domingo, 25 de maio de 2014

Seleção para precocidade em bovinos de corte: uso de novas tecnologias

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Por Andréa, M. V.1, Bittencourt, T. C. B. S. C. 2, Souza, E. A.3, Moura, E. V. L. 3, Aquino, E. L4

O Brasil possui quase 20% da área agricultável disponível no planeta, e o maior porcentual de área cultivável em relação à sua área total, com quase 70% do território nacional passível de exploração agrícola. A produção de bovinos de corte no Brasil constitui-se em atividade econômica e social muito positiva. Apesar de todos os problemas relacionados com o aparecimento dos focos da febre aftosa, o país continua sendo o segundo maior rebanho de bovinos no mundo, o segundo maior produtor mundial de carne bovina (11% da produção mundial) e o maior exportador mundial de carne, chegando a atingir nos meses de janeiro e fevereiro de 2006 o índice de 205.701 toneladas exportadas tendo um crescimento de 10,12% com relação ao mesmo período do ano passado. (LÔBO, 2003; NEGRELLI, 2006). Entretanto, é sabido que pecuária de corte brasileira ainda não expressou todo seu potencial.
Basicamente existem duas ferramentas a serem trabalhadas quando se tenta tornar a produção animal mais eficiente, o meio ambiente e os animais, sendo o melhoramento genético uma ferramenta poderosa para o incremento da produção animal. Nos últimos anos no Brasil, o melhoramento genético de bovinos de corte vem assumindo importância cada vez maior. Isso tem resultado não só no aumento do número de programas que desenvolvem avaliação genética de diversos rebanhos, mas, também, na maior valorização dos animais portadores de estimativas de Diferenças Esperadas na Progênie (DEPs).
Dentre os objetivos de seleção considerados pelos diversos programas de melhoramento, a precocidade de crescimento e sexual é o grande desafio atual. A diminuição das idades ao primeiro cio, ao primeiro parto e ao abate, resultará de grande impacto na produtividade total, uma vez que haverá redução dos custos de manutenção, aumento da taxa de desfrute, do rendimento e melhoria da qualidade da carne para a comercialização e/ou exportação.
O melhoramento genético de características reprodutivas é um processo complexo e a seleção direta para características ligadas à reprodução é, muitas vezes, difícil de ser aplicada, tornando-se necessário identificar características reprodutivas que sejam facilmente medidas, que apresentam variabilidade genética e que sejam geneticamente correlacionadas aos eventos reprodutivos (Bergmann, 1998). De acordo com Hill (1998), na pecuária com ciclo de produção completo, as características reprodutivas têm um impacto econômico cerca de dez vezes maior do que as associadas ao crescimento.
A puberdade é o período que antecede a vida reprodutiva dos animais domésticos. Para ambos os sexos, a idade à puberdade é uma característica indicadora da precocidade sexual dos animais. É caracterizado pela primeira produção de gametas maduros e início da atividade reprodutiva. Do ponto de vista prático, um animal (macho ou fêmea) atinge a puberdade quando estiver capaz de liberar gametas e de manifestar uma seqüência completa de comportamento sexual. A diminuição da idade à puberdade tem como conseqüências maior intensidade de seleção e diminuição do intervalo de gerações, e conseqüentemente, progresso genético mais rápido, caso os reprodutores sejam animais selecionados geneticamente.
Existem evidências que a idade à puberdade pode ser reduzida através da seleção genética. Atualmente os programas de melhoramento estão priorizando as características reprodutivas das fêmeas visando o aumento da produtividade da pecuária nacional, sendo sua contribuição para um produtor comercial de fundamental importância, pois delas dependem o número de bezerros desmamados por ano.
Para verificação da idade à puberdade são necessárias palpações retais, ultra-sonografia ou dosagens hormonais e a utilização de rufiões com marcadores por longo tempo. Requer ainda, a exigência de acompanhamento de muitas fêmeas ao mesmo tempo, o que tornado tal controle difícil, mas não impraticável. Tais fatores levam os produtores a considerar a idade ao primeiro parto como a característica indicadora do início da atividade reprodutiva das fêmeas. Entretanto, devido a prática de estações de acasalamento em períodos curtos e específicos do ano, algumas fêmeas que apresentam cios em idade não conveniente ao esquema adotado, não são colocadas em reprodução. Desta forma não se tem informações precisas a respeito do início da suas vidas reprodutivas.
Outra desvantagem é o tempo utilizado para a expressão da característica. Com algumas exceções, a idade ao primeiro parto nas raças zebuínas é elevada, gerando uma situação de atraso nas regiões tropicais. Face às dificuldades operacionais para implementação de programas de seleção para idade à puberdade, torna-se importante a utilização de características indicadoras de precocidade sexual, que tenham variabilidade genética adequada, que sejam de mensuração fácil e econômica, e que tenham correlação genética favorável com idade à puberdade e outras características economicamente importantes (Bergmann, 1998).
O sucesso de um programa de melhoramento depende fortemente do uso de linhagens com desempenho superiores e adaptados às condições ambientais. Na inexistência de material genético superior não é possível obter alta produtividade e qualidade de produto. Desta forma o melhoramento tem tido papel fundamental no desenvolvimento da pecuária gerando animais com características de forte interesse econômico.
Algumas metodologias para alcançar estes objetivos têm sido constantemente perseguidas pelo melhoramento animal, destacando-se o uso de marcadores de DNA ou moleculares que vem recebendo cada vez mais atenção, tanto de pesquisadores como de empresas e produtores. Marcadores são as características do DNA que diferenciam dois ou mais indivíduos e são herdadas geneticamente.
Os distintos tipos de marcadores moleculares disponíveis se diferenciam pela metodologia utilizada para revelar a variabilidade do DNA, diferenciando-se quanto à habilidade de detectar diferenças entre indivíduos, custo, facilidade de uso, consistência e repetibilidade. Os marcadores têm mostrado alguns loci que afetam as características qualitativas e quantitativas, evidenciando genótipos superiores em animais de interesse zootécnico e possibilitando acessar diretamente o genótipo de um individuo.
Assim sendo, usam-se técnicas que detectam os polimorfismos associados a genes sabidamente importantes para a característica que se pretende estudar. A abordagem do gene candidato deve ser aplicada quando forem substâncias que interfiram em mecanismos endócrinos ou fisiológicos controladores das características de interesse que possuam formas polimórficas, detectáveis por técnicas de genética molecular (Rosa,1997).
Para as características de fertilidade os genes candidatos poderiam ser do eixo hipotalâmico, por exemplo, o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), a ocitocina, o fator inibidor da prolactina (PIF), hormônio folículo (PMSG) e seus respectivos receptores e enzimas das vias de biossíntese (Hafez, 1988). As enzimas reguladoras das vias de biossíntese de hormônios esteróides são importantes reguladoras do ciclo estral e conseqüentemente, representam genes candidatos para fertilidade.
Pesquisas indicam que ovinos da raça australiana Booroola apresentam alta taxa de reprodutiva, atribuída ao gene Fec. Existem dois alelos codominantes envolvidos na característica, de tal modo que os animais homozigotos (Fec+) apresentam taxa de ovulação de 1,5, os heterozigotos (Fec+/FecB) têm média de 2,9 e os homozigotos (FecB) de 4,7. As fêmeas FecB são identificadas pela medida da taxa de ovulação por endoscopia, neste sentido, o trabalho de introgressão desse gene nos rebanhos melhorados é dificultado.
Resultados satisfatórios já foram obtidos (Lanneluc et al., 1994) utilizando o gene Fec, entretanto estes marcadores representam o início para a seleção de outros marcados mais relacionados ao gene Fec. Em suínos foi observada associação entre a variação do tamanho de leitegada e o polimorfismo do gene ESR em diferentes raças (Short e Mc Laren, 1995). Os animais da raça chinesa Meisham apresentam uma forma do gene ESR, que aumenta de 0,8 a 1 leitão por leitegada a cada cópia do alelo, com acréscimo de 1,6 a 2 leitões por leitegada em animais homozigotos.
Com este objetivo, programas de melhoramento tais como o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore – USP, pesquisam a obtenção de marcadores moleculares para precocidade sexual. Entretanto Andréa et al., não constataram associação das variações encontradas pelos diferentes padrões de polimorfismos SSCP (Single Strand Conformation Polymorphism) nos genes da P450 Scc (Side Shain Cleavage) e da Prl (Prolactina) sobre a precocidade sexual, caracterizada pela idade ao primeiro parto em novilhas da raça Nelore.
Os resultados obtidos indicaram a necessidade futura de aproximação dos diferentes haplótipos na tentativa de descobrir genes candidatos envolvidos em variação genética quantitativa em animais de interesse zootécnico. A presença de SNPs (Single Nucleotide Polimorphism) seria um método de abordagem a ser considerado.
No Brasil, trabalhos demonstram que as médias das estimativas de herdabilidade para idade à primeira cria de animais zebuínos variam de 0,41 (Ayala, 1990) a 0,25 (Mercadante, 1996). Essas informações mostram a existência de possibilidades de resposta à seleção. A idade ao primeiro parto e a idade à puberdade apresentam correlação genética, assim obtém-se melhoramento da precocidade sexual quando se seleciona para idade ao primeiro parto (Bergmann, 1998). A idade ao primeiro parto pode ser utilizada como critério de seleção para precocidade sexual, e pode apresentar maior resposta em populações nas quais as fêmeas entram na estação de monta em torno dos 14 meses de idade (Pereira et al., 2002).
De grande relevância econômica, a seleção para precocidade sexual pode ser obtida apesar das dificuldades em sua implantação. Os trabalhos com marcadores moleculares estão apenas iniciando, muitos loci deverão ser ainda mapeados e os genes correspondentes com suas seqüências poderão ser identificados e estudados nos próximos anos. A ferramenta fornecida pela revolução do DNA esclarecerá, sem dúvida, a resposta da biologia das características de interesse econômico. O uso todas as tecnologias visando o melhoramento animal estão sendo aplicados nos rebanhos disponibilizando ao mercado consumidor, produtos de melhor qualidade a um menor custo.
Referências bibliográficas
ANDRÉA, M. V. et al., Evidence of polimorphism association en the genes p450 side chain cleavage and prolactin with puberty in heifer´s nelore. In: III Congresso Internacional sobre Mejoramiento Animal, el I Congreso Internacional de Ganadería Sostenible y el I Congreso Internacional de Produccion Animal, 2005, Habana.
AYALA, J. M.N. Efeitos genéticos e não genéticos sobre as características reprodutivas ponderais de duas populações de bovinos da raça Nelore. 1990. 149 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. 1990.
BERGMANN, J.A.G. Indicadores de precocidade sexual em bovinos de corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE RAÇAS ZEBUÍNAS, 3. 1998, Uberaba, Anais. Uberaba: ABCZ, 1998. p. 145-155.
HAFEZ, I.S.E. Reprodução animal. 4. ed. São Paulo: Manole, 1988. 720 p.
HILL, I. D. Reprodução com metas de precocidade marca o programa da Jacarezinho. Pec. Corte, p. 19-26. 1998.
LANNELUC, I.et al. Genetic markers for the Booroola fecundity (Fec) gene in sheep. Mammalian Genome, v. 5 ,p. 26, 1994.
LÔBO, R. B. et al. Avaliação genética de animais jovens, touros e matrizes. Ribeirão Preto: USP/FMRP/GEMAC/Departamento de Genética, 2002. 76p.
MDIC/BeefPoint – Otavio Negrelli. Disponível em: . Acesso em 17 mar. 2006.
MERCADANTE, M.E.Z.; LÔBO, R.B.; REYES, A. et al. Estudo genético-quantitativo de características de reprodução e produção em fêmeas da raça Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33, 1996, Fortaleza. Anais… Fortaleza: SBZ, 1996. p. 155-157. Resumo.
PEREIRA, E.; ELER, J. P.; FERRAZ, ,J. B. S. Análise genética de características reprodutivas na raça Nelore. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.37, n.5. p.  maio 2002.
ROSA, A J. R. Caracterização da raça Nelore e teste de paternidade por marcadores moleculares. 1997.114f. Dissertação (Mestrado) Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.
SHORT, T.H.; McLAREN, D.G. Hal – 1843, the ESR gene test and beyond: the future of marker assisted selection in pig breeding. American Association of Swine Proctitioners, v. 133, p. 1995

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