Pastagem
A pastagem é
a mais natural e econômica fonte de nutrientes
para alimentação de ruminantes. Se
admitirmos que o processo de globalização é irreversível,
os processos produtivos, sobretudo os que dependem
de condições ambientais, deverão
ocorrer nas regiões que apresentarem maior
vocação para desenvolvêlos. Desse
enfoque, a Amazônia apresenta condições
excepcionais para praticar uma pecuária altamente
competitiva, baseada em pastagens de alta produtividade.
O maior suprimento anual de radiação
solar do trópico úmido brasileiro,
em relação ao clima temperado, principal
insumo para produção de forragem, somado
a condições de temperatura e umidade
que permitem o
crescimento forrageiro durante praticamente todo
o ano e solos com boas propriedades físicas,
são os principais pontos fortes do ecossistema
de pastagens cultivadas da Amazônia e, em particular,
do Estado do Pará.
Forrageiras
e animais de alta produtividade, adaptados à região,
grande disponibilidade de terras baratas são outros
fatores positivos. A diminuição dos rebanhos
do chamado Primeiro Mundo e menores crescimentos nas demais
regiões do Brasil sinalizam para a Amazônia
um papel preponderante na produção de proteína
animal de alta qualidade e baixo custo. O Estado do Pará,
pelo padrão da pecuária que já pratica
hoje, pela localização geográfica
estratégica, pela infra-estrutura portuária,
rodoviária e hidroviária, está fadado
a desempenhar importante papel nesse contexto. A procura
crescente por
produtos naturais, no caso o “boi verde” e
o “boi orgânico”, produzidos a pasto, é outro
sinalizador importante.
A propriedade
A fase de planejamento pode ser de vital importância
para o sucesso de um empreendimento pecuário em
um Estado com as dimensões do Pará. Dentre
os principais aspectos a serem analisados, merecem destaque:
• Clima
Pode-se escolher entre três tipos climáticos
diferentes no Estado do Pará. O Afi, sem período
seco definido; o Ami, com pequeno período seco
(dois a três meses) e o Awi, com maior período
seco (quatro a cinco meses). Em todos eles, é possível
praticar uma pecuária de alto nível tecnológico.
• Relevo
Deve-se preferir de plano a levemente ondulado, com boa
drenagem, permitindo a utilização de máquinas
nos tratos culturais da pastagem. Nos trechos muito acidentados,
deve-se conservar a cobertura florestal ou fazer sua
reposição quando já tenha sido removida.
• Solos
Devem apresentar boas propriedades físicas, sobretudo
boa drenagem e sempre
que possível, escolher solos de boa fertilidade.
• Acessos
O acesso à propriedade e desta aos frigoríficos
também deve ser estudado
cuidadosamente, permitindo o recebimento de insumos e
saída da produção,
durante todo o ano.
Alguns erros na escolha da propriedade dificilmente poderão
ser corrigidos e
podem ser a causa de custo operacional elevado.
• Escolha da forrageira
Produtividade, valor nutritivo, agressividade, estabelecimento
rápido,
resistência ao pisoteio, resistência ao fogo,
resistência à seca, resistência a
excesso de umidade no solo, resistência a pragas
e doenças são os principais
aspectos a serem observados por ocasião da escolha
das forrageiras.
Os ecossistemas naturais da Amazônia de florestas
e pastagens nativas heterogêneas e a experiência
acumulada com outras culturas, têm mostrado que
a monocultura na Amazônia aumenta os riscos dos
empreendimentos e muitas vezes os inviabiliza. A pastagem
não é
uma exceção. A diversificação
das forrageiras, em piquetes separados, é importante
para assegurar a estabilidade aos sistemas pecuários.
Opções forrageiras disponíveis para
o Estado do Pará, em virtude do clima, do
solo e do nível tecnológico, podem ser
vistas na Tabela 1.
Tabela
1. Gramíneas forrageiras recomendadas
para o Estado do Pará.
|
Nome
Científico
|
Nome
Vulgar
|
Clima
|
Solo
|
Tecnologia
|
Brachiaria
humidicola
|
Quicuio-da-amazônia
|
Af-Am-Aw
|
Todos
|
Baixa/Média
|
Brachiaria
dictyoneura
|
Dictyoneura
|
Af-Am-Aw
|
Todos
|
Baixa/Média
|
Brachiaria
brizantha
|
Braquiarão,
Brizantão
|
Am-Aw
|
Drenados
|
Baixa/Alta
|
Panicum
maximum
|
Mombaça
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Panicum
maximum
|
Tanzânia
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Panicum
maximum
|
Tobiatã
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Panicum
maximum
|
Colonião
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Cinodon
dactylon
|
Capim-estrela-africana
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Pennisetum
purpureum
|
Capim-elefante
|
Af-Am-Aw
|
Drenados
|
Média/Alta
|
Na
Fig. 1, é
mostrado um sistema silvipastoril com pastejo rotacionado
intensivo, conduzido na sede da Embrapa Amazônia
Oriental, em Belém, PA. A gramínea é o
capim-estrela africana com adubação
NPK. As espécies arbóreas são
mogno africano e nim indiano. As cercas são
eletrificadas, com dois fios.
A diversificação
de forrageiras permite reduzir os riscos de insucesso na
atividade pecuária.
As melhores
forrageiras para cada propriedade devem ser eleitas em
virtude do clima, solo, atividade produtiva e grau de intensificação.
A pastagem deve
ser vista como uma cultura e, com tal, necessita de cuidadoso
preparo do solo para garantir um estabelecimento rápido
e vigoroso. O ideal é que a área seja destocada
e possa ser trabalhada com máquinas. Na formação,
após a remoção da floresta original,
tradicionalmente pela queima, o plantio é feito
com tocos e troncos que escaparam da queima e somente serão
removidos anos após, por ocasião de recuperação
do pasto. Nessa situação, é recomendável
usar quantidade de sementes adequada para uma rápida
formação.
 |
Fig.
1. Pastagem de capim-estrela-africana sob sistema
rotacionado intensivo.
• Calagem
É comum uma grande preocupação com o pH e o alumínio
trocável. A resposta positiva à
aplicação de calcário é devida,
principalmente, ao efeito da incorporação de
cálcio e magnésio como nutrientes em solos carentes
e não como corretivo. Quando recomendada via análise
de solo, a aplicação de cerca de 500 kg de calcário
dolomítico basta para resolver o problema. Considerando
que a maioria dos solos tropicais são ácidos,
é de se esperar que as forrageiras, também tropicais,
tenham mecanismos para minerar nesse ambiente.
Em geral, não têm sido detectadas respostas
à adição de calcário como
corretivo em forrageiras tropicais.
Adubação da Pastagem
Antes do plantio, é imprescindível a realização de
uma análise da fertilidade do solo, para verificar a necessidade de fertilização
visando a uma boa formação, possibilitando que o capim se estabeleça
rapidamente e domine as possíveis plantas daninhas. O ideal é que
o adubo seja direcionado para a semente da forrageira. Para garantir a longevidade
produtiva da pastagem, os níveis de fósforo e o potássio
devem apresentar em um mínimo de 10 e 45 ppm, respectivamente.
O efeito principal da adubação é,
em primeiro lugar, sobre a quantidade de forragem e, posteriormente,
sobre a qualidade.
Seleção das sementes
É importante a utilização de sementes de alta qualidade,
tipo exportação, com Valor Cultural (VC) elevado. O Valor Cultural é um
indicador da qualidade da semente e nada mais é do que o produto da Percentagem
de Germinação (PG) pelo Grau de Pureza (GP), dividido por 100.
A fórmula para sua obtenção é:
|
PG
(%) x GP (%)
|
|
VC
(%) = ——————————— |
|
100
|
|
Existe disponibilidade no mercado
de sementes com 76% de VC, que surpreendentemente não têm
tido a preferência dos produtores, embora sendo
mais baratas que as de baixa qualidade, considerando
a redução na quantidade utilizada.
Preferem investir alto em sementes de baixa qualidade
(24% de VC), contaminadas com sementes de plantas
daninhas, esporos de fungos, ovos de insetos, que
trarão prejuízos incalculáveis
no futuro, chegando muitas vezes à
perda total da pastagem. O fungo, que vem atacando e
até
dizimando as pastagens de capim-braquiarão no
Estado do Pará, foi isolado também em
sementes do capim. O tratamento das sementes com fungicida
é recomendado.
Fazer uma análise da relação custo/benefício
por ocasião da aquisição das
sementes é um procedimento inteligente.
Os fornecedores de sementes deveriam ter uma conduta
mais responsável
e
ética, divulgando a disponibilidade e as vantagens de usar sementes
de alta
qualidade.
Plantio
O plantio pode ser a lanço, com semeadeiras manuais
ou mecânicas e até mesmo de avião.
Processos que incorporem as sementes ao solo, protegendoas
e direcionando-as para o fertilizante devem ser os preferidos.
Manejo de formação
Consiste no período de estabelecimento da pastagem.
Vai do plantio ao início da utilização,
variando em virtude de diversos fatores. Em forrageiras
que produzam sementes viáveis, deve-se aguardar
a sementação para formar um banco de sementes
no solo. Observar a necessidade de controle de eventuais
plantas daninhas que deve ocorrer antes que as mesmas
lancem sementes. Ver capítulo específico
de controle de plantas daninhas.
Sem uma boa formação, não se terá
uma boa pastagem.
Manejo da pastagem
O sistema contínuo e o rotacionado são
os mais utilizados. Mais importante do que o sistema
de manejo, é
o cuidado para não exceder a capacidade de suporte
da pastagem, conduzindo-a ao processo de degradação.
Sob pressão pastejo adequada, o sistema contínuo
tende a favorecer o ganho de peso por animal, que por
permitir maior seletividade pelos mesmos requer menor
investimento em cercas e faz com que os animais consumam
de maneira desigual diferentes partes do piquete.
Na mesma situação, o sistema rotacionado
favorece a produção por área, exige
maior investimento em cercas e possibilita aproveitamento
mais uniforme do piquete.
A Embrapa Amazônia Oriental gerou tecnologia para
aumento da eficiência produtiva na atividade pecuária,
que utiliza um pastejo rotacionado intensivo simplificado.
Basicamente, recomenda sistemas contendo de 6 a 12 pastos,
com períodos de pastejo que não excedam
7 dias, para evitar o consumo da rebrota. O cronograma
de rotação preconizado é rígido
e quando ocorrer o mínimo de disponibilidade previsto
(1,5 t de matéria seca de forragem/ha) os animais
serão removidos para uma
área de escape (15% da total), onde permanecerão
até a data de entrada no piquete subseqüente.
Dependendo do grau de intensificação, o
sistema prevê adubações de fósforo,
potássio e nitrogênio.
É amplamente conhecido que os animais, além de consumir a forragem,
causam diversos danos ao pasto. Imaginando um sistema rotacionado com ciclo
completo de 36 dias (3 de pastejo x 33 de descanso) durante um ano, o animal
passaria em cada pasto apenas 36 dias. Mais ainda, se o modelo do sistema centralizar
os bebedouros e cochos de suplementos em uma área de repouso, os animais
só permanecerão em um mesmo piquete parte desses 36 dias.
A carga animal deve ser compatível com a capacidade
de suporte do pasto.
Quantidades substanciais de nutrientes do solo serão
exportadas por meio dos animais e devem ser repostas
por meio de adubações de reposição
sob pena de diminuição da produtividade
e degradação da pastagem.
De onde se extrai sem repor, acaba.
Recuperação
da pastagem
Em geral, o pecuarista descuida do monitoramento
da fertilidade do solo, permitindo a instalação de um
processo que fatalmente conduzirá à degradação
da pastagem. Atualmente, com a tecnologia disponível,
é inadmissível que se abandone uma pastagem
degradada, na chamada fronteira consolidada, onde já
existe infra-estrutura e se opte por derrubar novos segmentos
de floresta, ampliando a fronteira pecuária, no
denominado
“arco do fogo.” Lamentavelmente tal fato
ainda acontece, com uma freqüência muito acima
da
desejável. Pela sua importância, esse assunto
é tratado em um capítulo especial.
Alimentação no período seco
Em geral, no Estado do Pará os animais podem ser
mantidos no pasto durante todo o ano. A estratégia
para alimentação do rebanho durante o período
seco (ou menos chuvoso) deve variar de acordo com o tipo
climático em que a propriedade está localizada,
a saber, Af – sem período seco; Am – com
pequeno período seco (3 a 4 meses); Aw – com
maior período seco (quatro a seis meses). Descarte
estratégico do rebanho, adubação
estratégica, sal proteinado, silagem, suplementação
alimentar e irrigação são as alternativas
que poderão ser adotadas em decorrência
do segmento pecuário (cria, recria/engorda, produção
de leite, criação de animais de alto valor
para reprodução e outros).
Suplementação mineral
Uma das mais importantes limitações nutricionais
do gado de corte nas regiões tropicais é a
deficiência de minerais, uma vez que as forrageiras
geralmente não atendem às exigências
dos animais. O conteúdo de mineral da forragem
depende de vários fatores, como solo, clima e
espécie forrageira e sua maturidade.
A maioria dos solos da região é de média
à baixa fertilidade, com elevada quantidade de
alumínio (Al) e de ferro (Fe) trocáveis,
favorecendo a formação de compostos insolúveis
para a planta e exacerbando a deficiência do P.
A reposição dos nutrientes exportados pelos
produtos animais ao solo pela adubação,
é pouco comum na região, o que ocasiona
um decréscimo gradativo do conteúdo de
minerais na pastagem.
A suplementação mineral na pequena e média
produção é extremamente precária,
principalmente por falta de informação
(Veiga
& Láu 1998). Por sua vez, as grandes fazendas
da região, embora com melhor acesso à tecnologia
e ao mercado de insumos, precisam melhorar o seu programa
de suplementação mineral. A correção
das deficiências minerais, pela da suplementação
no cocho, à vontade, é bastante eficiente.
Importância dos nutrientes minerais
Embora compondo apenas cerca de 5% do corpo de um animal,
os nutrientes minerais contribuem com grande parte do
esqueleto (80% a 85%) e compõem a estrutura dos
músculos, sendo indispensáveis ao bom funcionamento
do organismo (McDowell, 1992). Os desequilíbrios
dos minerais na dieta animal podem ocorrer tanto pela
deficiência como pelo excesso.
Sintomas da deficiência mineral
Como se trata de um grande de número de elementos
que desempenham as mais variadas e complexas funções
no organismo, os sintomas causados pelos desequilíbrios
minerais da dieta não são específicos.
Esses sintomas podem ser confundidos com aqueles causados
por deficiência de energia e proteína (alimentação
deficiente qualitativa e quantitativamente) ou por problemas
de saúde (parasitismo, doenças infecciosas
ou ingestão de plantas tóxicas).
Os principais sintomas gerais que indicam a ocorrência
de deficiências minerais no rebanho são,
conforme Veiga & Láu (1998):
Apetite depravado - Os animais comem terra, pano e plástico;
roem e ingerem ossos, madeira e casca de árvores;
lambem uns aos outros; apresentam avidez por sal de cozinha.
Redução do apetite - Mesmo em pastagens
com plena disponibilidade de forragem e de boa qualidade,
os animais apresentam baixo consumo, mostrando o ventre
sempre vazio (afundado).
Aspecto fraco ou doentio - Os animais ficam magros, com
dorso arqueado, pêlos arrepiados e sem brilho,
lesões na pele e dificuldade de locomoção.
Anomalias dos ossos - Os ossos longos se tornam curvos
e as extremidades dilatadas.
Fraturas espontâneas – Freqüentemente,
ocorrem quebraduras ósseas, sobretudo quando os
animais são manejados, evidenciando fraqueza do
esqueleto.
Anomalias da pele - Despigmentação e perda
de pêlo e desordem da pele, como ressecamento e
descamação.
Baixo crescimento e produtividade - O crescimento dos
animais jovens é retardado, o ganho de peso é baixo
ou negativo (perda de peso) e a produção
leiteira
é prejudicada.
Baixa fertilidade - Rebanhos com carência mineral
apresentam uma reduzida fertilidade das vacas, em face
da ocorrência de cios irregulares ou ausentes,
abortamento e retenção placentária,
resultando em baixa produção de bezerros.
Baixa resistência a doenças - Animais deficientes
em minerais são menos resistentes (mais susceptíveis)
a doenças e se ressentem mais dos ataques de parasitas
internos (vermes).
A Tabela 2 relaciona os minerais considerados essenciais
para as espécies domésticas de animais
e as suas respectivas funções.
Tabela
2. Macro e microelementos essenciais
para as espécies domésticas e
suas funções.
|
Mineral
Macroelementos
|
Funções
Principais
|
Cálcio
(Ca)
|
Formação
de ossos e dentes; excitabilidade muscular, sobretudo
cardíaca; coagulação sanguínea;
integridade da membrana; transmissão nervosa;
produção do leite. |
Cloro(Cl)
|
Manutenção
da pressão osmótica e do equilibrio ácido-básico;
transmissão de impulsos nervosos; transportes
ativo dos aminoácidos e da glicose em nível
celular; principal ânion do suco gástrico
como parte do ácido clorídrico; ativação
da amilase intestinal. |
Magnésio
(Mg)
|
Atividade
neuromuscular e nervosa; transferência de
energia; participação no crescimento ósseo;
participação no metabolismo dos carboidratos;
participação no metabolismo dos lipídios. |
Fósforo
(P)
|
Formação
óssea e dentária; constituição
da molécula de DNA e RNA, formação
de fosfolipídios; formação da
colina; participando assim, na transmissão
dos impulsos nervosos; atividade enzimática,
sobretudo como coenzima de vários complexos
da vitamina B;m foforilação para formação
de ATP. |
Potássio
(K)
|
Balanço
osmótico e hídrico corporal; participação
no metabolismo protéico e dos carboidratos;
integridade da atividade muscular e nervosa. |
Enxofre
(S)
|
Metabolismo
e síntese protéica; metabolismo das
gorduras e dos carbroidratos; síntese de
vitaminas do complexo B. |
Microelementos |
|
Cobalto
(Co)
|
Função
antianêmica por ser componente da vitamina
B12 e do ácido tólico; metabolismo
da glicose; síntese da metionina. |
Cobre
(Cu)
|
Ativar
enzimático envolvendo o transporte e a transferência
de oxigêncio, metabolismo dos aminoácidos
e do tecido conectivo. |
Iodo
(I)
|
Componente
dos hormônios tireoidianos. |
Ferro
(Fe)
|
Transporte
de oxigênio, e respiração celular. |
Flúor
(F) |
Proteção
óssea e dentária. |
Manganês
(Mn)
|
Integridade
da matriz óssea; ativador enzimático,
sobretudo no metabolismo dos aminoácidos
e dos ácidos graxos. |
Selênio
(Sn)
|
Junto
com a vitamina E, promove a proteção
dos tecidos contra danos oxidativos; componente
da enzima glutaticna peroxidase; metabolismo dos
aminoácidos sulfurados. |
Zinco
(Zn)
|
Ativador
enzimático, principalmente nos processos
de formação
óssea, do metabolismo dos ácidos nucléicos,
do processo da visão, do sistema imunológico
e do sistema reprodutivo. |
Formulação
da mistura mineral
É possível se elaborar fórmulas especiais que atendam
determinadas condições da pastagem ou do rebanho. Por exemplo,
pastagens de solos arenosos ou de cerrado (ou seja em solos fracos) exigem
misturas mais concentradas que aquelas de solos mais férteis. De mesma
forma, o gado de leite é mais exigente em termos de minerais que o gado
de corte.
Qualidade da mistura
A qualidade da mistura está diretamente relacionada
à concentração dos minerais mais
carentes e, principalmente, dos mais caros. Sendo assim,
o que na verdade vai definir a qualidade da mistura
na região, é
a proporção da fonte de fósforo,
o componente mais caro e um dos que devem entrar em
maior proporção na mistura.
Tomando por base o fósforo, uma mistura considerada
boa para a região deve conter de 7% a 10% daquele
elemento, ou seja, 70 a 100 g de fósforo por quilograma
do produto final.
O sal comum ou sal de cozinha, de custo relativamente
baixo,
é dosado na fórmula para cobrir as necessidades
de sódio e cloro e também para servir
como estimulador do consumo da mistura como um todo,
já que a maioria dos
ingredientes minerais é pouco palatável.
Os microelementos, por constituírem a fração
menor e menos dispendiosa da
mistura e, por muitas vezes, serem bastante deficientes
nas pastagens regionais, devem ser dosados para suprir
até
100% das exigências animais, independente da
composição da forragem consumida.
Adição de vermífugos e
outros suplementos
De modo geral, não é aconselhável
utilizar a mistura mineral como veículo para
administração de remédios e aditivos
alimentares, por várias razões. Por exemplo,
os vermífugos necessitam ser aplicados em épocas
definidas (início e fim da estação
chuvosa e terço final da estação
seca), enquanto a mistura mineral é fornecida
de maneira contínua. Além disso, os vermes
são combatidos com doses específicas,
conforme o peso dos animais, e não em dose qualquer.
A adição de uréia ao sal mineral
poderia ser admitida em condições bastante
restritas, onde seja possível um cuidadoso controle
do consumo para evitar risco de intoxicação
do gado, inclusive obedecendo a um período bastante
rígido de adaptação. Em face desses
problemas, não se aconselha adicionar uréia
ao sal mineral.
No mercado local, existem alguns concentrados minerais
enriquecidos com as
vitaminas A, D e E, vendidos a preços bastante
elevados. Do ponto de vista
nutricional, o complemento dessas vitaminas, nas condições
regionais de forragem verde e luz solar, disponíveis
durante o ano todo, não parece se justificar
na prática.
Requerimentos minerais do animal
Vários fatores determinam a quantidade de
minerais exigida pelos animais,
como tipo de exploração (gado de cria,
de corte ou de leite), nível de produção,
idade, teor e forma química dos elementos nos
ingredientes, inter-relações com
outros minerais, consumo da mistura mineral, raça
e adaptação animal
(McDowell et al. 1983). Apesar das pastagens apresentarem
um menor teor de
minerais durante a estação seca (verão),
tem sido observado que deficiências
minerais específicas são mais severas
na estação chuvosa (inverno), no qual
o
ganho de peso é estimulado pela boa disponibilidade
de proteína e energia,
elevando os requerimentos minerais.
Na
Tabela 3, se encontram as exigências de minerais e os
níveis tóxicos
sugeridas pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA
(NRC) para bovinos de corte.
Compostos inorgânicos de origem geológica
ou industrial são comumente utilizados para confecção
das misturas minerais a fim de suplementar os minerais
deficientes na pastagem. Existe uma grande variedade
de compostos inorgânicos para essa finalidade e
a proporção do composto a ser utilizado
depende da biodisponibilidade do elemento. Esse índice,
também conhecido como disponibilidade biológica
ou valor biológico, é definido como a percentagem
do elemento presente no composto, que é
absorvida pelo animal (Tabela 3).
Tabela
3. Requerimentos
e concentração máxima
tolerável de minerais para o
gado de corte.
|
Elemento
Mineral
|
Unidade
|
Crescimento
|
Vacas
|
Máximo
|
e
terminação
|
Gestação
|
Lactação
|
tolerável
|
Cálcio
(Ca)
|
%
|
0,19
- 0,73
|
0,22
- 0,38
|
0,43
- 0,77
|
-
|
Cloro
(Cl)
|
%
|
-
|
-
|
-
|
-
|
Cromo
(Cr)
|
mg/kg
|
-
|
-
|
-
|
1.000,00
|
Cobalto
(Co)
|
mg/kg
|
0,10
|
0,10
|
0,10
|
10,00
|
Cobre
(Cu)
|
mg/kg
|
10,00
|
10,00
|
10,00
|
100,00
|
Iodo
(I)
|
mg/kg
|
0,50
|
0,50
|
0,50
|
50,00
|
Ferro
(Fe)
|
mg/g
|
50,00
|
50,00
|
50,00
|
1.000,00
|
Magnésio
(Mg)
|
%
|
0,10
|
0,12
|
0,20
|
0,40
|
Manganês
(Mn)
|
mg/g
|
20,00
|
40,00
|
40,00
|
1.000,00
|
Molibdênio
(Mo)
|
mg/kg
|
-
|
-
|
-
|
5,00
|
Níquel
(Ni)
|
mg/kg
|
-
|
-
|
-
|
50,00
|
Fósforo
(P)
|
%
|
0,12
- 0,34
|
0,16
- 0,24
|
0,25
- 0,48
|
-
|
Potássio
(K)
|
%
|
0,60
|
0,60
|
0,70
|
3,00
|
Selênio(Se)
|
mg/kg
|
0,10
|
0,10
|
0,10
|
2,00
|
Sódio
(Na)
|
%
|
0,06
- 0,08
|
0,06
- 0,08
|
0,10
|
-
|
Enxofre
(S)
|
%
|
0,15
|
0,15
|
0,15
|
0,40
|
Zinco
(Zn)
|
mg/kg
|
30,00
|
30,00
|
30,00
|
500,00
|
Fonte:
Nacional... (1996).
|
Disponibilidade
biológica das fontes de minerais
A biodisponibilidade relativa dos minerais nas fontes
usadas em suplementos é mostrada na Tabela 4.
Utilização de minerais “orgânicos”
ou quelatos
O valor biológico da mistura mineral pode aumentar
bastante quando os microelementos são administrados
na forma de um complexo orgânico ou de quelatos,
proteinatos e polissacarídeos, Algumas pesquisas
têm mostrado certa vantagem desses produtos em
relação às respectivas formas minerais.
Porém, a efetiva utilização desses
compostos, na prática, vai depender da sua economicidade.
Tabela
4. Percentual
de minerais em fontes usadas em suplementos
minerais.
|
Elemento
|
Fonte
|
%
do elemento na fonte
|
Biodisponibilidade
|
Cálcio
|
Fosfato
de rocha desfluorizado |
29,2
(19,9-35,7)
|
Intermediátia
|
Carbonato
de cálcio |
40,0
|
Intermediária
|
Fosfato
mole |
18,0
|
Baixa
|
Calcário
calcítico |
38,5
|
Intermediária
|
Calcário
dolomítico |
22,3
|
Intermediária
|
Fosfato
monocálcico |
16,2
|
Alta
|
Fosfato
tricálcico |
31,0-34,0
|
-
|
Fosfato
bicálcico |
23,2
|
Alta
|
Fenos
em geral |
-
|
Baixa
|
Sulfato
de cálcio |
20,0
|
Baixa
|
Fósforo
|
Fosfato
de rocha descluorizado |
13,1
(8,7-21,0)
|
Intermediária
|
Fosfato
de cálcio |
18,6-21,0
|
Alta
|
Fosfato
bicálcico |
18,5
|
Alta
|
Fosfato
tricálcico |
18,0
|
-
|
Ácido
fosfórico |
23,0-25,0
|
Alta
|
Fosfato
de sódio |
21,0-25,0
|
Alta
|
Fosfato
de potássio |
22,8
|
-
|
Fosfato
mole |
9,0
|
Baixa
|
Enxofre
|
Sulfato
de cálcio (gesso) |
12,0
-20,1
|
Baixa
|
Sulfato
de potássio |
28,0
|
Alta
|
Sulfato
de magnésio e potássio |
22,0
|
Alta
|
Sulfato
de sódio |
10,0
|
Intermediária
|
Sulfato
de sódio anidro |
22,30
|
-
|
Flor
de enxofre |
96,0
|
Baixa
|
Sulfato
de amônio |
24,0
|
Alta
|
Potássio
|
Cloreto
de potássio |
50,0
|
Alta
|
Sulfato
de potássio |
41,0
|
Alta
|
Sulfato
de magnésio e potássio |
18,0
|
Alta
|
Cobalto
|
Carbonato
de cobalto |
46,0-55,0
|
-
|
Sulfato
de cobalto |
21,0
|
-
|
Cloreto
de cobalto |
24,7
|
-
|
Cobre
|
Sulfato
de cobre |
25,0
|
Alta
|
Carbonato
de cobre |
53,0
|
Intermediária
|
Cloreto
de cobre |
37,2
|
Intermediária
|
Óxido
de cobre |
80,0
|
Baixa
|
Ferro
|
Nitrato
de ferro |
33,9
|
Intermediária
|
Óxido
de ferro |
46,0-60,0
|
Não-disponível
|
Carbonato
de ferro |
36,0-42,0
|
Baixa
|
Sulfato
de ferro |
20,0-30,0
|
Alta
|
Iodo
|
Iodato
de cálcio |
63,5
|
Alta
|
Iodato
de potássio estabilizado |
69,0
|
Alta
|
Iodeto
de cobre |
66,6
|
Alta
|
Etilenodiamino
dihidroiodeto |
80,0
|
Alta
|
Manganês
|
Sulfato
de manganês |
27,0
|
Alta
|
Óxido
de manganês |
52,0-62,0,0
|
Intermediária
|
Selênio
|
Selenato
de sódio |
40,0
|
Alta
|
Selenito
de sódio |
45,6
|
Alta
|
Zinco
|
Carbonato
de zinco |
52,0
|
Alta
|
Cloreto
de zinco |
48,0
|
Intermediária
|
Sulfato
de zinco |
22,0-36,0
|
Alta
|
Óxido
de zinco |
46,0-73,0
|
Alta
|
Misturas
múltiplas
Além das misturas minerais tradicionais, existem
no mercado misturas minerais
múltiplas (sal proteinado) que são suplementos
minerais que contêm uma fonte
protéica (ou uréia), uma fonte energética
e vitaminas.
Essas misturas podem ser utilizadas durante o período
de lactação, cujas necessidades minerais,
protéicas e energéticas são maiores,
ou durante o período seco, em que a disponibilidade
de alimento é reduzida e de baixa qualidade nutricional.
Todos os tipos de misturas minerais, múltiplas
ou não, exigem cuidados. As
misturas que contêm uréia exigem uma adaptação
do animal com a mistura
para se evitar um processo de intoxicação.
As demais misturas, sobretudo as
múltiplas, requerem atenção especial
no processo de armazenamento, evitandose a umidade excessiva,
a chuva, e o sol.
Avaliação de misturas (fórmulas)
minerais
Visando subsidiar os produtores na avaliação
qualitativa e quantitativa dos suplementos minerais disponíveis
no mercado, as empresas fabricantes, por lei, são
obrigadas a exibirem nas embalagens dos produtos a garantia
de concentração dos elementos constituintes
das misturas. Isso é feito em grama (g) para os
macroelementos e miligrama (mg) para os microelementos,
por quilograma (kg) do produto comercializado. A apresentação
do teor de flúor também
é exigida, pela toxicidade desse elemento, servindo
para avaliar a qualidade da fonte de fósforo usada.
Considerando-se a sua importância biológica
e o seu elevado custo, o fósforo é um dos
mais importantes critérios de comparação
das misturas minerais. Para as condições
das pastagens tropicais, consideram-se aceitáveis,
em misturas prontas para uso, concentrações
de fósforo entre 70 a 100 g por quilograma do
produto.
No entanto, quanto maior for a participação
do sódio (Na) ou do cloreto de sódio (Na
Cl) ou sal de cozinha, que expressam a parte mais barata
das fórmulas, menor deverá ser o seu preço.
Com respeito aos outros elementos, especialmente os microelementos,
deve-se ficar alerta com o seu potencial em atender às
exigências diárias dos animais, o que vai
depender, principalmente do seu conteúdo, do conteúdo
de sal de cozinha (cujo aumento restringe o consumo da
mistura) e do tipo de fonte de fósforo e cálcio,
das quais algumas inibem o consumo, como os fosfatos
naturais.
Também
é exigida a relação de todas as
fontes dos elementos minerais que
constituem a fórmula comercializada. A utilização
pelos animais das fontes de um mesmo elemento (ou seja,
a sua biodisponibilidade) pode variar grandemente e afetar
a qualidade da mistura.
No caso dos concentrados minerais, que exigem uma diluição
geralmente no sal de cozinha antes de seu fornecimento,
a concentração dos constituintes é base
para a avaliação do custo do produto. Porém,
a análise de seu potencial biológico só
será possível após realizada a diluição
recomendada pelo fabricante, quando então, os
mesmos critérios usados para as misturas prontas
deverão ser aplicados.
Fornecimento de minerais ao gado
As formulações minerais são calculadas
visando ao suprimento diário das exigências
minerais, geralmente por meio de uma mistura única
e completa. Por isso, há necessidade de que os
animais tenham acesso diário e à vontade à mistura.
Consumo da mistura
Em rebanhos não-acostumados a receber sal mineral,
o consumo da mistura nos primeiros dias é geralmente
alto. Após os primeiros dias de ajuste, esse consumo
se normaliza, ficando em função inversa
da proporção de sal de cozinha, considerado
como atrativo e regulador do consumo dos outros minerais.
Como o apetite do animal por este sal tem um limite,
quanto maior a proporção do sal de cozinha,
menor será o consumo da mistura. Por exemplo,
numa mistura contendo 50% de sal de cozinha, a quantidade
diária ingerida por um animal adulto, ficará entre
50 a 60 g, desde que a mistura não contenha farinha-de-osso,
ingrediente que tende a aumentar a ingestão.
Existe diferença nas necessidades de minerais
do rebanho em função da estação
do ano. Dessa maneira, na estação seca,
quando a alimentação
é deficiente e a suplementação alimentar
não é feita, pode-se restringir o fornecimento
da mistura, para se evitar um baixo aproveitamento. Na
estação chuvosa, onde há exuberância
de forragem, os animais devem ter acesso aos minerais à vontade.
A freqüência ideal de abastecimento dos cochos
não deve ultrapassar 4 dias, para evitar o empedramento
da mistura.
Cochos de sal
Como a chuva solubiliza parte dos componentes da mistura,
os cochos devem ser devidamente cobertos. Também
devem ser em número suficiente e ter uma altura
que facilite o acesso dos animais menores. As dimensões
devem ser em função do número de
animais a ser suplementado, considerando-se um intervalo
de abastecimento, de no máximo, uma semana. A
soma do comprimento de todos os cochos disponíveis
deve ser suficiente para permitir o acesso simultâneo
de cerca de 10% dos animais, e que cada animal adulto
requer um espaço de 40 a 50 cm de um dos lados
do cocho. Dessa maneira, 1 lote de 200 animais requererá um
cocho de 4 a 5 m de comprimento ou 2 cochos, cada um
com 2 a 2,5 m cada. Dois modelos de cochos são
mostrados na Fig. 2.
A melhor localização dos cochos é determinada
pelo hábito dos animais,
procurando-se colocá-los nos locais de maior freqüência,
para facilitar o consumo.
O piso em torno dos cochos deve ser aterrado e compactado
para evitar a formação de atoleiros.
 |
Fig.
2. Detalhes de cochos cobertos: A - Cocho
sem proteção lateral, B - Cocho com
proteção lateral e C - Seção
lateral do compartimento.