É no inverno que o boi sanfona - aquele que engorda nas chuvas e
emagrece na seca - aparece, mas é agora que o produtor deve trabalhar
para evitá-lo. Planejamento é a palavra-chave para que o pecuarista
consiga minimizar o impacto da sazonalidade de chuvas.
Na seca, principalmente em fazendas onde não há forragem específica
para o inverno, o gado costuma se alimentar dos brotos de pasto,
prejudicando o desempenho tanto dos animais quanto da própria pastagem.
Com uma estimativa do rebanho e da capacidade de produção de forragem
dos pastos, é possível, por exemplo, separar um pasto na época de chuvas
para que o gado possa se alimentar dele na seca. É um método barato,
mas exige do produtor um mínimo de planejamento para que o pasto fechado
não faça falta antes e que o capim seja suficiente para alimentar o
rebanho na ausência das chuvas.
Se isso não for possível, e para não precisar comprar alimento
produzido fora da propriedade, o pecuarista pode plantar cana, fazer
silagem ou feno na própria fazenda. Esse procedimento também deve ser
planejado com antecedência para que o alimento esteja pronto na época e
na quantidade certas.
O produtor precisa saber quantos animais alimentará na seca, qual
seu peso aproximado para essa época e por quanto tempo deverá ficar sem
chuvas, lembrando que cada UA (unidade animal, 450 kg de peso vivo) come
cerca de 10 kg de matéria seca por dia. Com esses dados, o pecuarista
poderá avaliar se é melhor reduzir o rebanho ou optar por uma das
alternativas para produzir alimento.
Centro-Oeste
No Centro-Oeste a integração lavoura pecuária é, sem dúvida, uma
alternativa bastante interessante. A técnica é de fácil aplicação e gera
resultados importantes na produção de alimentos para o período de seca.
Mesmo não sendo uma atividade de escolha do pecuarista, é possível
trabalhar com parcerias, que se mostram um bom caminho de solução,
possibilitando, além de alimento com alta qualidade na seca, um retorno
financeiro e a recuperação da fertilidade da terra.
O confinamento também pode ser usado como uma boa ferramenta para
se ter comida no período da seca, com a produção de silagem de milho no
período das águas. O pecuarista que utiliza a reserva de feno em pé é o
perfil ideal para o confinamento estratégico, pois no confinamento
estariam animais em terminação em período de entressafra. O confinamento
possibilita melhor distribuição da renda, garantindo a entrada de
dinheiro em período que normalmente não entra.
Vedação escalonada de pastagens
Uma outra técnica para se preparar para a seca é realizar a vedação
de parte das pastagens no início de fevereiro, permitindo que o
alimento cresça até a época das secas, deixando uma reserva para o gado
se alimentar quando os pastos estiverem fracos. A vedação realizada nos
meses de fevereiro e março garante que o volumoso seja o mais nutritivo
possível durante os meses de seca. A técnica do feno-em-pé consiste em
deixar o capim alto desidratar naturalmente no campo. O pasto é vedado
em duas ocasiões para evitar que chegue muito fibroso com baixa
qualidade nutricional em julho. O escalonamento - uma vedação em
fevereiro e outra em março – permite que se combine quantidade e
qualidade do volumoso, garantindo pelo menos a manutenção dos animais na
seca.
Antes da vedação, é preciso fazer um pastejo pesado na área
separada. O fechamento da pastagem deve ser feito com solo úmido e
adubado com ureia (100 kg/ha). O terço fechado em fevereiro deverá ser
aberto em maio e pastejado por 75 dias até o final de julho. Os dois
terços restantes deverão ficar também por 75 dias, a partir do fim de
julho, até o fim das secas. Para essa técnica, deve-se usar braquiária
decumbens, xaraés, marandu, piatã e tifton. Já os capins mombaça,
tanzânia e andropogon devem ser evitados porque formam muito talos, que
não são comidos pelo gado.
Pastejamento em excesso
Sem um planejamento, a propriedade acaba sofrendo durante todo o
ano porque assim que as chuvas recomeçam surge o problema de
pastejamento em excesso. Com fome, o gado come o capim assim que ele
nasce, logo nos primeiros brotos. O capim enfraquece e o gado deixa de
aproveitar todos os nutrientes que ele poderia oferecer. Fraco, o capim
demora para nascer novamente e perde espaço para ervas daninhas e para a
degradação do solo.
Com planejamento, o produtor mantém o valor nutritivo do pasto
durante as chuvas, o gado aproveita o pasto sem degradá-lo e, na próxima
estação da seca, consegue-se evitar o efeito boi-sanfona na
propriedade, evitando perdas econômicas.
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