domingo, 7 de fevereiro de 2016

Agro terá ano positivo em meio à recessão

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Único setor a mostrar desempenho positivo em 2015, a agropecuária caminha para continuar crescendo neste ano mesmo durante a pior recessão brasileira desde 1931. A agropecuária deve ter encerrado 2015 com alta de 1,90% no PIB e tende a avançar 1,80% neste ano, enquanto a economia do país encolheu 3,80% no ano passado e afundará mais 3% neste ano, conforme projeções do Boletim Focus mais recente. O Brasil atravessa o pior biênio desde 1930/31, mas a agropecuária continuará sendo uma ilha de resultados positivos, apesar dos ventos contrários. De acordo com a pesquisadora do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia/Fundação Getulio Vargas) Daniela Rocha, o segredo do setor foi o investimento em tecnologia ao longo das últimas décadas. “O agronegócio tem um diferencial que é o uso intensivo de tecnologia que culminou em elevadas taxas de produtividade”, explica. Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) mostram que a produtividade da soja, por exemplo, cresceu 27,6% nos últimos 10 anos­safra e a oleaginosa caminha para nova safra recorde neste ano. Nem tudo são flores. Amaryllis Romano, economista da Tendências Consultoria, lembra que a recessão deve pressionar o crescimento da atividade, que três anos atrás ostentava expansão de 7,9%. Câmbio aliado O grande trunfo da agropecuária, especialmente em tempos de crise doméstica, é a exportação. O setor representou 46,2% de toda a venda brasileira ao exterior em 2015, alcançando a maior fatia em quase duas décadas, segundo o Ministério da Agricultura. A conjuntura econômica desfavorável até colabora. Se de um lado os dados crescentes de desemprego e de inflação pressionam a demanda interna, as exportações devem ser ajudadas por um dos vilões do ambiente doméstico, o câmbio. “O dólar valorizado estimula as exportações e o agronegócio ainda está com fôlego porque a produção está sendo exportada. O dinamismo que o setor ainda tem é por conta disso”, afirma Daniela Rocha. A soja é um dos produtos beneficiados pela desvalorização do real, que tornou o produto brasileiro mais competitivo. Milho, boi, carne de frango e suína - itens tradicionalmente exportados - também ganham fôlego extra com o dólar acima de R$ 4. O outro lado da moeda é que parte dos insumos da agropecuária é importada, ou seja, negociada em dólar e isso tem pesado no bolso de alguns produtores, como no caso do algodão. O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) calcula que os gastos com insumos para a produção de algodão no Mato Grosso, maior produtor brasileiro, cresceu 22% no ano passado, enquanto os ganhos com a exportação prevista para o segundo semestre de 2016 são bem inferiores, de 3,7%. “O câmbio favorece o agronegócio, a exportação, mas complica em termos de custo, mas até o começo de 2017 os insumos em dólar estão com os preços caindo lá fora. Ou seja, com o efeito na transformação do câmbio, o preço fica, no máximo, estabilizado”, pondera Amaryllis. Mesmo com os insumos mais caros, a maior parte dos produtores brasileiros sai ganhando. O Cepea calcula rentabilidade média de 17,2% sobre o custo total da soja, levando em consideração os preços dos insumos e de venda em novembro. Com esses parâmetros em mente, os produtores apressaram os negócios e já venderam cerca de 40% da produção de soja estimada. Carne em alta O setor de carne vermelha vive um período especialmente favorável devido ao fim dos embargos ao produto em todos os países que ainda colocavam esse empecilho em dezembro de 2015. Esse time inclui a China, que antes do embargo que durou três anos já foi o segundo principal importador de carne do Brasil. Com a compra de carne brasileira liberada, a Abiec (Associação Brasileira das indústrias Exportadoras de Carne) prevê o envio de 200 mil toneladas para a China neste ano. “Por outro lado, dificuldades enfrentadas por compradores tradicionais, como Rússia e Venezuela, devido aos baixos preços do petróleo [base de suas economias], podem restringir os volumes exportados pelo Brasil”, observa o Cepea em relatório sobre o setor. Os produtores de carne suína também veem na exportação a saída para a elevada oferta do produto em meio à recessão brasileira. O dólar acima de R$ 4 também beneficia esse setor. A relação entre o Brasil e a Rússia, principal compradora da carne suína brasileira, segue estável e acordos comerciais firmados desde 2014 estabelecem perspectivas positivas no médio prazo, de acordo com o Cepea, que aponta a China como a grande aposta também para o mercado de carne suína. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima aumento de 2,7% das exportações brasileiras de carne suína. No caso das aves, a boa notícia vem da crise doméstica. Além da exportação para Estados Unidos e China, os salários corroídos pela inflação e o preço elevado da carne vermelha - impulsionado também pelo valor atrativo do produto no mercado internacional - levam os consumidores a trocarem a carne vermelha pelo frango. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos prevê aumento de 3,7% das exportações brasileiras de frango neste ano. Parte desse incremento deve vir das compras do México e da China, que habilitaram novos frigoríficos brasileiros a exportar carne de frango ao longo deste ano. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) conta que também há expectativa da abertura dos mercados de Taiwan e Camboja. Atualmente, o Brasil é responsável por cerca de 40% do mercado de aves, exportando para mais de 150 países. Por outro lado, a produção das aves está mais cara devido ao dólar valorizado e aos preços elevados do milho e do farelo de soja, usados na alimentação dos animais. Argentina em foco Um parceiro importante do Brasil volta ao radar com mais força a partir de 2016: a Argentina. Entre vantagens e desvantagens, a mudança no governo do país vizinho é encarada como uma boa notícia. “O Brasil ganha um concorrente, mas a Argentina ficou tanto tempo na economia fechada que não será de um dia para o outro que tomará nosso espaço. Não será de um dia para o outro, eles têm que arrumar a economia primeiro”, explica Daniela, da FGV. De acordo com o Cepea, a retomada da participação argentina no comércio internacional pode significar a perda de alguns mercados compradores de carne atendidos pelo Brasil. Contudo, se a Argentina passar a exportar grandes volumes de carne, pode abrir espaço para o envio de carne brasileira para lá. Com informações do O Financista.

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