Por Andréa, M. V.1, Bittencourt, T. C. B. S. C. 2, Souza, E. A.3, Moura, E. V. L. 3, Aquino, E. L4
O Brasil possui quase 20% da área agricultável disponível no planeta,
e o maior porcentual de área cultivável em relação à sua área total,
com quase 70% do território nacional passível de exploração agrícola. A
produção de bovinos de corte no Brasil constitui-se em atividade
econômica e social muito positiva. Apesar de todos os problemas
relacionados com o aparecimento dos focos da febre aftosa, o país
continua sendo o segundo maior rebanho de bovinos no mundo, o segundo
maior produtor mundial de carne bovina (11% da produção mundial) e o
maior exportador mundial de carne, chegando a atingir nos meses de
janeiro e fevereiro de 2006 o índice de 205.701 toneladas exportadas
tendo um crescimento de 10,12% com relação ao mesmo período do ano
passado. (LÔBO, 2003; NEGRELLI, 2006). Entretanto, é sabido que pecuária
de corte brasileira ainda não expressou todo seu potencial.
Basicamente existem duas ferramentas a serem trabalhadas quando se
tenta tornar a produção animal mais eficiente, o meio ambiente e os
animais, sendo o melhoramento genético uma ferramenta poderosa para o
incremento da produção animal. Nos últimos anos no Brasil, o
melhoramento genético de bovinos de corte vem assumindo importância cada
vez maior. Isso tem resultado não só no aumento do número de programas
que desenvolvem avaliação genética de diversos rebanhos, mas, também, na
maior valorização dos animais portadores de estimativas de Diferenças
Esperadas na Progênie (DEPs).
Dentre os objetivos de seleção considerados pelos diversos programas
de melhoramento, a precocidade de crescimento e sexual é o grande
desafio atual. A diminuição das idades ao primeiro cio, ao primeiro
parto e ao abate, resultará de grande impacto na produtividade total,
uma vez que haverá redução dos custos de manutenção, aumento da taxa de
desfrute, do rendimento e melhoria da qualidade da carne para a
comercialização e/ou exportação.
O melhoramento genético de características reprodutivas é um processo
complexo e a seleção direta para características ligadas à reprodução
é, muitas vezes, difícil de ser aplicada, tornando-se necessário
identificar características reprodutivas que sejam facilmente medidas,
que apresentam variabilidade genética e que sejam geneticamente
correlacionadas aos eventos reprodutivos (Bergmann, 1998). De acordo com
Hill (1998), na pecuária com ciclo de produção completo, as
características reprodutivas têm um impacto econômico cerca de dez vezes
maior do que as associadas ao crescimento.
A puberdade é o período que antecede a vida reprodutiva dos animais
domésticos. Para ambos os sexos, a idade à puberdade é uma
característica indicadora da precocidade sexual dos animais. É
caracterizado pela primeira produção de gametas maduros e início da
atividade reprodutiva. Do ponto de vista prático, um animal (macho ou
fêmea) atinge a puberdade quando estiver capaz de liberar gametas e de
manifestar uma seqüência completa de comportamento sexual. A diminuição
da idade à puberdade tem como conseqüências maior intensidade de seleção
e diminuição do intervalo de gerações, e conseqüentemente, progresso
genético mais rápido, caso os reprodutores sejam animais selecionados
geneticamente.
Existem evidências que a idade à puberdade pode ser reduzida através
da seleção genética. Atualmente os programas de melhoramento estão
priorizando as características reprodutivas das fêmeas visando o aumento
da produtividade da pecuária nacional, sendo sua contribuição para um
produtor comercial de fundamental importância, pois delas dependem o
número de bezerros desmamados por ano.
Para verificação da idade à puberdade são necessárias palpações
retais, ultra-sonografia ou dosagens hormonais e a utilização de rufiões
com marcadores por longo tempo. Requer ainda, a exigência de
acompanhamento de muitas fêmeas ao mesmo tempo, o que tornado tal
controle difícil, mas não impraticável. Tais fatores levam os produtores
a considerar a idade ao primeiro parto como a característica indicadora
do início da atividade reprodutiva das fêmeas. Entretanto, devido a
prática de estações de acasalamento em períodos curtos e específicos do
ano, algumas fêmeas que apresentam cios em idade não conveniente ao
esquema adotado, não são colocadas em reprodução. Desta forma não se tem
informações precisas a respeito do início da suas vidas reprodutivas.
Outra desvantagem é o tempo utilizado para a expressão da
característica. Com algumas exceções, a idade ao primeiro parto nas
raças zebuínas é elevada, gerando uma situação de atraso nas regiões
tropicais. Face às dificuldades operacionais para implementação de
programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a
utilização de características indicadoras de precocidade sexual, que
tenham variabilidade genética adequada, que sejam de mensuração fácil e
econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à
puberdade e outras características economicamente importantes (Bergmann,
1998).
O sucesso de um programa de melhoramento depende fortemente do uso de
linhagens com desempenho superiores e adaptados às condições
ambientais. Na inexistência de material genético superior não é possível
obter alta produtividade e qualidade de produto. Desta forma o
melhoramento tem tido papel fundamental no desenvolvimento da pecuária
gerando animais com características de forte interesse econômico.
Algumas metodologias para alcançar estes objetivos têm sido
constantemente perseguidas pelo melhoramento animal, destacando-se o uso
de marcadores de DNA ou moleculares que vem recebendo cada vez mais
atenção, tanto de pesquisadores como de empresas e produtores.
Marcadores são as características do DNA que diferenciam dois ou mais
indivíduos e são herdadas geneticamente.
Os distintos tipos de marcadores moleculares disponíveis se
diferenciam pela metodologia utilizada para revelar a variabilidade do
DNA, diferenciando-se quanto à habilidade de detectar diferenças entre
indivíduos, custo, facilidade de uso, consistência e repetibilidade. Os
marcadores têm mostrado alguns loci que afetam as características
qualitativas e quantitativas, evidenciando genótipos superiores em
animais de interesse zootécnico e possibilitando acessar diretamente o
genótipo de um individuo.
Assim sendo, usam-se técnicas que detectam os polimorfismos
associados a genes sabidamente importantes para a característica que se
pretende estudar. A abordagem do gene candidato deve ser aplicada quando
forem substâncias que interfiram em mecanismos endócrinos ou
fisiológicos controladores das características de interesse que possuam
formas polimórficas, detectáveis por técnicas de genética molecular
(Rosa,1997).
Para as características de fertilidade os genes candidatos poderiam
ser do eixo hipotalâmico, por exemplo, o hormônio liberador de
gonadotrofinas (GnRH), a ocitocina, o fator inibidor da prolactina
(PIF), hormônio folículo (PMSG) e seus respectivos receptores e enzimas
das vias de biossíntese (Hafez, 1988). As enzimas reguladoras das vias
de biossíntese de hormônios esteróides são importantes reguladoras do
ciclo estral e conseqüentemente, representam genes candidatos para
fertilidade.
Pesquisas indicam que ovinos da raça australiana Booroola apresentam
alta taxa de reprodutiva, atribuída ao gene Fec. Existem dois alelos
codominantes envolvidos na característica, de tal modo que os animais
homozigotos (Fec+) apresentam taxa de ovulação de 1,5, os heterozigotos (Fec+/FecB)
têm média de 2,9 e os homozigotos (FecB) de 4,7. As fêmeas FecB são
identificadas pela medida da taxa de ovulação por endoscopia, neste
sentido, o trabalho de introgressão desse gene nos rebanhos melhorados é
dificultado.
Resultados satisfatórios já foram obtidos (Lanneluc et al., 1994)
utilizando o gene Fec, entretanto estes marcadores representam o início
para a seleção de outros marcados mais relacionados ao gene Fec. Em
suínos foi observada associação entre a variação do tamanho de leitegada
e o polimorfismo do gene ESR em diferentes raças (Short e Mc Laren,
1995). Os animais da raça chinesa Meisham apresentam uma forma do gene
ESR, que aumenta de 0,8 a 1 leitão por leitegada a cada cópia do alelo,
com acréscimo de 1,6 a 2 leitões por leitegada em animais homozigotos.
Com este objetivo, programas de melhoramento tais como o Programa de
Melhoramento Genético da Raça Nelore – USP, pesquisam a obtenção de
marcadores moleculares para precocidade sexual. Entretanto Andréa et
al., não constataram associação das variações encontradas pelos
diferentes padrões de polimorfismos SSCP (Single Strand Conformation
Polymorphism) nos genes da P450 Scc (Side Shain Cleavage) e da Prl
(Prolactina) sobre a precocidade sexual, caracterizada pela idade ao
primeiro parto em novilhas da raça Nelore.
Os resultados obtidos indicaram a necessidade futura de aproximação
dos diferentes haplótipos na tentativa de descobrir genes candidatos
envolvidos em variação genética quantitativa em animais de interesse
zootécnico. A presença de SNPs (Single Nucleotide Polimorphism) seria um
método de abordagem a ser considerado.
No Brasil, trabalhos demonstram que as médias das estimativas de
herdabilidade para idade à primeira cria de animais zebuínos variam de
0,41 (Ayala, 1990) a 0,25 (Mercadante, 1996). Essas informações mostram a
existência de possibilidades de resposta à seleção. A idade ao primeiro
parto e a idade à puberdade apresentam correlação genética, assim
obtém-se melhoramento da precocidade sexual quando se seleciona para
idade ao primeiro parto (Bergmann, 1998). A idade ao primeiro parto pode
ser utilizada como critério de seleção para precocidade sexual, e pode
apresentar maior resposta em populações nas quais as fêmeas entram na
estação de monta em torno dos 14 meses de idade (Pereira et al., 2002).
De grande relevância econômica, a seleção para precocidade sexual
pode ser obtida apesar das dificuldades em sua implantação. Os trabalhos
com marcadores moleculares estão apenas iniciando, muitos loci deverão
ser ainda mapeados e os genes correspondentes com suas seqüências
poderão ser identificados e estudados nos próximos anos. A ferramenta
fornecida pela revolução do DNA esclarecerá, sem dúvida, a resposta da
biologia das características de interesse econômico. O uso todas as
tecnologias visando o melhoramento animal estão sendo aplicados nos
rebanhos disponibilizando ao mercado consumidor, produtos de melhor
qualidade a um menor custo.
Referências bibliográficas
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