A cultura do milho (Zea mays)
se destaca no contexto da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) devido às
inúmeras aplicações que esse cereal têm dentro da propriedade agrícola,
quer seja na alimentação animal na forma de grãos ou de forragem verde
ou conservada (rolão, silagem), na alimentação humana ou na geração de
receita mediante a comercialização da produção excedente.
Outro
ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a
outros cereais ou fibras no que diz respeito ao seu consórcio com capim.
Uma das vantagens é a competitividade no consórcio, visto que o porte
alto das plantas de milho exerce, depois de estabelecidas, grande
pressão de supressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo
local. A altura de inserção da espiga permite que a colheita mecanizada
seja realizada sem maiores problemas, pois a regulagem mais alta da
plataforma diminui os riscos de embuchamento. Somando-se isso à
disponibilidade de herbicidas graminicidas pós-emergentes, seletivos ao
milho, é possível obter-se resultados excelentes com o consórcio milho +
capim, como, por exemplo, no sistema Santa Fé.
A
cultura do milho também possibilita trabalhar com diferentes
espaçamentos. Atualmente, a tendência é reduzir o espaçamento entre as
fileiras do milho. Isso vai melhorar a utilização de luz, água e
nutrientes e aumentar a capacidade de competição das plantas de milho.
No consórcio com forrageiras, a redução de espaçamento tem, ainda, a
vantagem de formar um pasto mais bem estabelecido (fechado), quando as
sementes da forrageira são depositadas somente na linha de plantio do
milho. A decisão pelo espaçamento do consórcio a ser estabelecido deve
levar em conta a disponibilidade das máquinas, tanto para o plantio
quanto para a colheita.
Vantagens da Integração Lavoura-Pecuária
A
integração lavoura-pecuária é a diversificação, rotação, consorciação
ou sucessão das atividades agrícolas e pecuárias dentro da propriedade
rural de forma planejada, constituindo um mesmo sistema, de tal maneira
que há benefícios para ambas. Possibilita, como uma das principais
vantagens, que o solo seja explorado economicamente durante todo o ano
ou, pelo menos, na maior parte dele, favorecendo o aumento na oferta de
grãos, de fibras, de lã, de carne, de leite e de agroenergia a custos
mais baixos devido ao sinergismo que se cria entre a lavoura e a
pastagem.
Sistemas
de Integração Lavoura-Pecuária (SILP), compostos por tecnologias
sustentáveis e competitivas, foram e ainda estão sendo desenvolvidos ou
ajustados às diferentes condições edafoclimáticas do país, o que tem
possibilitado a sustentabilidade do empreendimento agrícola, com redução
de custos, distribuição de renda e redução do êxodo rural em
decorrência da maior oferta de empregos no campo.
Dentre os principais benefícios para o produtor podemos destacar:
(i)
diversificação de atividades/produção garantindo maior estabilidade de
renda, uma vez que o produtor não fica dependente das condições
favoráveis de mercado e ou sujeito à problemas climáticos de apenas um
produto, além de possibilitar a obtenção de receitas em diferentes
épocas do ano;
(ii) associa o baixo risco da atividade pecuária com a possibilidade de alta rentabilidade da produção agrícola;
(iii)
viabiliza a recuperação do potencial produtivo de áreas já desmatas,
principalmente pastagens degradadas, aumentando a produção e oferta de
grãos, fibras, agroenergia, carne e leite, contribuindo para a redução
da pressão por abertura de novas áreas, principalmente na região
Amazônica;
(iv)
como alternativa para a recuperação de pastagens degradadas, a ILP
apresenta viabilidade técnica e econômica, utilizando-se a produção da
lavoura (grãos, fibras etc) para cobrir os custos de preparo da área e
aquisição dos corretivos e fertilizantes, ficando o pecuarista com a
pastagem recuperada;
(v)
otimiza a utilização de máquinas, equipamentos, insumos e mão de obra
no decorrer do ano, ou seja, as máquinas e funcionários que no período
da safra estão ocupados na condução das lavouras, no período da
entressafra serão utilizados nas atividades pecuárias;
(vi)
redução na incidência de pragas, doenças e plantas daninhas nas
lavouras em função da rotação de culturas, baixando os custos de
produção (redução da quantidade de defensivos agrícolas e custos de
aplicação);
(vii)
maior eficiência de utilização de corretivos e fertilizantes aplicados
por meio de consorciação e/ou sucessão de culturas/pastagem em uma mesma
área, como exemplo o aproveitamento pelas pastagens do adubo residual
utilizado na cultura anterior;
(viii)
na ILP, com a introdução de capins em determinados períodos nas áreas
de lavoura, têm-se a produção de excelente palhada (quantidade e
qualidade) para a realização do Sistema de Plantio Direto na palha. O
plantio direto possibilita a redução de custos com operações mecanizadas
e defensivos, eleva o teor de matéria orgânica no solo, melhora a
estrutura física do mesmo elevando a velocidade de infiltração da águas
das chuvas e mantém o solo com cobertura vegetal durante todo o ano,
protegendo-o da erosão e repercutindo em benefícios ambientais
significativos.
Durante
as etapas de conversão da propriedade ou parte dela para SILP, o
proprietário deverá ir se qualificando, pois o gerenciamento torna-se
mais complexo. A maior dificuldade para adoção de SILP, por parte do
pecuarista, é seu parque de máquinas geralmente limitado. Por sua vez, o
agricultor demandará investimentos consideráveis em cercas e animais.
Em razão disso, acordos de parcerias e arrendamentos de terra têm sido
uma saída para aqueles que não dispõem de capital para fazer esses
investimentos ou não estão dispostos a utilizar as linhas convencionais
ou especiais de crédito para SILP que estão sendo implementadas.
Milho consorciado com forrageiras
Na
prática, depara-se com as mais variadas situações em que o produtor
tenta reduzir os custos de recuperação ou reforma de seus pastos fazendo
plantio de milho + forrageira. Aliás, essa prática é bastante antiga.
Por outro lado, é raro aquele que faz implantação de pastagens em áreas
agrícolas. Existem para estas duas situações propostas para inserir as
propriedades em SILP de tal forma que elas passem a ser mais
sustentáveis e competitivas. As tecnologias disponíveis são o Sistema
Barreirão, o Sistema Santa Fé e suas variações. Qualquer um desses
sistemas é perfeitamente ajustável a qualquer tamanho de propriedade,
desde as pequenas, com alguns hectares e que usam a mão-de-obra
familiar, até aquelas empresariais com alto nível tecnológico.
Sistema Barreirão
Esse
sistema foi desenvolvido na década de 1980 pela Embrapa Arroz e Feijão
(Santo Antônio de Goiás-GO). Com ele, foi possível recuperar ou reformar
imensas áreas com pastagens degradadas, especialmente no Brasil
Central. Ainda hoje ele é usado com essa finalidade servindo como
preparação para implantação da ILP no Sistema Santa Fé. Para que o
sistema seja implantado, deve ser precedido de uma série de cuidados
referentes ao diagnóstico da gleba, à escolha da cultivar de milho e da
forrageira, dentre outros.
Primeiramente,
deve-se fazer a avaliação do perfil do solo para verificar se há
presença de camada compactada ou adensada e conhecer a espessura do
horizonte superficial. Nessa etapa, podem ser decididas quais as
profundidades de amostragem para caracterização física e química do
solo. Normalmente, são realizadas amostragem nas profundidades de 0 cm a
20 cm e 20 cm a 40 cm. Com base nos resultados das análises, fazer a
correção da acidez do solo seguindo a orientação de um técnico. É
importante que a aplicação do corretivo seja feita pelo menos 60 dias
antes do plantio e que ainda haja umidade suficiente no solo, para que o
calcário reaja.
O
milho é uma espécie exigente em fertilidade do solo, exigindo valores
aproximados de pH de 6, Cálcio de 2,2, Magnésio de 0,8, Saturação por
Alumínio menor que 20% e Saturação por Bases entre 50% e 55%. Esses
níveis são, também, os mínimos necessários para se implantar o Sistema
de Plantio Direto (SPD). Além disso, a cultura do milho é mais adaptada a
solos anteriormente cultivados, principalmente com soja, quando a
cultura expressa melhor seu potencial produtivo. Como cultura de
primeiro ano, em solos recém-corrigidos ou após pastagem degradada, os
rendimentos de grãos são menores. Assim, o agricultor pode optar pelo
plantio de variedade ou híbridos duplos de menor custo.
Em
algumas situações, é recomendada adubação corretiva para fósforo e
potássio, baseadas na análise de solo e em tabelas de recomendações de
adubação. Para adubações de plantio e cobertura, para cada tonelada de
grãos a ser produzida, devem ser fornecidos cerca de 24 kg de N, 3 kg de
P, 23 kg de K, 5 kg de Ca, 4 kg de Mg, 46 g de Zn, 8 g de Cu, 65 g de
Mn, 274 g de Fe e 18 g de B. A extração de S pela planta de milho varia
de 15 kg a 30 kg ha-1, para produções de grãos em torno de 5 a 7 t ha-1.
A
principal característica do Sistema Barreirão é a aração profunda com
arado de aiveca. As razões para se usar esse implemento são: fazer o
condicionamento físico e químico do solo rompendo camadas compactadas ou
adensadas; inverter a camada de solo revolvida para que haja
incorporação profunda de corretivos; incorporar em profundidade o banco
de sementes de plantas daninhas para que essas não germinem ou tenham a
emergência retardada competindo menos com o milho; incorporar o sistema
radicular de capins, acelerando a sua mineralização para minimizar a
concorrência com o milho pelo nitrogênio.
Na
sequência, são tomados os cuidados com a conservação do solo. Como o
condicionamento químico não é imediato, ou seja, demanda tempo de reação
dos corretivos e fertilizantes, é esperado melhor desempenho das
lavouras de milho nos cultivos subsequentes.
Para
se obter um bom desempenho da cultura em áreas com pastagem degradada,
onde predominam solos ácidos e de baixa fertilidade, fazem-se
necessários a correção mínima de acidez e o suprimento de nutrientes
adequados. A calagem, nesse caso, pode ser feita antes do período
chuvoso que antecede a semeadura (agosto/setembro). O melhor método
consiste em aplicar de 60% a 70% do calcário, incorporá-lo
superficialmente com grade aradora, arar profundamente (35 cm a 40 cm),
aplicar o restante (30% a 40% do corretivo), nivelar/destorroar e semear
o milho e a forrageira. Nas demais opções, o calcário pode ser
espalhado superficialmente para ser incorporado apenas imediatamente
antes da semeadura do consórcio.
No
Sistema Barreirão, a determinação da necessidade de calagem para o
milho obedece à mesma metodologia e aos critérios utilizados para os
cultivos solteiros. Entretanto, deve-se considerar que para solos com
alto teor de areia e baixa matéria orgânica, o método de saturação por
bases geralmente subestima a quantidade de calcário a ser aplicada. Em
geral, isso ocorre com todos os métodos vigentes. Assim, é necessário
considerar a cultura a ser implantada, o histórico da área e a
experiência local quanto à resposta das culturas aos corretivos de
acidez do solo. Para a cultura do milho, a calagem é necessária quando o
solo apresentar concentração de Ca2 + Mg2 inferior a 3,0 cmolc dm-3 de
solo, na razão aproximada de 3-4:1.
Existem
vários relatos de que o processo mais econômico de correção da acidez
das camadas superficiais e subsuperficiais do solo é a utilização de uma
parte de gesso (sulfato de cálcio) em mistura com calcário. O gesso
contém aproximadamente 23% de cálcio e 19% de magnésio. Assim, se forem
aplicados 500 kg ha-1 de gesso, por exemplo, só com esse insumo estariam
sendo aplicados 115 kg ha-1 de cálcio e 95 kg ha-1 de enxofre,
quantidades teoricamente suficientes para a obtenção de mais de 6 t ha-1
de milho.
Os
sulfatos carreiam alguns cátions-base através dos horizontes,
corrigindo a acidez e favorecendo o crescimento radicular das plantas em
camadas subsuperficiais. Na recuperação de pastagens degradadas, tal
qual no Sistema Barreirão, o tempo de reação do corretivo no solo é, em
geral, insuficiente, não obedecendo ao período mínimo de 90 dias em
condições de solo úmido entre a aplicação e a semeadura da cultura ou da
forrageira. Considerando-se que o principal fator determinante da
velocidade de reação de um corretivo é o tamanho de suas partículas, o
calcário “filler” ou moído pode produzir melhor resultado que o calcário
convencional.
Na
cultura do milho, embora o teste estatístico não tenha detectado
diferenças, houve um acréscimo superior a 1,0 tonelada por hectare de
grãos com a utilização do “filler” e diferenças significativas na
produção de matéria verde da forrageira B. brizantha (Tabela 1).
Tabela 1. Efeito
comparativo da calagem tradicional com a microcalagem no estande, no
número de espigas, na produtividade do milho e na produção de massa
verde (MV) de B. brizantha, em solo sob pastagem degradada. Fazenda Barreirão, Piracanjuba, GO. C
Calcário | Milho | MV da Forrageira ( t ha-¹) | ||
Estande (plantas m-² ) | Espigas m-¹ | Produtividade (Kg ha-¹) | ||
3 t/ha de calcário a lanço | 5,7a | 4,9a | 2.283a | 34,4b |
3 t/ha de “filler” a lanço | 5,8a | 5,3a | 3.348a | 44,6ab |
0,3 t/ha de “filler” na linha | 5,6a | 5,4a | 3.360a | 50,8a |
0,6 t/ha de “filler” a lanço | 5,7a | 5,4a | 3.084a | 38,6a |
Nas colunas, médias seguidas pelas mesmas letras não são significativamente diferentes, segundo o teste de Tukey no nível de 5% de probabilidade.
No
sistema Barreirão, os procedimentos de plantio do milho são os
tradicionais. No plantio simultâneo, dependendo da espécie da
forrageira, as sementes desta são misturadas ou não ao adubo do milho. É
importante cuidar para que a mistura seja feita no dia do plantio e
regular a profundidade de deposição do adubo + sementes para maior
profundidade, cuidando para que não ultrapasse o limite para que haja
emergência das plântulas, o que varia com a espécie. Geralmente,
sementes de braquiária podem ser depositadas até 8 cm e de panicum até 3
cm. As sementes do milho geralmente são depositadas a 3 cm de
profundidade no solo.
É
desejável estabelecer uma ou duas linhas adicionais de forrageira nas
entrelinhas do milho para melhor formação da pastagem, o que vai
depender do espaçamento e do equipamento de plantio disponível. Existe
hoje uma tendência de redução do espaçamento entrelinhas na cultura do
milho, principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais
baixo e arquitetura mais ereta. Várias pesquisas relatam aumento no
rendimento de grãos de milho com redução do espaçamento entre fileiras
até 0,5 m. Esse comportamento se deve ao fato de que os milhos atuais
possuem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e
menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em
espaçamentos mais fechados. É importante ressaltar que em plantios com
espaçamento reduzido deve-se aumentar a densidade de semeadura entre 10%
e 15%. Esse plantio em menores espaçamentos, além de possibilitar
melhor e mais rápida cobertura do solo, evita a formação de touceiras
muito grandes de capim, o que poderá afetar negativamente a qualidade do
próximo plantio. Outra possibilidade é o plantio defasado da forrageira
em 15 a 30 dias depois da emergência do milho: planta-se o milho
solteiro e faz-se o semeio da forrageira juntamente com a adubação de
cobertura.
Outros resultados serão discutidos no Sistema Santa Fé
Em
muitos casos, agropecuaristas têm adotado essa tecnologia somente para
recuperar ou reformar pastagens. Um programa de adubação de manutenção e
de pastejo controlado tem permitido a utilização da nova pastagem por
período indeterminado, com alta produtividade. Caso essa programação não
seja executada, a nova pastagem se degradará em alguns anos, sendo
necessário recuperá-la novamente, conforme já salientado. É regra em ILP
que a pastagem não se degrade. Se isso estiver acontecendo, mostra
deficiência no planejamento da ILP adotada e que medidas corretivas são
necessárias.
Recomendações importantes na implantação do sistema Barreirão:
(i)
devido à cultura do milho não ser plenamente adaptada a cultivos de
abertura de área ou sob área com pastagem degradada, o potencial de
rendimento, no primeiro ano, dificilmente ultrapassa 5 t ha-1;
(ii)
para a obtenção de altas produtividades de milho, acima de 6 t ha-1, é
recomendável a aplicação dos corretivos de acidez do solo pelo menos um
ciclo de chuvas antes da semeadura;
(iii)
em áreas recém-desbravadas ou sob pastagem degradada, onde o potencial
de produção do milho é menor, a opção por variedade ou híbridos duplos
resulta em economia na aquisição de sementes; e
(iv)
realização de tratamento de sementes para prevenção de ataque de
lagartas e formigas na fase inicial de estabelecimento da cultura.
O
Sistema Santa Fé fundamenta-se na produção consorciada de culturas de
grãos, especialmente o milho, sorgo ou o milheto com forrageiras
tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria e Panicum,
no Sistema de Plantio Direto, em áreas de lavoura com solo parcial ou
devidamente corrigido. Nesse sistema, a cultura do milho apresenta
grande performance de desenvolvimento inicial, exercendo, com isso, alta
competição sobre as forrageiras e evitando redução significativa nas
suas capacidades produtivas de grãos.
Os
principais objetivos do Sistema Santa Fé são a produção de forrageira
para a entressafra e palhada em quantidade e qualidade para o Sistema de
Plantio Direto na safra seguinte. O Sistema Santa Fé apresenta grande
vantagem, pois não altera o cronograma de atividades do produtor e não
exige equipamentos especiais para sua implantação. Através dele, é
possível aumentar o rendimento da cultura de milho e das pastagens e,
com isso, baixar os custos de produção, tornando a propriedade agrícola
mais competitiva e sustentável. Além disso, esse sistema está
viabilizando o plantio direto em várias regiões devido à geração de
palhada em quantidade adequada. Somam-se a isso alguns benefícios
agregados à palhada de braquiária no que diz respeito ao seu efeito
supressor de plantas daninhas e de fungos de solo.
Fisiologia das espécies em consórcio
As
espécies forrageiras comumente utilizadas apresentam elevadas taxas de
crescimento. Por isso, a redução do crescimento das forrageiras deve ser
considerada para que o consórcio tenha êxito, com produtividades de
grãos equivalentes ao sistema solteiro. Estratégias como retardar a
emergência da forrageira, uso de doses reduzidas de herbicidas e
populações adequadas das espécies em consórcio são fundamentais para que
a área foliar da cultura do milho se sobreponha à das forrageiras ao
longo do ciclo. Pesquisas com o Sistema Barreirão mostram que, dispondo
as sementes das forrageiras em maiores profundidades (6 a 8 cm),
retarda-se em até 13 dias a sua emergência, conseguindo-se uma ampla
vantagem do índice de área foliar (IAF) da cultura sobre o da
forrageira. No Sistema Santa Fé, o consórcio é geralmente conduzido em
solo de média a alta fertilidade e espera-se uma maior competição da
forrageira com a cultura. Por essa razão, geralmente, além da semeadura
mais profunda da forrageira, em alguns casos, pode haver a necessidade
do uso de herbicidas para conter seu crescimento ou plantio defasado,
plantando a forrageira alguns dias após o milho.
Um
estudo sobre o consórcio de milho com braquiária e com o capim mombaça
mostrou que, mesmo com ou sem a aplicação de herbicida para reduzir o
crescimento das forrageiras, a Taxa Assimilatória Líquida (TAL) do milho
foi maior que a das forrageiras em grande parte do ciclo da cultura. A
TAL indica a eficiência fotossintética e, devido ao maior crescimento do
milho e o consequente sombreamento que esse exerce nas forrageiras,
resultou em uma maior Taxa de Crescimento da Cultura (TCC) do milho,
superando o das forrageiras e tornando o consórcio dessas espécies muito
seguro.
A
aplicação de herbicida para redução do TCC da braquiária somente é
necessária em situações onde o milho não tem um bom desenvolvimento
inicial, em casos de baixa fertilidade do solo e em outras situações,
tais como: estiagem prolongada no período inicial da lavoura, forte
ataque da lagarta-do-cartucho, dificultando o desenvolvimento inicial da
cultura etc.
Vários
trabalhos realizados com o consórcio milho e forrageiras mostram que,
na média, a presença da forrageira reduziu a produtividade em 5%.
Contudo, verifica-se que em vários casos não há diferenças
significativas entre o milho solteiro e o consorciado. Vale ressaltar
que os diferentes resultados estão associados à combinação de vários
fatores, como a população da forrageira, a época de sua implantação, os
arranjos de plantio, a presença de plantas daninhas, a aplicação de
herbicidas, a fertilidade do solo e as condições hídricas. Nos
tratamentos onde foram aplicados os herbicidas para reduzir o
crescimento da forrageira, as produções foram semelhantes às do milho
solteiro, indicando que esse procedimento pode eliminar as perdas no
consórcio. A seguir, discutem-se alguns desses fatores e seus efeitos na
produção do milho e da forrageira.
Manejos de herbicidas e efeitos no milho e na produção de forragem
No
consórcio milho e forrageiras, geralmente as aplicações de herbicidas
em pré-emergência afetam o estabelecimento das forrageiras, mesmo
naqueles manejos onde o plantio da forrageiras é feito junto com a
cobertura nitrogenada (em torno de 20 dias após a emergência do milho).
Dessa forma, são usados os herbicidas aplicados em pós-emergência das
plantas daninhas e do milho. Dentre esses herbicidas, destacam-se o
herbicida atrazina e alguns do grupo químico das sulfonilúreas, como o
nicosulfuron, foramsulfuron e iodosulfuron methyl sodium
No
consórcio, a atrazina é aplicada nas doses de 1000 a 1500 g i.a./ha em
pós- emergência e, nessas doses, somente apresenta controle sobre as
dicotiledôneas.
As
sulfonilúreas são usadas em pós-emergência, com enfoque no controle de
gramíneas e de algumas espécies dicotiledôneas. Já o foramsulfuron atua
principalmente sobre gramíneas e o iodosulfuron methyl sodium sobre
espécies de folhas largas, estando , assim, disponível no mercado como
mistura pronta para a cultura do milho.
O
Período Crítico de Competição (PCC) das plantas daninhas ou forrageiras
no milho ocorre entre os estádios V5 (5 folhas totalmente expandidas) e
V8 ou entre 20 e 40 dias após a emergência. Dessa forma, a aplicação de
herbicidas pós-emergentes deve ser feita entre V4 e V5. O herbicida
atrazine (atrazina) deve ser usado na dose de 1500 g i.a./ha (3 L
p.c./ha) para o controle de plantas daninhas dicotiledôneas. O
nicosulfuron (Sanson) é recomendado na dose de 4 a 8 g i.a./ha (0,1 a
0,2 L p.c./ha). A dose maior é recomendada quando a forrageira ou
plantas daninhas estão em estágios mais avançados (mais de 3 perfilhos).
Para o consórcio do milho e panicuns (tanzânia, mombaça e outros), a
dose de nicosulfuron não deve ultrapassar a 6 g i.a.ha-1 (0,15 L
p.c./ha) devido à sensibilidade dessas espécies aos herbicidas. Para os
herbicidas foramsulfuron + iodosulfuron (Equipe-Plus), recomenda-se dose
de 15 + 1 g i.a./ha (0,5 L p.c./ha). Nessas doses, há uma redução do
crescimento da forrageira e também das plantas daninhas em torno 40% a
50%, suficiente para a redução da competição com o milho no PCC.
A
recuperação da toxicidade da forrageira devida aos herbicidas depende
de vários fatores, como as condições hídricas, a fertilidade de solo e o
próprio nível de fitotoxicidade da forrageira após aplicação dos
herbicidas. Portanto, recomenda-se não aplicar doses acima das
indicadas. A consorciação de plantas forrageiras nas entrelinhas da
cultura pode auxiliar na supressão da comunidade infestante.
Arranjos espaciais da forrageira e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas
mostram que os diferentes arranjos testados não afetam o rendimento do
milho (Tabela 2). Entretanto, os arranjos afetaram de forma
significativa a produção de forragem, ou seja, ficou evidente que o
plantio de duas linhas da forrageira na entrelinha do milho proporcionou
maior produção de forragem.
Os
arranjos revelaram também que: quanto maior foi a distribuição em linha
da forrageira, maior foi a produção (menor tempo de formação do pasto).
Nesses estudos, o espaçamento entre fileiras de milho foi de 1,0 m em
Coimbra (MG) e 0,45 m em Ilha Solteira (SP) e a densidade de plantio da
forrageira, em kg ha-¹ de sementes puras viáveis (SPV), foi de 3,0 kg
ha-1 no ensaio de produção de grãos, de 3,8 kg ha-1 no ensaio de
produção de silagem em Coimbra e de 6,4 kg ha-1 no ensaio em Ilha
Solteira.
Tabela 2. Rendimento de grãos e forragem (MV) de milho, em kg ha-¹, e de B. brizantha, em t ha-1, função de diferentes arranjos espaciais e locais de plantio.
Sistema de Plantio | Local | ||||||
Coimbra MG | Ilha Solteira SP | Coimbra MG | |||||
Grãos | Forrag¹ | Grãos | Forrag¹ | MV | Forrag¹ | Forrag² | |
Plantio simultâneo com 1 linha nas entrelinhas | 5.570 | 1,15 | - | - | - | - | - |
Plantio simultâneo com duas linha entrelinha | 5.030 | 2,66 | - | - | 55.330 | 0,73 | 4,48 |
Plantio simultâneo a lanço | 5.770 | 0,45 | 6.928 | 1.69 | 49.790 | 0,13 | 0,76 |
Plantio simultâneo na linha do milho | 5.550 | 0,71 | 7.503 | 2,13 | - | - | - |
Plantio 30 DAE do milho com uma linha entrelinha | - | - | 7.677 | 1.45 | 51.920 | 0,05 | 0,05 |
Plantio a lanço, 30 DAE do milho | - | - | 8.147 | 1,48 | - | - | - |
Milho solteiro | 5.910 | - | 7.995 | - | 55.920 | - | - |
Braquiaria solteira | - | 7,63 | - | - | - | 2,83 | 14,94 |
*Produção de forragem;
Fonte: Adaptado de Jakelaitis et al., 2005; Pantano, 2003 e Freitas et al., 2005.
Épocas de introdução das forrageiras e efeitos no milho e na produção de forragem
Pesquisas
mostraram que não há diferenças de produtividade do milho entre o
plantio simultâneo da forrageira com o milho e o plantio em
pós-emergência (Tabela 3). O milho apresenta maior taxa de crescimento
no início do desenvolvimento em comparação com a forrageira, o que
garante o sucesso do plantio simultâneo das duas espécies. Ao contrário
do milho, a produção da forrageira é extremamente afetada pela época de
implantação. Verifica-se nos trabalhos realizados que a produção da
forrageira diminui significativamente à medida em que se atrasa a
introdução dessa no consórcio. O milho, por ser uma planta muito
competitiva, afeta negativamente a forrageira quando essa é implantada
em pós-emergência do milho. Diante desses dados, recomenda-se o plantio
simultâneo da forrageira com o milho, pois o rendimento do milho não é
afetado (desde que sejam seguidas as recomendações de uso de herbicidas,
arranjos e densidade de plantio) e a produção da forrageira após
colheita do milho atinge seu máximo potencial.
Tabela 3. Rendimento
de grãos de milho, em kg ha-1, e de massa seca de forragem, em t ha-1,
de braquiária, em função de diferentes épocas de introdução da
forrageira em sistema consorciado, em três experimentos em Piracicaba,
SP, e um em Ilha Solteira, SP.
Sistema de Plantio | Local | |||
Piracicaba | Piracicaba | Piracicaba | Ilha Solteira | |
Rendimento de milho (kg ha -¹) | ||||
Milho solteiro | 9.270 | 9.270 | 9.270 | 7.995 |
Consórcio, plantio simultâneo | 9.690 | 9.700 | 9.333 | 7.503 |
Braquiaria plantada estágio V4 do milho | 9.280 | 9.500 | 9.450 | 7.677 |
Rendimento de massa seca de forragem (t ha-1) | ||||
Plantio simultâneo, colheita | 1,31 | 1,56 | 1,06 | 2,13 |
Plantio simultâneo, 60 DAC | 3,96 | 3,17 | 2,22 | - |
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, colheita | 0,37 | 0,35 | 0,33 | 1,45 |
Braquiaria plantada estágio V4 do milho, 60 DAC | 3,16 | 2,21 | 1,85 | - |
Forrageira | B.decumbens | B.brizantha | B.ruziziensi | B. brizantha |
Espaçamento do milho (m) | 0,9 | 0,9 | 0,9 | 0,45 |
Arranjo do consórcio | Uma linha na entrelinha | Uma linha na entrelinha | Uma linha na entrelinha | Uma linha na entrelinha |
Densidade de plantio da forrageira (kg ha-1 de SPV) | 3 | 3 | 3 | 3,17 |
Fonte: Adaptado de Tsumanuma, 2004, Pantano, 2003
Recomenda-se uma densidade de 3,0 kg ha-1 de sementes puras e viáveis (SPV) de braquiária para a implantação do consórcio.
Colheita do milho
A
partir do início do secamento das folhas do milho acontece maior
penetração de luz e a forrageira voltará a crescer em maior velocidade.
Então, a colheita não deve sofrer atraso, pois a forrageira poderá
crescer muito e causar transtornos (embuchamento) na colheita mecânica e
operacionais na manual. Caso se decida por antecipação da colheita,
deve-se ter disponível secador de grãos. Depois da colheita, dependendo
da condição do pasto, deve-se fazer um pastejo rápido de formação para
estimular o perfilhamento da forrageira ou o pasto deve ser vedado. No
primeiro caso, em seguida à saída dos animais, a área deve ser vedada
por período suficiente para rebrota e crescimento até a fase do pastejo
definitivo, que vai depender das condições do clima. Caso o milho seja
colhido para ensilagem, a área é vedada em seguida até a época do
primeiro pastejo definitivo. A altura do pastejo deve seguir as
recomendações para a espécie forrageira plantada, bem como a carga
animal. Depois de um ciclo de pastejo, que pode ser somente na
entressafra ou de alguns anos, ao final do período de seca, a pastagem é
vedada e, no início das chuvas, dessecada, dando início a novo ciclo de
cultura solteira em rotação ou em consórcio.
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