Introdução
Um dos principais problemas dos
sistemas de produção leiteira da Zona Bragantina, como em toda a
Região Amazônica, é a falta de persistência das pastagens, que
normalmente culmina com a sua degradação. É considerada degradada uma
pastagem cuja maior parte foi tomada por plantas invasoras ou
constitui-se solo descoberto. Entre as causas dessa degradação, o
manejo inadequado da pastagem é um dos mais notados. Outro importante
problema, que também depende do manejo de pastagem, é o baixo valor
nutritivo da forragem consumida pelos animais.
O sistema de pastejo mais
utilizado nas propriedades leiteiras da Zona Bragantina é o rotativo
não-controlado, com longos períodos de ocupação, com três ou mais
piquetes ou subdivisões. Apesar da preocupação dos produtores em
melhorar a utilização dos recursos forrageiros, via manejo da pastagem,
isso não ocorre, normalmente, na prática. Além dos períodos de
ocupação dos piquetes serem demasiadamente longos, não existe um
controle da lotação, ocorrendo problemas de sub ou superpastejo. Essa
inadequada utilização da pastagem pode provocar sua degradação,
possibilitando a invasão de plantas indesejáveis, não-forrageiras,
comprometendo a alimentação do rebanho (Hostiou et al. (2004).
Em levantamento das pastagens
nas propriedades leiteiras da Microrregião de Castanhal, na Zona
Bragantina, Bendahan (1999) verificou que a área de solo coberto pela
pastagem variou de 45% a 84%, enquanto que a digestibilidade, o teor
de proteína bruta e o de fósforo na forragem alcançaram apenas 75%,
38% e 26% das respectivas recomendações para as vacas leiteiras.
O grande objetivo do manejo de
pastagem no sistema de produção leiteiro é permitir às vacas uma
eficiente utilização de forragem da melhor qualidade, durante o ano
inteiro, sem comprometer a sustentabilidade da pastagem. Dessa forma, o
manejo da pastagem deverá permitir uma adequada colheita da forragem
produzida por parte dos animais. Por exemplo, desde que a qualidade da
dieta não seja comprometida, as práticas de pastejo que reduzem as
sobras de forragem sobre o solo, ao final de um pastejo, deverão ser
privilegiadas.
Fatores de manejo de pastagem
Pressão de pastejo (lotação animal)
O fator de manejo que mais afeta
a persistência das pastagens é a pressão de pastejo, expressa na
prática pela lotação animal. Visando lucros imediatos, muitos produtores
utilizavam - sem o devido descanso e por longo tempo - lotações animais
muito acima da capacidade de suporte das pastagens, chegando, em alguns
casos, a 2-3 UA/ha1, sem a devida reposição de nutrientes ao solo,
comprometendo a sua vida útil. A experiência regional de manejo de
pastagem, em sistemas extensivos (sem reposição de nutrientes do solo
via adubação), recomenda se ajustar a carga animal à disponibilidade de
forragem, o que leva, após o devido tempo de ajuste, a uma lotação de
0,75 a 1,5 UA/ha. Em sistemas intensivos (com reposição de nutrientes do
solo via adubação), é possível alcançar lotações bem mais altas, 2 a 3
UA/ha, ou mesmo maiores, dependendo do nível de aplicação de insumos.
Freqüência de pastejo (sistema de pastejo)
Outro fator de manejo de
pastagem, que nas condições regionais pode ser de considerável
importância, é a freqüência de pastejo. No passado, esse fator era pouco
considerado, tanto que o sistema de pastejo predominante era parecido
com o contínuo (sem descanso e sem rotação de pastagem), com pouca
divisão de pastagem. Mesmo sob uma lotação animal razoável,
periodicamente, as pastagens tropicais, principalmente aquelas formadas
por gramíneas de hábito ereto ou entoiceirado, necessitam descansar do
pastejo animal. O descanso da pastagem permitirá a restauração do seu
índice de área foliar e do seu sistema radicular, possibilitando maior
cobertura do solo e competitividade com as plantas daninhas. Maior
eficiência desse processo pode ser alcançada, quando o controle das
plantas daninhas é feito no início do descanso da pastagem.
A freqüência de pastejo se
expressa pelo sistema de pastejo. No pastejo contínuo, a pastagem não
tem descanso, ou seja, o tempo de descanso é zero, e por isso, não
requer subdivisão da pastagem. No pastejo rotativo, o número
UA1 = Animal de 450 kg.
UA1 = Animal de 450 kg.
de subdivisão ou de piquete da
pastagem (2, 3, 4, 5, 6 ... n) e o tempo de pastejo ou permanência dos
animais em cada piquete, determinam o descanso da pastagem.
Interação pressão de pastejo versus freqüência de pastejo
Os fatores pressão de pastejo e
freqüência de pastejo não atuam isolados, sendo a sua interação muito
importante. Mesmo considerando as características intrínsecas de cada
forrageira, as respostas das pastagens à variação desses fatores
seguem mais ou menos um mesmo padrão. Nas pastagens tropicais, há um
consenso entre os estudiosos de que o fator que mais afeta a
produtividade animal é a pressão de pastejo, ou seja, maior parte da
variabilidade na produção animal de uma pastagem é explicada pela
variação da pressão de pastejo do que pelo sistema de pastejo.
A experiência e as pesquisas
regionais possibilitam estabelecer padrões de manejo de pastagem para
aumentar a produtividade e a sustentabilidade da pastagem e, por
conseguinte, a produção animal. Na Tabela 1, é encontrado o padrão da
resposta das pastagens, manejadas extensivamente, à pressão de pastejo
(lotação animal) nas condições regionais.
Tabela 1. Padrão de resposta das pastagens, manejadas extensivamente, à pressão de pastejo (carga animal) nas condições regionais. | |||||||||||||||
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*UA = Equivalente a um animal de 450kg de peso vivo. Fonte: Veiga e Tourrand (2001) |
Igualmente, o desempenho das
pastagens, em virtude da freqüência de pastejo (sistema de pastejo), em
condições regionais, é sintetizado na Tabela 2.
Tabela 2. Desempenho de pastagens regionais em virtude da freqüência de pastejo (sistema de pastejo). | ||||||||||||||||||||||||||
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Fonte: Veiga & Tourrand (2001) |
A pressão de pastejo (lotação
animal) pode ser mais facilmente manipulada que o sistema de pastejo.
Enquanto que para alterar a lotação, apenas é necessário se adicionar
ou retirar animais da pastagem. Para passar de um sistema de pastejo
contínuo para um rotativo, são necessários investimentos em cercas,
bebedouros e cochos de sal, assim como maior gasto com mão-de-obra na
sua condução.
Apesar de já ter sido
estabelecido o padrão de resposta das pastagens aos fatores de manejo
de pastagem, ainda se ressente de informações específicas às espécies
forrageiras e à estação do ano. Na falta de pesquisa mais conclusiva,
algumas informações práticas são apresentadas na Tabela 3.
Tabela 3. Altura da pastagem e fator tempo no manejo de algumas pastagens regionais. | ||||||||||||||||||||||||||
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*Acima da qual a
lotação deve ser aumentada. **Abaixo da qual a lotação deve ser
reduzida. *** Período mais chuvoso. ****Período menos chuvoso ou seco Fonte: Veiga & Tourrand (2001). |
Exemplos de sistemas de pastejo rotativo
Um sistema de pastejo rotativo,
com 6 piquetes e com tempo de pastejo de 6 dias e de descanso de 30
dias, apenas com adubação na formação da pastagem, foi testado
satisfatoriamente em pastagem de braquiarão, em propriedade leiteira
da Zona Bragantina (Camarão et al. 2002).
A seguir, descrevem-se os passos
na concepção de dois exemplos de sistema de pastagem rotativo. Esses
sistemas são mais intensivos que a média dos praticados nas
propriedades leiteiras da Zona Bragantina.
a) Sistema de pastejo rotativo _ Exemplo 1
Especificações
Quantidade de animais: 12 vacas e 1 touro
Tempo de descanso de cada piquete: 30 dias
Tempo de pastejo de cada piquete: 15 dias
1 UA (unidade animal): 450 kg de peso vivo.
Peso de uma vaca: 400 kg de peso vivo.
Peso de um touro: 600 kg de peso vivo.
Taxa de lotação: 1,5 UA/ha.
Adubação da pastagem: Nenhuma ou apenas de formação.
Cálculo do número de piquetes (subdivisões)
Aplicando-se a fórmula N = D/P +
1, onde N é o número de piquetes, D é o tempo de descanso e P é o
tempo de pastejo, tem-se N = 30/15 + 1 = 3 piquetes.
Cálculo do peso dos animais
12 vacas x 400 kg + 1 touro x 600 kg = 5.400 kg.
Cálculo da área total da pastagem
Como a carga é 1,5 UA/ha, logo 1 ha irá suportar 1,5 x 450 kg ou 675 kg de peso vivo.
Então, a área de pastagem para o total de animais é 5.400 kg/675 kg = 8 ha.
Cálculo da área de cada piquete
8 ha/3 piquetes = 2,67 ha.
Representação gráfica do sistema
b) Sistema de pastejo rotativo _ Exemplo 2
Especificações
Quantidade de animais: 24 vacas e 1 touro.
Tempo de descanso de cada piquete: 35 dias.
Tempo de pastejo de cada piquete: 7 dias.
2,67 ha 12 vacas 1 touro |
2,67 ha | 2,67 ha |
1 UA (unidade animal) 450 kg de peso vivo.
Peso de uma vaca: 400 kg de peso vivo.
Peso de um touro: 600 kg de peso vivo.
Taxa de lotação: 2,0 UA/ha.
Adubação da pastagem: De formação e de manutenção.
Cálculo do número de piquetes (subdivisões)
Aplicando-se a fórmula N = D/P +
1, onde N é o número de piquetes, D é o tempo de descanso e P é o
tempo de pastejo, tem-se N = 35/7 + 1 = 6 piquetes.
Cálculo do peso dos animais
24 vacas x 400 kg + 1 touro x 600 kg = 10.200 kg.
Cálculo da área total da pastagem
Como a carga é 2 UA/ha, logo 1 ha irá suportar 2 x 450 kg ou 900 kg de peso vivo.
Então, a área de pastagem para o total de animais é 10.200 kg/900 kg = 11,33 ha.
Cálculo da área de cada piquete
11,33 ha/6 piquetes = 1,89 ha.
Representação gráfica do sistema
Obs.: As informações para
adubação de sistemas de pastejo rotativo podem ser obtidas no capítulo
"Formação e manutenção de pastagem".
1,89 ha 24 Vacas 1 Touro |
1,89 ha | 1,89 ha | 1,89 ha | 1,89 ha | 1,89 ha |
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