Bem-estar animal: sombra é essencial em regiões de clima quente
Raças taurinas são pouco adaptadas a climas quentes e, por isso, as
que mais sofrem os efeitos prejudiciais de altas temperaturas no
ambiente
Com a crescente preocupação do mercado consumidor – principalmente o
europeu – em relação ao bem-estar animal, os produtores rurais devem
ficar cada vez mais atentos ao modo como os animais são tratados dentro
das propriedades. O conforto térmico é um dos requisitos que garantem,
além do bem-estar, a sustentabilidade e o sucesso da atividade pecuária
em regiões de clima quente.
A produção animal no Brasil
concentra-se basicamente na região intertropical, onde existe a maior
incidência de radiação solar, o que pode causar efeitos prejudiciais,
tanto na produção e na sanidade, quanto na reprodução.
– Quando
falamos em produção animal a pasto nos trópicos, considerando-se as
mudanças climáticas e a perspectiva de aumentar ainda mais a temperatura
do ambiente, é preciso tomar alguns cuidados para evitar esses efeitos
prejudiciais aos animais – destaca a pesquisadora da Embrapa Gado de
Corte (Campo Grande, MS), Fabiana Villa Alves.
Há raças bovinas
mais ou menos adaptadas ao calor. As taurinas, em geral, são pouco
adaptadas a climas quentes e, por isso, as que mais sofrem os efeitos
prejudiciais de altas temperaturas no ambiente.
– Por outro lado, o nelore, pertencente às raças zebuínas, é um animal considerado adaptado a esse tipo de clima.
Algumas características, como a cor da pele e do pelo, e a grande
quantidade de glândulas sudoríparas muito eficientes, auxiliam-no a
tolerar bem o calor – diz a pesquisadora.
Entretanto, ela
explica que mesmo sendo adaptados, sofrem em períodos prolongados com
altas temperaturas por se tratarem de animais homeotérmicos, que devem
manter a temperatura "ótima" para realizar as funções fisiológicas
normalmente. Quando essa temperatura começa a aumentar ou diminuir, eles
precisam usar alguns mecanismos para retorná-la àquela considerada
normal.
Os animais têm diferentes faixas de temperaturas
consideradas de conforto térmico. Para os taurinos, essa faixa é de até
27 graus. O zebuíno suporta um pouco mais, mas a temperatura máxima de
conforto é de 35 graus.
– No inverno, no Centro-Oeste, são
facilmente registradas temperaturas, ao sol, próximas a essa. Então,
dependendo da raça e da adaptabilidade, o animal fica ofegante, aumenta a
temperatura retal e os batimentos cardíacos para tentar dissipar esse
calor e voltar à temperatura ótima. Mas todo mecanismo que ele usa para
isso demanda gasto de energia, o que pode refletir em queda de
produtividade – lembra Fabiana.
Para deixar os animais na zona
de conforto térmico, ela lembra que são necessárias modificações
ambientais, conforme o sistema de produção. Para os confinados é
possível colocar aspersores de água, cortinas e sistemas de ventilação. Para animais a pasto, a medida mais eficiente é oferecer sombra,
que pode ser tanto artificial (sombrite 70%), quanto natural. Esta
última, dada pela introdução de árvores, é a mais barata e eficiente,
além de trazer outros benefícios agregados como aumento de
biodiversidade, diversificação da renda e alimento para os animais.
–
A sombra natural é mais eficiente porque a árvore, além de bloquear a
radiação solar, cria um microclima embaixo daquele ambiente com sensação
térmica mais agradável. Assim, é oferecida uma condição de melhor
conforto térmico, por se tratar de um ambiente com menor temperatura e,
com isso, é possível promover o bem-estar do animal – acrescenta a
pesquisadora.
Segunda ela, a espécie da árvore a ser usada
depende de alguns fatores. Por exemplo, em sistemas de integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) na região Centro-Oeste, o eucalipto é
muito utilizado devido às condições de solo (ácido e com baixo teor de
argila) e ao mercado consumidor existente para celulose, madeira e
carvão.
Na Embrapa Gado de Corte, são realizados estudos para
caracterizar quantitativa e qualitativamente tipos de sombra de
diferentes espécies de árvores, e quantificar o benefício proveniente
dela para os animais. A expectativa é que os resultados sejam divulgados
dentro de três anos.
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