As recentes críticas da União Europeia ao sistema de defesa agropecuária do Brasil e o embargo imposto pelos
Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira no fim de junho passado acenderam o sinal de alerta na Câmara
de Comércio Árabe-Brasileira, que voltou a intensificar as ações para evitar que os países árabes também ergam
barreiras às proteínas animais produzidas em território nacional.
Para coordenar as ações de esclarecimento que voltaram a ser adotadas, a câmara, sediada na capital paulista,
reativou o "comitê de crise" criado após a Operação Carne Fraca. Deflagrada pela Polícia Federal em 17 de março,
a operação teve como objetivo investigar casos de corrupção envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e
funcionários de frigoríficos, mas também expôs fragilidades no sistema de defesa agropecuário brasileiro que
levaram dezenas de países a adotar barreiras temporárias às carnes do país.
"Estamos novamente cumprindo nosso papel de informar os países árabes, com agilidade e transparência, sobre o
que está acontecendo no segmento", afirma Rubens Hannun, presidente da câmara. Isso significa municiar todas
as embaixadas dos países árabes no Brasil e embaixadas brasileiras nos países árabes com documentos sobre
problemas apurados, medidas oficiais adotadas e outras informações disponíveis sobre eventuais problemas
apurados.
De acordo com Hannun, esse tipo de esclarecimento é importante para que os importadores não se sintam
inseguros para continuar fazendo suas compras, por mais que as carnes bovina e de aves brasileiras sejam
necessárias para os países árabes - quase 90% das importações de carne de frango da Arábia Saudita são
atendidas pelo Brasil, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). De janeiro a maio, as importações
árabes (21 países) de carnes bovina e de frango somaram 681 mil toneladas, 5,5% menos que em igual período de
2016, mas renderam US$ 1,3 bilhão, alta de 13,8%.
Houve alguma turbulência depois da Carne Fraca, até porque embargos temporários foram adotados em países
como Argélia e Egito, mas Hannun não tem dúvida que o impacto teria sido bem maior não fossem as ações do
"comitê de crise". Criado em 20 de março, o comitê, nos dias seguintes, enviou cartas de esclarecimento e
promoveu reuniões com representantes do Ministério da Agricultura do Brasil e da indústria exportadora brasileira.
A câmara também promoveu a vinda ao Brasil de jornalistas e formadores de opinião do mundo árabe, sobretudo
os quatro maiores importadores (Argélia, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) e ajudou a definir o
roteiro de uma missão do governo brasileiro àquela região. "Estamos mobilizados novamente porque, ainda que a
exportação brasileira de carne in natura aos países árabes seja muito pequena, a influência das posições de União
Europeia e EUA pode ser grande. Se há problemas com o produto, eles têm de ser esclarecidos", diz Hannun.
Ele tem motivos para se preocupar. Depois que a União Europeia se mostrou contrariada com a falta de ações
corretivas concretas após a Operação Carne Fraca e os EUA desconfiaram de reações de vacinas contra aftosa
em bovinos, a China também decidiu intensificar as inspeções de carnes importadas do Brasil, basicamente por
causa do problema identificado pelos americanos.
"Com as turbulências políticas, a Carne Fraca e a delação dos executivos da JBS, a credibilidade do Brasil está em
baixa. Não adianta o governo apenas prometer a adoção de medidas e planos de ações. É preciso pôr ordem na
casa", diz Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Com informações do
Valor.
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