domingo, 22 de fevereiro de 2015

Reposição cada vez mais cara

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As categorias de machos anelorados subiram, em média, 0,3% nesta semana. Considerando a valorização de todas as categorias de machos e fêmeas, a alta foi de 0,5%. A atual relação de arrobas necessárias para a aquisição de um bezerro desmamado em São Paulo é a maior desde junho de 2010. Atualmente, são necessárias 8,5 arrobas de boi gordo para a compra de um bezerro. Mato Grosso do Sul se destaca pelas relações de troca menos favoráveis para todas as categorias, dentre todos os estados pesquisados. Há grande dificuldade de aquisição de bovinos para reposição em volume e qualidade. No estado, nos últimos doze meses, o bezerro, o garrote e o boi magro subiram, em média, 48,9%, 45,9% e 40,6%, respectivamente.

CEPEA: frigoríficos pressionam por arroba menor


Os preços da arroba seguem praticamente estáveis em fevereiro. Nessa quinta-feira, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (estado de São Paulo) fechou a R$ 143,23, praticamente inalterado em relação à sexta anterior e leve recuo de 0,14% no acumulado do mês (até o dia 19). Segundo colaboradores do Cepea, frigoríficos seguem pedindo valores menores pela arroba, mas a oferta restrita de animais para abate tem sustentado os preços. Em relação às carnes, os preços começaram a perder força nos últimos dias no atacado da Grande SP. Com informações do CEPEA.

Mercado do boi gordo mantém cenário de firmeza nas cotações

pecuária_boi_gado (Foto: Ernesto de Souza / Editora Globo.)
No mercado futuro, cotações do boi gordo se mantêm acima dos R$ 140 por arroba
(Foto: Ernesto de Souza / Editora Globo)

O mercado de boi gordo mantém o cenário de firmeza nas cotações neste mês. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia aplicada (Cepea), frigoríficos oferecem valores menores pela arroba, mas a oferta restrita de animais limita a pressão de baixa.
Da semana passada para esta, o indicador do Cepea que serve de referência para o mercado futuro brasileiro, com base em São Paulo, se manteve estável. Na quinta-feira (19/2), fechou a R$ 143,23 por arroba. No acumulado do mês, a instituição registra baixa de 0,14%.
Em Mato Grosso, o Instituto de Economia Agropecuária do Estado (Imea) reforça o cenário de estabilidade nas cotações. Na semana passada, a arroba do boi ficou praticamente estável, apontando baixa de 0,09%. A média do estado foi de R$ 130,74 por arroba.
No mercado futuro da BM&FBovespa, os painéis seguem indicando a tendência de mercado firme, com cotações acima dos R$ 140 por arroba ao longo do ano. Por volta das 11h30, os contratos para fevereiro e março operavam em alta, a R$ 143,55 e R$ 143,90 por arroba, respectivamente.
No mesmo horário, a cotação para abril de 2015 estava em R$ 141,70. Maio 2015 operava a R$ 142,90; julho 2015 retomava o patamar de R$ 143; e outubro de 2015 estava cotado a R$ 148 a arroba.

Mapa cria grupo para elaborar normativa de registro genealógico

viracopos_guzera_boi (Foto: Teresa Raquel Bastos / Ed. Globo)
Bovinos da raça guzerá. Registro genealógico de animais deve ter noma normativa em 180 dias (Foto: Teresa Raquel Bastos / Ed. Globo)

O Ministério da Agricultura constituiu um grupo de trabalho para criar uma Instrução Normativa que defina categorias a serem adotadas no Serviço de Registro Genealógico. De acordo com nota do Ministério, a intenção do governo é padronizar as nomemclaturas que definem o grau de pedigree de cada animal.
"O registro genealógico visa o controle da genealogia dos animais, ou seja, os ascendentes e descendentes, a fim de contribuir para o melhoramento genético animal", explica o comunicado.
O grupo tem um prazo de 180 dias para apresentar a Isntrução Normativa. Será coordenado pelo fiscal agropecuário Felipe José de Carvalho Correa. Reunirá representantes da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, além de representantes do Ministério da Agricultura nos estados de Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Boi gordo versus milho: relação de troca melhorou 41,5% em relação a fevereiro de 2014


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Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Campinas-SP, a saca de 60 quilos está cotada em R$26,00 (6/2).

O pecuarista está pagando 13,9% menos pelo cereal, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Os estoques elevados, a baixa liquidez no mercado interno e o início da colheita são fatores que seguram as altas de preços, mesmo em um cenário de queda na produção na temporada e exportações aquecidas neste começo de ano.

Considerando a praça de São Paulo, atualmente é possível comprar 5,56 sacas de milho com o valor de uma arroba de boi gordo.

O poder de compra do pecuarista melhorou 1,8% em fevereiro, em relação a janeiro último.

Já na comparação com fevereiro do ano passado, são 41,5%, ou 1,6 saca de milho a mais adquirida com o valor de uma arroba.

Em curto e médio prazos, a intensificação da colheita da primeira safra no país deve pressionar para baixo as cotações no mercado brasileiro.

Canadá confirma caso de vaca louca

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O Canadá confirmou nesta sexta, dia 13, que encontrou um caso de encefalopatia espongiforme bovina (BSE), também conhecida como doença da vaca louca, em uma vaca de corte na província de Alberta. O caso é o primeiro no Canadá desde 2011. Um comunicado do órgão de inspeção de alimentos do país (CFIA, na sigla em inglês) disse que nenhuma parte da vaca tinha entrado em sistemas de alimentação de humanos ou animais. A CFIA pretende confirmar a idade do animal, a sua história e como ele infectou. A investigação incidirá sobre o alimento fornecido a esse animal, durante o primeiro ano de sua vida. As exportações de carne bovina canadense foram duramente atingidas em 2003, após o primeiro caso de BSE ter sido encontrado em uma fazenda. Na época, o Brasil acabou sendo beneficiado pelo infortúnio canadense, ampliando a sua fatia no mercado global. O Canadá reforçou seus controles, e muitas nações, desde então, retomaram o comércio de carne bovina com o país, apesar da descoberta de mais casos desde então. A CFIA disse que o último caso não deve prejudicar as exportações canadenses de carne bovina. A nova descoberta de BSE pode não fechar as fronteiras para a carne do Canadá, dada medidas mais duras do Canadá, mas poderia atrasar os esforços do país para atualizar seu status de risco internacional na Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Doença A BSE é uma doença neurológica progressiva fatal. Acredita-se que a contaminação ocorre quando o gado come proteína animal contaminada pelo agente infeccioso (príon). O Canadá proibiu a prática de alimentar o rebanho com proteína animal em 1997, visando evitar a propagação da doença de vaca louca. Com informações do Canal Rural.

Carnaval deve ajudar a manter a arroba firme


http://imguol.com/c/noticias/2013/11/13/funcionario-corta-pedacos-de-carne-em-um-abatedouro-do-grupo-marfrig-em-promissao-em-7-de-outubro-de-2011-reuterspaulo-whitaker-1384365867896_1920x1080.jpg

A oferta de bovinos terminados está restrita e as vendas de carne em ritmo lento. A referência para a arroba do boi gordo tem recuado em algumas praças. Na última semana os preços caíram 0,4%, considerando as trinta e uma praças pesquisadas. A pressão de baixa vem do lado da indústria, que tenta recuperar a margem de comercialização. O feriado da próxima semana colabora para a redução dos dias de abate. Além disso, parte dos frigoríficos vem reduzindo a produção devido à demanda desacelerada e oferta curta. Estes dois fatores sustentam a alta semanal da carne com osso no atacado, de 3,1%, já que a expectativa é de redução dos estoques. Acompanhe as cotações do boi gordo em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php Mesmo com essa valorização, a margem da indústria que não realiza desossa está abaixo da média histórica. Atualmente, a diferença entre a receita obtida com a venda de carne com osso, demais produtos e o preço pago pela arroba está em 13,3%. Os abates menores deverão colaborar para a firmeza do mercado na próxima semana. Com informações da Scot Consultoria.

Marfrig fecha parcialmente outra unidade

A empresa de alimentos Marfrig fechou parte da operação de seu frigorífico em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, em 12 de janeiro por "motivos estratégicos e de reavaliação de negócio", informou a empresa nesta sexta-feira. A Marfrig não deu detalhes sobre quais operações foram paralisadas, limitando-se a dizer que manterá o setor de charque da unidade, que contempla as áreas de salga e ressalga, lavagem e embalagens, além de algumas áreas de apoio. A empresa também não informou o número de demissões. "A Marfrig atuará de acordo com a legislação durante o processo de desligamento de seus colaboradores, cumprindo com todos os seus deveres e respeitando-os individualmente", disse a empresa em resposta a questionamento feito pela Reuters. Com informações da Reuters.

Plantas tóxicas que causam morte súbita em bovinos de corte

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A produção pecuária brasileira na sua busca por melhores resultados, considerando custo-benefício, deve manter condicionado ao sistema a preocupação com a sanidade animal, que inclui necessariamente estratégias de manejo da propriedade. Uma prática importante é o manejo de pastagem, no qual está incluído a observação e eliminação de plantas tóxicas presentes na propriedade. Nesse contexto, algumas plantas de importância à pecuária devem ser conhecidas visando evitar perdas de animais e conseqüentemente redução da produtividade.
Plantas tóxicas de interesse pecuário são aquelas que quando ingeridas por bovinos, causam danos à saúde ou mesmo a morte. As plantas que causam “morte súbita” são as mais importantes no Brasil. Estas correspondem a quase 20% das plantas tóxicas de importância na pecuária e são responsáveis por metade das mortes causadas por plantas tóxicas no país.
Seus princípios tóxicos interferem diretamente no funcionamento do coração e sistema nervoso, tudo indica que os animais morrem de uma insuficiência cardíaca aguda. As famílias botânicas envolvidas neste grupo são: Rubiaceae, Bignoniaceae e Malpighiacae, das quais é possível destacar duas plantas envolvidas na maioria dos casos observados e relacionados à morte súbita, a Palicourea marcgravii e a Mascagnia rigida.

Palicourea marcgravii
A planta tóxica mais importante do Brasil e do grupo das que causam intoxicação superaguda é a Palicourea marcgravii, um arbusto da família Rubiaceae, popularmente conhecida pelos nomes: “cafezinho”, “erva-de-rato” e ainda “café-bravo”, “erva-café”, “vick”, “roxa”, “roxinha”. Apresenta boa palatabilidade, alta toxidez, efeito cumulativo e em algumas regiões como a amazônica é a principal causa de morte em bovinos (Tokarnia e Dobereiner, 1986).
A Palicourea marcgravii é encontrada em todo Brasil, com exceção da região sul e do estado do Mato Grosso do Sul. Ocorre em regiões de alta pluviosidade e terra firme, jamais em várzea. P marcgravii não sobrevive em exposição ao sol, portanto precisa de sombra, crescendo bem em beira de matas, capoeiras e ainda em pastos recém formados como regiões de matas convertidas em campos de criação de gado.
A intoxicação ocorre quando os bovinos ingerem a planta nessas condições. Folhas e frutos são tóxicas, sendo a dose letal das folhas secas de 0,6g/kg. Isso significa que um bovino de 300kg teria que comer aproximadamente 180g para intoxicar-se. A ingestão da planta se dá em qualquer época do ano e devido a sua alta palatabilidade, ocorre mesmo em pastos com forragem abundante.
Os sintomas iniciam em poucas horas e o exercício físico pode precipitar os sintomas e a morte dos bovinos. São observados tremores musculares, pulso venoso positivo, o animal deita-se ou cai em decúbito esterno-abdominal e depois lateral, movimentos de pedalagem, mugidos e convulsão final tônica.
Achados de necropsia e alterações histológicas são escassas, devendo ser investigada a partir desse quadro a presença desta planta. O diagnóstico diferencial deve ser feito considerando outras plantas que causam morte súbita no Brasil e outras doenças de evolução superaguda, como carbúnculo hemático e acidente ofídico.

Mascania rigida
Outra planta causadora de morte súbita é a Mascagnia rigida, da família Malpighiaceae. É a planta tóxica mais conhecida e difundida na região nordeste e sudeste do Brasil, conhecida como “timbó”, “tingui”, “quebra-bucho” na Bahia, “salsa-rosa”, “rama-amarela” em Minas Gerais, e “suma-branca” e “suma-roxa” no Espírito Santo.
A intoxicação por esta planta ocorre sem a necessidade de condições especiais de restrição alimentar, podendo se dar em qualquer época do ano, contudo, tem-se observado nos estados de Minas e Espírito Santo a intoxicação por M. Rigida principalmente na época de seca, período de brota da planta. Um aspecto importante de observação a campo é que a ingestão desta planta deve estar associada a movimentação dos animais para apresentação de “morte súbita”, animais que se alimentam da M. Rigida e não são movimentados não manifestam sinais da intoxicação.
Os bovinos se intoxicam pela ingestão das folhas, porém apesar de inúmeros experimentos não foi possível determinar a dose letal da M. Rigida. Os resultados variam de 15g/kg a 94g/kg de ingestão da planta, com alguns animais manifestando sintomas e outros sem sinais de intoxicação.
Geralmente os sintomas observados são mínimos, pois os animais caem ao solo, podem apresentar tremores musculares e morrem em poucos minutos. Os achados de necropsia são negativos, com alterações histológicas de degeneração do músculo cardíaco e de túbulos renais. O diagnóstico diferencial deve ser feito da mesma forma que a Palicourea marcgravii, com o carbúnculo hemático e acidente ofídico, além do diferencial com outras plantas ou espécies de Mascania.

Profilaxia
O tratamento para ambas as intoxicações não é conhecido ou aplicável, devido a seu curso superagudo, contudo devem ser destacadas algumas recomendações profiláticas no sentido de evitar a perda de animais na propriedade. Os cuidados consistem em:
• Cercar as matas ou capoeiras onde existe a planta, fazendo um bom aceiro junto às cercas;
• Inspecionar pastos recém-formados em regiões de matas ou capoeiras, combatendo plantas existentes com herbicidas, antes de colocar os animais no pasto. A prática de arrancar a planta e colocar o herbicida granulado na cova ajuda a evitar a rebrota;
• No caso da M. Rigida que possui um sistema radicular bem desenvolvido que dificulta a atuação de herbicidas, existem relatos da utilização de pulverização dos tocos da planta, cortada com foice a 10cm do solo, com solução aquosa de Tordon 101 a 4%;
• Movimentar com muito cuidado o gado que permaneceu em pasto invadido pela planta, deixando-o por 8 a 14 dias em repouso.

Referências bibliográficas
Tokarnia, C.H.; Dobereiner, J. Intoxicação por Palicourea marcgravii (Rubiaceae) em bovinos no Brasil. Pesq. Vet. Bras v.6, n.3, p. 73-92, 1986.
Tokarnia, C.H.; Dobereiner, J.; Peixoto, P.V. Plantas tóxicas do Brasil. Ed. Helianthus, Rio de Janeiro, 320p. 2000.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Bezerros apertam margem de pecuaristas, diz Rabobank


Criação de gado latino-americana
 Criação de gado: cotações do boi gordo subiram cerca de 22% nos dez primeiros meses do ano

São Paulo - As margens dos pecuaristas brasileiros que trabalham com recria e engorda ficaram mais apertadas este ano, apesar dos preços recordes da arroba do boi gordo, devido à ineficiência na produção de bezerros no país, disse nesta segunda-feira o Rabobank.
Nos dez primeiros meses do ano, as cotações do boi gordo subiram cerca de 22 por cento, enquanto o preço do bezerro --importante insumo para o pecuarista de engorda-- aumentou 31 por cento, disse o banco especializado em agronegócio.
O indicador Esalq/BM&FBovespa, que monitora o preço do boi gordo no mercado paulista, bateu recorde histórico de 144,21 reais por arroba em meados de novembro, alta de 33 por cento em 12 meses.
Em outra métrica, a relação de troca mostra-se cada vez mais desfavorável para o produtor que se dedica à atividade de finalização do gado antes do abate.
Em setembro de 2011, eram necessárias 7 arrobas de boi gordo para comprar um bezerro em Campo Grande (MS), exemplificou o Rabobank. Em outubro deste ano, a relação era de 8,2 arrobas para a aquisição do mesmo bezerro.

"A disparada no preço do bezerro no Brasil é resultado direto do descasamento entre os elos do longo ciclo da pecuária brasileira", disse o Rabobank.
O banco destaca falta de eficiência na produção de bezerros. Enquanto no Brasil o animal é vendido com 180 kg, nos Estados Unidos, o peso do animal com o mesmo tempo de vida é de 270 kg.
A solução seria premiar a qualidade dos bezerros, disse o Rabobank.
"A organização da cadeia por meio de contratos e parcerias, além da negociação do bezerro pelo seu peso e não por cabeça, deverão ser os principais indutores que moldarão a competitividade da pecuária de corte nacional", disse a instituição no relatório.

Falta d'água ameaça segurança alimentar no Brasil, diz chefe da FAO

José Graziano da Silva | Foto: AP
Diretor-geral da FAO diz que Brasil precisará ampliar estoques de alimentos por causa das secas

A crise hídrica que o Brasil atravessa põe em risco não só o abastecimento de suas cidades, mas também a oferta de alimentos nos mercados do país, diz o brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da agência da ONU para agricultura e segurança alimentar (FAO).
"Estamos tendo uma quebra enorme da safra de todos os produtos", diz Graziano. Segundo ele, a estiagem deve resultar em preços mais altos nas prateleiras nos próximos meses.
Em entrevista à BBC Brasil, o chefe da FAO afirma ainda que o Brasil terá de ampliar seus estoques de alimentos e privilegiar culturas mais resistentes a secas, fenômeno que deve se tornar cada vez mais frequente por causa das mudanças climáticas.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista, concedida durante a última cúpula da Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac), na Costa Rica, na semana passada.

BBC Brasil - A crise hídrica que o Brasil atravessa pode afetar a segurança alimentar do país?
José Graziano - Sem dúvida. Tenho desde 1987 uma pequena chácara perto de Campinas (SP) e nunca meu poço tinha secado. Cheguei a perder árvores frutíferas.
É um exemplo de como o Brasil, que não faz uso da irrigação em grande escala e se beneficia muito de um sistema de chuvas regulares, tem sua produção afetada por uma seca como essa.

BBC Brasil - A seca é um efeito das mudanças climáticas?
Graziano - Na FAO, a nossa avaliação é que neste ano o impacto do El Niño (superaquecimento das águas do Pacífico que esquenta a atmosfera) foi muito maior que o esperado. Nunca havia chegado ao ponto de ameaçar o abastecimento urbano, como estamos vendo em São Paulo.
Estamos atravessando o período das águas no Brasil e deveria estar chovendo muito mais do que está. Tivemos deficiência hídrica de praticamente um metro d'água na região centro-sul do Brasil.
Espera-se a normalização das chuvas no próximo ano agrícola, que começa em setembro, mas até lá vamos enfrentar resíduos da falta de água e todos os agravantes que isso tem.

Parte da Cantareira em Nazaré Paulista, no dia 28/01/15 | Foto: Reuters
Estiagem prolongada prejudica a agricultura e expõe deficiência no planejamento de grandes cidades do Sudeste

BBC Brasil - Quais agravantes?
Graziano - Estamos tendo uma quebra enorme da safra de todos os produtos. Até mesmo da cana de açúcar, que é bastante insensível ao regime de chuvas. Isso vai resultar em aumento de preços.
Aliás, estamos vendo muita oscilação de preços resultante do impacto das mudanças climáticas. Há uma irregularidade da produção. Situações de seca, que antes se repetiam a cada cem anos, agora ocorrem a cada 20 anos.
O jeito é ter estoques. O Brasil tem alguns estoques bons, como o de milho, fruto da boa colheita do ano passado, mas não tem em outras áreas. Precisa até importar trigo.

BBC Brasil - Como reduzir os impactos das mudanças climáticas na produção agrícola?
Graziano - Estamos trabalhando muito com a adaptação de culturas à seca. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, estatal ligada ao Ministério da Agricultura) já tomou essa iniciativa e está desenvolvendo variedades até de arroz adaptado à seca.
Também devemos substituir culturas. A quinoa demanda muito menos água que o arroz e tem um valor nutritivo muito maior. Estamos promovendo a substituição do trigo nas regiões tropicais e a recuperação de produtos tradicionais.
A mandioca, por exemplo, que tinha sido abandonada, hoje está em alta no Caribe, onde está sendo adicionada à confecção do pão para reduzir a dependência da importação do trigo. Outra possibilidade é expandir a irrigação para evitar crises de abastecimento.

BBC Brasil - Aumentar a irrigação não é incompatível com o cenário atual, com reservatórios cada vez mais vazios?
Graziano - Temos menos água armazenada em São Paulo, mas na Cantareira. A (represa) Billings está cheia. Precisa haver um sistema de integração dessas bacias, porque a distribuição das chuvas é muito errática. Essa prática é muito usada na Ásia.
E temos de ter a capacidade de absorver a água da chuva. Na minha chácara, por exemplo, comprei cisternas plásticas e hoje tenho capacidade de armazenar pelo menos 20 mil litros de água da chuva.

BBC Brasil - A crise hídrica e a instabilidade na produção de alimentos gerada pelas mudanças climáticas indicam a necessidade de repensar o modelo agrícola do país, hoje muito voltado a commodities para exportação, como a soja?
Graziano - Eu diria que se trata mais de pensar em mudanças tecnológicas. No passado, utilizamos intensivamente a mecanização. Hoje estamos promovendo o cultivo mínimo, que significa não arar o solo e manter a vegetação que o cobre. Isso facilita a absorção da água e preserva a matéria orgânica.
A Argentina tem hoje mais de 90% de suas áreas de soja e milho baseadas em cultivo mínimo e tem aumentado a produtividade mesmo na seca.

Os impactos da seca no agronegócio

Os impactos da seca no agronegócio
Adaptar-se à falta de água será o grande desafio de 2015 tanto para o governo quanto para a população.

A agropecuária brasileira é o esteio do Produto Interno Bruto (PIB) e há muitos anos a balança comercial vem sendo sustentada pelo agronegócio que, atualmente, representa 23% do PIB, quase um quarto do total e gera 30% dos empregos do país. Em 2015, o desempenho das principais commodites agrícolas tende a ter margens menores, mas ainda assim poderão ser observados números razoáveis que vão contribuir com o crescimento da economia do país, comparado aos demais setores econômicos que projetam uma desaceleração neste ano.
Adaptar-se à falta de água será o grande desafio de 2015 tanto para o governo quanto para a população. A estiagem nas principais regiões produtoras do Sudeste e Centro-Oeste pode trazer um impacto negativo para o setor agropecuário. A logística de escoamento de grãos é um grande gargalo para o país e a paralisação de muitos pontos da hidrovia Tietê-Paraná está fazendo com que os produtores recorram ao transporte rodoviário.
impactos da seca1
O ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de janeiro de 2003 a junho de 2006 e atual presidente do conselho de administração da União da Indústria da Cana-de-açúcar (UNICA), João Roberto Rodrigues, explica que: “Em algumas regiões de Mato Grosso, alguns caminhoneiros já fizeram acertos para ter um preço uniforme. Então é muito possível que o problema das hidrovias se some ao aumento do custo de produção”.
O crescimento previsto não depende somente do clima, mas também vai requerer que o agronegócio explore seus ganhos de produtividade, sem depender apenas de impulsos da demanda. Existem muitos fatores externos como a desaceleração do mercado chinês, principal destino do grão brasileiro, que pode impactar as negociações em 2015. Roberto Rodrigues ressalta que a maior cautela do setor deve ser vista para o ano de 2016. “A valorização do dólar pode aumentar ainda mais os custos de produção. E se os preços lá fora continuarem em queda, devido o aumento da oferta, as margens serão ainda menores no próximo ano (2016)” diz.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Especialista aposta em retenção de fêmeas para manter preço firme da arroba do boi gordo

A continuidade da retenção de fêmeas para o abate seguirá pressionando o preço da arroba do boi gordo para cima. Fator este, segundo especialistas, que deverá fazer com que 2015 seja o ano da pecuária, visto a oferta de animais ser menor que a demanda. Em 2014 a arroba do boi gordo em Mato Grosso chegou aos patamares de R$ 130.

Apesar da recuperação dos preços, onde se teve os preços nominais maiores da história no Estado, a renda da pecuária não acompanhou a evolução do valor pago ao produtor pela arroba, que equivale a 15 quilos.


Especialista aposta em retenção de fêmeas para manter preço firme da arroba do boi gordo 

De acordo com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, o custo de produção encareceu também. Em entrevista ao Agro Olhar, ele comenta que os preços pagos pelos animais tendem a seguir pressionados e que 2015 será o último ano de sentimento dos reflexos dos abates de fêmeas de 2012 e 2013, anos nos quais o percentual de fêmeas dentro do volume total de animais destinados aos frigoríficos equivalia a mais de 50%.

Confira a seguir entrevista com o ex-superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari:

Agro Olhar - Como foi à pecuária em Mato Grosso e no Brasil em 2014?

Luciano Vacari - 2014 foi um ano bom para a pecuária de Mato Grosso e do Brasil. Nós vivemos um ano bom de preço e isso é indiscutível. Tivemos os preços nominais maiores da história. Então, muita gente comemorou esse negócio. O problema é que as pessoas fazem uma análise errada do negócio. Não é de preço que se faz a atividade. A atividade se faz de renda e apesar de o preço ter se recuperado o custo de produção subiu de maneira inexplicável. É aquela história a pessoa vê que você está recebendo mais pelo produto e ele vai e aumenta o negócio dele, isso aconteceu com o sal mineral, com medicamento, com mão de obra, diesel. Aconteceu com tudo. Não foi só na pecuária. A renda não acompanhou a evolução do preço, mas mesmo assim tivemos um ano de renda positiva. Isso é muito bom, porque a pecuária viveu anos sem renda. Quando não ficava no zero a zero, ficava com renda negativa e nós vimos isso claramente. Todo aquele abate de fêmeas foi feito em 2010 e depois agora em 2012, isso é um sinal claro de que existe um problema. Quando se abate fêmea deste tanto se está usando o patrimônio para fazer dinheiro. Esse eu acho que foi o negócio do ano. Foi um ano bom de preço, mas a renda não acompanhou toda essa condução, apesar de ter sido positivo.

Agro Olhar - E por que se fala tanto da renda?

Luciano Vacari - Eu falo tanto da renda, porque a renda é o desafio do setor. Se você tiver renda você terá como comprar o pacote tecnológico que está aí. A tecnologia à disposição da pecuária ela é hoje muito grande, o problema é que o produtor não tem renda para ir comprar aquele produto que ele quer. Ele acaba com isso comparando um produto com qualidade um pouco inferior, que vai dar um resultado inferior, porque é o que ele tem e ao que ele consegue ter acesso. Então, se você tiver renda você vai acessar a tecnologia e com a tecnologia você faz tudo o que quer que é aumentar o índice de produtividade.

Agro Olhar – E o pesou para em 2014 chegarmos a registrar cerca de R$ 130 a arroba em Mato Grosso do boi gordo?

Luciano Vacari - Em 2014 o que deu toda essa sustentação para este momento de preço foi a história da demanda. Não tem jeito o preço é a oferta e a demanda. O fator primordial de 2014 foi à demanda, principalmente a demanda externa. Nós retomamos vários mercados que havíamos perdido, exportamos 7% a 8% a mais que em 2013, tanto em volume quanto em faturamento. O mercado interno também foi muito bom em 2014 e nós tivemos dois grandes eventos, que foi a Copa do Mundo e a eleição. Isso fez com que tivéssemos uma demanda boa. Deu vazão para a produção. Ao contrário do que muita gente acha "a teve tudo isso porque o rebanho diminuiu", pelo contrário não faltou boi em 2014. O que houve foi uma sensação de que não teve boi, porque o abate de fêmeas diminuiu. O que tivemos foi uma oferta equilibrada, muito parecida com 2013, e uma demanda maior que 2013. Foi isso que fez 2014 ser um ano de preços assim.

Agro Olhar - Como estão as perspectivas para 2015?

Luciano Vacari - O ano de 2015 tem tudo para continuar com esse suporte de preço, ou seja, a demanda dando suporte. É normal aumentar a exportação, salvo se tivermos um problema externo, pois todos os dias entram mais pessoas na faixa de consumo. O consumo interno é uma incógnita, isso dependerá de como a economia brasileira vai se comportar. Mas, a soma das duas, interna e exportação, nós acreditamos que teremos uma demanda maior em relação a 2014. E do lado da oferta aí sim em 2015 nós vamos uma oferta menor do que em 2014. Nós vamos ter dois fatores uma demanda maior e uma oferta menor.

Foto: Reprodução/Internet

Agro Olhar - O setor acha que essa oferta de animais pode ser quantos por cento menor? É uma consequência dos abates maiores de fêmeas nos últimos três anos?

Luciano Vacari - Não dá para você ter uma noção. Essa oferta menor é sim uma consequência do aumento de abates de fêmeas. O ano de 2015 vai ser o último ano que nós vamos sentir os reflexos de abates de fêmeas de 2012 e 2013. Este ano acaba o reflexo do que foi feito lá atrás, ou seja, fecha um ciclo.

Agro Olhar - E como setor está vendo o mercado externo? Nós tivemos consideráveis números de frigoríficos sendo autorizados pela Rússia, o Japão sinaliza retorno de compra, além de novos mercados sendo abertos. Como o setor vê isso?

Luciano Vacari - Isso é muito positivo. Existem duas coisas importantes que a gente observa nisso. Primeiro o fato de retomarmos mercado, isso é muito bom independente do tamanho do mercado, se ele compra muito ou compra pouco, o fato é que retomamos mercado que nós havíamos perdido. Isso consolida cada vez mais o Brasil no patamar entre o primeiro e o segundo exportador do Mundo. E a outra coisa, que é importante, é a demonstração de credibilidade. Quando um país exigente como o Japão declara para o Mundo inteiro que vai comprar carne industrializada do Brasil ele está dando uma demonstração para o Mundo inteiro de que o nosso modelo é confiável, que ele está satisfeito com os requisitos técnicos e isso é positivo.

Agro Olhar - Nós tivemos no início de 2014, mais precisamente em abril, com confirmação em maio, de um caso do mal da vaca louca, que rapidamente foi confirmado que era um acaso atípico. Nós tivemos, com isso, alguns países embargando a carne mato-grossense, mas logo voltando a comprar. A atuação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi fundamental neste ponto, na questão das analises?

Luciano Vacari - Ele foi exemplar e nós estamos muito satisfeitos, porque há muitos anos nós cobrávamos um posicionamento mais firme do Ministério. Felizmente, o Ministério da Agricultura do Brasil nos últimos dois anos vem dando demonstração de comprometimento com o setor, com o Brasil, com os produtores. E o que aconteceu aqui foi um evento sanitário que poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, pois foi um caso atípico e infelizmente aconteceu em Mato Grosso. Mas, o que foi fundamental foi a atitude do Ministério. Em 40 dias o Ministério havia identificado o foco, tomado todas as medidas de contenção, comunicado a OIE e resolvido o problema, ou seja, tudo o que deveria ter sido feito foi feito e isso deu credibilidade para o Brasil e Mato Grosso. O mundo inteiro viu que o nosso sistema de defesa, que é o mais importante, funcionou, pois se não ninguém tinha identificado e funcionou rapidamente. As ações tomadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foram adequadas e no tempo adequado e os resultados foram os esperados. Foi coletado material, mandado para laboratório, comprovado laboratorialmente e pronto. Encerrou o assunto. É lógico que alguns países possuem o direito de usar isso para embargo comercial. Alguns fizeram e aí o trabalho do Ministério e do ex-ministro Neri Geller foi fundamental, porque foram procurar todos os países que embargaram e explicar um a um o que aconteceu, quais as medidas tomadas, apresentar o modelo de defesa brasileira e todo mundo ficou satisfeito, tanto que todos os países que embargaram nesse evento já retiraram seus embargos.

Agro Olhar - E a atuação do Estado de Mato Grosso? Como o setor pecuário vê, não apenas nesta questão sanitária do mal da vaca louca, mas também nas demais que surgem? Como está à atuação do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e quais as perspectivas para este novo governo?

Luciano Vacari - Neste caso específico do caso sanitário de Porto Esperidião (mal da vaca louca) temos que deixar claro o seguinte: toda a ação de defesa ela é feita em conjunto com o Ministério da Agricultura e o Indea e isso funcionou perfeitamente. O Indea é um dos órgãos mais importantes do Estado. Os servidores do Indea são profissionais técnicos e compromissados com a defesa agropecuária de Mato Grosso e todo o trabalho que deveria ter sido feito foi feito de maneira exemplar. Mas, além disso, o Indea tem a prerrogativa e o dever de cuidar da defesa agropecuária do Estado, dos postos interestaduais, dos abates, inspeção estadual, enfim, ele cuida da defesa agropecuária. O Indea está aí para evitar que problemas aconteçam. É muito melhor você trabalhar com prevenção. Nós não temos nenhuma preocupação com a capacidade técnica do Indea, nós estamos muito satisfeitos com esta parte. O que nos deixa preocupados é a capacidade operacional e infelizmente nos últimos anos o governo do Estado não deu a atenção que deveria ter dado para o Indea. Nós vimos postos sem condições de trabalho, veículos sem condições de trabalho e isso compromete o serviço. O que esperamos é que este novo governo dê a atenção que o órgão de defesa agropecuária merece e é muita atenção, pois é um dos órgãos mais importantes do estado, como eu disse. A atividade agropecuária é fundamental para Estado. Mato Grosso é um Estado produtor. Somos o maior produtor de soja, maior de gado e precisamos da melhor defesa do Brasil.

Foto: Viviane Petroli/Agro Olhar

Agro Olhar - O que faz a pecuária de Mato Grosso dar certo e ser a maior do Brasil?

Luciano Vacari - É uma série de fatores. Primeiro nós temos aqui clima favorável, relevo favorável. Nós temos uma combinação de gado, ou seja, além do Nelore, temos outras raças entrando, o que é importantíssimo para o negócio, pois faz com que haja uma busca para sempre melhorar a produtividade. Nós temos pastagem. Então, o que fez dar certo foi uma combinação de solo, clima, baquearia e Nelore. Isso mudou a pecuária de Mato Grosso. É lógico que isso foi a 30, 40 anos atrás, mas foi à base da pecuária. Hoje, a gente continua com o mesmo relevo, o mesmo clima, vemos o rebanho mudando e se tornando mais produtivo e a gente vê a tecnologia sendo aplicada. Além disso, o que é fundamental é o trabalho dos produtores. Você dizer que o pecuarista é conservador é uma coisa que nós nunca concordamos, porque se ele fosse conservador ele teria ficado no Paraná, em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e não teria vindo há 40, 50 anos para Mato Grosso abrir o Estado, fazer cidades.

Agro Olhar - Quais são hoje os entraves do setor pecuário mato-grossense?

Luciano Vacari - Nós temos alguns. O principal, e é perene essa preocupação nossa, não é um entrave e sim uma preocupação, que é o trabalho com a defesa. Nós vivemos de um negócio que depende diretamente da defesa, pois qualquer problema prejudica o nosso negócio. Além disso, temos problemas operacionais, ou seja, nós não temos estradas, não temos infraestrutura. Por conta do tamanho do Estado se produzir em algumas regiões é o custo de produção mais caro do Brasil, na hora de vender o produto é o boi mais barato do Brasil e isso compromete a renda, que é um gargalo importante. A diversificação da indústria frigorífica do Estado continua sendo um problema. Existem regiões do Estado que sofrem com a falta de opção para o abate para abater os animais, aí o produtor acaba sendo prejudicado pela falta de concorrência. Acho que estes são os principais.

Agro Olhar - E o que faz a arroba do boi de Mato Grosso ser mais barata que a de São Paulo? É a questão de nós termos o maior rebanho ou a logística?

Luciano Vacari - É a questão da dificuldade de logística. Nós estamos a 2 mil quilômetros dos grandes centros consumidores. Estamos a 2 mil quilômetros dos portos por onde exportamos os produtos. E você quando compra uma carga de sal mineral essa carga tem de vir até o Mato Grosso e esse boi tem que descer, ou seja, custa mais caro produzir, pois o sal mineral é o mais caro do Brasil, e você é penalizado porque na hora do abate essa carne tem de andar.

Vacinação contra a brucelose em bezerras segue até dia 30 de junho

Vacinação contra a brucelose em bezerras segue até dia 30 de junho
Bezerras entre três e oito meses devem ser vacinadas contra a brucelose até o dia 30 de junho. Em Mato Grosso aproximadamente 1,3 milhão de cabeças de fêmeas nesta faixa etária deverão ser imunizadas contra a doença.

A vacinação contra a brucelose é semestral, sendo a primeira etapa ocorrendo entre 1º de janeiro e 30 de junho e a segunda etapa entre 1º de julho e 31 de dezembro.

As fêmeas devem ser vacinadas com a vacina B19 em dose única, porém em propriedades de áreas inundáveis do Baixo Pantanal tal vacina é opcional, podendo ser aplica a vacina RB51 em fêmeas acima de oito meses em dose única (exceto fêmeas gestantes).
Conforme o analista de Pecuária da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rafael Linhares, a vacina garante a saúde animal do rebanho, uma vez que "o tratamento não é recomendado e os animais positivos (doença confirmada) são sacrificados".

A Famato pontua que os produtores possuem prazo até 10 de julho para comunicar ao Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) a imunização das bezerras.

O pecuarista que não imunizar seu rebanho poderá ser autuado em 2,25 Unidade de Padrão Fiscal (UPF). Hoje, uma UPF equivale a R$ 108,98. Além disso, a propriedade pode ficar impedida de transitar com bovinos e bubalinos machos e fêmeas de qualquer idade, categoria ou finalidade.

Os pecuaristas ainda devem fazer uma marcação de "V5" na face do animal imunizado, no lado esquerdo, indicando a vacinação da brucelose com o "V" e o ano em que foi aplicado com o "5", visto se estar em 2015.

A cultura do milho na Integração Lavoura - Pecuária

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A cultura do milho (Zea mays) se destaca no contexto da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) devido às inúmeras aplicações que esse cereal têm dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão, silagem), na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente.
Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao seu consórcio com capim. Uma das vantagens é a competitividade no consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho exerce, depois de estabelecidas, grande pressão de supressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local. A altura de inserção da espiga permite que a colheita mecanizada seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se isso à disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível obter-se resultados excelentes com o consórcio milho + capim, como, por exemplo, no sistema Santa Fé.
A cultura do milho também possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. Atualmente, a tendência é reduzir o espaçamento entre as fileiras do milho. Isso vai melhorar a utilização de luz, água e nutrientes e aumentar a capacidade de competição das plantas de milho. No consórcio com forrageiras, a redução de espaçamento tem, ainda, a vantagem de formar um pasto mais bem estabelecido (fechado), quando as sementes da forrageira são depositadas somente na linha de plantio do milho. A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve levar em conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita. 

Vantagens da Integração Lavoura-Pecuária
A integração lavoura-pecuária é a diversificação, rotação, consorciação ou sucessão das atividades agrícolas e pecuárias dentro da propriedade rural de forma planejada, constituindo um mesmo sistema, de tal maneira que há benefícios para ambas. Possibilita, como uma das principais vantagens, que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano ou, pelo menos, na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de fibras, de lã, de carne, de leite e de agroenergia a custos mais baixos devido ao sinergismo que se cria entre a lavoura e a pastagem.
Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (SILP), compostos por tecnologias sustentáveis e competitivas, foram e ainda estão sendo desenvolvidos ou ajustados às diferentes condições edafoclimáticas do país, o que tem possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com redução de custos, distribuição de renda e redução do êxodo rural em decorrência da maior oferta de empregos no campo.
Dentre os principais benefícios para o produtor podemos destacar:
(i) diversificação de atividades/produção garantindo maior estabilidade de renda, uma vez que o produtor não fica dependente das condições favoráveis de mercado e ou sujeito à problemas climáticos de apenas um produto, além de possibilitar a obtenção de receitas em diferentes épocas do ano;
(ii) associa o baixo risco da atividade pecuária com a possibilidade de alta rentabilidade da produção agrícola;
(iii) viabiliza a recuperação do potencial produtivo de áreas já desmatas, principalmente pastagens degradadas, aumentando a produção e oferta de grãos, fibras, agroenergia, carne e leite, contribuindo para a redução da pressão por abertura de novas áreas, principalmente na região Amazônica;
(iv) como alternativa para a recuperação de pastagens degradadas, a ILP apresenta viabilidade técnica e econômica, utilizando-se a produção da lavoura (grãos, fibras etc) para cobrir os custos de preparo da área e aquisição dos corretivos e fertilizantes, ficando o pecuarista com a pastagem recuperada;
(v) otimiza a utilização de máquinas, equipamentos, insumos e mão de obra no decorrer do ano, ou seja, as máquinas e funcionários que no período da safra estão ocupados na condução das lavouras, no período da entressafra serão utilizados nas atividades pecuárias;
(vi) redução na incidência de pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras em função da rotação de culturas, baixando os custos de produção (redução da quantidade de defensivos agrícolas e custos de aplicação);
(vii) maior eficiência de utilização de corretivos e fertilizantes aplicados por meio de consorciação e/ou sucessão de culturas/pastagem em uma mesma área, como exemplo o aproveitamento pelas pastagens do adubo residual utilizado na cultura anterior;
(viii) na ILP, com a introdução de capins em determinados períodos nas áreas de lavoura, têm-se a produção de excelente palhada (quantidade e qualidade) para a realização do Sistema de Plantio Direto na palha. O plantio direto possibilita a redução de custos com operações mecanizadas e defensivos, eleva o teor de matéria orgânica no solo, melhora a estrutura física do mesmo elevando a velocidade de infiltração da águas das chuvas e mantém o solo com cobertura vegetal durante todo o ano, protegendo-o da erosão e repercutindo em benefícios ambientais significativos.
Durante as etapas de conversão da propriedade ou parte dela para SILP, o proprietário deverá ir se qualificando, pois o gerenciamento torna-se mais complexo. A maior dificuldade para adoção de SILP, por parte do pecuarista, é seu parque de máquinas geralmente limitado. Por sua vez, o agricultor demandará investimentos consideráveis em cercas e animais. Em razão disso, acordos de parcerias e arrendamentos de terra têm sido uma saída para aqueles que não dispõem de capital para fazer esses investimentos ou não estão dispostos a utilizar as linhas convencionais ou especiais de crédito para SILP que estão sendo implementadas. 

Milho consorciado com forrageiras
Na prática, depara-se com as mais variadas situações em que o produtor tenta reduzir os custos de recuperação ou reforma de seus pastos fazendo plantio de milho + forrageira. Aliás, essa prática é bastante antiga. Por outro lado, é raro aquele que faz implantação de pastagens em áreas agrícolas. Existem para estas duas situações propostas para inserir as propriedades em SILP de tal forma que elas passem a ser mais sustentáveis e competitivas. As tecnologias disponíveis são o Sistema Barreirão, o Sistema Santa Fé e suas variações. Qualquer um desses sistemas é perfeitamente ajustável a qualquer tamanho de propriedade, desde as pequenas, com alguns hectares e que usam a mão-de-obra familiar, até aquelas empresariais com alto nível tecnológico.

Sistema Barreirão
Esse sistema foi desenvolvido na década de 1980 pela Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO). Com ele, foi possível recuperar ou reformar imensas áreas com pastagens degradadas, especialmente no Brasil Central. Ainda hoje ele é usado com essa finalidade servindo como preparação para implantação da ILP no Sistema Santa Fé. Para que o sistema seja implantado, deve ser precedido de uma série de cuidados referentes ao diagnóstico da gleba, à escolha da cultivar de milho e da forrageira, dentre outros.
Primeiramente, deve-se fazer a avaliação do perfil do solo para verificar se há presença de camada compactada ou adensada e conhecer a espessura do horizonte superficial. Nessa etapa, podem ser decididas quais as profundidades de amostragem para caracterização física e química do solo. Normalmente, são realizadas amostragem nas profundidades de 0 cm a 20 cm e 20 cm a 40 cm. Com base nos resultados das análises, fazer a correção da acidez do solo seguindo a orientação de um técnico. É importante que a aplicação do corretivo seja feita pelo menos 60 dias antes do plantio e que ainda haja umidade suficiente no solo, para que o calcário reaja.
O milho é uma espécie exigente em fertilidade do solo, exigindo valores aproximados de pH de 6, Cálcio de 2,2, Magnésio de 0,8, Saturação por Alumínio menor que 20% e Saturação por Bases entre 50% e 55%. Esses níveis são, também, os mínimos necessários para se implantar o Sistema de Plantio Direto (SPD). Além disso, a cultura do milho é mais adaptada a solos anteriormente cultivados, principalmente com soja, quando a cultura expressa melhor seu potencial produtivo. Como cultura de primeiro ano, em solos recém-corrigidos ou após pastagem degradada, os rendimentos de grãos são menores. Assim, o agricultor pode optar pelo plantio de variedade ou híbridos duplos de menor custo.
Em algumas situações, é recomendada adubação corretiva para fósforo e potássio, baseadas na análise de solo e em tabelas de recomendações de adubação. Para adubações de plantio e cobertura, para cada tonelada de grãos a ser produzida, devem ser fornecidos cerca de 24 kg de N, 3 kg de P, 23 kg de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn, 8 g de Cu, 65 g de Mn, 274 g de Fe e 18 g de B. A extração de S pela planta de milho varia de 15 kg a 30 kg ha-1, para produções de grãos em torno de 5 a 7 t ha-1.
A principal característica do Sistema Barreirão é a aração profunda com arado de aiveca. As razões para se usar esse implemento são: fazer o condicionamento físico e químico do solo rompendo camadas compactadas ou adensadas; inverter a camada de solo revolvida para que haja incorporação profunda de corretivos; incorporar em profundidade o banco de sementes de plantas daninhas para que essas não germinem ou tenham a emergência retardada competindo menos com o milho; incorporar o sistema radicular de capins, acelerando a sua mineralização para minimizar a concorrência com o milho pelo nitrogênio.
Na sequência, são tomados os cuidados com a conservação do solo. Como o condicionamento químico não é imediato, ou seja, demanda tempo de reação dos corretivos e fertilizantes, é esperado melhor desempenho das lavouras de milho nos cultivos subsequentes.
Para se obter um bom desempenho da cultura em áreas com pastagem degradada, onde predominam solos ácidos e de baixa fertilidade, fazem-se necessários a correção mínima de acidez e o suprimento de nutrientes adequados. A calagem, nesse caso, pode ser feita antes do período chuvoso que antecede a semeadura (agosto/setembro). O melhor método consiste em aplicar de 60% a 70% do calcário, incorporá-lo superficialmente com grade aradora, arar profundamente (35 cm a 40 cm), aplicar o restante (30% a 40% do corretivo), nivelar/destorroar e semear o milho e a forrageira. Nas demais opções, o calcário pode ser espalhado superficialmente para ser incorporado apenas imediatamente antes da semeadura do consórcio.
No Sistema Barreirão, a determinação da necessidade de calagem para o milho obedece à mesma metodologia e aos critérios utilizados para os cultivos solteiros. Entretanto, deve-se considerar que para solos com alto teor de areia e baixa matéria orgânica, o método de saturação por bases geralmente subestima a quantidade de calcário a ser aplicada. Em geral, isso ocorre com todos os métodos vigentes. Assim, é necessário considerar a cultura a ser implantada, o histórico da área e a experiência local quanto à resposta das culturas aos corretivos de acidez do solo. Para a cultura do milho, a calagem é necessária quando o solo apresentar concentração de Ca2 + Mg2 inferior a 3,0 cmolc dm-3 de solo, na razão aproximada de 3-4:1.
Existem vários relatos de que o processo mais econômico de correção da acidez das camadas superficiais e subsuperficiais do solo é a utilização de uma parte de gesso (sulfato de cálcio) em mistura com calcário. O gesso contém aproximadamente 23% de cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exemplo, só com esse insumo estariam sendo aplicados 115 kg ha-1 de cálcio e 95 kg ha-1 de enxofre, quantidades teoricamente suficientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1 de milho.
Os sulfatos carreiam alguns cátions-base através dos horizontes, corrigindo a acidez e favorecendo o crescimento radicular das plantas em camadas subsuperficiais. Na recuperação de pastagens degradadas, tal qual no Sistema Barreirão, o tempo de reação do corretivo no solo é, em geral, insuficiente, não obedecendo ao período mínimo de 90 dias em condições de solo úmido entre a aplicação e a semeadura da cultura ou da forrageira. Considerando-se que o principal fator determinante da velocidade de reação de um corretivo é o tamanho de suas partículas, o calcário “filler” ou moído pode produzir melhor resultado que o calcário convencional.
Na cultura do milho, embora o teste estatístico não tenha detectado diferenças, houve um acréscimo superior a 1,0 tonelada por hectare de grãos com a utilização do “filler” e diferenças significativas na produção de matéria verde da forrageira B. brizantha (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no número de espigas, na produtividade do milho e na produção de massa verde (MV) de B. brizantha, em solo sob pastagem degradada. Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO. C
Calcário Milho MV da Forrageira   ( t ha-¹)
  Estande (plantas m-² ) Espigas m-¹ Produtividade (Kg ha-¹) 
 3 t/ha de calcário a lanço 5,7a 4,9a 2.283a34,4b
 3 t/ha de “filler” a lanço 5,8a  5,3a 3.348a 44,6ab
 0,3 t/ha de “filler” na linha 5,6a 5,4a 3.360a 50,8a
0,6 t/ha de “filler” a lanço  5,7a 5,4a3.084a  38,6a
Fonte: Oliveira et al. (1996).
Nas colunas, médias seguidas pelas mesmas letras não são significativamente diferentes, segundo o teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade.


No sistema Barreirão, os procedimentos de plantio do milho são os tradicionais. No plantio simultâneo, dependendo da espécie da forrageira, as sementes desta são misturadas ou não ao adubo do milho. É importante cuidar para que a mistura seja feita no dia do plantio e regular a profundidade de deposição do adubo + sementes para maior profundidade, cuidando para que não ultrapasse o limite para que haja emergência das plântulas, o que varia com a espécie. Geralmente, sementes de braquiária podem ser depositadas até 8 cm e de panicum até 3 cm. As sementes do milho geralmente são depositadas a 3 cm de profundidade no solo.
É desejável estabelecer uma ou duas linhas adicionais de forrageira nas entrelinhas do milho para melhor formação da pastagem, o que vai depender do espaçamento e do equipamento de plantio disponível. Existe hoje uma tendência de redução do espaçamento entrelinhas na cultura do milho, principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Várias pesquisas relatam aumento no rendimento de grãos de milho com redução do espaçamento entre fileiras até 0,5 m. Esse comportamento se deve ao fato de que os milhos atuais possuem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. É importante ressaltar que em plantios com espaçamento reduzido deve-se aumentar a densidade de semeadura entre 10% e 15%. Esse plantio em menores espaçamentos, além de possibilitar melhor e mais rápida cobertura do solo, evita a formação de touceiras muito grandes de capim, o que poderá afetar negativamente a qualidade do próximo plantio. Outra possibilidade é o plantio defasado da forrageira em 15 a 30 dias depois da emergência do milho: planta-se o milho solteiro e faz-se o semeio da forrageira juntamente com a adubação de cobertura. 

Outros resultados serão discutidos no Sistema Santa Fé
Em muitos casos, agropecuaristas têm adotado essa tecnologia somente para recuperar ou reformar pastagens. Um programa de adubação de manutenção e de pastejo controlado tem permitido a utilização da nova pastagem por período indeterminado, com alta produtividade. Caso essa programação não seja executada, a nova pastagem se degradará em alguns anos, sendo necessário recuperá-la novamente, conforme já salientado. É regra em ILP que a pastagem não se degrade. Se isso estiver acontecendo, mostra deficiência no planejamento da ILP adotada e que medidas corretivas são necessárias.
Recomendações importantes na implantação do sistema Barreirão:
(i) devido à cultura do milho não ser plenamente adaptada a cultivos de abertura de área ou sob área com pastagem degradada, o potencial de rendimento, no primeiro ano, dificilmente ultrapassa 5 t ha-1;
(ii) para a obtenção de altas produtividades de milho, acima de 6 t ha-1, é recomendável a aplicação dos corretivos de acidez do solo pelo menos um ciclo de chuvas antes da semeadura;
(iii) em áreas recém-desbravadas ou sob pastagem degradada, onde o potencial de produção do milho é menor, a opção por variedade ou híbridos duplos resulta em economia na aquisição de sementes; e
(iv) realização de tratamento de sementes para prevenção de ataque de lagartas e formigas na fase inicial de estabelecimento da cultura.
O Sistema Santa Fé fundamenta-se na produção consorciada de culturas de grãos, especialmente o milho, sorgo ou o milheto com forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria e Panicum, no Sistema de Plantio Direto, em áreas de lavoura com solo parcial ou devidamente corrigido. Nesse sistema, a cultura do milho apresenta grande performance de desenvolvimento inicial, exercendo, com isso, alta competição sobre as forrageiras e evitando redução significativa nas suas capacidades produtivas de grãos.
Os principais objetivos do Sistema Santa Fé são a produção de forrageira para a entressafra e palhada em quantidade e qualidade para o Sistema de Plantio Direto na safra seguinte. O Sistema Santa Fé apresenta grande vantagem, pois não altera o cronograma de atividades do produtor e não exige equipamentos especiais para sua implantação. Através dele, é possível aumentar o rendimento da cultura de milho e das pastagens e, com isso, baixar os custos de produção, tornando a propriedade agrícola mais competitiva e sustentável. Além disso, esse sistema está viabilizando o plantio direto em várias regiões devido à geração de palhada em quantidade adequada. Somam-se a isso alguns benefícios agregados à palhada de braquiária no que diz respeito ao seu efeito supressor de plantas daninhas e de fungos de solo.

Fisiologia das espécies em consórcio
As espécies forrageiras comumente utilizadas apresentam elevadas taxas de crescimento. Por isso, a redução do crescimento das forrageiras deve ser considerada para que o consórcio tenha êxito, com produtividades de grãos equivalentes ao sistema solteiro. Estratégias como retardar a emergência da forrageira, uso de doses reduzidas de herbicidas e populações adequadas das espécies em consórcio são fundamentais para que a área foliar da cultura do milho se sobreponha à das forrageiras ao longo do ciclo. Pesquisas com o Sistema Barreirão mostram que, dispondo as sementes das forrageiras em maiores profundidades (6 a 8 cm), retarda-se em até 13 dias a sua emergência, conseguindo-se uma ampla vantagem do índice de área foliar (IAF) da cultura sobre o da forrageira. No Sistema Santa Fé, o consórcio é geralmente conduzido em solo de média a alta fertilidade e espera-se uma maior competição da forrageira com a cultura. Por essa razão, geralmente, além da semeadura mais profunda da forrageira, em alguns casos, pode haver a necessidade do uso de herbicidas para conter seu crescimento ou plantio defasado, plantando a forrageira alguns dias após o milho.
Um estudo sobre o consórcio de milho com braquiária e com o capim mombaça mostrou que, mesmo com ou sem a aplicação de herbicida para reduzir o crescimento das forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida (TAL) do milho foi maior que a das forrageiras em grande parte do ciclo da cultura. A TAL indica a eficiência fotossintética e, devido ao maior crescimento do milho e o consequente sombreamento que esse exerce nas forrageiras, resultou em uma maior Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) do milho, superando o das forrageiras e tornando o consórcio dessas espécies muito seguro.
A aplicação de herbicida para redução do TCC da braquiária somente é necessária em situações onde o milho não tem um bom desenvolvimento inicial, em casos de baixa fertilidade do solo e em outras situações, tais como: estiagem prolongada no período inicial da lavoura, forte ataque da lagarta-do-cartucho, dificultando o desenvolvimento inicial da cultura etc.
Vários trabalhos realizados com o consórcio milho e forrageiras mostram que, na média, a presença da forrageira reduziu a produtividade em 5%. Contudo, verifica-se que em vários casos não há diferenças significativas entre o milho solteiro e o consorciado. Vale ressaltar que os diferentes resultados estão associados à combinação de vários fatores, como a população da forrageira, a época de sua implantação, os arranjos de plantio, a presença de plantas daninhas, a aplicação de herbicidas, a fertilidade do solo e as condições hídricas. Nos tratamentos onde foram aplicados os herbicidas para reduzir o crescimento da forrageira, as produções foram semelhantes às do milho solteiro, indicando que esse procedimento pode eliminar as perdas no consórcio. A seguir, discutem-se alguns desses fatores e seus efeitos na produção do milho e da forrageira.

Manejos de herbicidas e efeitos no milho e na produção de forragem
No consórcio milho e forrageiras, geralmente as aplicações de herbicidas em pré-emergência afetam o estabelecimento das forrageiras, mesmo naqueles manejos onde o plantio da forrageiras é feito junto com a cobertura nitrogenada (em torno de 20 dias após a emergência do milho). Dessa forma, são usados os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas e do milho. Dentre esses herbicidas, destacam-se o herbicida atrazina e alguns do grupo químico das sulfonilúreas, como o nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium
No consórcio, a atrazina é aplicada nas doses de 1000 a 1500 g i.a./ha em pós- emergência e, nessas doses, somente apresenta controle sobre as dicotiledôneas.
As sulfonilúreas são usadas em pós-emergência, com enfoque no controle de gramíneas e de algumas espécies dicotiledôneas. Já o foramsulfuron atua principalmente sobre gramíneas e o iodosulfuron methyl sodium sobre espécies de folhas largas, estando , assim, disponível no mercado como mistura pronta para a cultura do milho.
O Período Crítico de Competição (PCC) das plantas daninhas ou forrageiras no milho ocorre entre os estádios V5 (5 folhas totalmente expandidas) e V8 ou entre 20 e 40 dias após a emergência. Dessa forma, a aplicação de herbicidas pós-emergentes deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida atrazine (atrazina) deve ser usado na dose de 1500 g i.a./ha (3 L p.c./ha) para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas. O nicosulfuron (Sanson) é recomendado na dose de 4 a 8 g i.a./ha (0,1 a 0,2 L p.c./ha). A dose maior é recomendada quando a forrageira ou plantas daninhas estão em estágios mais avançados (mais de 3 perfilhos). Para o consórcio do milho e panicuns (tanzânia, mombaça e outros), a dose de nicosulfuron não deve ultrapassar a 6 g i.a.ha-1 (0,15 L p.c./ha) devido à sensibilidade dessas espécies aos herbicidas. Para os herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron (Equipe-Plus), recomenda-se dose de 15 + 1 g i.a./ha (0,5 L p.c./ha). Nessas doses, há uma redução do crescimento da forrageira e também das plantas daninhas em torno 40% a 50%, suficiente para a redução da competição com o milho no PCC.
A recuperação da toxicidade da forrageira devida aos herbicidas depende de vários fatores, como as condições hídricas, a fertilidade de solo e o próprio nível de fitotoxicidade da forrageira após aplicação dos herbicidas. Portanto, recomenda-se não aplicar doses acima das indicadas. A consorciação de plantas forrageiras nas entrelinhas da cultura pode auxiliar na supressão da comunidade infestante

Arranjos espaciais da forrageira e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas mostram que os diferentes arranjos testados não afetam o rendimento do milho (Tabela 2). Entretanto, os arranjos afetaram de forma significativa a produção de forragem, ou seja, ficou evidente que o plantio de duas linhas da forrageira na entrelinha do milho proporcionou maior produção de forragem.
Os arranjos revelaram também que: quanto maior foi a distribuição em linha da forrageira, maior foi a produção (menor tempo de formação do pasto). Nesses estudos, o espaçamento entre fileiras de milho foi de 1,0 m em Coimbra (MG) e 0,45 m em Ilha Solteira (SP) e a densidade de plantio da forrageira, em kg ha-¹ de sementes puras viáveis (SPV), foi de 3,0 kg ha-1 no ensaio de produção de grãos, de 3,8 kg ha-1 no ensaio de produção de silagem em Coimbra e de 6,4 kg ha-1 no ensaio em Ilha Solteira.
Tabela 2. Rendimento de grãos e forragem (MV) de milho, em kg ha-¹, e de B. brizantha, em t ha-1, função de diferentes arranjos espaciais e locais de plantio. 
Sistema de Plantio Local
  Coimbra MG Ilha Solteira SP Coimbra MG
  Grãos  Forrag¹   Grãos   Forrag¹   MV Forrag¹   Forrag² 
Plantio simultâneo com 1 linha nas entrelinhas 5.570 1,15 - - - - -
Plantio simultâneo com duas  linha entrelinha5.030 2,66 - - 55.330 0,73 4,48
Plantio simultâneo a  lanço 5.770 0,45 6.928 1.69 49.790 0,13 0,76
Plantio simultâneo na linha do milho 5.550 0,71 7.503 2,13- - -
Plantio 30 DAE do milho  com uma linha entrelinha - - 7.677 1.45 51.920 0,05 0,05
Plantio a  lanço, 30 DAE do milho - -  8.147 1,48- - -
Milho solteiro  5.910  - 7.995 - 55.920- -
Braquiaria solteira - 7,63 - - - 2,83 14,94
*Produção de forragem;
Fonte: Adaptado de Jakelaitis et al., 2005; Pantano, 2003 e Freitas et al., 2005.

Épocas de introdução das forrageiras e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas mostraram que não há diferenças de produtividade do milho entre o plantio simultâneo da forrageira com o milho e o plantio em pós-emergência (Tabela 3). O milho apresenta maior taxa de crescimento no início do desenvolvimento em comparação com a forrageira, o que garante o sucesso do plantio simultâneo das duas espécies. Ao contrário do milho, a produção da forrageira é extremamente afetada pela época de implantação. Verifica-se nos trabalhos realizados que a produção da forrageira diminui significativamente à medida em que se atrasa a introdução dessa no consórcio. O milho, por ser uma planta muito competitiva, afeta negativamente a forrageira quando essa é implantada em pós-emergência do milho. Diante desses dados, recomenda-se o plantio simultâneo da forrageira com o milho, pois o rendimento do milho não é afetado (desde que sejam seguidas as recomendações de uso de herbicidas, arranjos e densidade de plantio) e a produção da forrageira após colheita do milho atinge seu máximo potencial.
Tabela 3. Rendimento de grãos de milho, em kg ha-1, e de massa seca de forragem, em t ha-1, de braquiária, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira em sistema consorciado, em três experimentos em Piracicaba, SP, e um em Ilha Solteira, SP. 
Sistema de Plantio Local
 Piracicaba Piracicaba Piracicaba Ilha Solteira
  Rendimento de milho (kg ha -¹)
Milho solteiro 9.270 9.270 9.270 7.995
Consórcio, plantio simultâneo 9.690 9.700 9.333 7.503
Braquiaria plantada estágio V4 do milho 9.280 9.500 9.450 7.677
 Rendimento de massa seca de forragem (t ha-1)
Plantio simultâneo, colheita 1,31 1,56 1,06 2,13
Plantio simultâneo, 60 DAC 3,96 3,17 2,22 -
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, colheita 0,37 0,35 0,33 1,45
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, 60 DAC 3,16 2,21 1,85 -
Forrageira B.decumbens B.brizantha B.ruziziensi B. brizantha
Espaçamento do milho (m)0,9 0,9 0,9 0,45
Arranjo do consórcio Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha
Densidade de plantio da forrageira (kg ha-1 de SPV) 33 3 3,17
Fonte: Adaptado de Tsumanuma, 2004, Pantano, 2003
Recomenda-se uma densidade de 3,0 kg ha-1 de sementes puras e viáveis (SPV) de braquiária para a implantação do consórcio. 

Colheita do milho
A partir do início do secamento das folhas do milho acontece maior penetração de luz e a forrageira voltará a crescer em maior velocidade. Então, a colheita não deve sofrer atraso, pois a forrageira poderá crescer muito e causar transtornos (embuchamento) na colheita mecânica e operacionais na manual. Caso se decida por antecipação da colheita, deve-se ter disponível secador de grãos. Depois da colheita, dependendo da condição do pasto, deve-se fazer um pastejo rápido de formação para estimular o perfilhamento da forrageira ou o pasto deve ser vedado. No primeiro caso, em seguida à saída dos animais, a área deve ser vedada por período suficiente para rebrota e crescimento até a fase do pastejo definitivo, que vai depender das condições do clima. Caso o milho seja colhido para ensilagem, a área é vedada em seguida até a época do primeiro pastejo definitivo. A altura do pastejo deve seguir as recomendações para a espécie forrageira plantada, bem como a carga animal. Depois de um ciclo de pastejo, que pode ser somente na entressafra ou de alguns anos, ao final do período de seca, a pastagem é vedada e, no início das chuvas, dessecada, dando início a novo ciclo de cultura solteira em rotação ou em consórcio.