O Projeto Raças é uma
série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa
reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham
diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de
entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas para
a raça Nelore está compilado aqui, com a opinião desses especialistas
sobre a raça.
Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint
em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e
comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em
contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar
aqui uma por uma, nas próximas semanas.
Conheça mais a raça Nelore
Histórico da raça
A história da raça Ongole, ou Nelore,
como é conhecida no Brasil, começa mil anos antes da era cristã, quando
os arianos levaram os animais para o continente indiano.
Nelore é o nome de um distrito da antiga
Província de Madras, Estado de Andra, situada na costa oriental da
Índia, onde foram embarcados os primeiros animais para o Brasil.
O rebanho da raça Nelore no Brasil
A trajetória que transformou o Ongole
indiano no Nelore brasileiro, começa na primeira metade do século XIX,
de quando datam os primeiros registros de desembarque no país de
zebuínos originários da Índia.
A história descreve que a primeira
aparição do Nelore no país teria ocorrido em 1868 quando um navio, que
se destinava à Inglaterra, ancorou em Salvador com um casal de animais
da raça a bordo. Os animais teriam sido comercializados, permanecendo no
país.
Dez anos depois, em busca de animais
exóticos para trazer ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgruber teve contato
com a raça Ongole durante uma visita ao zoológico de Hamburgo, na
Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de animais da raça,
em outubro de 1878. Posteriormente, outras partidas oriundas diretamente
da Índia aportaram no Rio de Janeiro. A raça Nelore foi então se
expandindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São
Paulo e Minas Gerais. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico,
começaram a ser definidas as características raciais do Nelore.
As duas últimas e significativas
importações de reprodutores Nelore aconteceram entre os anos de 1960 e
1962. Nesse período desembarcaram no país, em Fernando de Noronha, onde
foram submetidos a quarentena, grandes genearcas como Kavardi, Golias,
Rastã, Checurupadu, Godhavari, Padu e Akasamu que são a base formadora
das principais linhagens de Nelore.
Hoje, estima-se que o Brasil possui um
rebanho com mais de 200 milhões de bovinos de corte e leite criados a
pasto, dos quais 80% do gado de corte é Nelore ou anelorado, o que
equivale a mais de 100 milhões de cabeças.
O Nelore brasileiro, além de ser
considerado hoje como um patrimônio legitimamente nacional, produz carne
saudável e natural, exportada para mais de 146 países e cada vez mais
demandada por consumidores esclarecidos do mundo todo.
Associação Brasileira dos Criadores de Nelore do Brasil – ACNB
A ACNB é uma entidade sem fins
lucrativos fundada em 7 de abril de 1954. Sua sede está localizada na
capital paulista. Possui ainda um escritório junto à sede da ABCZ –
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, em Uberaba/MG. Tem por
finalidade integrar criadores, invernistas e demais pecuaristas em torno
de um objetivo comum: fortalecer e defender a raça que representa 80%
do rebanho de corte nacional. A associação conta com 15 regionais que
estão localizadas em 88,8% do território nacional, afirma Pedro Gustavo
Novis, presidente da ACNB.
Segundo Pedro, o Ranking Nacional da
Raça Nelore foi criado em 1993 pela ACNB, durante a gestão do pecuarista
Eduardo Biagi com o objetivo de estimular e divulgar o progresso
genético da raça. Sob a forma de um campeonato, o Ranking contabiliza as
pontuações obtidas através da competição de animais nas exposições
agropecuárias oficializadas pela Associação dos Criadores de Nelore do
Brasil (ACNB) em todo país.
Em 2011/2012 o Ranking Nacional
contabilizou 148 exposições, nas quais foram submetidos e julgados mais
de 4.000 animais de 255 expositores, em 18 estados do País.
Em 1999, a ACNB iniciou uma nova linha
de trabalho, estendendo sua atuação aos criadores de gado comercial, e
assumindo um novo desafio: desenvolver uma marca para a carne do Nelore.
Assim teve início a promoção dos abates técnicos que subsidiaram o
desenvolvimento e deram origem ao Programa de Qualidade Nelore Natural –
PQNN. Desde 2001, a marca Nelore Natural, Boi de Capim, Carne Saudável –
leva a marca do pecuarista até as mesas dos consumidores brasileiros,
afirma Pedro.
Após o início das operações do PQNN, os
abates técnicos passaram a ter a função de mapear o desempenho
frigorífico da raça Nelore no país e orientar os seus participantes
quanto aos parâmetros de melhor liquidez de mercado. Passaram então a
serem organizados sob a forma de um campeonato anual: o Circuito Boi
Verde de Julgamentos de Carcaças, diz o presidente.
Segundo o representante, o projeto mais recente da ACNB é a
instituição da Universidade do Boi e da Carne, um órgão de difusão de
tecnologia que pretende formar uma legião de multiplicadores, de forma a
ampliar e potencializar o trabalho de disseminação de conceitos
importantes à evolução do mercado.
Assim sendo, em 2012-2013, a associação
tem dado continuidade e buscado ampliar todos os seus projetos. Em
especial vale destacar o crescimento do Programa de Qualidade Nelore
Natural - PQNN, que
pode ser demonstrado em números, pois entre janeiro e agosto de 2013
foram abatidos dentro do Programa 256.358 animais que resulta em uma
média de 32 mil animais por mês. Foram premiados 338 pecuaristas que
receberam em média R$ 2,25 a mais por arroba@. A média de R$ 37,72 por
animal premiado e média de R$ 5.994,22 recebido por pecuarista, afirma
entrevistado.
A ACNB tem também procurado cada vez mais estender seu trabalho aos
criadores de animais comerciais. Desde 2012, tem oficializado e apoiado a
realização de Leilões de animais Nelore não PO (puro de origem). Em
relação ao tradicional trabalho de oficialização, já consolidado entre
os promotores dos leilões Elite, os benefícios oferecidos são os mesmos
dos leilões de animais PO, porém a taxa de oficialização é de apenas
0,25%. Ou seja, metade do percentual cobrado pela chancela de leilões de
animais PO. Em 2012 e 2013, por exemplo, a ACNB esteve diretamente
envolvida na realização do 1° e 2° Leilão Ranking Nelore Bataguassu, que
em sua última edição registrou faturamento de R$ 1,227.791.00.
E para o produtor, quais são as vantagens em se associar na ACNB?
Para alcançar melhores resultados em um
ambiente cada vez mais competitivo, é preciso aliar esforços e metas
comuns. Segundo Pedro Gustavo Novis, presidente da ACNB, esta é a
vantagem de ser um associado da Nelore do Brasil e suas associações
conveniadas. É através destas entidades que os neloristas, de todo o
país, se fazem representados e têm os seus interesses defendidos.
Confira abaixo algumas vantagens de ser um associado da Nelore do Brasil
e suas conveniadas:
Estágio atual da raça
Hoje, são 2.500 criadores da raça associação na ACNB.
Animais registrados da raça Nelore de 2005 a 2012
Fonte: ABCZ.
Características zootécnicas da raça
Segundo os entrevistados para esse
artigo, a rusticidade do nelore e seu poder de transformar fibras,
inclusive as de baixa qualidade em carne e leite são suas principais
características.
O Nelore é resistente ao calor devido à
sua grande superfície corporal e por possuir maior número de glândulas
sudoríparas. As características de seus pêlos também facilitam o
processo de troca de calor com o ambiente. Além disso, o trato digestivo
é 10% menor em relação às raças de origem europeia. Portanto seu
metabolismo é mais baixo e gera menor quantidade de calor. Os machos e
as fêmeas apresentam elevada longevidade reprodutiva.
Possui capacidade de aproveitar
alimentos grosseiros. Apresenta resistência natural a parasitas, devido
às características de seus pelos, que impedem ou dificultam a penetração
de pequenos insetos na superfície da pele ou que aí tentam se fixar. A
pele escura, fina e resistente, dificulta a ação de insetos sugadores,
além de produzir secreção oleosa repelente, que se intensifica quando os
animais estão expostos ao calor.
De porte médio, sua ossatura é leve,
robusta e forte, com musculatura compacta e bem distribuída. A
masculinidade e a feminilidade são acentuadas. O temperamento é ativo e
dócil. A raça possui variedades com chifres e mochos. O cupim tem papel
fisiológico fundamental, servindo como reserva de energia em situações
emergenciais.
O aparelho reprodutivo dos animais é
especialmente importante. Na fêmea, o sistema mamário é composto por
pequenos tetos, o que facilita a primeira mamada do recém nascido. A
garupa ligeiramente inclinada facilita o parto e prepúcio mais reduzido e
alto conferem maior eficiência reprodutiva aos machos.
Em suma, as características fisiológicas do Nelore fizeram com que a
raça se adaptasse muito bem às condições tropicais brasileiras,
tornando–se uma opção para a produção de carne nas diversas, e adversas,
condições a que é submetido nas tradicionais regiões de produção
pecuária do país.
O melhoramento deve ser contínuo, tanto
nos aspectos produtivos como mercadológicos. A seleção animal sempre
deve buscar a maior eficiência produtiva, a fidelização do consumidor e a
agregação de valor que possa ser distribuído entre todos os elos da
cadeia.
Quais são os desafios para o Nelore atual?
Rodrigo Dias, analista técnico da CRV
Lagoa, reforça os pontos fortes listados acima e ainda salienta que o
Nelore ainda precisa de alguns ajustes, tais como as demais raças de
bovinos de corte. Ou seja, embora apresentem:
- Rusticidade: o bezerro nasce, cresce e se desenvolve sem ajuda e horas depois já está junto com o rebanho;
- Resistência a endo e ecto parasitas;
- Aclimatação nos ambientes mais impróprios e
- As cores da pele e pelo protegem o animal dos raios ultravioletas e refletem a luz do sul.
Há dois pontos, em sua opinião, que precisam ser melhorados:
- Precocidade sexual: as fêmeas precisam entrar na estação reprodutiva mais jovens e os machos precisam ter DEP´s para CE maior;
- Mais precocidade de acabamento: como utilizou-se muito o critério único de seleção (peso) os animais acabaram ficando mais tardios, especialmente os puros de origem;
Há uma infinidade grande de cruzamento e
possibilidades. Importante, mais do que fazer o cruzamento é procurar
ajustar o grupamento genético as condições da fazenda.
Segundo Rodrigo Dias, em propriedades
pouco tecnificadas, com baixo aporte nutricional e estratégia de
mineralização pouco eficiente o cruzamento não responde bem. Cruzamento
não é solução para todos os problemas e em alguns casos pode representar
a perda da competitividade do sistema.
Em todos os casos os técnicos precisam ajustar os gargalos da propriedade antes de mudar o “grau de sangue” da fazenda.
O cruzamento trás consigo grandes ganhos
através da heterose e da complementariedade, porém nada disso seria
possível se não fosse a fêmea Nelore.
Garrotes Guzonel (1/2 Guzerá 1/2 Nelore)
Bezerros de cruzamento industrial (1/2 Angus 1/2 Nelore)
Quais as principais tecnologias usadas para manejo reprodutivo do rebanho desta raça?
Todas as biotecnologias da reprodução
disponíveis no mercado já foram e são usadas nos diversos rebanhos de
Nelore no Brasil. Desde as estações de montas, IAs, IATFs e FIVs.
Índice Asbia 2012 – Evolução raça Nelore – 3 anos
Fonte: Asbia.
Veja abaixo os recados dos profissionais entrevistados, os quais fazem a diferença na raça Nelore
Pedro Gustavo Novis: “Segundo
o Ministério da Agricultura a bovinocultura é um dos principais
destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial. O Brasil é dono
do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com cerca de 200 milhões de
cabeças. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações,
com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em
mais de 180 países. Até 2020, a expectativa é que a produção nacional de
carnes suprirá 44,5% do mercado mundial. Essa estimativas indicam que o
Brasil pode manter posição de primeiro exportador mundial de carne
bovina e acredito que é um grande incentivo para quem quer criar
Nelore.”
Rodrigo Dias: “O
cruzamento trás consigo grandes ganhos através da heterose e da
complementariedade, porém nada disso seria possível se não fosse a fêmea
Nelore ou anelorada.”
André Bartocci: “O
Nelore é a essência da Pecuária Brasileira. Sem ele o Brasil não seria
este gigante da pecuária nem ocuparia os primeiros postos mundiais de
produtor e exportador de carne bovina. “
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