domingo, 22 de novembro de 2015

Passo a passo para produção de silagem

Engenheiro agrônomo ensina a escolher sementes de milho e sorgo, preparar o solo, fazer picagem e compactação do volumoso

 

No Brasil, a oferta sazonal de pasto faz com que o produtor precise se preparar para alimentar o rebanho na época da seca. Rica em energia, a silagem entra como complemento à dieta animal baseada também em proteína. O milho e o sorgo, além do capim, são as principais fontes de matéria verde quando o verão se encerra. Explorando o processo que vai da escolha da semente à compactação desses dois grãos, o engenheiro agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo, Diego Oliveira Carvalho, ensina como obter um volumoso de qualidade para nutrir o gado.

Preparo do solo – Quanto ao plantio e preparo do solo, a produção de silagem não difere em nada da de grãos. “Boa fertilidade reflete em produtividade e o mais recomendado é realizar o plantio direto”, afirma Carvalho. Uma análise do solo indica se é necessária a aplicação de gesso ou calcário. A correção da área também pode ser feita em paralelo para facilitar o trânsito das colheitadeiras. Com adubação e correção do solo em dia, é hora de escolher as sementes.

Sementes – Pensando em oferecer maior grau de digestibilidade para o animal, as empresas produtoras de sementes destinam à produção de silagem os grãos com textura mais macia. Gerente da Embrapa Produtos e Mercados, Reginaldo Resende, pontua que a avaliação de cultivares de milho e de sorgo apropriadas para a produção de silagem teve início na safra passada. Hoje, as cultivares de milho distribuídas pela Embrapa são as variedades BRS 4103 e BRS Caimbé, os híbridos BRS 3040, BRS 2022 e HTMV1. Já de sorgo foram disponibilizados a variedade BRS Ponta Negra e o híbrido BRS 655 – este último foi destaque por sua alta qualidade, com produção de 17.404 quilos de leite por hectare e 944 quilos de leite por tonelada de matéria seca ingerida.

Milho ou sorgo? – De acordo com Diego Carvalho, a boa silagem de sorgo apresenta valor nutricional equivalente ao do milho, com um desempenho que não varia em mais de 10%. A principal diferença entre as duas culturas se dá quanto à uniformidade de amadurecimento dos grãos e resistência à seca.

“O milho tem a vantagem de amadurecer de uma só vez, sendo fácil atestar o momento certo para a colheita”, explica o engenheiro agrônomo. Uma dica prática para não errar no ponto é espremer o grão entre os dedos e ver se ele está com textura de leitoso para farináceo, começando a endurecer. Carvalho também diz para o produtor ficar atento à linha do leite quando quebrar a espiga ao meio. “O ponto de colheita é entre o estágio farináceo e de ¾ dessa linha, quando o teor de matéria seca é de 30% a 35%.”

Os grãos de sorgo, por sua vez, não amadurecem ao mesmo tempo na panícula. O processo acontece da ponta para a base. “A textura e a umidade dos grãos que ficam ao meio dela acompanham o princípio do ponto de colheita do milho, entre leitoso e farináceo. A diferença é que quando você observar essa característica no sorgo deve esperar ainda de dois a três dias para iniciar a colheita, dando tempo para os grãos amadurecerem de um lado a outro”, afirma Carvalho. Na dúvida, ele diz para iniciar a colheira antes porque grãos duros demais prejudicam o processo de compactação. Quanto à resistência à seca o sorgo apresenta vantagens. “Por ter um sistema radicular mais abrangente e profundo, a planta tem maior capacidade de hidratação, e sua camada cerosa no colmo diminui a perda de água por evapotranspiração.”

Picagem – Em relação ao tamanho das partículas, o especialista recomenda que tenham entre 0,5 e um centímetro. Além de ajudar com a compactação, isso aumenta o aproveitamento dos nutrientes pelo gado. “Hoje, com os sistemas corn-cracker, você aumenta a probabilidade de o grão ser digerido pelo animal porque, dependendo do tamanho da partícula, ele passa direto pelo trato digestivo.” Conferir a distância entre a faca e contra-faca das picadoras é outro cuidado que deve ser tomado pelo menos duas vezes ao dia durante o processo. A recomendação é de que ela não passe de cinco milímetros para garantir o tamanho mínimo das partículas.

Compactação – Talvez a parte mais importante do processo de produção da silagem, a compactação é a etapa em que se confirma a qualidade do alimento que será destinado ao gado. Seu objetivo é eliminar todo o oxigênio entremeado no volumoso para aumentar a eficiência da fermentação que produz o ácido lático responsável por conservar a matéria orgânica. “O milho e o sorgo, naturalmente, apresentam bactérias que dão conta desse processo, mas não raro os produtores colocam na mistura aditivos que são nada mais do que concentrados desses microorganismos.”

Segundo Diego, o baixo custo dos aditivos faz com que essa prática se perpetue, embora já tenha se provado dispensável. A compactação recomendada tanto para o milho quanto para o sorgo é de 600 kg/m³.
A escolha pela ensilagem em trincheiras também facilita o procedimento, uma vez que as paredes feitas de alvenaria ajudam a impedir a entrada do ar. Nesse casos, sucessivas camadas de 20 centímetros de volumoso podem ser compactadas pelo vaivém de tratores.

A ensilagem superficial é mais econômica e para sua cobertura o mais indicado é usar lonas plásticas que tenham uma face branca e outra preta. Embora grossas e resistentes, elas devem ser cobertas ainda por uma camada de terra de 10 a 15 centímetros para evitar a formação de bolsões de ar. Pedras podem ser colocadas nas bordaduras para segurar melhor a lona e uma cerca é sempre bem-vinda para evitar a aproximação de animais.

Conservação  Feito tudo dentro dos parâmetros indicados, o silo ganha vida longa, podendo alimentar o rebanho por anos consecutivos. O sinal de que tudo correu bem é sentido na temperatura do volumoso. “Colocando a mão na silagem o produtor deve reparar que a mistura não é nem fria nem quente, acompanhando a temperatura ao redor.”
Segundo o Carvalho, na última safra, a Embrapa observou na região de Minas Gerais variadas faixas de produtividade da silagem de milho. Enquanto algumas fazendas produziram 16 toneladas por hectare, com custo médio de R$ 140 a tonelada, outras alcançaram a marca de 45 toneladas por hectare, a R$ 40. “Tudo depende de como se faz a gestão da propriedade. O produtor precisa colocar os custos na ponta do lápis, comprar os insumos na entressafra, ter uma boa lavoura e baratear a produção investindo no manejo adequado”, diz Diego Carvalho.

Fonte: Portal DBO

 

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