segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Oferta curta segura a arroba do boi


Janeiro tipicamente é um mês de vendas fracas de carne bovina e este não tem sido diferente. A oferta de boiadas está curta e isto tem sustentado os preços na maior parte das regiões. O atraso das chuvas atrapalhou a disponibilidade de boiadas neste início de ano. Paralelamente, onde as pastagens estão em melhores condições, existe a possibilidade de retenção de animais em engorda, uma vez que as projeções não são de mercado frouxo em curto prazo. Considerando o período de 2004 a 2014, houve valorizações do boi gordo entre janeiro e fevereiro em sete ocasiões e recuos em quatro. O cenário geral de oferta curta esperado para 2015 corrobora com a expectativa de um mercado firme. Acompanhe o valor da arroba do boi em: www.pecuaria.com.br/cotacoes.php Para esta semana, a expectativa é de alguma melhoria no escoamento, com o varejo se estocando para o início do próximo mês. De toda forma, o cenário econômico, o aumento dos custos das famílias e os impostos de início de ano devem segurar a demanda, mesmo no começo do mês. Notícia publicada em: 26/01/2015

Rebanho em alta no Mato Grosso

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Após 2 anos de redução do rebanho bovino e bubalino em Mato Grosso, a quantidade desses animais voltou a crescer em 2014. Atualmente a população de bovídeos no Estado alcança 28,487 milhões de cabeças, sendo 60,928 mil bovinos e bubalinos - ou 0,2% - a mais que o total quantificado em 2013, quando somava 28,427 milhões. O levantamento foi realizado pelo Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), vinculado a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), que divulgou na última sexta-feira (23) o resultado da vacinação contra a febre aftosa no Estado. Conforme os dados fornecidos pelo Indea, o efetivo total do rebanho permanece ligeiramente abaixo do número verificado em 2012, quando chegou a 28,670 milhões de cabeças. A diminuição do rebanho nesse período não está atrelada ao avanço da agricultura sobre as áreas de pecuária, expõe o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), José João Bernardes, mas sim à elevação do abate de fêmeas para compensar a perda de rentabilidade dos pecuaristas após 2010. Entre janeiro e setembro de 2013, o abate de matrizes atingiu o recorde histórico de 2,190 milhões de cabeças, sendo 10% acima do volume registrado no mesmo período de 2012. Em 2014, a participação das fêmeas no volume de abates de bovinos começou a diminuir: 44,62% das fêmeas foram encaminhadas aos frigoríficos, ante a proporção de 45,78% em 2013. Para 2015, a oferta da proteína será mantida e a recuperação de preços dos animais favorece a retenção e investimento na atividade, observa Bernardes. Ele lembra que 70% da produção de carne bovina estadual atende o consumo externo, ou seja, de outros estados brasileiros e países. Para o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Seneri Paludo, a pecuária mato-grossense precisa melhorar ainda mais a produtividade e tem avançado nesse sentido. “No Brasil, a taxa de desfrute - capacidade do rebanho em gerar excedentes para venda - fica em torno de 20% e nos Estados Unidos chega a 40%. Então precisamos aumentar essa taxa e não só o rebanho”. Ele comenta ainda que a intensificação da produção agrícola favorece a pecuária, ao permitir reforçar a nutrição dos animais. “O avanço da agricultura sobre a pecuária não é excludente, pelo contrário, são atividades complementares”. Preços - Neste 1º mês de 2015, a cotação da arroba do boi gordo atingiu valor histórico, chegando a R$ 130,07 na última semana no Estado, segundo pesquisa do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). O patamar é inédito no Estado, segundo os analistas, considerando a série histórica mantida pela entidade. De acordo com os analistas, o ritmo de valorização mais acelerado no Estado reflete o aquecimento do mercado brasileiro e também a grande demanda internacional pela carne bovina mato-grossense, que é embarcada principalmente para os países da União Europeia, Oriente Médio, China, Rússia e Venezuela. “A Rússia se mantinha muito fechada, mas retomou fortemente as importações desde o ano passado e apresenta um potencial enorme”, avalia Paludo. 

Com informações da Gazeta Digital.

Seguro rural: calote ainda sem solução

 
A colheita da safra de grãos está se aproximando e os produtores de todo o país que aderiram ao seguro rural estão apreensivos. Isso porque o governo federal ainda não liberou os R$ 300 milhões que faltam para a subvenção. Os agricultores temem ter que arcar com 100% das apólices. O problema acontece, porque o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão deixou de empenhar o valor até o dia 31 de dezembro de 2014, prazo máximo, de acordo com a legislação do Programa de Subvenção ao Prêmio de Seguro Rural, para o Executivo determinar a liberação do dinheiro que seria usado no ano seguinte. A desorganização fez com que 2015 começasse sem a documentação devida e, pior, sem verba para este fim. Agora, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros tentam negociar internamente uma forma de fazer o pagamento. Se as tentativas de encontrar um mecanismo dentro do próprio governo federal para liberar os recursos falharem, ainda há uma possibilidade. Seria trazer a discussão para o Congresso Nacional incluir o valor na Lei Orçamentária deste ano. Mas para isso é preciso, também, alterar a lei do seguro por meio de uma Medida Provisória, que autorize o pagamento com recursos de 2015. Mesmo que tudo dê certo, o dinheiro do seguro deve atrasar, porque o processo é demorado e os resultados só vão poder ser vistos no meio do ano. Cerca de 70 mil contratos estão pendentes em todo o país, de acordo com a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, 70% dos seguros são acionados nas regiões Sul e Sudeste e mais de 50% das lavouras cobertas são de milho e soja. Para a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja), a falha do poder executivo pode causar endividamento aos produtores. – A gente já teve um período complicado de veranico entre dezembro e agora, meados de janeiro, embora tenha retornado alguma regularidade climática. Se nós tivermos novamente dificuldades com relação ao clima, com certeza esses produtores vão ficar em uma situação bem complexa, porque normalmente uma das culturas indo bem o produtor tem um equilíbrio de caixa, mas se as duas culturas forem mal, e não tendo seguro, esse produtor com certeza vai entrar em um processo de endividamento – afirma o diretor executivo da Aprosoja Brasil, Fabrício Rosa. O produtor rural Cláudio Malinski está entre os prejudicados. Segundo ele, uma das maiores preocupações é não conseguir pagar a apólice por completo e, por inadimplência, perder as garantias que tem para recorrer ao crédito das instituições financeiras. – Esses produtores, se não conseguirem novos financiamentos, eles terão duas ou três opções: uma é arrendar a fazenda para um que tenha, que é muito difícil, o outro também já está descapitalizado; recorrer diretamente às tradings que querem muitas garantias e, consequentemente, garantias reais, vai dificultar para o produtor, porque ele já tem esses bens oferecidos aos bancos; e o fator pior de todos ainda é o produtor usar baixa tecnologia, baixar a produtividade e ter mais prejuízo – demonstra Malinski. Segundo o economista Newton Marques, que trabalhou por 37 anos no Banco Central, se o governo não pagar a subvenção do seguro, as consequências vão muito além do bolso do produtor rural. – Eu não vejo outra alternativa ao governo, senão solucionar esse problema, porque se não solucionar, não é uma questão privada, isso vai bater na política macroeconômica, isso vai bater em inflação, isso vai bater nas exportações. O dinheiro para agricultura é um dinheiro sagrado. Se o governo não fizer nada com relação a isso daí, corre o risco de haver um problema e os empresários não conseguirem suportar – projeta Marques.26/01/2015 Impressão de matérias - PECUÁRIA.COM.BR http://www.pecuaria.com.br/printable.php?ver=17003 2/2 Paraná Em 20 anos produzindo soja, Vitorio Venturi nunca sofreu um prejuízo tão grande como nesta safra. Os 250 hectares foram castigados pela seca. – Se tivesse o seguro, provavelmente pagava os custos de produção, porque muitos casos, se esse subsídio não sair, o produtor é obrigado a pagar integral o prêmio, aí fica extremamente pesado – reclama o produtor rural. A preocupação dele e dos outros produtores que devem ter perdas nas lavouras é com relação ao pagamento da parcela do seguro rural. O corretor Claudemir Rossetto explica que na proposta de apólice que o produtor assina está claro: se o governo não pagar a subvenção, a conta total vai para o agricultor. – O governo não liberando essa subvenção, o produtor pode ter um prejuízo na lavoura e ainda maior tendo que pagar o complemento do custo do seguro. Ele se obriga a pagar a segunda parcela, porque se ele não pagar, a seguradora também não vai cobrir as perdas ocasionadas pelas ocorrências climáticas – explica Rossetto. A falta de garantia do pagamento desse recurso tem ainda outra consequência, as operadoras de seguros não estão formalizando novas propostas para a safra de inverno. A Aprosoja do Estado estima que 30 mil agricultores estão com as lavouras descobertas. – É uma luta que a Aprosoja está fazendo. Nós pedimos pra nova ministra que interceda perante a Secretaria da Fazenda, pra que libere esse dinheiro – garante José Eduardo Sismeiro, presidente da Aprosoja-PR. A Cooperativa Integrada, que assiste 13 mil produtores do Paraná, por exemplo, não tem nenhum seguro para o próximo o plantio. Neste mesmo período do ano passado, 60% dos agricultores já estava com as áreas seguradas. – A seguradora nos posiciona que ela não recebeu o subsídio do ano passado, ela não tem como arcar com os recursos pra esse ano. Pode acontecer uma chuva de granizo, por exemplo, e a área não está segurada. A nossa preocupação é muito grande, o risco do produtor é muito grande – argumenta Nilton Avancini, supervisor de crédito da cooperativa. Quem já comprou os insumos, como Fernando Nunes, não tem outra alternativa. Assim que a colheita de soja terminar, os 800 hectares vão ser ocupados pelo milho segunda safra, mesmo sem seguro para toda a lavoura. – Vou arriscar, essa parte ficará, se o governo não nos ajudar com a subvenção, descoberta de seguro. O risco é total, porque a cultura de inverno o custo é alto, rentabilidade baixa e, com certeza, vamos pedir pra não ocorrer nenhuma intempérie, porque ela estará totalmente descoberta. Esperar o governo realmente é difícil – lamenta o produtor. O Ministério do Planejamento informou que os recursos foram alocados no projeto de Lei Orçamentária anual de 2015, enquanto não for sancionada a lei, poderão ser executados até o limite de um doze avos do valor previsto para o seguro rural, respeitado o valor global de 1/18 avos por mês, de cada órgão. O Ministério da Agricultura e o Banco do Brasil, maior instituição em fornecimento de crédito agrícola, foram procurados, mas não se posicionaram sobre o caso. 
Com informações do Canal Rural

Venezuela quer comprar mais carne brasileira


 
Brasileiros e venezuelanos, representantes do segmento agropecuário, reuniram-se na última semana para estreitar relações comerciais, dentre elas o aumento nas exportações de carnes do País. A reunião aconteceu na embaixada do Brasil em Caracas. Ao fim da reunião, ficou concluído que a governo venezuelano enviará missão ao País em abril, para verificação dos controles oficiais dos produtos exportados e, como consequência, a possibilidade de incluir novos estabelecimentos exportadores na lista atual, que hoje conta com cerca de 200 empresas. Ficou decidido ainda que, enquanto a missão não acontece, a lista atual será prorrogada até maio deste ano. Além disso, haverá a criação de um grupo de trabalho para discutir as condições que autorizaram o Mapa indicar os estabelecimentos exportadores de carnes para a Venezuela. Outro ponto discutido foi a possibilidade de iniciar importação de produtos lácteos do Brasil. Haverá ainda a criação de canal oficial de comunicação para facilitar a troca de informações e solução de pendências comerciais e a continuidade na discussão sobre procedimentos de certificação para a exportação de gado em pé ao país. Em 2014, a Venezuela foi o terceiro maior importador de carne bovina brasileira. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 3,05 bilhões em produtos do agronegócio. Apenas em produtos do setor de carnes foi exportado US$ 1,35 bilhão, sendo US$ 904 milhões de carne bovina e US$ 428 milhões de carne de frango. Com informações do DCI. Notícia publicada em: 26/01/2015

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Bem-estar animal: sombra é essencial em regiões de clima quente

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Com a crescente preocupação do mercado consumidor - principalmente o europeu - em relação ao bem-estar animal, os produtores rurais devem ficar cada vez mais atentos ao modo como os animais são tratados dentro das propriedades. O conforto térmico é um dos requisitos que garantem, além do bem-estar, a sustentabilidade e o sucesso da atividade pecuária em regiões de clima quente.
 
A produção animal no Brasil concentra-se basicamente na região intertropical, onde existe a maior incidência de radiação solar, o que pode causar efeitos prejudiciais, tanto na produção e na sanidade, quanto na reprodução. "Quando falamos em produção animal a pasto nos trópicos, considerando-se as mudanças climáticas e a perspectiva de aumentar ainda mais a temperatura do ambiente, é preciso tomar alguns cuidados para evitar esses efeitos prejudiciais aos animais", destaca a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), Fabiana Villa Alves.
 
Há raças bovinas mais ou menos adaptadas ao calor. As taurinas, em geral, são pouco adaptadas a climas quentes e, por isso, as que mais sofrem os efeitos prejudiciais de altas temperaturas no ambiente. "Por outro lado, o nelore, pertencente às raças zebuínas, é um animal considerado adaptado a esse tipo de clima. Algumas características, como a cor da pele e do pelo, e a grande quantidade de glândulas sudoríparas muito eficientes, auxiliam-no a tolerar bem o calor", diz a pesquisadora.
 
Entretanto, ela explica que mesmo sendo adaptados, sofrem em períodos prolongados com altas temperaturas por se tratarem de animais homeotérmicos, que devem manter a temperatura "ótima" para realizar as funções fisiológicas normalmente. Quando essa temperatura começa a aumentar ou diminuir, eles precisam usar alguns mecanismos para retorná-la àquela considerada normal.
 
Os animais têm diferentes faixas de temperaturas consideradas de conforto térmico. Para os taurinos, essa faixa é de até 27 graus. O zebuíno suporta um pouco mais, mas a temperatura máxima de conforto é de 35 graus. "No inverno, no Centro-Oeste, são facilmente registradas temperaturas, ao sol, próximas a essa. Então, dependendo da raça e da adaptabilidade, o animal fica ofegante, aumenta a temperatura retal e os batimentos cardíacos para tentar dissipar esse calor e voltar à temperatura ótima. Mas todo mecanismo que ele usa para isso demanda gasto de energia, o que pode refletir em queda de produtividade", lembra Fabiana.
 
Para deixar os animais na zona de conforto térmico, ela lembra que são necessárias modificações ambientais, conforme o sistema de produção. Para os confinados é possível colocar aspersores de água, cortinas e sistemas de ventilação. Para animais a pasto, a medida mais eficiente é oferecer sombra, que pode ser tanto artificial (sombrite 70%), quanto natural. Esta última, dada pela introdução de árvores, é a mais barata e eficiente, além de trazer outros benefícios agregados como aumento de biodiversidade, diversificação da renda e alimento para os animais.
 
"A sombra natural é mais eficiente porque a árvore, além de bloquear a radiação solar, cria um microclima embaixo daquele ambiente com sensação térmica mais agradável. Assim, é oferecida uma condição de melhor conforto térmico, por se tratar de um ambiente com menor temperatura e, com isso, é possível promover o bem-estar do animal", acrescenta a pesquisadora.
 
Segunda ela, a espécie da árvore a ser usada depende de alguns fatores. Por exemplo, em sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) na região Centro-Oeste, o eucalipto é muito utilizado devido às condições de solo (ácido e com baixo teor de argila) e ao mercado consumidor existente para celulose, madeira e carvão.
 
Na Embrapa Gado de Corte, vêm sendo realizados estudos para caracterizar quantitativa e qualitativamente tipos de sombra de diferentes espécies de árvores, e quantificar o benefício proveniente dela para os animais. A expectativa é que os resultados sejam divulgados dentro de três anos.
 
 
Kadijah Suleiman (MTb 22729 RJ) Embrapa Gado de Corte Telefone: 67 3368-2203
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/

Alimentação e nutrição do rebanho

Pastagem

A pastagem é a mais natural e econômica fonte de nutrientes para alimentação de ruminantes. Se admitirmos que o processo de globalização é irreversível, os processos produtivos, sobretudo os que dependem de condições ambientais, deverão ocorrer nas regiões que apresentarem maior vocação para desenvolvêlos. Desse enfoque, a Amazônia apresenta condições excepcionais para praticar uma pecuária altamente competitiva, baseada em pastagens de alta produtividade. O maior suprimento anual de radiação solar do trópico úmido brasileiro, em relação ao clima temperado, principal insumo para produção de forragem, somado a condições de temperatura e umidade que permitem o
crescimento forrageiro durante praticamente todo o ano e solos com boas propriedades físicas, são os principais pontos fortes do ecossistema de pastagens cultivadas da Amazônia e, em particular, do Estado do Pará.


Forrageiras e animais de alta produtividade, adaptados à região, grande disponibilidade de terras baratas são outros fatores positivos. A diminuição dos rebanhos do chamado Primeiro Mundo e menores crescimentos nas demais regiões do Brasil sinalizam para a Amazônia um papel preponderante na produção de proteína animal de alta qualidade e baixo custo. O Estado do Pará, pelo padrão da pecuária que já pratica hoje, pela localização geográfica estratégica, pela infra-estrutura portuária, rodoviária e hidroviária, está fadado a desempenhar importante papel nesse contexto. A procura crescente por
produtos naturais, no caso o “boi verde” e o “boi orgânico”, produzidos a pasto, é outro sinalizador importante.


A propriedade

A fase de planejamento pode ser de vital importância para o sucesso de um empreendimento pecuário em um Estado com as dimensões do Pará. Dentre os principais aspectos a serem analisados, merecem destaque:

Clima
Pode-se escolher entre três tipos climáticos diferentes no Estado do Pará. O Afi, sem período seco definido; o Ami, com pequeno período seco (dois a três meses) e o Awi, com maior período seco (quatro a cinco meses). Em todos eles, é possível praticar uma pecuária de alto nível tecnológico.

• Relevo
Deve-se preferir de plano a levemente ondulado, com boa drenagem, permitindo a utilização de máquinas nos tratos culturais da pastagem. Nos trechos muito acidentados, deve-se conservar a cobertura florestal ou fazer sua reposição quando já tenha sido removida.

Solos
Devem apresentar boas propriedades físicas, sobretudo boa drenagem e sempre
que possível, escolher solos de boa fertilidade.

• Acessos
O acesso à propriedade e desta aos frigoríficos também deve ser estudado
cuidadosamente, permitindo o recebimento de insumos e saída da produção,
durante todo o ano.

Alguns erros na escolha da propriedade dificilmente poderão ser corrigidos e
podem ser a causa de custo operacional elevado.

• Escolha da forrageira

Produtividade, valor nutritivo, agressividade, estabelecimento rápido,
resistência ao pisoteio, resistência ao fogo, resistência à seca, resistência a
excesso de umidade no solo, resistência a pragas e doenças são os principais
aspectos a serem observados por ocasião da escolha das forrageiras.

Os ecossistemas naturais da Amazônia de florestas e pastagens nativas heterogêneas e a experiência acumulada com outras culturas, têm mostrado que a monocultura na Amazônia aumenta os riscos dos empreendimentos e muitas vezes os inviabiliza. A pastagem não é uma exceção. A diversificação das forrageiras, em piquetes separados, é importante para assegurar a estabilidade aos sistemas pecuários.

Opções forrageiras disponíveis para o Estado do Pará, em virtude do clima, do
solo e do nível tecnológico, podem ser vistas na Tabela 1.


Tabela 1. Gramíneas forrageiras recomendadas para o Estado do Pará.
Nome Científico
Nome Vulgar
Clima
Solo
Tecnologia
Brachiaria humidicola
Quicuio-da-amazônia
Af-Am-Aw
Todos
Baixa/Média
Brachiaria dictyoneura
Dictyoneura
Af-Am-Aw
Todos
Baixa/Média
Brachiaria brizantha
Braquiarão, Brizantão
Am-Aw
Drenados
Baixa/Alta
Panicum maximum
Mombaça
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Panicum maximum
Tanzânia
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Panicum maximum
Tobiatã
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Panicum maximum
Colonião
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Cinodon dactylon
Capim-estrela-africana
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Pennisetum purpureum
Capim-elefante
Af-Am-Aw
Drenados
Média/Alta
Na Fig. 1, é mostrado um sistema silvipastoril com pastejo rotacionado intensivo, conduzido na sede da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, PA. A gramínea é o capim-estrela africana com adubação NPK. As espécies arbóreas são mogno africano e nim indiano. As cercas são eletrificadas, com dois fios.

A diversificação de forrageiras permite reduzir os riscos de insucesso na atividade pecuária.

As melhores forrageiras para cada propriedade devem ser eleitas em virtude do clima, solo, atividade produtiva e grau de intensificação.

A pastagem deve ser vista como uma cultura e, com tal, necessita de cuidadoso preparo do solo para garantir um estabelecimento rápido e vigoroso. O ideal é que a área seja destocada e possa ser trabalhada com máquinas. Na formação, após a remoção da floresta original, tradicionalmente pela queima, o plantio é feito com tocos e troncos que escaparam da queima e somente serão removidos anos após, por ocasião de recuperação do pasto. Nessa situação, é recomendável usar quantidade de sementes adequada para uma rápida formação.
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Fig. 1. Pastagem de capim-estrela-africana sob sistema rotacionado intensivo.

• Calagem
É comum uma grande preocupação com o pH e o alumínio trocável. A resposta positiva à aplicação de calcário é devida, principalmente, ao efeito da incorporação de cálcio e magnésio como nutrientes em solos carentes e não como corretivo. Quando recomendada via análise de solo, a aplicação de cerca de 500 kg de calcário dolomítico basta para resolver o problema. Considerando que a maioria dos solos tropicais são ácidos, é de se esperar que as forrageiras, também tropicais, tenham mecanismos para minerar nesse ambiente.

Em geral, não têm sido detectadas respostas à adição de calcário como
corretivo em forrageiras tropicais.


Adubação da Pastagem

Antes do plantio, é imprescindível a realização de uma análise da fertilidade do solo, para verificar a necessidade de fertilização visando a uma boa formação, possibilitando que o capim se estabeleça rapidamente e domine as possíveis plantas daninhas. O ideal é que o adubo seja direcionado para a semente da forrageira. Para garantir a longevidade produtiva da pastagem, os níveis de fósforo e o potássio devem apresentar em um mínimo de 10 e 45 ppm, respectivamente.

O efeito principal da adubação é, em primeiro lugar, sobre a quantidade de forragem e, posteriormente, sobre a qualidade.

Seleção das sementes

É importante a utilização de sementes de alta qualidade, tipo exportação, com Valor Cultural (VC) elevado. O Valor Cultural é um indicador da qualidade da semente e nada mais é do que o produto da Percentagem de Germinação (PG) pelo Grau de Pureza (GP), dividido por 100. A fórmula para sua obtenção é:

 
PG (%) x GP (%)
 
VC (%) = ———————————
 
100
 

Existe disponibilidade no mercado de sementes com 76% de VC, que surpreendentemente não têm tido a preferência dos produtores, embora sendo mais baratas que as de baixa qualidade, considerando a redução na quantidade utilizada. Preferem investir alto em sementes de baixa qualidade (24% de VC), contaminadas com sementes de plantas daninhas, esporos de fungos, ovos de insetos, que trarão prejuízos incalculáveis no futuro, chegando muitas vezes à perda total da pastagem. O fungo, que vem atacando e até dizimando as pastagens de capim-braquiarão no Estado do Pará, foi isolado também em
sementes do capim. O tratamento das sementes com fungicida é recomendado.

Fazer uma análise da relação custo/benefício por ocasião da aquisição das
sementes é um procedimento inteligente.


Os fornecedores de sementes deveriam ter uma conduta mais responsável e
ética, divulgando a disponibilidade e as vantagens de usar sementes de alta
qualidade.


Plantio

O plantio pode ser a lanço, com semeadeiras manuais ou mecânicas e até mesmo de avião. Processos que incorporem as sementes ao solo, protegendoas e direcionando-as para o fertilizante devem ser os preferidos.

Manejo de formação

Consiste no período de estabelecimento da pastagem. Vai do plantio ao início da utilização, variando em virtude de diversos fatores. Em forrageiras que produzam sementes viáveis, deve-se aguardar a sementação para formar um banco de sementes no solo. Observar a necessidade de controle de eventuais plantas daninhas que deve ocorrer antes que as mesmas lancem sementes. Ver capítulo específico de controle de plantas daninhas.

Sem uma boa formação, não se terá uma boa pastagem.


Manejo da pastagem

O sistema contínuo e o rotacionado são os mais utilizados. Mais importante do que o sistema de manejo, é o cuidado para não exceder a capacidade de suporte da pastagem, conduzindo-a ao processo de degradação.

Sob pressão pastejo adequada, o sistema contínuo tende a favorecer o ganho de peso por animal, que por permitir maior seletividade pelos mesmos requer menor investimento em cercas e faz com que os animais consumam de maneira desigual diferentes partes do piquete.

Na mesma situação, o sistema rotacionado favorece a produção por área, exige maior investimento em cercas e possibilita aproveitamento mais uniforme do piquete.

A Embrapa Amazônia Oriental gerou tecnologia para aumento da eficiência produtiva na atividade pecuária, que utiliza um pastejo rotacionado intensivo simplificado. Basicamente, recomenda sistemas contendo de 6 a 12 pastos, com períodos de pastejo que não excedam 7 dias, para evitar o consumo da rebrota. O cronograma de rotação preconizado é rígido e quando ocorrer o mínimo de disponibilidade previsto (1,5 t de matéria seca de forragem/ha) os animais serão removidos para uma área de escape (15% da total), onde permanecerão até a data de entrada no piquete subseqüente. Dependendo do grau de intensificação, o sistema prevê adubações de fósforo, potássio e nitrogênio.

É amplamente conhecido que os animais, além de consumir a forragem, causam diversos danos ao pasto. Imaginando um sistema rotacionado com ciclo completo de 36 dias (3 de pastejo x 33 de descanso) durante um ano, o animal passaria em cada pasto apenas 36 dias. Mais ainda, se o modelo do sistema centralizar os bebedouros e cochos de suplementos em uma área de repouso, os animais só permanecerão em um mesmo piquete parte desses 36 dias.

A carga animal deve ser compatível com a capacidade de suporte do pasto.

Quantidades substanciais de nutrientes do solo serão exportadas por meio dos animais e devem ser repostas por meio de adubações de reposição sob pena de diminuição da produtividade e degradação da pastagem.

De onde se extrai sem repor, acaba.

Recuperação da pastagem

Em geral, o pecuarista descuida do monitoramento da fertilidade do solo, permitindo a instalação de um processo que fatalmente conduzirá à degradação da pastagem. Atualmente, com a tecnologia disponível, é inadmissível que se abandone uma pastagem degradada, na chamada fronteira consolidada, onde já existe infra-estrutura e se opte por derrubar novos segmentos de floresta, ampliando a fronteira pecuária, no denominado “arco do fogo.” Lamentavelmente tal fato ainda acontece, com uma freqüência muito acima da
desejável. Pela sua importância, esse assunto é tratado em um capítulo especial.

Alimentação no período seco

Em geral, no Estado do Pará os animais podem ser mantidos no pasto durante todo o ano. A estratégia para alimentação do rebanho durante o período seco (ou menos chuvoso) deve variar de acordo com o tipo climático em que a propriedade está localizada, a saber, Af – sem período seco; Am – com pequeno período seco (3 a 4 meses); Aw – com maior período seco (quatro a seis meses). Descarte estratégico do rebanho, adubação estratégica, sal proteinado, silagem, suplementação alimentar e irrigação são as alternativas que poderão ser adotadas em decorrência do segmento pecuário (cria, recria/engorda, produção de leite, criação de animais de alto valor para reprodução e outros).

Suplementação mineral

Uma das mais importantes limitações nutricionais do gado de corte nas regiões tropicais é a deficiência de minerais, uma vez que as forrageiras geralmente não atendem às exigências dos animais. O conteúdo de mineral da forragem depende de vários fatores, como solo, clima e espécie forrageira e sua maturidade.

A maioria dos solos da região é de média à baixa fertilidade, com elevada quantidade de alumínio (Al) e de ferro (Fe) trocáveis, favorecendo a formação de compostos insolúveis para a planta e exacerbando a deficiência do P. A reposição dos nutrientes exportados pelos produtos animais ao solo pela adubação, é pouco comum na região, o que ocasiona um decréscimo gradativo do conteúdo de minerais na pastagem.

A suplementação mineral na pequena e média produção é extremamente precária, principalmente por falta de informação (Veiga & Láu 1998). Por sua vez, as grandes fazendas da região, embora com melhor acesso à tecnologia e ao mercado de insumos, precisam melhorar o seu programa de suplementação mineral. A correção das deficiências minerais, pela da suplementação no cocho, à vontade, é bastante eficiente.

Importância dos nutrientes minerais

Embora compondo apenas cerca de 5% do corpo de um animal, os nutrientes minerais contribuem com grande parte do esqueleto (80% a 85%) e compõem a estrutura dos músculos, sendo indispensáveis ao bom funcionamento do organismo (McDowell, 1992). Os desequilíbrios dos minerais na dieta animal podem ocorrer tanto pela deficiência como pelo excesso.

Sintomas da deficiência mineral

Como se trata de um grande de número de elementos que desempenham as mais variadas e complexas funções no organismo, os sintomas causados pelos desequilíbrios minerais da dieta não são específicos. Esses sintomas podem ser confundidos com aqueles causados por deficiência de energia e proteína (alimentação deficiente qualitativa e quantitativamente) ou por problemas de saúde (parasitismo, doenças infecciosas ou ingestão de plantas tóxicas).

Os principais sintomas gerais que indicam a ocorrência de deficiências minerais no rebanho são, conforme Veiga & Láu (1998):

Apetite depravado - Os animais comem terra, pano e plástico; roem e ingerem ossos, madeira e casca de árvores; lambem uns aos outros; apresentam avidez por sal de cozinha.

Redução do apetite - Mesmo em pastagens com plena disponibilidade de forragem e de boa qualidade, os animais apresentam baixo consumo, mostrando o ventre sempre vazio (afundado).

Aspecto fraco ou doentio - Os animais ficam magros, com dorso arqueado, pêlos arrepiados e sem brilho, lesões na pele e dificuldade de locomoção.

Anomalias dos ossos - Os ossos longos se tornam curvos e as extremidades dilatadas.

Fraturas espontâneas – Freqüentemente, ocorrem quebraduras ósseas, sobretudo quando os animais são manejados, evidenciando fraqueza do esqueleto.

Anomalias da pele - Despigmentação e perda de pêlo e desordem da pele, como ressecamento e descamação.

Baixo crescimento e produtividade - O crescimento dos animais jovens é retardado, o ganho de peso é baixo ou negativo (perda de peso) e a produção leiteira é prejudicada.

Baixa fertilidade - Rebanhos com carência mineral apresentam uma reduzida fertilidade das vacas, em face da ocorrência de cios irregulares ou ausentes, abortamento e retenção placentária, resultando em baixa produção de bezerros.

Baixa resistência a doenças - Animais deficientes em minerais são menos resistentes (mais susceptíveis) a doenças e se ressentem mais dos ataques de parasitas internos (vermes).

A Tabela 2 relaciona os minerais considerados essenciais para as espécies domésticas de animais e as suas respectivas funções.


Tabela 2. Macro e microelementos essenciais para as espécies domésticas e
suas funções.
Mineral
Macroelementos
Funções Principais
Cálcio (Ca)


Formação de ossos e dentes; excitabilidade muscular, sobretudo cardíaca; coagulação sanguínea; integridade da membrana; transmissão nervosa; produção do leite.
Cloro(Cl)




Manutenção da pressão osmótica e do equilibrio ácido-básico; transmissão de impulsos nervosos; transportes ativo dos aminoácidos e da glicose em nível celular; principal ânion do suco gástrico como parte do ácido clorídrico; ativação da amilase intestinal.
Magnésio (Mg)


Atividade neuromuscular e nervosa; transferência de energia; participação no crescimento ósseo; participação no metabolismo dos carboidratos; participação no metabolismo dos lipídios.
Fósforo (P)





Formação óssea e dentária; constituição da molécula de DNA e RNA, formação de fosfolipídios; formação da colina; participando assim, na transmissão dos impulsos nervosos; atividade enzimática, sobretudo como coenzima de vários complexos da vitamina B;m foforilação para formação de ATP.
Potássio (K)


Balanço osmótico e hídrico corporal; participação no metabolismo protéico e dos carboidratos; integridade da atividade muscular e nervosa.
Enxofre (S)


Metabolismo e síntese protéica; metabolismo das gorduras e dos carbroidratos; síntese de vitaminas do complexo B.
Microelementos  
Cobalto (Co)


Função antianêmica por ser componente da vitamina B12 e do ácido tólico; metabolismo da glicose; síntese da metionina.
Cobre (Cu)


Ativar enzimático envolvendo o transporte e a transferência de oxigêncio, metabolismo dos aminoácidos e do tecido conectivo.
Iodo (I)
Componente dos hormônios tireoidianos.
Ferro (Fe)
Transporte de oxigênio, e respiração celular.
Flúor (F) Proteção óssea e dentária.
Manganês (Mn)


Integridade da matriz óssea; ativador enzimático, sobretudo no metabolismo dos aminoácidos e dos ácidos graxos.
Selênio (Sn)


Junto com a vitamina E, promove a proteção dos tecidos contra danos oxidativos; componente da enzima glutaticna peroxidase; metabolismo dos aminoácidos sulfurados.
Zinco (Zn)



Ativador enzimático, principalmente nos processos de formação óssea, do metabolismo dos ácidos nucléicos, do processo da visão, do sistema imunológico e do sistema reprodutivo.
Formulação da mistura mineral
É possível se elaborar fórmulas especiais que atendam determinadas condições da pastagem ou do rebanho. Por exemplo, pastagens de solos arenosos ou de cerrado (ou seja em solos fracos) exigem misturas mais concentradas que aquelas de solos mais férteis. De mesma forma, o gado de leite é mais exigente em termos de minerais que o gado de corte.

Qualidade da mistura
A qualidade da mistura está diretamente relacionada à concentração dos minerais mais carentes e, principalmente, dos mais caros. Sendo assim, o que na verdade vai definir a qualidade da mistura na região, é a proporção da fonte de fósforo, o componente mais caro e um dos que devem entrar em maior proporção na mistura.

Tomando por base o fósforo, uma mistura considerada boa para a região deve conter de 7% a 10% daquele elemento, ou seja, 70 a 100 g de fósforo por quilograma do produto final.

O sal comum ou sal de cozinha, de custo relativamente baixo, é dosado na fórmula para cobrir as necessidades de sódio e cloro e também para servir como estimulador do consumo da mistura como um todo, já que a maioria dos
ingredientes minerais é pouco palatável.

Os microelementos, por constituírem a fração menor e menos dispendiosa da
mistura e, por muitas vezes, serem bastante deficientes nas pastagens regionais, devem ser dosados para suprir até 100% das exigências animais, independente da composição da forragem consumida.

Adição de vermífugos e outros suplementos

De modo geral, não é aconselhável utilizar a mistura mineral como veículo para
administração de remédios e aditivos alimentares, por várias razões. Por exemplo, os vermífugos necessitam ser aplicados em épocas definidas (início e fim da estação chuvosa e terço final da estação seca), enquanto a mistura mineral é fornecida de maneira contínua. Além disso, os vermes são combatidos com doses específicas, conforme o peso dos animais, e não em dose qualquer.

A adição de uréia ao sal mineral poderia ser admitida em condições bastante
restritas, onde seja possível um cuidadoso controle do consumo para evitar risco de intoxicação do gado, inclusive obedecendo a um período bastante rígido de adaptação. Em face desses problemas, não se aconselha adicionar uréia ao sal mineral.

No mercado local, existem alguns concentrados minerais enriquecidos com as
vitaminas A, D e E, vendidos a preços bastante elevados. Do ponto de vista
nutricional, o complemento dessas vitaminas, nas condições regionais de forragem verde e luz solar, disponíveis durante o ano todo, não parece se justificar na prática.

Requerimentos minerais do animal

Vários fatores determinam a quantidade de minerais exigida pelos animais,
como tipo de exploração (gado de cria, de corte ou de leite), nível de produção,
idade, teor e forma química dos elementos nos ingredientes, inter-relações com
outros minerais, consumo da mistura mineral, raça e adaptação animal
(McDowell et al. 1983). Apesar das pastagens apresentarem um menor teor de
minerais durante a estação seca (verão), tem sido observado que deficiências
minerais específicas são mais severas na estação chuvosa (inverno), no qual o
ganho de peso é estimulado pela boa disponibilidade de proteína e energia,
elevando os requerimentos minerais.
Na Tabela 3, se encontram as exigências de minerais e os níveis tóxicos
sugeridas pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA (NRC) para bovinos de corte.

Compostos inorgânicos de origem geológica ou industrial são comumente utilizados para confecção das misturas minerais a fim de suplementar os minerais deficientes na pastagem. Existe uma grande variedade de compostos inorgânicos para essa finalidade e a proporção do composto a ser utilizado depende da biodisponibilidade do elemento. Esse índice, também conhecido como disponibilidade biológica ou valor biológico, é definido como a percentagem do elemento presente no composto, que é absorvida pelo animal (Tabela 3).


Tabela 3. Requerimentos e concentração máxima tolerável de minerais para o
gado de corte.
Elemento Mineral
Unidade
Crescimento
Vacas
Máximo
e terminação
Gestação
Lactação
tolerável
Cálcio (Ca)
%
0,19 - 0,73
0,22 - 0,38
0,43 - 0,77
-
Cloro (Cl)
%
-
-
-
-
Cromo (Cr)
mg/kg
-
-
-
1.000,00
Cobalto (Co)
mg/kg
0,10
0,10
0,10
10,00
Cobre (Cu)
mg/kg
10,00
10,00
10,00
100,00
Iodo (I)
mg/kg
0,50
0,50
0,50
50,00
Ferro (Fe)
mg/g
50,00
50,00
50,00
1.000,00
Magnésio (Mg)
%
0,10
0,12
0,20
0,40
Manganês (Mn)
mg/g
20,00
40,00
40,00
1.000,00
Molibdênio (Mo)
mg/kg
-
-
-
5,00
Níquel (Ni)
mg/kg
-
-
-
50,00
Fósforo (P)
%
0,12 - 0,34
0,16 - 0,24
0,25 - 0,48
-
Potássio (K)
%
0,60
0,60
0,70
3,00
Selênio(Se)
mg/kg
0,10
0,10
0,10
2,00
Sódio (Na)
%
0,06 - 0,08
0,06 - 0,08
0,10
-
Enxofre (S)
%
0,15
0,15
0,15
0,40
Zinco (Zn)
mg/kg
30,00
30,00
30,00
500,00
Fonte: Nacional... (1996).
Disponibilidade biológica das fontes de minerais

A biodisponibilidade relativa dos minerais nas fontes usadas em suplementos é mostrada na Tabela 4.

Utilização de minerais “orgânicos” ou quelatos

O valor biológico da mistura mineral pode aumentar bastante quando os microelementos são administrados na forma de um complexo orgânico ou de quelatos, proteinatos e polissacarídeos, Algumas pesquisas têm mostrado certa vantagem desses produtos em relação às respectivas formas minerais. Porém, a efetiva utilização desses compostos, na prática, vai depender da sua economicidade.

Tabela 4. Percentual de minerais em fontes usadas em suplementos minerais.
Elemento
Fonte
% do elemento na fonte
Biodisponibilidade
Cálcio












Fosfato de rocha desfluorizado
29,2 (19,9-35,7)
Intermediátia
Carbonato de cálcio
40,0
Intermediária
Fosfato mole
18,0
Baixa
Calcário calcítico
38,5
Intermediária
Calcário dolomítico
22,3
Intermediária
Fosfato monocálcico
16,2
Alta
Fosfato tricálcico
31,0-34,0
-
Fosfato bicálcico
23,2
Alta
Fenos em geral
-
Baixa
Sulfato de cálcio
20,0
Baixa
Fósforo










Fosfato de rocha descluorizado
13,1 (8,7-21,0)
Intermediária
Fosfato de cálcio
18,6-21,0
Alta
Fosfato bicálcico
18,5
Alta
Fosfato tricálcico
18,0
-
Ácido fosfórico
23,0-25,0
Alta
Fosfato de sódio
21,0-25,0
Alta
Fosfato de potássio
22,8
-
Fosfato mole
9,0
Baixa
Enxofre








Sulfato de cálcio (gesso)
12,0 -20,1
Baixa
Sulfato de potássio
28,0
Alta
Sulfato de magnésio e potássio
22,0
Alta
Sulfato de sódio
10,0
Intermediária
Sulfato de sódio anidro
22,30
-
Flor de enxofre
96,0
Baixa
Sulfato de amônio
24,0
Alta
Potássio



Cloreto de potássio
50,0
Alta
Sulfato de potássio
41,0
Alta
Sulfato de magnésio e potássio
18,0
Alta
Cobalto



Carbonato de cobalto
46,0-55,0
-
Sulfato de cobalto
21,0
-
Cloreto de cobalto
24,7
-
Cobre




Sulfato de cobre
25,0
Alta
Carbonato de cobre
53,0
Intermediária
Cloreto de cobre
37,2
Intermediária
Óxido de cobre
80,0
Baixa
Ferro




Nitrato de ferro
33,9
Intermediária
Óxido de ferro
46,0-60,0
Não-disponível
Carbonato de ferro
36,0-42,0
Baixa
Sulfato de ferro
20,0-30,0
Alta
Iodo




Iodato de cálcio
63,5
Alta
Iodato de potássio estabilizado
69,0
Alta
Iodeto de cobre
66,6
Alta
Etilenodiamino dihidroiodeto
80,0
Alta
Manganês

Sulfato de manganês
27,0
Alta
Óxido de manganês
52,0-62,0,0
Intermediária
Selênio

Selenato de sódio
40,0
Alta
Selenito de sódio
45,6
Alta
Zinco




Carbonato de zinco
52,0
Alta
Cloreto de zinco
48,0
Intermediária
Sulfato de zinco
22,0-36,0
Alta
Óxido de zinco
46,0-73,0
Alta
Misturas múltiplas
Além das misturas minerais tradicionais, existem no mercado misturas minerais
múltiplas (sal proteinado) que são suplementos minerais que contêm uma fonte
protéica (ou uréia), uma fonte energética e vitaminas.

Essas misturas podem ser utilizadas durante o período de lactação, cujas necessidades minerais, protéicas e energéticas são maiores, ou durante o período seco, em que a disponibilidade de alimento é reduzida e de baixa qualidade nutricional.

Todos os tipos de misturas minerais, múltiplas ou não, exigem cuidados. As
misturas que contêm uréia exigem uma adaptação do animal com a mistura
para se evitar um processo de intoxicação. As demais misturas, sobretudo as
múltiplas, requerem atenção especial no processo de armazenamento, evitandose a umidade excessiva, a chuva, e o sol.

Avaliação de misturas (fórmulas) minerais

Visando subsidiar os produtores na avaliação qualitativa e quantitativa dos suplementos minerais disponíveis no mercado, as empresas fabricantes, por lei, são obrigadas a exibirem nas embalagens dos produtos a garantia de concentração dos elementos constituintes das misturas. Isso é feito em grama (g) para os macroelementos e miligrama (mg) para os microelementos, por quilograma (kg) do produto comercializado. A apresentação do teor de flúor também é exigida, pela toxicidade desse elemento, servindo para avaliar a qualidade da fonte de fósforo usada.

Considerando-se a sua importância biológica e o seu elevado custo, o fósforo é um dos mais importantes critérios de comparação das misturas minerais. Para as condições das pastagens tropicais, consideram-se aceitáveis, em misturas prontas para uso, concentrações de fósforo entre 70 a 100 g por quilograma do produto.
No entanto, quanto maior for a participação do sódio (Na) ou do cloreto de sódio (Na Cl) ou sal de cozinha, que expressam a parte mais barata das fórmulas, menor deverá ser o seu preço.

Com respeito aos outros elementos, especialmente os microelementos, deve-se ficar alerta com o seu potencial em atender às exigências diárias dos animais, o que vai depender, principalmente do seu conteúdo, do conteúdo de sal de cozinha (cujo aumento restringe o consumo da mistura) e do tipo de fonte de fósforo e cálcio, das quais algumas inibem o consumo, como os fosfatos naturais.
Também é exigida a relação de todas as fontes dos elementos minerais que
constituem a fórmula comercializada. A utilização pelos animais das fontes de um mesmo elemento (ou seja, a sua biodisponibilidade) pode variar grandemente e afetar a qualidade da mistura.

No caso dos concentrados minerais, que exigem uma diluição geralmente no sal de cozinha antes de seu fornecimento, a concentração dos constituintes é base para a avaliação do custo do produto. Porém, a análise de seu potencial biológico só será possível após realizada a diluição recomendada pelo fabricante, quando então, os mesmos critérios usados para as misturas prontas deverão ser aplicados.

Fornecimento de minerais ao gado

As formulações minerais são calculadas visando ao suprimento diário das exigências minerais, geralmente por meio de uma mistura única e completa. Por isso, há necessidade de que os animais tenham acesso diário e à vontade à mistura.

Consumo da mistura

Em rebanhos não-acostumados a receber sal mineral, o consumo da mistura nos primeiros dias é geralmente alto. Após os primeiros dias de ajuste, esse consumo se normaliza, ficando em função inversa da proporção de sal de cozinha, considerado como atrativo e regulador do consumo dos outros minerais. Como o apetite do animal por este sal tem um limite, quanto maior a proporção do sal de cozinha, menor será o consumo da mistura. Por exemplo, numa mistura contendo 50% de sal de cozinha, a quantidade diária ingerida por um animal adulto, ficará entre 50 a 60 g, desde que a mistura não contenha farinha-de-osso, ingrediente que tende a aumentar a ingestão.

Existe diferença nas necessidades de minerais do rebanho em função da estação do ano. Dessa maneira, na estação seca, quando a alimentação é deficiente e a suplementação alimentar não é feita, pode-se restringir o fornecimento da mistura, para se evitar um baixo aproveitamento. Na estação chuvosa, onde há exuberância de forragem, os animais devem ter acesso aos minerais à vontade. A freqüência ideal de abastecimento dos cochos não deve ultrapassar 4 dias, para evitar o empedramento da mistura.

Cochos de sal

Como a chuva solubiliza parte dos componentes da mistura, os cochos devem ser devidamente cobertos. Também devem ser em número suficiente e ter uma altura que facilite o acesso dos animais menores. As dimensões devem ser em função do número de animais a ser suplementado, considerando-se um intervalo de abastecimento, de no máximo, uma semana. A soma do comprimento de todos os cochos disponíveis deve ser suficiente para permitir o acesso simultâneo de cerca de 10% dos animais, e que cada animal adulto requer um espaço de 40 a 50 cm de um dos lados do cocho. Dessa maneira, 1 lote de 200 animais requererá um cocho de 4 a 5 m de comprimento ou 2 cochos, cada um com 2 a 2,5 m cada. Dois modelos de cochos são mostrados na Fig. 2.

A melhor localização dos cochos é determinada pelo hábito dos animais,
procurando-se colocá-los nos locais de maior freqüência, para facilitar o consumo.
O piso em torno dos cochos deve ser aterrado e compactado para evitar a formação de atoleiros.

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Fig. 2. Detalhes de cochos cobertos: A - Cocho sem proteção lateral, B - Cocho com proteção lateral e C - Seção lateral do compartimento.