domingo, 18 de outubro de 2015

Estação de monta: encurtando o período e preservando matrizes e reprodutores

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Se os anos 2000 foram de investimento e evolução da nutrição animal, de 2010 a 2020 teremos um período de ajuste fino na reprodução bovina. Assim projeta o médico veterinário e consultor em reprodução e produção animal, Mário Luiz Pompeo. “Como hoje falta pasto, o pecuarista precisa ganhar no giro de sua atividade e no equilíbrio de sua produção”, recomenda. Traduzindo, o pecuarista não deve colocar todos os ovos num cesto só, mas sim “diversificar a pecuária”, investindo e ganhando em cada fase do ciclo - cria, recria e engorda – e ajustar o negócio conforme a necessidade do mercado. Então quais são hoje os ajustes finos da reprodução que podem proporcionar tal controle ao produtor rural?

Estação de monta e manejo de touros
A primeira demanda urgente, segundo Dr. Pompeo, é encurtar o período da estação de monta. “Assim você consegue detectar mais facilmente os animais mais eficientes na época de melhor oferta de pastagem da fazenda”, explica o veterinário.  Fazendo a estação de monta de outubro a março (longa), a fazenda concentra os nascimentos entre julho e dezembro. O desmame, cerca de sete meses depois, ocorre entre fevereiro e julho, uma época favorável para venda de bezerro, já que o boi está em plena safra e precisa ser reposto. O problema é que a parição durante o inverno (junho a setembro) faz com que as vacas percam drasticamente o estado corporal e, em outubro, na saída da seca, as pastagens apresentam pouca oferta de quantidade de fibra, dificultando obter bons índices de prenhez, pois as chuvas ainda não começaram em grande parte do Brasil Central. Realizando a estação de monta entre a segunda quinzena novembro  e o final de fevereiro (estação curta de 100 dias), as pastagens estão viçosas, a temperatura ambiente quente e úmida e os dias longos com luminosidade intensa. Os nascimentos ocorrem a partir de setembro e vão até o final de novembro, desmamando entre março e junho, também no período ideal, com melhores índices de prenhez e as vacas sentem menos o efeito da seca, recuperando rapidamente a “carne”.

Outro benefício da curta duração do período reprodutivo é a seleção para a fertilidade. Quando a monta é alongada, o pecuarista pode acabar selecionando para a subfertilidade, característica facilmente transmissível ao rebanho. Segundo Pompeo, é comum observar vacas paridas no terço inicial do período de parição em um ano e, no ano seguinte, parir no final do período e não ter concepção. “Aí está a vaca 'inimiga'. Por ser parição do tarde, tanto os capatazes como o próprio criador lhe 'perdoam' e ela é retida como vaca solteira para o início da próxima estação de monta”, alerta Mário Pompeo. No primeiro gráfico abaixo, Dr. Pompeo mostra que, mesmo sem a estação de monta, a natureza se encarrega de fazer a maior parte dos nascimentos no período em que o ambiente fornece maior quantidade de alimento. “Se você deixar a natureza fazer o serviço dela, vai perceber que 70% dos nascimentos vão ocorrer entre setembro e dezembro”, exemplifica o veterinário.

- Gráfico 1


O motivo pelo qual o criador deve fazer a estação em um período com farta disponibilidade de pastagem é que o animal passa pelos seguintes estágios antes de estar apto à reprodução:

- Gráfico 2
 
O problema, segundo Pompeo, é que quando o animal não tem alimento suficiente (nível de oferta de alimento de 1 a 3) para dar leite e reproduzir, ele não reproduz justamente para salvar a cria ao pé, garantindo assim a perpetuação da espécie, ou seja, a vaca procurar salvar o bezerro e, quando o desmama, recupera estado corporal e então pode reproduzir novamente.

O veterinário diz que os índices de prenhez pouco ajudam a entender a eficiência no manejo se não for observado o período de inter-partos, isto é, as vacas devem ser ótimas ao ponto de desmamar um bezerro em 12 meses ou próximo disso. Logo, uma taxa de prenhez de 75% equivale a dizer que a Taxa de Interparto (ver fórmula abaixo) é de 486 dias, ou 16,2 meses. Isso significa 290 dias de gestação e, somente no final do período de aleitamento a vaca tem a reconcepção.

Intervalo entre partos = 365 dias / Taxa de prenhez (%) = 365 x 100 / 75 = 486 dias

Manejo de touros
Este, segundo o Dr. Pompeo, é o outro ponto urgente a ser considerado pelos criadores em geral. Como o touro é um produto valioso, o manejo mal feito pode acarretar em prejuízos para a fazenda. “Você deve ensinar os peões a usarem bem os touros avaliados nos diferentes tipos de vacas”, aconselha o consultor. Segundo Pompeo, deve-se observar o estado fisiológico das vacas e a incidência de cios nos lotes no mínimo uma vez por semana. Somente assim é possível saber com precisão quantos touros devem ser usados no repasse em cada piquete. Se faltar touro, os machos podem cansar rapidamente e não apresentarm bom rendimento. Se sobrar, pode haver rivalidade entre os espécimes e prejudicar o resultado final.

Exemplo: se você faz o repasse durante um mês num lote de 100 vacas que apresentam 4% de cio por dia, são quatro vacas ciclando diariamente, então o ideal é manter a relação de touro-vaca neste lote em  5% ou 5 touros aptos para cobrir todas as fêmeas no período programado. É importante ressaltar que, com a observação frequente dos lotes de vacas em monta, os peões podem perceber a variação de incidência de cio e inserir ou retirar touros dos piquetes para poupar os animais. “Você tem que tratar os touros muito bem durante a monta e também durante o período de descanso”, recomenda Pompeo. Como a capacidade de monta entre os touros do lote são distintas (a libido é variável entre os touros), alguns podem se desgastar mais e devem sair do lote de vacas, seguindo para pastagem de boa qualidade e descansar por 30 dias aproximadamente. Depois disso ele pode ser utilizado em outro lote de vacas recém paridas. “É fundamental os touros receberem um suporte nutricional adequado antes da estação pra produzir bem os bezerros”, completa Mário Pompeo.

Como poderíamos simular o custo de cada bezerro produzido?
- Preço de compra do touro + manutenção durante sua vida útil (5 – 6 anos) + eventuais perdas (acidente, disfunção reprodutiva, etc) = custo do touro

- Custo do touro – preço da venda de sua carcaça ao frigorífico como touruno = valor investido no touro

- Valor investido no touro / número de bezerros produzidos durante sua vida útil = custo do bezerro produzido.

Esse custo do bezerro precisa ser menor, por exemplo, que a aplicação de um protocolo de IATF para justificar o investimento no touro. “Os cuidados com o uso adequado dos touros é um dos itens importantes para melhorar a rentabilidade”, explica Dr. Pompeo. “Eu ouvi uma vez um ditado que dizia o seguinte: o invernista não pode ir à fazenda, senão vai querer ficar passando com a caminhonete no meio dos bois. O criador tem que ir cada 15 dias, deve comprar muito bem os insumos e acompanhar de perto o manejo da vacada. Já o selecionador deve morar na fazenda e conhecer detalhadamente cada vaca”, justifica o veterinário.

Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro

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