domingo, 21 de fevereiro de 2016

Desmama precoce melhora concepção das primíparas

Estudo trouxe resultados de prenhez de 91% 

 

No Pantanal, a pecuária extensiva ainda se faz presente, e uma vez que os animais estão soltos em grandes áreas fica mais difícil fazer seu manejo. Na contramão dos longos ciclos para produção de bezerros – que, em geral, são desmamados tardiamente – surgem iniciativas que almejam mudar o rumo dessa história. Exemplo disso é uma pesquisa da Embrapa Pantanal que já leva cinco anos e estimula a desmama precoce (DP), principalmente entre primíparas.
Na estação de monta de 2014/2015, a taxa de prenhez entre esse grupo foi de 91% na Fazenda São Bento, em Miranda (MS), local onde está sendo conduzido o estudo. “Esse é um índice considerado muito bom em qualquer sistema de cria. Para o Pantanal, é excepcional”, afirma Ériklis Nogueira, pesquisador da Embrapa Pantanal. Normalmente, a taxa de prenhez entre as primíparas costuma ficar na casa de 30 a 40%.
Segundo resultados obtidos com os experimentos, a taxa de prenhez do rebanho precisa aumentar pelo menos 15% para a técnica ser economicamente viável. “Nos trabalhos avaliados, o  aumento foi maior, de 16 a 21%, o que proporcionou ganhos expressivos”, completa. A taxa de prenhez do rebanho da fazenda foi de 78% na última estação de monta. 
Conhecidas por derrubar a taxa de concepção nas propriedades, as primíparas são animais em fase de desenvolvimento que enfrentam um grande desafio para emprenhar pela segunda vez. Isso acontece porque precisam canalizar a energia adquirida com a alimentação para a sua mantença, incremento de peso e aleitamento do bezerro fruto de sua primeira gestação. Com a desmama precoce, a recuperação delas para a estação de monta seguinte é facilitada. Sem a necessidade de aleitar, apresentam melhora nas taxas reprodutivas e na condição corporal, permitindo alcançar um cio pós-parto mais rápido.
Além de aumentar a taxa de prenhez, o mais importante é que a DP não afete o peso do bezerro à desmama. Bezerro esse que fica sem leite mais cedo e, por isso, recebe trato em creep feeding. “Na última safra, o peso dos bezerros desmamados precocemente (aos 107 dias) chegou a 171 kg quando atingiram a idade de sete meses”, afirma Ériklis. O custo da suplementação da desmama precoce, dos 90-100 dias até os 205 dias, foi de R$ 150/ animal. “Assim, os bezerros submetidos à DP tiveram desempenho equivalente aos bezerros desmamados convencionalmente”, diz.
De acordo com Ériklis, nos experimentos, o retorno sobre o investimento foi de 1.70. Ou seja, para cada R$ 1 investido, o sistema intensificado proporcionou retorno de R$ 1,70. Não foram considerados custos com infraestrutura. 
Abaixo, a tabela traz um programa alimentar para bezerros submetidos à desmama precoce considerando seus primeiros 365 dias de vida:

Fase Condição Período Idade Produto  Consumo/animal
Amamentação - 45 dias
45 dias - -
Estímulo opcional 55 dias 110 dias Ração com estimulantes de consumo¹ 0,150 a 0,300 kg
Desmama obrigatória 15 dias 125 dias Ração com aditivos anti-stress² 0,300 a 0,800 kg
Pós desmama obrigatória 120 dias 245 dias Ração 0,800 a 1,600 kg ³
Seca recomendável 120 dias 365 dias Mistura proteica e energética 0,600 a 0,900 kg
¹Ração com estimuladores de consumo – esta é uma fase de difícil consumo, principalmente se a oferta de leite da vaca for suficiente, sendo necessária a adição de palatabilizantes para estimular o consumo. Produtos apresentados na forma extrusada e/ou peletizada podem proporcionar melhores resultados.
²Ração com aditivos anti-stress – compostos minerais orgânicos (quelatados) como o cromo, o zinco e o selênio, assim como de vitaminas, podem ajudar na redução do stress e da melhoria das condições imunológicas do animal.
³Consumo – dependente de fatores como a qualidade da forragem disponível, a composição e indicação do fabricante.

 
Balanço dos resultados
De 2011 para cá, a pesquisa trouxe algumas conclusões. Em artigo publicado sobre o assunto, Ériklis e a equipe responsável pelo estudo apontam que o maior benefício da desmama precoce é o aumento dos índices de concepção e gestação das matrizes. “Nesse sentido é necessária a solução da equação entre a idade mínima/ideal de desmama na propriedade, a data de parto e o tempo de duração da estação de monta. Nem sempre a desmama precoce é a melhor opção para vacas com parto no final da estação, em virtude do pequeno intervalo de resposta para elevação dos índices de concepção, sendo alternativas como o controle de mamadas e a melhoria do [escore de condição corporal] ECC ao parto, mais interessantes para esta classe de matrizes”, diz o documento. Outro aspecto importante de avaliar é a qualidade das pastagens, pré-requisito para o sucesso da estratégia, segundo o grupo. 
Feita de forma planejada, na Fazenda São Bento a desmama precoce também não é direcionada a todas as matrizes. “Trabalhamos a técnica em lotes de primíparas, vacas de ECC mais baixo e em vacas vazias após IATF, ressincronização ou repasse de touros”, afirma o pesquisador. 
 
Fonte: Portal DBO

 

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