Se os anos 2000 foram de investimento e evolução da nutrição animal, de
2010 a 2020 teremos um período de ajuste fino na reprodução bovina.
Assim projeta o médico veterinário e consultor em reprodução e produção
animal, Mário Luiz Pompeo. Como hoje falta pasto, o pecuarista precisa
ganhar no giro de sua atividade e no equilíbrio de sua produção,
recomenda. Traduzindo, o pecuarista não deve colocar todos os ovos num
cesto só, mas sim diversificar a pecuária, investindo e ganhando em
cada fase do ciclo - cria, recria e engorda e ajustar o negócio
conforme a necessidade do mercado. Então quais são hoje os ajustes finos
da reprodução que podem proporcionar tal controle ao produtor rural?
Estação de monta e manejo de touros
A primeira demanda urgente, segundo Dr. Pompeo, é encurtar o período da
estação de monta. Assim você consegue detectar mais facilmente os
animais mais eficientes na época de melhor oferta de pastagem da
fazenda, explica o veterinário. Fazendo a estação de monta de outubro a
março (longa), a fazenda concentra os nascimentos entre julho e
dezembro. O desmame, cerca de sete meses depois, ocorre entre fevereiro e
julho, uma época favorável para venda de bezerro, já que o boi está em
plena safra e precisa ser reposto. O problema é que a parição durante o
inverno (junho a setembro) faz com que as vacas percam drasticamente o
estado corporal e, em outubro, na saída da seca, as pastagens apresentam
pouca oferta de quantidade de fibra, dificultando obter bons índices de
prenhez, pois as chuvas ainda não começaram em grande parte do Brasil
Central. Realizando a estação de monta entre a segunda quinzena
novembro e o final de fevereiro (estação curta de 100 dias), as
pastagens estão viçosas, a temperatura ambiente quente e úmida e os dias
longos com luminosidade intensa. Os nascimentos ocorrem a partir de
setembro e vão até o final de novembro, desmamando entre março e junho,
também no período ideal, com melhores índices de prenhez e as vacas
sentem menos o efeito da seca, recuperando rapidamente a carne.
Outro benefício da curta duração do período reprodutivo é a seleção para
a fertilidade. Quando a monta é alongada, o pecuarista pode acabar
selecionando para a subfertilidade, característica facilmente
transmissível ao rebanho. Segundo Pompeo, é comum observar vacas paridas
no terço inicial do período de parição em um ano e, no ano seguinte,
parir no final do período e não ter concepção. Aí está a vaca
'inimiga'. Por ser parição do tarde, tanto os capatazes como o próprio
criador lhe 'perdoam' e ela é retida como vaca solteira para o início da
próxima estação de monta, alerta Mário Pompeo. No primeiro gráfico
abaixo, Dr. Pompeo mostra que, mesmo sem a estação de monta, a natureza
se encarrega de fazer a maior parte dos nascimentos no período em que o
ambiente fornece maior quantidade de alimento. Se você deixar a
natureza fazer o serviço dela, vai perceber que 70% dos nascimentos vão
ocorrer entre setembro e dezembro, exemplifica o veterinário.
- Gráfico 1
O motivo pelo qual o criador deve fazer a estação em um período com
farta disponibilidade de pastagem é que o animal passa pelos seguintes
estágios antes de estar apto à reprodução:
- Gráfico 2
O problema, segundo Pompeo, é que quando o animal não tem alimento
suficiente (nível de oferta de alimento de 1 a 3) para dar leite e
reproduzir, ele não reproduz justamente para salvar a cria ao pé,
garantindo assim a perpetuação da espécie, ou seja, a vaca procurar
salvar o bezerro e, quando o desmama, recupera estado corporal e então
pode reproduzir novamente.
O veterinário diz que os índices de prenhez pouco ajudam a entender a
eficiência no manejo se não for observado o período de inter-partos,
isto é, as vacas devem ser ótimas ao ponto de desmamar um bezerro em 12
meses ou próximo disso. Logo, uma taxa de prenhez de 75% equivale a
dizer que a Taxa de Interparto (ver fórmula abaixo) é de 486 dias, ou
16,2 meses. Isso significa 290 dias de gestação e, somente no final do
período de aleitamento a vaca tem a reconcepção.
Intervalo entre partos = 365 dias / Taxa de prenhez (%) = 365 x 100 / 75 = 486 dias
Manejo de touros
Este, segundo o Dr. Pompeo, é o outro ponto urgente a ser considerado
pelos criadores em geral. Como o touro é um produto valioso, o manejo
mal feito pode acarretar em prejuízos para a fazenda. Você deve ensinar
os peões a usarem bem os touros avaliados nos diferentes tipos de
vacas, aconselha o consultor. Segundo Pompeo, deve-se observar o estado
fisiológico das vacas e a incidência de cios nos lotes no mínimo uma
vez por semana. Somente assim é possível saber com precisão quantos
touros devem ser usados no repasse em cada piquete. Se faltar touro, os
machos podem cansar rapidamente e não apresentarm bom rendimento. Se
sobrar, pode haver rivalidade entre os espécimes e prejudicar o
resultado final.
Exemplo: se você faz o repasse durante um mês num lote de 100 vacas que
apresentam 4% de cio por dia, são quatro vacas ciclando diariamente,
então o ideal é manter a relação de touro-vaca neste lote em 5% ou 5
touros aptos para cobrir todas as fêmeas no período programado. É
importante ressaltar que, com a observação frequente dos lotes de vacas
em monta, os peões podem perceber a variação de incidência de cio e
inserir ou retirar touros dos piquetes para poupar os animais. Você tem
que tratar os touros muito bem durante a monta e também durante o
período de descanso, recomenda Pompeo. Como a capacidade de monta entre
os touros do lote são distintas (a libido é variável entre os touros),
alguns podem se desgastar mais e devem sair do lote de vacas, seguindo
para pastagem de boa qualidade e descansar por 30 dias aproximadamente.
Depois disso ele pode ser utilizado em outro lote de vacas recém
paridas. É fundamental os touros receberem um suporte nutricional
adequado antes da estação pra produzir bem os bezerros, completa Mário
Pompeo.
Como poderíamos simular o custo de cada bezerro produzido?
- Preço de compra do touro + manutenção durante sua vida útil (5 6
anos) + eventuais perdas (acidente, disfunção reprodutiva, etc) = custo
do touro
- Custo do touro preço da venda de sua carcaça ao frigorífico como touruno = valor investido no touro
- Valor investido no touro / número de bezerros produzidos durante sua vida útil = custo do bezerro produzido.
Esse custo do bezerro precisa ser menor, por exemplo, que a aplicação de
um protocolo de IATF para justificar o investimento no touro. Os
cuidados com o uso adequado dos touros é um dos itens importantes para
melhorar a rentabilidade, explica Dr. Pompeo. Eu ouvi uma vez um
ditado que dizia o seguinte: o invernista não pode ir à fazenda, senão
vai querer ficar passando com a caminhonete no meio dos bois. O criador
tem que ir cada 15 dias, deve comprar muito bem os insumos e acompanhar
de perto o manejo da vacada. Já o selecionador deve morar na fazenda e
conhecer detalhadamente cada vaca, justifica o veterinário.
Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro