 16 a 21%, o que proporcionou ganhos expressivos”, completa. A taxa de
prenhez do rebanho da fazenda foi de 78% na última estação de monta.
Conhecidas por derrubar a taxa de concepção nas propriedades, as
primíparas são animais em fase de desenvolvimento que enfrentam um
grande desafio para emprenhar pela segunda vez. Isso acontece porque
precisam canalizar a energia adquirida com a alimentação para a sua
mantença, incremento de peso e aleitamento do bezerro fruto de sua
primeira gestação. Com a desmama precoce, a recuperação delas para a
estação de monta seguinte é facilitada. Sem a necessidade de aleitar,
apresentam melhora nas taxas reprodutivas e na condição corporal,
permitindo alcançar um cio pós-parto mais rápido.
Além de aumentar a taxa de prenhez, o mais importante é que a DP não
afete o peso do bezerro à desmama. Bezerro esse que fica sem leite mais
cedo e, por isso, recebe trato em creep feeding. “Na última safra, o
peso dos bezerros desmamados precocemente (aos 107 dias) chegou a 171 kg
quando atingiram a idade de sete meses”, afirma Ériklis. O custo da
suplementação da desmama precoce, dos 90-100 dias até os 205 dias, foi
de R$ 150/ animal. “Assim, os bezerros submetidos à DP tiveram
desempenho equivalente aos bezerros desmamados convencionalmente”, diz.
De acordo com Ériklis, nos experimentos, o retorno sobre o investimento
foi de 1.70. Ou seja, para cada R$ 1 investido, o sistema intensificado
proporcionou retorno de R$ 1,70. Não foram considerados custos com
infraestrutura.
Abaixo, a tabela traz um programa alimentar para bezerros submetidos à
desmama precoce considerando seus primeiros 365 dias de vida:
Fase |
Condição |
Período |
Idade |
Produto |
Consumo/animal |
Amamentação |
- |
45 dias
|
45 dias |
- |
- |
Estímulo |
opcional |
55 dias |
110 dias |
Ração com estimulantes de consumo¹ |
0,150 a 0,300 kg |
Desmama |
obrigatória |
15 dias |
125 dias |
Ração com aditivos anti-stress² |
0,300 a 0,800 kg |
Pós desmama |
obrigatória |
120 dias |
245 dias |
Ração |
0,800 a 1,600 kg ³ |
Seca |
recomendável |
120 dias |
365 dias |
Mistura proteica e energética |
0,600 a 0,900 kg |
¹Ração com estimuladores de consumo –
esta é uma fase de difícil consumo, principalmente se a oferta de leite
da vaca for suficiente, sendo necessária a adição de palatabilizantes
para estimular o consumo. Produtos apresentados na forma extrusada e/ou
peletizada podem proporcionar melhores resultados.
²Ração com aditivos anti-stress – compostos minerais orgânicos
(quelatados) como o cromo, o zinco e o selênio, assim como de vitaminas,
podem ajudar na redução do stress e da melhoria das condições
imunológicas do animal.
³Consumo – dependente de fatores como a qualidade da forragem disponível, a composição e indicação do fabricante.
Balanço dos resultados
De 2011 para cá, a pesquisa trouxe algumas conclusões. Em artigo
publicado sobre o assunto, Ériklis e a equipe responsável pelo estudo
apontam que o maior benefício da desmama precoce é o aumento dos índices
de concepção e gestação das matrizes. “Nesse sentido é necessária a
solução da equação entre a idade mínima/ideal de desmama na propriedade,
a data de parto e o tempo de duração da estação de monta. Nem sempre a
desmama precoce é a melhor opção para vacas com parto no final da
estação, em virtude do pequeno intervalo de resposta para elevação dos
índices de concepção, sendo alternativas como o controle de mamadas e a
melhoria do [escore de condição corporal] ECC ao parto, mais
interessantes para esta classe de matrizes”, diz o documento. Outro
aspecto importante de avaliar é a qualidade das pastagens, pré-requisito
para o sucesso da estratégia, segundo o grupo.
Feita de forma planejada, na Fazenda São Bento a desmama precoce também
não é direcionada a todas as matrizes. “Trabalhamos a técnica em lotes
de primíparas, vacas de ECC mais baixo e em vacas vazias após IATF,
ressincronização ou repasse de touros”, afirma o pesquisador.
Fonte: Portal DBO