A combinação de churrasco com chimarrão, imortalizada pelo cancioneiro popular gaúcho, talvez
funcione ainda melhor quando a erva-mate é ingerida pelo próprio boi. É o que indica um projeto de
pesquisa conduzido por cientistas brasileiros e dinamarqueses.
As vantagens, constatadas em experimentos realizados num plantel de 50 cabeças de gado, abrangem
tanto o sabor da carne quanto seu efeito sobre a saúde humana e sobre durabilidade nas prateleiras.
Os bovinos que receberam pequenas quantidades de extrato de erva-mate em sua ração tiveram
alterações significativas em seu metabolismo, com o aumento da presença de moléculas que são
benéficas para quem consome a carne e aumentam seu prazo de validade.
Do lado brasileiro, a iniciativa foi coordenada pelo químico Daniel Rodrigues Cardoso, professor da USP
de São Carlos. Segundo o pesquisador, o mais provável é que os efeitos positivos do extrato de erva-mate
sejam resultado das alterações que o consumo dele promove no sistema digestivo dos bois.
O suplemento teria mudado os tipos de microorganismos que ajudam o gado a digerir os vegetais que
comem, o que, por sua vez, modificou o perfil de nutrientes absorvidos pelos animais e,
consequentemente, a qualidade da carne.
Considerando os dados preliminares sobre humanos que consomem o mate com regularidade, algum
efeito benéfico já era esperado. Há indícios de que a erva-mate ajuda no controle do peso e reduz
processos inflamatórios, além de atuar como antioxidante (ou seja, minimizando a quantidade de
radicais livres, “sobras” do funcionamento das células que podem danificálas).
Testes graduais
Para verificar se algo semelhante acontecia com os bois, a equipe do projeto misturou o extrato de erva-mate
à ração costumeira dos bichos, em proporções que variavam entre 0,25% e 1,5% do total da
refeição bovina.
“Os animais aceitavam bem esse complemento e, inclusive, tinham um comportamento bastante calmo,
o que nos surpreendeu um pouco por causa da quantidade de cafeína que há no mate”, conta o
professor da USP de São Carlos.
Esse efeito de redução do estresse dos animais também pode explicar, ao menos em parte, a melhora
da qualidade da carne, que foi demonstrada por diversos métodos.
“Em um teste cego com cerca de cem pessoas, no qual os voluntários só sabiam que aquilo era carne
de nelore, houve uma preferência clara pela carne dos animais que receberam o mate”, conta a
engenheira de alimentos Renata Tieko Nassu, da Embrapa Pecuária Sudeste, que também participou
do estudo.
No chamado teste de força de cisalhamento, no qual uma máquina determina a dificuldade de cortar a
carne, os bifes dos animais que receberam mate também se mostraram mais macios.
Usando métodos de ressonância magnética, os pesquisadores investigaram ainda a composição
molecular da carne bovina, verificando a presença aumentada de uma série de compostos ligados a
uma melhor qualidade da carne.
Um dos mais importantes é o CLA, sigla para ácido linoleico conjugado, molécula que tem sido
considerada uma das marcas de uma carne “saudável”.
O CLA pode ajudar a diminuir o colesterol ruim de quem o consome e tem, além disso, efeitos anti
28/09/2015 Impressão de matérias PECUÁRIA.COM.BR
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inflamatórios e antioxidantes (ou seja, que combatem os radicais livres).
Esses mesmos efeitos benéficos à saúde também favorecem o aumento de tempo de prateleira da
carne, porque processos oxidativos (ligados aos radicais livres) estão ligados à decomposição da
matéria orgânica.
Escala comercial
O próximo passo dos pesquisadores é tentar replicar os resultados em uma escala comercial. Como os
primeiros testes envolveram o uso de um extrato de mate com alto grau de pureza, não seria viável
economicamente distribuir o produto para grandes rebanhos. Para isso, é necessário testar os efeitos
do uso da folha de mate in natura, ou então das sobras da fabricação do próprio extrato.
O projeto, batizado de “Pão e Carne Para o Futuro”, teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Fundação de Inovação da Dinamarca. No total, o investimento
na pesquisa foi de cerca de R$ 3 milhões. Com informações da Gazeta do Povo.
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