domingo, 1 de fevereiro de 2015

A cultura do milho na Integração Lavoura - Pecuária

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A cultura do milho (Zea mays) se destaca no contexto da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) devido às inúmeras aplicações que esse cereal têm dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão, silagem), na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente.
Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao seu consórcio com capim. Uma das vantagens é a competitividade no consórcio, visto que o porte alto das plantas de milho exerce, depois de estabelecidas, grande pressão de supressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local. A altura de inserção da espiga permite que a colheita mecanizada seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem mais alta da plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se isso à disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao milho, é possível obter-se resultados excelentes com o consórcio milho + capim, como, por exemplo, no sistema Santa Fé.
A cultura do milho também possibilita trabalhar com diferentes espaçamentos. Atualmente, a tendência é reduzir o espaçamento entre as fileiras do milho. Isso vai melhorar a utilização de luz, água e nutrientes e aumentar a capacidade de competição das plantas de milho. No consórcio com forrageiras, a redução de espaçamento tem, ainda, a vantagem de formar um pasto mais bem estabelecido (fechado), quando as sementes da forrageira são depositadas somente na linha de plantio do milho. A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve levar em conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio quanto para a colheita. 

Vantagens da Integração Lavoura-Pecuária
A integração lavoura-pecuária é a diversificação, rotação, consorciação ou sucessão das atividades agrícolas e pecuárias dentro da propriedade rural de forma planejada, constituindo um mesmo sistema, de tal maneira que há benefícios para ambas. Possibilita, como uma das principais vantagens, que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano ou, pelo menos, na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de fibras, de lã, de carne, de leite e de agroenergia a custos mais baixos devido ao sinergismo que se cria entre a lavoura e a pastagem.
Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (SILP), compostos por tecnologias sustentáveis e competitivas, foram e ainda estão sendo desenvolvidos ou ajustados às diferentes condições edafoclimáticas do país, o que tem possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com redução de custos, distribuição de renda e redução do êxodo rural em decorrência da maior oferta de empregos no campo.
Dentre os principais benefícios para o produtor podemos destacar:
(i) diversificação de atividades/produção garantindo maior estabilidade de renda, uma vez que o produtor não fica dependente das condições favoráveis de mercado e ou sujeito à problemas climáticos de apenas um produto, além de possibilitar a obtenção de receitas em diferentes épocas do ano;
(ii) associa o baixo risco da atividade pecuária com a possibilidade de alta rentabilidade da produção agrícola;
(iii) viabiliza a recuperação do potencial produtivo de áreas já desmatas, principalmente pastagens degradadas, aumentando a produção e oferta de grãos, fibras, agroenergia, carne e leite, contribuindo para a redução da pressão por abertura de novas áreas, principalmente na região Amazônica;
(iv) como alternativa para a recuperação de pastagens degradadas, a ILP apresenta viabilidade técnica e econômica, utilizando-se a produção da lavoura (grãos, fibras etc) para cobrir os custos de preparo da área e aquisição dos corretivos e fertilizantes, ficando o pecuarista com a pastagem recuperada;
(v) otimiza a utilização de máquinas, equipamentos, insumos e mão de obra no decorrer do ano, ou seja, as máquinas e funcionários que no período da safra estão ocupados na condução das lavouras, no período da entressafra serão utilizados nas atividades pecuárias;
(vi) redução na incidência de pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras em função da rotação de culturas, baixando os custos de produção (redução da quantidade de defensivos agrícolas e custos de aplicação);
(vii) maior eficiência de utilização de corretivos e fertilizantes aplicados por meio de consorciação e/ou sucessão de culturas/pastagem em uma mesma área, como exemplo o aproveitamento pelas pastagens do adubo residual utilizado na cultura anterior;
(viii) na ILP, com a introdução de capins em determinados períodos nas áreas de lavoura, têm-se a produção de excelente palhada (quantidade e qualidade) para a realização do Sistema de Plantio Direto na palha. O plantio direto possibilita a redução de custos com operações mecanizadas e defensivos, eleva o teor de matéria orgânica no solo, melhora a estrutura física do mesmo elevando a velocidade de infiltração da águas das chuvas e mantém o solo com cobertura vegetal durante todo o ano, protegendo-o da erosão e repercutindo em benefícios ambientais significativos.
Durante as etapas de conversão da propriedade ou parte dela para SILP, o proprietário deverá ir se qualificando, pois o gerenciamento torna-se mais complexo. A maior dificuldade para adoção de SILP, por parte do pecuarista, é seu parque de máquinas geralmente limitado. Por sua vez, o agricultor demandará investimentos consideráveis em cercas e animais. Em razão disso, acordos de parcerias e arrendamentos de terra têm sido uma saída para aqueles que não dispõem de capital para fazer esses investimentos ou não estão dispostos a utilizar as linhas convencionais ou especiais de crédito para SILP que estão sendo implementadas. 

Milho consorciado com forrageiras
Na prática, depara-se com as mais variadas situações em que o produtor tenta reduzir os custos de recuperação ou reforma de seus pastos fazendo plantio de milho + forrageira. Aliás, essa prática é bastante antiga. Por outro lado, é raro aquele que faz implantação de pastagens em áreas agrícolas. Existem para estas duas situações propostas para inserir as propriedades em SILP de tal forma que elas passem a ser mais sustentáveis e competitivas. As tecnologias disponíveis são o Sistema Barreirão, o Sistema Santa Fé e suas variações. Qualquer um desses sistemas é perfeitamente ajustável a qualquer tamanho de propriedade, desde as pequenas, com alguns hectares e que usam a mão-de-obra familiar, até aquelas empresariais com alto nível tecnológico.

Sistema Barreirão
Esse sistema foi desenvolvido na década de 1980 pela Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO). Com ele, foi possível recuperar ou reformar imensas áreas com pastagens degradadas, especialmente no Brasil Central. Ainda hoje ele é usado com essa finalidade servindo como preparação para implantação da ILP no Sistema Santa Fé. Para que o sistema seja implantado, deve ser precedido de uma série de cuidados referentes ao diagnóstico da gleba, à escolha da cultivar de milho e da forrageira, dentre outros.
Primeiramente, deve-se fazer a avaliação do perfil do solo para verificar se há presença de camada compactada ou adensada e conhecer a espessura do horizonte superficial. Nessa etapa, podem ser decididas quais as profundidades de amostragem para caracterização física e química do solo. Normalmente, são realizadas amostragem nas profundidades de 0 cm a 20 cm e 20 cm a 40 cm. Com base nos resultados das análises, fazer a correção da acidez do solo seguindo a orientação de um técnico. É importante que a aplicação do corretivo seja feita pelo menos 60 dias antes do plantio e que ainda haja umidade suficiente no solo, para que o calcário reaja.
O milho é uma espécie exigente em fertilidade do solo, exigindo valores aproximados de pH de 6, Cálcio de 2,2, Magnésio de 0,8, Saturação por Alumínio menor que 20% e Saturação por Bases entre 50% e 55%. Esses níveis são, também, os mínimos necessários para se implantar o Sistema de Plantio Direto (SPD). Além disso, a cultura do milho é mais adaptada a solos anteriormente cultivados, principalmente com soja, quando a cultura expressa melhor seu potencial produtivo. Como cultura de primeiro ano, em solos recém-corrigidos ou após pastagem degradada, os rendimentos de grãos são menores. Assim, o agricultor pode optar pelo plantio de variedade ou híbridos duplos de menor custo.
Em algumas situações, é recomendada adubação corretiva para fósforo e potássio, baseadas na análise de solo e em tabelas de recomendações de adubação. Para adubações de plantio e cobertura, para cada tonelada de grãos a ser produzida, devem ser fornecidos cerca de 24 kg de N, 3 kg de P, 23 kg de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn, 8 g de Cu, 65 g de Mn, 274 g de Fe e 18 g de B. A extração de S pela planta de milho varia de 15 kg a 30 kg ha-1, para produções de grãos em torno de 5 a 7 t ha-1.
A principal característica do Sistema Barreirão é a aração profunda com arado de aiveca. As razões para se usar esse implemento são: fazer o condicionamento físico e químico do solo rompendo camadas compactadas ou adensadas; inverter a camada de solo revolvida para que haja incorporação profunda de corretivos; incorporar em profundidade o banco de sementes de plantas daninhas para que essas não germinem ou tenham a emergência retardada competindo menos com o milho; incorporar o sistema radicular de capins, acelerando a sua mineralização para minimizar a concorrência com o milho pelo nitrogênio.
Na sequência, são tomados os cuidados com a conservação do solo. Como o condicionamento químico não é imediato, ou seja, demanda tempo de reação dos corretivos e fertilizantes, é esperado melhor desempenho das lavouras de milho nos cultivos subsequentes.
Para se obter um bom desempenho da cultura em áreas com pastagem degradada, onde predominam solos ácidos e de baixa fertilidade, fazem-se necessários a correção mínima de acidez e o suprimento de nutrientes adequados. A calagem, nesse caso, pode ser feita antes do período chuvoso que antecede a semeadura (agosto/setembro). O melhor método consiste em aplicar de 60% a 70% do calcário, incorporá-lo superficialmente com grade aradora, arar profundamente (35 cm a 40 cm), aplicar o restante (30% a 40% do corretivo), nivelar/destorroar e semear o milho e a forrageira. Nas demais opções, o calcário pode ser espalhado superficialmente para ser incorporado apenas imediatamente antes da semeadura do consórcio.
No Sistema Barreirão, a determinação da necessidade de calagem para o milho obedece à mesma metodologia e aos critérios utilizados para os cultivos solteiros. Entretanto, deve-se considerar que para solos com alto teor de areia e baixa matéria orgânica, o método de saturação por bases geralmente subestima a quantidade de calcário a ser aplicada. Em geral, isso ocorre com todos os métodos vigentes. Assim, é necessário considerar a cultura a ser implantada, o histórico da área e a experiência local quanto à resposta das culturas aos corretivos de acidez do solo. Para a cultura do milho, a calagem é necessária quando o solo apresentar concentração de Ca2 + Mg2 inferior a 3,0 cmolc dm-3 de solo, na razão aproximada de 3-4:1.
Existem vários relatos de que o processo mais econômico de correção da acidez das camadas superficiais e subsuperficiais do solo é a utilização de uma parte de gesso (sulfato de cálcio) em mistura com calcário. O gesso contém aproximadamente 23% de cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exemplo, só com esse insumo estariam sendo aplicados 115 kg ha-1 de cálcio e 95 kg ha-1 de enxofre, quantidades teoricamente suficientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1 de milho.
Os sulfatos carreiam alguns cátions-base através dos horizontes, corrigindo a acidez e favorecendo o crescimento radicular das plantas em camadas subsuperficiais. Na recuperação de pastagens degradadas, tal qual no Sistema Barreirão, o tempo de reação do corretivo no solo é, em geral, insuficiente, não obedecendo ao período mínimo de 90 dias em condições de solo úmido entre a aplicação e a semeadura da cultura ou da forrageira. Considerando-se que o principal fator determinante da velocidade de reação de um corretivo é o tamanho de suas partículas, o calcário “filler” ou moído pode produzir melhor resultado que o calcário convencional.
Na cultura do milho, embora o teste estatístico não tenha detectado diferenças, houve um acréscimo superior a 1,0 tonelada por hectare de grãos com a utilização do “filler” e diferenças significativas na produção de matéria verde da forrageira B. brizantha (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no número de espigas, na produtividade do milho e na produção de massa verde (MV) de B. brizantha, em solo sob pastagem degradada. Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO. C
Calcário Milho MV da Forrageira   ( t ha-¹)
  Estande (plantas m-² ) Espigas m-¹ Produtividade (Kg ha-¹) 
 3 t/ha de calcário a lanço 5,7a 4,9a 2.283a34,4b
 3 t/ha de “filler” a lanço 5,8a  5,3a 3.348a 44,6ab
 0,3 t/ha de “filler” na linha 5,6a 5,4a 3.360a 50,8a
0,6 t/ha de “filler” a lanço  5,7a 5,4a3.084a  38,6a
Fonte: Oliveira et al. (1996).
Nas colunas, médias seguidas pelas mesmas letras não são significativamente diferentes, segundo o teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade.


No sistema Barreirão, os procedimentos de plantio do milho são os tradicionais. No plantio simultâneo, dependendo da espécie da forrageira, as sementes desta são misturadas ou não ao adubo do milho. É importante cuidar para que a mistura seja feita no dia do plantio e regular a profundidade de deposição do adubo + sementes para maior profundidade, cuidando para que não ultrapasse o limite para que haja emergência das plântulas, o que varia com a espécie. Geralmente, sementes de braquiária podem ser depositadas até 8 cm e de panicum até 3 cm. As sementes do milho geralmente são depositadas a 3 cm de profundidade no solo.
É desejável estabelecer uma ou duas linhas adicionais de forrageira nas entrelinhas do milho para melhor formação da pastagem, o que vai depender do espaçamento e do equipamento de plantio disponível. Existe hoje uma tendência de redução do espaçamento entrelinhas na cultura do milho, principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Várias pesquisas relatam aumento no rendimento de grãos de milho com redução do espaçamento entre fileiras até 0,5 m. Esse comportamento se deve ao fato de que os milhos atuais possuem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. É importante ressaltar que em plantios com espaçamento reduzido deve-se aumentar a densidade de semeadura entre 10% e 15%. Esse plantio em menores espaçamentos, além de possibilitar melhor e mais rápida cobertura do solo, evita a formação de touceiras muito grandes de capim, o que poderá afetar negativamente a qualidade do próximo plantio. Outra possibilidade é o plantio defasado da forrageira em 15 a 30 dias depois da emergência do milho: planta-se o milho solteiro e faz-se o semeio da forrageira juntamente com a adubação de cobertura. 

Outros resultados serão discutidos no Sistema Santa Fé
Em muitos casos, agropecuaristas têm adotado essa tecnologia somente para recuperar ou reformar pastagens. Um programa de adubação de manutenção e de pastejo controlado tem permitido a utilização da nova pastagem por período indeterminado, com alta produtividade. Caso essa programação não seja executada, a nova pastagem se degradará em alguns anos, sendo necessário recuperá-la novamente, conforme já salientado. É regra em ILP que a pastagem não se degrade. Se isso estiver acontecendo, mostra deficiência no planejamento da ILP adotada e que medidas corretivas são necessárias.
Recomendações importantes na implantação do sistema Barreirão:
(i) devido à cultura do milho não ser plenamente adaptada a cultivos de abertura de área ou sob área com pastagem degradada, o potencial de rendimento, no primeiro ano, dificilmente ultrapassa 5 t ha-1;
(ii) para a obtenção de altas produtividades de milho, acima de 6 t ha-1, é recomendável a aplicação dos corretivos de acidez do solo pelo menos um ciclo de chuvas antes da semeadura;
(iii) em áreas recém-desbravadas ou sob pastagem degradada, onde o potencial de produção do milho é menor, a opção por variedade ou híbridos duplos resulta em economia na aquisição de sementes; e
(iv) realização de tratamento de sementes para prevenção de ataque de lagartas e formigas na fase inicial de estabelecimento da cultura.
O Sistema Santa Fé fundamenta-se na produção consorciada de culturas de grãos, especialmente o milho, sorgo ou o milheto com forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria e Panicum, no Sistema de Plantio Direto, em áreas de lavoura com solo parcial ou devidamente corrigido. Nesse sistema, a cultura do milho apresenta grande performance de desenvolvimento inicial, exercendo, com isso, alta competição sobre as forrageiras e evitando redução significativa nas suas capacidades produtivas de grãos.
Os principais objetivos do Sistema Santa Fé são a produção de forrageira para a entressafra e palhada em quantidade e qualidade para o Sistema de Plantio Direto na safra seguinte. O Sistema Santa Fé apresenta grande vantagem, pois não altera o cronograma de atividades do produtor e não exige equipamentos especiais para sua implantação. Através dele, é possível aumentar o rendimento da cultura de milho e das pastagens e, com isso, baixar os custos de produção, tornando a propriedade agrícola mais competitiva e sustentável. Além disso, esse sistema está viabilizando o plantio direto em várias regiões devido à geração de palhada em quantidade adequada. Somam-se a isso alguns benefícios agregados à palhada de braquiária no que diz respeito ao seu efeito supressor de plantas daninhas e de fungos de solo.

Fisiologia das espécies em consórcio
As espécies forrageiras comumente utilizadas apresentam elevadas taxas de crescimento. Por isso, a redução do crescimento das forrageiras deve ser considerada para que o consórcio tenha êxito, com produtividades de grãos equivalentes ao sistema solteiro. Estratégias como retardar a emergência da forrageira, uso de doses reduzidas de herbicidas e populações adequadas das espécies em consórcio são fundamentais para que a área foliar da cultura do milho se sobreponha à das forrageiras ao longo do ciclo. Pesquisas com o Sistema Barreirão mostram que, dispondo as sementes das forrageiras em maiores profundidades (6 a 8 cm), retarda-se em até 13 dias a sua emergência, conseguindo-se uma ampla vantagem do índice de área foliar (IAF) da cultura sobre o da forrageira. No Sistema Santa Fé, o consórcio é geralmente conduzido em solo de média a alta fertilidade e espera-se uma maior competição da forrageira com a cultura. Por essa razão, geralmente, além da semeadura mais profunda da forrageira, em alguns casos, pode haver a necessidade do uso de herbicidas para conter seu crescimento ou plantio defasado, plantando a forrageira alguns dias após o milho.
Um estudo sobre o consórcio de milho com braquiária e com o capim mombaça mostrou que, mesmo com ou sem a aplicação de herbicida para reduzir o crescimento das forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida (TAL) do milho foi maior que a das forrageiras em grande parte do ciclo da cultura. A TAL indica a eficiência fotossintética e, devido ao maior crescimento do milho e o consequente sombreamento que esse exerce nas forrageiras, resultou em uma maior Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) do milho, superando o das forrageiras e tornando o consórcio dessas espécies muito seguro.
A aplicação de herbicida para redução do TCC da braquiária somente é necessária em situações onde o milho não tem um bom desenvolvimento inicial, em casos de baixa fertilidade do solo e em outras situações, tais como: estiagem prolongada no período inicial da lavoura, forte ataque da lagarta-do-cartucho, dificultando o desenvolvimento inicial da cultura etc.
Vários trabalhos realizados com o consórcio milho e forrageiras mostram que, na média, a presença da forrageira reduziu a produtividade em 5%. Contudo, verifica-se que em vários casos não há diferenças significativas entre o milho solteiro e o consorciado. Vale ressaltar que os diferentes resultados estão associados à combinação de vários fatores, como a população da forrageira, a época de sua implantação, os arranjos de plantio, a presença de plantas daninhas, a aplicação de herbicidas, a fertilidade do solo e as condições hídricas. Nos tratamentos onde foram aplicados os herbicidas para reduzir o crescimento da forrageira, as produções foram semelhantes às do milho solteiro, indicando que esse procedimento pode eliminar as perdas no consórcio. A seguir, discutem-se alguns desses fatores e seus efeitos na produção do milho e da forrageira.

Manejos de herbicidas e efeitos no milho e na produção de forragem
No consórcio milho e forrageiras, geralmente as aplicações de herbicidas em pré-emergência afetam o estabelecimento das forrageiras, mesmo naqueles manejos onde o plantio da forrageiras é feito junto com a cobertura nitrogenada (em torno de 20 dias após a emergência do milho). Dessa forma, são usados os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas e do milho. Dentre esses herbicidas, destacam-se o herbicida atrazina e alguns do grupo químico das sulfonilúreas, como o nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium
No consórcio, a atrazina é aplicada nas doses de 1000 a 1500 g i.a./ha em pós- emergência e, nessas doses, somente apresenta controle sobre as dicotiledôneas.
As sulfonilúreas são usadas em pós-emergência, com enfoque no controle de gramíneas e de algumas espécies dicotiledôneas. Já o foramsulfuron atua principalmente sobre gramíneas e o iodosulfuron methyl sodium sobre espécies de folhas largas, estando , assim, disponível no mercado como mistura pronta para a cultura do milho.
O Período Crítico de Competição (PCC) das plantas daninhas ou forrageiras no milho ocorre entre os estádios V5 (5 folhas totalmente expandidas) e V8 ou entre 20 e 40 dias após a emergência. Dessa forma, a aplicação de herbicidas pós-emergentes deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida atrazine (atrazina) deve ser usado na dose de 1500 g i.a./ha (3 L p.c./ha) para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas. O nicosulfuron (Sanson) é recomendado na dose de 4 a 8 g i.a./ha (0,1 a 0,2 L p.c./ha). A dose maior é recomendada quando a forrageira ou plantas daninhas estão em estágios mais avançados (mais de 3 perfilhos). Para o consórcio do milho e panicuns (tanzânia, mombaça e outros), a dose de nicosulfuron não deve ultrapassar a 6 g i.a.ha-1 (0,15 L p.c./ha) devido à sensibilidade dessas espécies aos herbicidas. Para os herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron (Equipe-Plus), recomenda-se dose de 15 + 1 g i.a./ha (0,5 L p.c./ha). Nessas doses, há uma redução do crescimento da forrageira e também das plantas daninhas em torno 40% a 50%, suficiente para a redução da competição com o milho no PCC.
A recuperação da toxicidade da forrageira devida aos herbicidas depende de vários fatores, como as condições hídricas, a fertilidade de solo e o próprio nível de fitotoxicidade da forrageira após aplicação dos herbicidas. Portanto, recomenda-se não aplicar doses acima das indicadas. A consorciação de plantas forrageiras nas entrelinhas da cultura pode auxiliar na supressão da comunidade infestante

Arranjos espaciais da forrageira e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas mostram que os diferentes arranjos testados não afetam o rendimento do milho (Tabela 2). Entretanto, os arranjos afetaram de forma significativa a produção de forragem, ou seja, ficou evidente que o plantio de duas linhas da forrageira na entrelinha do milho proporcionou maior produção de forragem.
Os arranjos revelaram também que: quanto maior foi a distribuição em linha da forrageira, maior foi a produção (menor tempo de formação do pasto). Nesses estudos, o espaçamento entre fileiras de milho foi de 1,0 m em Coimbra (MG) e 0,45 m em Ilha Solteira (SP) e a densidade de plantio da forrageira, em kg ha-¹ de sementes puras viáveis (SPV), foi de 3,0 kg ha-1 no ensaio de produção de grãos, de 3,8 kg ha-1 no ensaio de produção de silagem em Coimbra e de 6,4 kg ha-1 no ensaio em Ilha Solteira.
Tabela 2. Rendimento de grãos e forragem (MV) de milho, em kg ha-¹, e de B. brizantha, em t ha-1, função de diferentes arranjos espaciais e locais de plantio. 
Sistema de Plantio Local
  Coimbra MG Ilha Solteira SP Coimbra MG
  Grãos  Forrag¹   Grãos   Forrag¹   MV Forrag¹   Forrag² 
Plantio simultâneo com 1 linha nas entrelinhas 5.570 1,15 - - - - -
Plantio simultâneo com duas  linha entrelinha5.030 2,66 - - 55.330 0,73 4,48
Plantio simultâneo a  lanço 5.770 0,45 6.928 1.69 49.790 0,13 0,76
Plantio simultâneo na linha do milho 5.550 0,71 7.503 2,13- - -
Plantio 30 DAE do milho  com uma linha entrelinha - - 7.677 1.45 51.920 0,05 0,05
Plantio a  lanço, 30 DAE do milho - -  8.147 1,48- - -
Milho solteiro  5.910  - 7.995 - 55.920- -
Braquiaria solteira - 7,63 - - - 2,83 14,94
*Produção de forragem;
Fonte: Adaptado de Jakelaitis et al., 2005; Pantano, 2003 e Freitas et al., 2005.

Épocas de introdução das forrageiras e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas mostraram que não há diferenças de produtividade do milho entre o plantio simultâneo da forrageira com o milho e o plantio em pós-emergência (Tabela 3). O milho apresenta maior taxa de crescimento no início do desenvolvimento em comparação com a forrageira, o que garante o sucesso do plantio simultâneo das duas espécies. Ao contrário do milho, a produção da forrageira é extremamente afetada pela época de implantação. Verifica-se nos trabalhos realizados que a produção da forrageira diminui significativamente à medida em que se atrasa a introdução dessa no consórcio. O milho, por ser uma planta muito competitiva, afeta negativamente a forrageira quando essa é implantada em pós-emergência do milho. Diante desses dados, recomenda-se o plantio simultâneo da forrageira com o milho, pois o rendimento do milho não é afetado (desde que sejam seguidas as recomendações de uso de herbicidas, arranjos e densidade de plantio) e a produção da forrageira após colheita do milho atinge seu máximo potencial.
Tabela 3. Rendimento de grãos de milho, em kg ha-1, e de massa seca de forragem, em t ha-1, de braquiária, em função de diferentes épocas de introdução da forrageira em sistema consorciado, em três experimentos em Piracicaba, SP, e um em Ilha Solteira, SP. 
Sistema de Plantio Local
 Piracicaba Piracicaba Piracicaba Ilha Solteira
  Rendimento de milho (kg ha -¹)
Milho solteiro 9.270 9.270 9.270 7.995
Consórcio, plantio simultâneo 9.690 9.700 9.333 7.503
Braquiaria plantada estágio V4 do milho 9.280 9.500 9.450 7.677
 Rendimento de massa seca de forragem (t ha-1)
Plantio simultâneo, colheita 1,31 1,56 1,06 2,13
Plantio simultâneo, 60 DAC 3,96 3,17 2,22 -
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, colheita 0,37 0,35 0,33 1,45
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, 60 DAC 3,16 2,21 1,85 -
Forrageira B.decumbens B.brizantha B.ruziziensi B. brizantha
Espaçamento do milho (m)0,9 0,9 0,9 0,45
Arranjo do consórcio Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha Uma linha na entrelinha
Densidade de plantio da forrageira (kg ha-1 de SPV) 33 3 3,17
Fonte: Adaptado de Tsumanuma, 2004, Pantano, 2003
Recomenda-se uma densidade de 3,0 kg ha-1 de sementes puras e viáveis (SPV) de braquiária para a implantação do consórcio. 

Colheita do milho
A partir do início do secamento das folhas do milho acontece maior penetração de luz e a forrageira voltará a crescer em maior velocidade. Então, a colheita não deve sofrer atraso, pois a forrageira poderá crescer muito e causar transtornos (embuchamento) na colheita mecânica e operacionais na manual. Caso se decida por antecipação da colheita, deve-se ter disponível secador de grãos. Depois da colheita, dependendo da condição do pasto, deve-se fazer um pastejo rápido de formação para estimular o perfilhamento da forrageira ou o pasto deve ser vedado. No primeiro caso, em seguida à saída dos animais, a área deve ser vedada por período suficiente para rebrota e crescimento até a fase do pastejo definitivo, que vai depender das condições do clima. Caso o milho seja colhido para ensilagem, a área é vedada em seguida até a época do primeiro pastejo definitivo. A altura do pastejo deve seguir as recomendações para a espécie forrageira plantada, bem como a carga animal. Depois de um ciclo de pastejo, que pode ser somente na entressafra ou de alguns anos, ao final do período de seca, a pastagem é vedada e, no início das chuvas, dessecada, dando início a novo ciclo de cultura solteira em rotação ou em consórcio.

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