(*) por Gustavo Melo e Vitoriano Neto, médicos veterinários da Equipe Rehagro
A Inseminação Artificial (IA) foi a
primeira ferramenta capaz de atuar diretamente na multiplicação de
animais melhorados geneticamente. E foi também o primeiro passo para
acelerar a transmissão de genes considerados superiores
relacionados a características de interesses econômicos. Porém, com
tempo, foram observados problemas relevantes nessa ferramenta, tais como
falhas na identificação de cio. Mas porque isso seria limitante? Faltava treinamento e experiência em relação a mão de obra?
Sem dúvida, no início, sim, mas com o
desenvolvimento de novas pesquisas voltadas à IA, descobriu-se alguns
fatores altamente relevantes, que ajudariam a limitar o uso dessa
ferramenta. O estro (cio) curto das vacas zebuínas (Bos indicus), em relação às vacas taurinas (Bos taurus)
e a manifestação do estro em períodos noturnos, citados por BÓ et al.
(2003) e BERTAN et al. (2006), respectivamente, aliados à característica
de anestro pós-parto desse grupo genético, sem dúvida demonstraram uma
lacuna importante nesse processo.
A partir daí, uma das formas encontradas
para melhorar os índices reprodutivos foi o desenvolvimento de
protocolos de indução de estro e sincronização da ovulação, para assim
possibilitar a inseminação artificial em tempo pré-determinado, sem
necessidade então de observar e identificar o cio.
Além dessa grande vantagem, estudos de Baruselli et al (2002) demonstram que a Inseminação Artificial em Tempo Fixo
(IATF) possibilita que as prenhezes ocorram no início da estação de
monta, assim diminuído o período de serviço e aumentando a eficiência
reprodutiva do rebanho.
Essa ferramenta possibilita que a vaca
conceba mais cedo e, consequentemente, produza bezerros mais cedo. Este
fator gera aumento do peso à desmama e melhor resultado financeiro
devido ao maior número de arrobas produzidas.
Atualmente, muitos produtores tratam
todas as categorias de matrizes com IATF. Para vacas solteiras e
novilhas, embora os resultados de prenhez não sejam muito consistentes,
as vantagens da IATF relacionam-se diretamente às falhas na detecção de cio e no envolvimento da mão de obra para tal fim. Já nas categorias de vacas multíparas e primíparas,
além de minimizar o envolvimento de funcionários e as falhas na
observação de cio, favorece um possível reestabelecimento da
ciclicidade, decorrente do anestro fisiológico pós-parto.
Porém, para realizar a inseminação artificial, o produtor rural deve estar atento ao estado nutricional de suas matrizes. Uma forma de se fazer isso é avaliar o Escore de Condição Corporal (ECC).
O ECC é uma avaliação subjetiva que apresenta alta correlação com espessura de gordura subcutânea. Apesar de subjetiva, esta avaliação utiliza alguns parâmetros científicos que verificam as quantidades de gordura
e músculos em determinadas regiões do corpo do animal. As principais
regiões avaliadas são costelas, processos transversos da coluna
vertebral, processos espinhosos da coluna vertebral, flanco, ossos do
íleo, base da cauda, sacro e as vértebras lombares.
Esse escore pode ser classificado em uma escala de 1 a 5, onde 1 é o estado de uma vaca desnutrida muito magra, e 5 o estado de uma vaca muito gorda. (Figura 1).
Figura 1 - Escore corporal de vacas de 1 a 5. Fonte: Wildman, et al., 1982
Nessa classificação, é desejável manter as vacas entre os escores 3 e 3,5. Porém, observando a sazonalidade brasileira de produção de forragem, a condição média encontrada na maioria das fazendas é inferior a 3.
Para atingir bons resultados de concepção
(40-60%) com a utilização da IATF, as matrizes devem encontrar-se com
escore maior ou igual a 2,5. Porém, se a propriedade possui fêmeas em
estação de monta com condição corporal inferior, recomenda-se que o
técnico faça, juntamente com o produtor, uma análise diferenciada,
considerando os valores gastos para emprenhar uma vaca magra (utensílios de reprodução, hormônios, sêmen e valor do bezerro
desmamado) e as baixas taxas de concepção. Uma boa referência foi
apresentada por Vasconcelos (2008), em estudos com novilhas e
primíparas. Neste estudo foi observado que com a queda de cada 0,25 no
ECC, a taxa de concepção cai 6 pontos percentuais em média. Assim, o
resultado financeiro dos lotes de fêmeas com pior escore corporal será,
sem dúvida, abaixo dos lotes de melhor condição corporal.
O produtor pode iniciar os protocolos em
vacas com melhor escore corporal a partir de 30 dias pós-parto, pois
estas já estarão aptas no dia da inseminação. É recomendado alocar as
vacas mais magras após as de melhor condição corporal, a fim de permitir
que as mesmas consigam recuperar o estado nutricional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário