Nos Estados Unidos, a criação de gado funciona assim: após a desmama do bezerro, ele vai direto para o
confinamento, onde permanece até o abate. Seguir essa receita, que elimina a recria do gado no pasto,
sempre pareceu inadequado em um país farto de pastagens e com grandes áreas de pecuária como o
Brasil, que destina à boiada 170 milhões de hectares. Porém, confinadores brasileiros estão quebrando
esse paradigma: o bezerro, por aqui, também começa a ir para o cocho. Uma das experiências em
andamento é a da fazenda Captar West Bahia Farm, em Luís Eduardo Magalhães (BA), que pertence ao
pecuarista Almir Francisco Moraes Filho.
Na propriedade, 20 mil animais, entre machos e fêmeas, com
idade de seis a oito meses, devem ir para o confinamento até o final do ano. O volume de bezerros
representa 40% do total previsto para a engorda intensiva em 2016, de 50 mil animais. “Fiz um teste em
2014, no ano passado foi feita a primeira experiência em grande escala e neste ano estamos ampliando
nossa aposta no modelo”, afirma Moraes Filho.
A Captar adotou o sistema de recria no confinamento motivada pela oferta irregular de animais no Oeste
Baiano, região forte na agricultura, mas, ainda, com pouca criação de gado. “Quem tem uma estrutura de
confinamento, em que a escala ganha importância, não pode parar quando não encontra animais de boa
qualidade, porque o custo fixo da atividade é muito alto”, diz o pecuarista. “Para ter lucro, é preciso
comprar o animal que fecha a conta”. Isso não é uma tarefa fácil, mas é possível. O resultado obtido no
ano passado, com a engorda de bezerro no confinamento, mostra que a aposta da Captar foi lucrativa.
Os
animais cruzados de nelore com angus, que foram para o cocho pesando até 198 quilos, ganharam dez
arrobas de peso, ao custo de R$ 108 por cada uma. E foram vendidas a R$ 143, com um lucro de R$ 270
por animal. Na comparação com os animais que entraram como boi magro, com até 235 quilos, o custo de
produção foi menor, de R$ 98 por arroba. Porém, como Moraes Filho pagou mais pelo boi magro do que
pelo bezerro, o lucro líquido foi menor, de R$ 254. “O bom resultado foi possível porque os animais eram
de alta genética”, afirma o criador. “Além disso, tem sido fundamental usarmos tecnologia de ponta em
todas as etapas.”
O que tem levado fazendas como a Captar a buscar uma alternativa de engorda é o aumento do preço do
boi magro, que representa até 60% do custo de produção nos confinamentos tradicionais. Nos últimos 12
meses, o aumento de preço dessa categoria animal foi de 7,65%, para R$ 151,38 por arroba, segundo
dados da consultoria Agroconsult. No mesmo período, a arroba do boi gordo, pronto para o abate, subiu
4,5%, e a do bezerro 7%. Além disso, o preço da saca do milho, que é o principal insumo na engorda
intensiva, aumentou 45% entre janeiro de 2015 e janeiro deste ano, criando um cenário desfavorável para
os confinadores tradicionais.
De acordo com o gerente executivo da Associação Nacional dos
Confinadores (Assocon), Bruno Andrade, a engorda de animais mais novos sempre vai exigir um cuidado
maior nas contas da fazenda. “É preciso estar atento, porque um período mais longo no confinamento
implica em um maior gasto com nutrição”, afirma Andrade. “Mas, o confinamento de bezerro vai crescer
entre os produtores, porque o sistema atende nichos de mercado que demandam por carne de qualidade
superior.”
Para quem faz o ciclo completo na pecuária, do nascimento ao abate, confinar bezerro permite abrir
espaço no pasto para ampliar a criação com mais fêmeas na base do plantel.
Chegando mais cedo ao
cocho, os animais também saem mais cedo para o abate, permitindo a produção de um novilho precoce
que terá uma remuneração mais alta na negociação com o frigorífico. Confinado e precoce, o gado
destinado aos programas de carne de qualidade estão recebendo bônus de até 8% da arroba. Foi essa
possibilidade de ganho adicional na venda dos bovinos, aliado ao aumento da lotação na propriedade,
que levou o criador Ricardo Pinto Coelho, da fazenda São José, em Talismã (TO), a confinar bezerros. Ele
começou a testar o modelo há oito anos. Hoje, confina 500 bezerros, com um lucro de até R$ 500 por
animal, entregues a frigoríficos como o JBS, da holding J&F, e indústrias regionais que atuam no mercado
de carne premium. A JBS, por exemplo, precisa de gado jovem para suprir dois programas de carne
premium: o Swift Black, para animais angus, e o Gran Reserva, para as demais raças de sangue europeu.
O veterinário Marcelo Dominici, responsável técnico pelo confinamento na São José, diz que a adoção do
sistema de engorda intensiva de bezerros permitiu que a propriedade aumentasse a rentabilidade em
20% ao ano. “Desmamamos um bezerro mais pesado, em um sistema mais eficiente de cria”, afirma “Com isso, aumentamos o número de animais na propriedade e, automaticamente, a receita e o
lucro líquido por hectare.” Do confinamento saem machos das raças braford, angus e pardo suíço, entre
12 e 14 meses, com 18 arrobas. As fêmeas saem com 15 arrobas. Os animais são levados ao abate entre
20 e 24 meses, se tudo correr bem.
A americana Tania Covery, diretora de pesquisa do OT Feedyard and Research Center, em Hereford, no
Texas, uma das mais regiões que mais confinam gado nos Estados Unidos, disse que engordar bezerros
requer atenção especial à sanidade animal. “Há um potencial de queda na produção, caso os bezerros
não sejam saudáveis”, afirmou. “Afinal, quando vão para o confinamento estão sob o estresse do
afastamento da mãe e da troca do leite por outro tipo de alimentação.” Nos dias seguintes ao evento, onde
a pesquisadora falou com os pecuaristas sobre sanidade, ela visitou confinamento no País e também
fazendas que estão se preparando para investir nesse modelo de engorda intensiva. “Creio que os
confinadores brasileiros podem ter êxito no sistema.” Com informações da Dinheiro Rural.
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