domingo, 27 de dezembro de 2015

Manejo Reprodutivo de bovinos de corte: matrizes

(*) por Gustavo Melo e Vitoriano Neto, médicos veterinários da Equipe Rehagro
 
 

A Inseminação Artificial (IA) foi a primeira ferramenta capaz de atuar diretamente na multiplicação de animais melhorados geneticamente. E foi também o primeiro passo para acelerar a transmissão de genes considerados superiores relacionados a características de interesses econômicos. Porém, com tempo, foram observados problemas relevantes nessa ferramenta, tais como falhas na identificação de cio. Mas porque isso seria limitante? Faltava treinamento e experiência em relação a mão de obra?
Sem dúvida, no início, sim, mas com o desenvolvimento de novas pesquisas voltadas à IA, descobriu-se alguns fatores altamente relevantes, que ajudariam a limitar o uso dessa ferramenta. O estro (cio) curto das vacas zebuínas (Bos indicus), em relação às vacas taurinas (Bos taurus) e a manifestação do estro em períodos noturnos, citados por BÓ et al. (2003) e BERTAN et al. (2006), respectivamente, aliados à característica de anestro pós-parto desse grupo genético, sem dúvida demonstraram uma lacuna importante nesse processo.
 
A partir daí, uma das formas encontradas para melhorar os índices reprodutivos foi o desenvolvimento de protocolos de indução de estro e sincronização da ovulação, para assim possibilitar a inseminação artificial em tempo pré-determinado, sem necessidade então de observar e identificar o cio.
 
Além dessa grande vantagem, estudos de Baruselli et al (2002) demonstram que a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) possibilita que as prenhezes ocorram no início da estação de monta, assim diminuído o período de serviço e aumentando a eficiência reprodutiva do rebanho.
 
Essa ferramenta possibilita que a vaca conceba mais cedo e, consequentemente, produza bezerros mais cedo. Este fator gera aumento do peso à desmama e melhor resultado financeiro devido ao maior número de arrobas produzidas.
 
Atualmente, muitos produtores tratam todas as categorias de matrizes com IATF. Para vacas solteiras e novilhas, embora os resultados de prenhez não sejam muito consistentes, as vantagens da IATF relacionam-se diretamente às falhas na detecção de cio e no envolvimento da mão de obra para tal fim. Já nas categorias de vacas multíparas e primíparas, além de minimizar o envolvimento de funcionários e as falhas na observação de cio, favorece um possível reestabelecimento da ciclicidade, decorrente do anestro fisiológico pós-parto.
 
Porém, para realizar a inseminação artificial, o produtor rural deve estar atento ao estado nutricional de suas matrizes. Uma forma de se fazer isso é avaliar o Escore de Condição Corporal (ECC).
 
O ECC é uma avaliação subjetiva que apresenta alta correlação com espessura de gordura subcutânea. Apesar de subjetiva, esta avaliação utiliza alguns parâmetros científicos que verificam as quantidades de gordura e músculos em determinadas regiões do corpo do animal. As principais regiões avaliadas são costelas, processos transversos da coluna vertebral, processos espinhosos da coluna vertebral, flanco, ossos do íleo, base da cauda, sacro e as vértebras lombares.
 
Esse escore pode ser classificado em uma escala de 1 a 5, onde 1 é o estado de uma vaca desnutrida muito magra, e 5 o estado de uma vaca muito gorda. (Figura 1).
 
Escore de condição corporal

Figura 1 - Escore corporal de vacas de 1 a 5. Fonte: Wildman, et al., 1982

Nessa classificação, é desejável manter as vacas entre os escores 3 e 3,5. Porém, observando  a sazonalidade brasileira de produção de forragem, a condição média encontrada na maioria das fazendas é inferior a 3.
 
Para atingir bons resultados de concepção (40-60%) com a utilização da IATF, as matrizes devem encontrar-se com escore maior ou igual a 2,5. Porém, se a propriedade possui fêmeas em estação de monta com condição corporal inferior, recomenda-se que o técnico faça, juntamente com o produtor, uma análise diferenciada, considerando os valores gastos para emprenhar uma vaca magra (utensílios de reprodução, hormônios, sêmen e valor do bezerro desmamado) e as baixas taxas de concepção. Uma boa referência foi apresentada por Vasconcelos (2008), em estudos com novilhas e primíparas. Neste estudo foi observado que com a queda de cada 0,25 no ECC, a taxa de concepção cai 6 pontos percentuais em média. Assim, o resultado financeiro dos lotes de fêmeas com pior escore corporal será, sem dúvida, abaixo dos lotes de melhor condição corporal.
 
O produtor pode iniciar os protocolos em vacas com melhor escore corporal a partir de 30 dias pós-parto, pois estas já estarão aptas no dia da inseminação. É recomendado alocar as vacas mais magras após as de melhor condição corporal, a fim de permitir que as mesmas consigam recuperar o estado nutricional.
 
Fonte: Rural Centro

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